De como o homem se faz homem e descobre a beleza de ser gente única e fadada a grandes realizações
07 janeiro 2024 às 00h01
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Soninha Santos
Especial para o Jornal Opção
“O que é o homem?” Essa pergunta é feita por uma criança a um adulto. Pergunta fácil ou difícil? Como responder ao pequeno que a faz? A resposta é unânime: “homem é homem”.
Mas de que homem falamos?
É a pergunta que dá início ao livro “O Incrível Bicho-Homem” (Editora FTD, 56 páginas), de Elias José, Coleção Falas Poéticas.
A resposta, tal como a pergunta feita, é um texto poético e original, de leitura agradável. A maneira que o autor escolhe para justificar a questão é um “tratado” filosófico, se assim podemos dizer, muito bem escrito, com nuances de pura poesia.
Respondendo ao questionamento da criança, somos levados a uma viagem surpreendente e encantadora.
O homem é um animal que, diferentemente dos demais, pensa e age com ciência do certo e do errado. O homem, ao contrário das corujas, leva seus filhotes a bibliotecas, a viagens internacionais, planeja o futuro e faz descobertas. Reza, tem fé, ri e chora. Tem saudade, lamenta, sofre em agonia, tem memória.
Ao homem foi dado o dom da fala e da comunicação, verbal ou não. O homem fala e sente o olhar do outro quando está triste ou sofrendo, acredita na sorte e no azar.
Os animais não questionam quem são, de onde vieram, nem para onde vão. Só ao homem é oferecido o direito de acreditar na vida eterna.
Nenhum outro animal, além do homem, escolhe, folheia e lê um livro. Vê arte e se emociona com ela. Isto não quer dizer, porém, que é mais importante do que os demais animais.
Em seu encaminhamento poético, o livro apresenta estas entre outras inúmeras indagações e também respostas. Trata-se então de um livro que nos faz pensar depois da leitura, trazendo-nos reflexões e sinalizações sobre a existência humana, sobre como realmente anda a humanidade: se evoluímos ou andamos para trás.
Nesses tempos de tantos retrocessos, torna-se urgente trazer ao centro das discussões quem somos nós realmente e o que estamos a fazer nesse planeta azul, que, apesar de muitos o considerarem renovável, é finito e a cada dia parece ter menos tempo de vida. Graças a ações humanas. Serão ações humanas de fato? Ao menos são ações dos seres ditos humanos.
Mas antes de responder a essa outra pergunta é melhor decidir: que tipo de animal nós somos — do tipo que pensa ou do tipo que prefere ter alguém para pensar por si?
Com essas provocações, “O Incrível Bicho-homem” merece ser lido e comentado com as crianças, afinal, no futuro o planeta merece gente de verdade vivendo nele. Não é?
Soninha Santos, professora de literatura infanto-juvenil e crítica literária, é colaboradora do Jornal Opção.