A tradição do supermercado

26 julho 2024 às 18h17

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Catherine Moraes
A partir desta sexta-feira, 26, o Jornal Opção publica, quinzenalmente, a coluna Nos Detalhes, assinada pela jornalista goiana Catherine Moraes. Formada pela Universidade Alves Faria (Unialfa), Catherine é especialista em Comunicação Estratégica pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), mãe do Matheus e da Cecília, ex-bailarina e apaixonada pelos detalhes da vida cotidiana. Há 14 anos atua como repórter, editora e assessora de comunicação. Há quatro anos também começou a publicar crônicas e compartilhar suas próprias histórias sobre o cotidiano com muito amor e uma pitada de política.
Eu faço compras com a minha mãe há uns 2 anos. Depois dos meus 30, acabamos criando uma nova tradição: ir juntas ao supermercado pra fazer as compras do mês. No início de julho fomos pela segunda vez ao supermercado depois que o Matheus nasceu e eu fiquei olhando ela empurrar o carrinho ali, com ele deitado. Por um breve momento eu pensei: se eu perder minha mãe, eu nunca mais vou conseguir fazer compras. Tirei uma foto tremida e comecei a refletir sobre como o nascimento de um filho faz a gente repensar toda a relação com a nossa mãe. A mãe da mãe é bênção, é sorte, é presente de Deus.
Minha mãe é o único nome na minha certidão de nascimento. É a dona dos dois sobrenomes que completam meu nome e foi mãe solo mesmo quando se casou outra vez. Minha casa foi sempre minha mãe, eu e minha irmã. Foi sempre uma casa cheia de colo, comida que cheira e sessões intermináveis de filmes. Geralmente a semana dela era de trabalho enlouquecedor, mas nas sextas-feiras a gente ia até uma locadora e pegava cinco, seis, sete filmes. Eu aprendi a ler legendas logo que me alfabetizei e juntas a gente devorava filmes de sexta a domingo. De vez em quando o domingo era reservado para o clube: piscina e sol das 8h às 17h no Sesi da Vila Canaã e a gente só ia embora quando começavam a colocar o cloro e expulsar os visitantes. Minha mãe trabalhava como nunca, mas me ensinou a descansar sem culpa.
Nos primeiros 20 dias pós-parto do Matheus ela deixava a cama desarrumada de manhã e quando eu chegava, me deitava lá pra dormir um pouco já que as noites eram quase em claro. Ela mudou os móveis de lugar e colocou um berço móvel pro bebê dormir quando eu estiver na casa dela. Foi colo incessante pra que eu pudesse fazer coisas básicas como escovar os dentes e tomar um banho. E além do cuidado comigo e com o recém-nascido, se preocupou muito com a Cecília. Outro dia ela passou 7 horas trançando o cabelo da neta enquanto eu trabalhava e cuidava do Matheus.
Há quase 2 anos eu trabalho quase que completamente em home office e apesar de poder ficar lá na minha casa que é mais silenciosa e tranquila, eu venho muito. Eu me sinto extremamente privilegiada de poder almoçar em família, de tomar um café da tarde com minha mãe, com minha avó. Nossa rotina hoje se entrelaça. No final da gravidez fizemos uma maratona de consultas médicas. Forcei ela a agendar as consultas e fui junto pra me certificar de que ela não ia apenas dizer aos médicos que estava super bem. Cuidar da saúde dela é importante demais porque minha meta é fazer com que ela permaneça saudável até os 100, no mínimo.
No dia 15 foi aniversário dela e eu tinha começado a escrever esse texto para um post, mas decidi que seria a primeira crônica de 2024. O que eu queria sempre que ela soubesse é que o supermercado é só uma desculpa pra economizar e falar sobre a vida. É que não sei se ela percebe, mas enquanto pega os alimentos nas prateleiras e me pergunta qual a opção mais econômica, ela também desabafa sobre coisas que não fala em outro lugar. É o nosso momento. Acho que é quase terapia pra ela.
Eu queria tanto que as mães fossem eternas. Por você e pelos meus.
E claro, não é só o supermercado que me preocupa. Te amo, mãe. Feliz aniversário atrasado!

Catherine Moraes, jornalista e titular da coluna Nos Detalhes, do Jornal Opção