De como “Quem Conhece os Gatos do Vovô”, de Denise Fleury, lê poesia e transborda encantamento

18 junho 2023 às 00h00

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Soninha Santos
Especial para o Jornal Opção
“Quem Conhece os Gatos do vovô?”, de Denise Fleury, ilustrado por Lilian Goulart, Editora SemiBreve (2022), é um livro sobre gatos e poesia ou poesia e gatos.
Sutilmente, os versos compõem uma “narrativa” interessante: um avô solitário, não recebe visitas, ouve canções antigas, se cansa das mesmices diárias sai à rua e busca companhia para sua solidão.
Gatos e gatos respondem ao seu chamado, dando início a uma convivência aconchegante e povoada de sentimentos dos mais incríveis e variados. Apenas quem tem ou convive com esses bichanos sabe bem que o que se convencionou apontar, do senso comum, sobre gatos está longe de ser absoluto. Pelo contrário, tudo é absolutamente relativo quando se fala deles.
Os bichanos são caseiros, é verdade, são ressabiados, também é verdade, mas são companheiros, estão sempre por perto e fazem “graça” quando menos se espera. Gatos gostam de aconchego, gostam de receber e de fazer carinho.
Gatos são exigentes
Os gatos são exigentes, também é verdade, mas quem não gosta de vida boa e tranquilidade? Dizem, inclusive, que eles têm o poder de absorver energias negativas do lugar que habitam, vejam só que notícia boa.

Filomena, Tina, Nicolau, Adolfo, Gabi, Zefa, Josefina, Felício, Fred, Frida, nomeados assim, pelo vovô, intensificam seus dias de intensa felicidade. Seus miados, multiplicados por nove, viram música.
Poesia é ritmo, musicalidade, sensibilidade. Combinando esses elementos aos bichanos e à solidão do vovô surgem versos ricos de imagens e sentidos: “a passos sossegados/toda matreira/incendeia/por onde passeia” ou “o céu é o limite/caminha ao som/de Bob Marley/elegantemente/sobre os móveis/onde quer que seja/de onde esteja/a qualquer altura/faz malabarismos/que só ele sabe”. O compasso da métrica, estendida na rima nos convida a visualizar o caminhar dos gatos, sorrateiros, mas firmes e seguros, parecendo saber mesmo onde querem chegar”.
Finalizada a leitura, mesmo os não têm ou não amam gatos ficarão com vontade de ter, se não nove, pelo menos um, pois a leitura nos mostra que gatos são poéticos, tranquilos e companheiros. Fica a dica.
Soninha Santos é crítica literária e professora de literatura infanto-juvenil.