É preciso quebrar os dentes das motosserras da Equatorial
06 novembro 2025 às 09h06

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Juro que, se eu pudesse, daria uma tunda de vara na Equatorial Goiás pela ação dendroclasta que ela vem cometendo em Goiânia, cujo destaque enquanto cidade bem arborizada está indo ao chão em decorrência das ações de podas inapropriadas da empresa. Nas minhas diabruras de menino, minha mãe – dona Nadir – se valia de uma amoreira em nosso quintal para me punir. A frutífera gerava em mim uma mistura de ódio e amor: as surras e as frutas respectivamente. Já a vara para a coça na Equatorial, ironicamente, viria das próprias árvores mutiladas impiedosamente. Deixemos as varas de lado, vamos à surra verbal.
Tenho observado que as equipes das motosserras famintas percorrem Goiânia como se a cidade fosse inimiga da natureza, e não sua parceira. Vale reforçar que uma parceira bem lucrativa. Antes abrigo de pássaros e sombra de pedestres, as copas são transformadas em amputações malfeitas. Algumas nem podem mais ser chamadas de árvores. Gostei do posicionamento da presidente da Agência Municipal de Meio Ambiente, Zilma Peixoto, em matéria publicada neste jornal dia 30 de outubro, de autoria do jornalista Raunner Vinícius Soares. Zilma acertou no puxão de orelha: “A Equatorial tem um aconduta de corte que mutila as árvores, não respeita o equilíbrio das espécies e causa danos ambientais e visuais à cidade”.
Outros órgãos precisam também entrar no circuito de proteção às árvores. Já ocorreram barulhos legislativos (municipal e estadual) nesse sentido: a Câmara Municipal de Goiânia aprovou um projeto sobre a implantação de rede elétrica subterrânea em 23 de maio de 2018, e a Lei nº 10.206 foi sancionada em 6 de julho e publicada em 9 de julho de 2018; a Assembleia Legislativa de Goiás aprovou, em 16 de agosto de 2023, um projeto de lei no mesmo sentido. Leis mortas que, na falta da sua aplicação, geram mortes das árvores.
Nossos gestores e parlamentares precisam entender que o cabeamento elétrico subterrâneo é sinônimo de cidade moderna e sustentável. Ele reduz riscos de acidentes e apagões, sem falar que melhora a estética urbana e valoriza o espaço público. E mais: sob o solo, a eletricidade flui em silêncio, e a paisagem respira aliviada. E a população ganha muito com isso. A participação da população no sentido protetivo é de relevante importância. Meu sonho é ver pessoas fazendo das árvores na porta de sua calçada e/ou do seu quintal um pet vegetal. Muitas ainda, infelizmente, não conseguem enxergar as árvores como seres vivos. Já falei sobre isso aqui neste mesmo espaço e certamente falarei mais.
A Equatorial parece desconhecer que as árvores na cidade não são enfeites, mas sim órgãos vitais à saúde pública. A empresa parece não saber que elas filtram o ar pesado da poluição, reduzem enchentes, abrigam aves, equilibram o microclima urbano e que cada árvore é um pulmão a respirar por nós. A empresa parece não saber que as árvores sobrevivem tranquilamente sem o ser humano, mas que o ser humano não sobrevive sem elas. Cada galho, digamos assim, é um braço estendido de oxigênio, cada folha é um filtro natural que depura o ar envenenado das cidades.

Cuidar das árvores urbanas é promover saúde pública, é garantir sombra, ar puro e equilíbrio térmico. É um ato de civilização. Quando se mutila árvores em nome da “segurança da rede elétrica”, mas o faz sem técnica, sem critério e sem respeito, o verde é ferido (muitas vezes mortalmente), e o direito do cidadão à qualidade de vida é eliminado.
Qualquer concessionária que se pretenda responsável – Eletrobras, CPFL Energia, Equatorial Energia, Cemig entre outras – precisa dar um fim a essas podas drásticas e adotar práticas que considerem a importância ambiental das árvores. Elas não significam obstáculos, são, sim, aliadas silenciosas contra o calor, a poluição e o caos urbano.
Sinésio Dioliveira é jornalista, poeta e fotógrafo da natureza
Leia também: Presidente da Amma critica podas da Equatorial: “Eles mutilam as árvores da cidade”
