1

Miguel Jorge — Escritor membro da AGL

Minha intenção de leitura para o próximo ano inclui o romance “É A Ales”, de Jon Fosse, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2023, e algum outro livro dele já traduzido e editado no Brasil, como “Brancura”, e algum outro escritor que traga algo de novo no gênero romance, poesia sempre, de novos poetas, incluindo os de Goiás, permanecendo os já citados Fernando Pessoa e João Cabral de Melo Neto, ensaios literários de meu interesse, não se esquecendo do conto, esse gênero difícil que requer precisão e autodomínio técnico, de linguagem apurada

2

Solemar Oliveira — Escritor e membro do Conselho de Cultura

Quantos livros um escritor deve ler em um ano para não ser medíocre? Não há um número correto. A sabedoria popular dita que quantidade não é melhor que qualidade. Concordo. Para um efeito matemático, que tem a função quase inútil do exercício com números, parei de contar quantos livros, de fato, eu leio em um ano para contabilizar quantos livros virtuais eu contemplei com a leitura. Explico. Contabilizo o número total de páginas lidas e divido pelo número de páginas que um livro ideal deveria ter (na minha muito egoísta suposição), que seria duzentas. Assim, tenho o número total de livros de duzentas páginas que li em um ano. Não acredito que menos de quarenta seja razoável para um escritor, mas é outra indicação egoísta. No final das contas, uma tática para superar esse número mínimo é distribuir a leitura em número de páginas por dias, como muitos leitores sugerem, por exemplo trinta, e ser fiel a essa disciplina. No final das contas, lendo todos os dias, mantendo o exercício ininterrupto, leremos uma quantidade significativa e relevante para o aprendizado da escrita. E o mundo tem tantos livros que, no final das contas, a quantidade quase importa.

Para um curioso

1 — Clássicos japoneses sobrenaturais, de Richard Gordon Smith (352 páginas) — Os japoneses são ótimos com histórias de moral e contos de terror. São simples na essência e profundamente inspiradas.

2 — A família que devorou seus homens, de Dima Wannus (176 páginas) — Pode-se comprar livros pela capa? Sim é claro. Na pior das hipóteses você pode contemplar um belíssimo trabalho de design. Nesse caso, com uma lindíssima capa e um título muito atraente, a escritora síria aborda um tema essencial: a memória.

3 — O lugar, de Annie Ernaux (72 páginas) — Depois do excelente “O Acontecimento”, espero encontrar aqui o mesmo estilo direto, realista e contundente que é uma marca da autora.

4 — É a Ales, de Jon Fosse (112 páginas) — Para saber o que o mais recente ganhador do Nobel de Literatura escreve. Para conhecer seu estilo, na verdade.

5 — A Vida Futura, de Sérgio Rodrigues (163 páginas) — Para saber o que um dos mais recentes finalistas do Prêmio Jabuti escreve. Para conhecer seu estilo, de fato.

Para um faminto

6 — Ássia, de Ivan Turguêniev (96 páginas) — Tudo que Turguêniev escreveu deve ser lido.

7 — Mário e o Mágico (112 páginas), de Thomas Mann —Presente de Natal de um grande amigo, esse entra na lista por dois motivos: entender a mensagem dos dois, do amigo e do escritor.

8 — Sapituca no Furdunço, de Hélverton Baiano (104 páginas) — Baiano é tão bom escritor que lê-lo é uma obrigação periódica.

9 — O Sagrado e o Profano, de Mircea Eliade (192 páginas) — Por se tratar de um tema muito caro, sempre atual.

10 — Histórias Apócrifas, de Karel Capek (176 páginas) — Primeira incursão na obra do autor. A referência é o tradutor Aleksandar Jovanovic, um grande nome e um intelectual como poucos.

Para um desamparado

11 — Judas, o Obscuro, de Thomas Hardy (432 páginas) — Aqui tem uma citação de Jó que induz um descrente à leitura desse clássico. Um pouco esquecido, mas bastante atraente.

12 — Um Homem Bom é Difícil de Encontrar, de Flannery O’Connor (288 páginas) — Uma obrigação e uma necessidade. Um clássico entre clássicos que dispensei por algum tempo, por causa de tempo e, com o qual, pretendo me redimir.

13 — Entre Esplendores e Misérias, de Adalberto de Queiroz (152 páginas) — Adalberto escreve como ninguém. Suas experiências de vida refletem o miolo das grandes histórias. Aqui, em suas crônicas, espero encontrá-lo de novo.

14 — Sobre a Escrita, de Charles Bukowski (256 páginas) — Esse livro me conquistou com apenas essa frase: “Eu vou escrever até meu último maldito fôlego, não importa se vão achar bom ou não”. Afinal, é pra isso que serve os trechos presentes nas capas.

15 — Contos Completos, de Virginia Wolf (376 páginas) — Li o conto de abertura, Phyllis e Rosamond, para descobrir que esse livro precisa ser lido, e logo.

Curiosamente a média de páginas dessa lista deu 204 páginas/livro, aproximadamente 200. Será uma coincidência?

3

Sônia Elizabeth — Escritora

“Poema da terra perdida”, de Valdivino Braz, livro que vou reler sempre. Braz é um gigante na linguagem, no conteúdo, nos temas, nas ideias. Intelectual, poeta fecundo, dos altares iluminados do mundo, pisando firme na terra. Eis Valdivino.

4

Simone Athayde, escritora

Preparar uma lista de leitura para o ano que se inicia talvez seja como fazer uma lista de desejos e metas de réveillon: no início, há empolgação e o compromisso interno de realizar o intento, mas, com o passar dos dias e com o acúmulo de obrigações miúdas, vamos percebendo que nem tudo na vida cabe numa lista, incluindo os livros que desejamos ler. Porém, como o fim de ano é a época da esperança e da boa vontade, é de boa vontade que me atrevo a fazer uma relação das obras que gostaria muito de ler até o final de 2024, mesmo sabendo de antemão que aparecerão livros que eu não previ (e que vou gostar de encaixar na lista), imprevistos que não desejei e a costumeira falta de tempo que se tornou parte de nossas vidas.

Sempre que possível, gosto de revezar minhas leituras entre obras clássicas, pois com elas o risco de me decepcionar é sempre menor, e obras contemporâneas, especialmente as premiadas, porque é importante conhecer o que surge. Nas duas categorias, também gosto de revezar entre autores estrangeiros e brasileiros. Além disso, participo de grupos de leitura, então sempre é preciso garantir espaço para duas obras por mês que não constam nesta lista. E sempre gosto de fazer alguma releitura. Então, se tudo correr como o previsto, segue minha lista um tanto modesta quanto ao número de obras, pois se a expectativa não for muito alta, se eu conseguir aumentar o número de livros lidos no ano, ao final dele sentirei alegria, e não frustração.

1 — Jane Eyre — Livro de Charlotte Brontë, publicado em 1847. A autora nasceu em uma família de talentosas escritoras. A irmã mais conhecida, Emile Brontë, escreveu um de meus livros prediletos, O morro dos Ventos Uivantes. Por isso e pela boa fama da obra de Charlotte, sinto que começarei o ano bem. Segundo a sinopse disponível no site da editora Record, a autora “representou, por meio da protagonista, a ideia de emancipação feminina. Ao longo do romance, são tecidas diversas críticas à condição de inferioridade atribuída às mulheres naquela época. A autora é, por isso, considerada transgressora das regras vigentes em sua sociedade, vista hoje como uma mulher à frente de seu tempo”. Sobre essa obra, disse Virginia Woolf: “No fim estamos totalmente encharcados pela genialidade, a veemência, a indignação de Charlotte Brontë”. 

2 — O avesso da pele, de Jeferson Tenório, foi o vencedor do Prêmio Jabuti de 2021 na categoria “Romance Literário”. Segundo o site da Companhia das Letras, é “um romance sobre identidade e as complexas relações raciais, sobre violência e negritude, uma obra contundente no panorama da nova ficção literária brasileira. O avesso da pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.”

3 — Úrsula, publicado em 1859, é de autoria de Maria Firmina dos Reis, mulher negra nascida no Maranhão “A autora constrói uma narrativa ultrarromântica para falar das mazelas sociais decorrentes da escravidão. Os protagonistas, Tancredo e Úrsula, são jovens, puros e altruístas. Com a vida marcada por perdas e decepções familiares, eles se apaixonam, mas se deparam com um empecilho para concretizar seu amor. Com rica introdução e contextualização histórica, é vista como a obra inaugural da literatura afro-brasileira. Retrata homens autoritários e cruéis, mostrando atos inimagináveis de mando patriarcal e senhorial em um sistema que não lhes impõe limites”. Mesmo sendo uma obra muito importante e seminal da literatura produzida por mulheres negras no Brasil, somente agora, na atualidade, passou a ser divulgada e considerada dentro do cânone da literatura nacional.

4 — O andarilho das estrelas – O autor, Jack London, é um exímio contador de histórias, como o famoso Caninos Brancos, que foi adaptado para o cinema, ou A peste escarlate, outra obra sua lançada em 1912, de que gosto bastante. Por esses requisitos, penso que a leitura de O andarilho das estrelas será compensadora. London escreveu a obra baseado numa história muito louca do começo do século XX, na qual Danell Standing, um professor de Agronomia que matou um colega de faculdade, teria aprendido uma técnica de auto-hipnose na prisão para escapar das terríveis dores que lhe causavam a tortura da camisa-de-força e, por meio dessa hipnose, teria sido capaz de vivenciar experiências de vidas passadas. Como em A peste escarlate, na qual o aparente simplismo do enredo esconde reflexões profundas sobre a vida, talvez O andarilho nas Estrelas também proporcione a união entre esses dois elementos tão importantes na literatura: fruição e reflexão. 

5 — Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, está há tempos guardado na minha estante e em 2024 pretendo fazer sua leitura, já que é uma obra muito recomendada. Segundo o site da Editora Nova Fronteira, nesse livro “a autora Marguerite Yourcenar recria a vida do imperador Adriano, numa espécie de autobiografia imaginária. Considerada sua obra-prima, a “grande dama da literatura francesa” segue um rigoroso processo de reconstituição histórica, mas traz também uma verve poética e filosófica, numa prosa tanto elegante quanto precisa. Após a publicação, a obra obteve enorme sucesso e converteu-se de imediato em um clássico da literatura moderna.

6 — “À Beira-Mar”, do tanzaniano Abdulrazak Gurnah. O fato de o autor ter sido o ganhador do Nobel de Literatura de 2021 já é um excelente cartão de visitas da obra, some-se a isso a indicação feita por Carlos William Leite na Revista Bula: “Uma história devastadora e brutal. Dois homens, um professor de meia idade e um idoso exilado, que não se veem há 30 anos, passam em revista a história de suas vidas, suas famílias e seu passado em comum, marcado por intrigas, mentiras, traições e ruína. Não é nenhum exagero dizer que é um dos grandes livros que li em minha vida”.

7 — Boca do Inferno foi o livro de estreia de Ana Miranda e lhe rendeu o prêmio Jabuti de autora revelação de 1990. Segundo o site da Companhia das Letras: “É um romance histórico que trata dos jogos de ambição e poder na Bahia colonial de Gregório de Matos, numa trama em que homens e mulheres se dilaceram entre o prazer e o pecado, o céu e o inferno”. Embora o livro tenha completado seus 33 anos de lançamento e que eu também tenha escrito um romance histórico que se passa na época colonial, ainda não li essa obra que, com certeza, deve ser excelente, ao trazer como personagem esse incrível e ferino poeta brasileiro.

8 — O Tronco, Bernardo Élis — Em 2024, essa obra clássica da literatura goiana e nacional ganha nova edição. Segundo texto de Nilson Jaime para o Jornal Opção: “A edição histórica de 70 anos (que só ocorrerá em 2026) será antecipada para 2024, a fim de não ser eclipsada pela efeméride do heptagenário aniversário de dois outros clássicos regionalistas: “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa, e “Vila dos Confins”, de Mário Palmério. Pelo fato de o autor ser um dos maiores escritores brasileiros e pela importância da obra, O Tronco torna-se leitura obrigatória para quem gosta ou estuda literatura. O enredo trata de disputas de poder entre os grandes proprietários de terra – os coronéis do sul de Goiás, que comandavam o governo, e os do norte do estado. Um funcionário do governo, o coletor de impostos Vicente Lemes, vem para o Norte de Goiás para tentar controlar os inimigos do governo. Ele se vê, então, em meio a uma luta sangrenta.

9 — Fogo de junho, de Ademir Luiz. O autor é um dos importantes nomes da literatura produzida em Goiás e um empreendedor cultural. Essa obra foi vencedora do Prêmio Hugo de Carvalho Ramos de 2014. Segundo texto de Emérson Falkenberg para a Revista Bula: “O livro Fogo de Junho: 20 Centavos, Romance de Geração para Geração sem Romance se inicia com o protagonista se dirigindo para uma manifestação motivada pelos 20 centavos de aumento nas passagens de ônibus, que inflamaram as redes sociais. Essa é a desculpa para que ele conte suas “aventuras de homem comum” dentro e fora das manifestações, das quais participou ativamente. Amores, dissabores e porradas estão presentes, narradas sempre com humor ácido e autocrítica”.

10 — A pediatra – Segundo o site da Companhia das Letras, “com humor mordaz, o novo romance de Andréa del Fuego apresenta a história de uma personagem muito peculiar: Cecília, uma pediatra nada afeita a crianças.” Essa obra foi uma das leituras indicadas para o grupo de leitura da UBE-GO, do qual participo sempre que possível. Porém, mesmo tendo comprado o livro, devido a outros compromissos, não consegui ler. Pelo argumento interessante e por ser fruto de um dos nomes da nova safra nacional e feminina de talentos, acho importante conhecer. 

11 — Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy, é considerado “um marco da literatura norte-americana, um épico inesquecível e brutal sobre o Oeste americano — um lugar violento e imprevisível, onde real e imaginário se fundem em uma história com dimensões apocalípticas”. O autor, falecido em 2023, é considerado um dos maiores escritores americanos e muito premiado. Dele li e gostei bastante de A Estrada, romance distópico agraciado com o Prêmio Pulitzer de Ficção de 2007 e adaptado de forma competente para o cinema. Outro filme premiado, Onde Os Fracos Não Têm Vez, dos Irmãos Coen, foi baseado no seu livro “Onde os Velhos Não Têm Vez”.

5

Chris Resplande — Escritora

“Titanic-Boulogne: A Canção de Ana e Antônio”, de Luis Augusto Cassas, poeta maranhense radicado em São Paulo. O livro, de 1998, foi relançado em novembro de 2023 pela editora Dois Por Quatro, de Florianópolis, ano em que se comemora o bicentenário de nascimento do grande poeta maranhense Gonçalves Dias. Cassas lançou, na mesma data, outros quatro livros de poemas: ‘Cotidiano, o sagrado’, ‘Quatrocentona’, ‘República dos becos e novos poemas’ e ‘Uma bota para netuno’.

As razões da escolha busco no poeta paraibano Hildeberto Barbosa Filho: “Cassas convoca para a cena poética a história dos amantes que se separam, drama vivido pelo poeta Gonçalves Dias e Ana Amelia Vale. A história de amor e morte notabiliza-se enquanto metáfora das grandes histórias de amor. Luis Augusto Cassas, com ‘Titanic-Boulogne’ ensaia, e com êxito, a sintaxe do poema monotemático, polifonico, paródico, a reescrever os sortilégios da experiência amorosa. O poeta como que sinaliza para o leitor que o Amor está aí, como a vida. Como o melhor da vida apesar da agonia dos naufrágios.”

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Eliézer Cardoso de Oliveira — Historiador, professor da UEH e membro do IHGG

Relatar, no formato de uma lista, os livros com pretensão de serem lidos no próximo ano parece ser uma tarefa fácil, afinal, basta relatar, com sinceridade, aquilo que você pretende ler. E se você não sabe o que você gosta de ler, por Zeus, quem saberá?

Mas confeccionar a lista não é fácil, ao menos para um professor universitário, para quem livro é algo muito sério. Iniciar um livro e não terminá-lo é como fazer as preliminares e não transar. A lista de intenção de leitura não chega a tal grau de intimidades; é, no máximo, um encontro para ver se há um grau de afinidade entre o leitor e o livro para ver se surge algo mais duradouro desse relacionamento. Só Freud (ou carência mesmo) explica alguém que enxerga sexo numa lista de livros.

O problema é que fazer a lista requer, para usar as belas palavras de Santo Agostinho em suas Confissões, distender a alma em direção ao futuro. O Eu de 2023 imagina o que o Eu de 2024 gostaria de ler. Mais do que isso, o Eu do presente cria uma obrigação a ser cumprida pelo Eu do futuro.  Como diria o tio Ben Parker, “com grandes listas vêm grandes responsabilidades.” Que venham então.

1 — Caderno proibido, de Alba de Céspedes. Sugestão do meu amigo Ademir Luiz.

2 — Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll. Ainda não li. Santo Agostinho confessou os seus pecados e eu estou confessando os meus.

3 — O espetáculo mais triste da terra, de Mauro Ventura. A história de um incêndio de um circo em Niterói, em 1961, que matou mais de 500 pessoas. Não me entendam mal, mas sou fascinado por história de catástrofes.

4 — Nós, do russo Iêvgueni Zamiátin, um romance distópico que dizem ter influenciado o Admirável Mundo Novo e 1984.

5 — Os Problemas da Estética, de Luigi Pareyson, uma indicação de uma colega durante uma banca de qualificação de mestrado.

6 — Um artista de seu tempo, de José Fábio da Silva. Uma sofisticada reflexão sobre o tempo por meio de contos que se interligam entre si. 

7 — Estranho Numa Terra Estranha, de Robert Heinlein. Um clássico da ficção científica, o meu gênero literário preferido.

8 — Dicionário cínico das palavras da moda, de Ademir Luiz. Aquele tipo de cinismo que faz a mente sorrir.

9 — 21 lições para o século 21, de Yuval Noah Harari. Pretendo ler porque gostei da sapiência do autor.

10 — Assim foi Auschwitz, de Primo Levi. Para jamais esquecer…

Paro por aqui. Até o Criador se contentou com uma lista de dez itens, quem sou eu para ir além.

7

Helissa Soares — Professora e youtuber

Já faz alguns anos que a literatura está na minha vida como trabalho e lazer, pesquisa e aventura. Desse modo, eu não seria capaz de separar uma lista de leituras para estudo de outra lista para deleite. Está tudo junto numa mesma lista que me oferece essas duas experiências. Meu interesse pela literatura contempla o prazer e a dor, o amor e o desamor, enfim, as ambiguidades da condição humana. Nessa toada, estou com três livros que são prioridades de leitura em 2024, os quais (desconfio) serão devorados já logo no primeiro semestre, pois já os estou namorando há algumas semanas, ansiosa pelo momento em que ficarei totalmente a sós e em silêncio com eles. Todos eles são da literatura contemporânea, publicações recentes, mas que muito evocam e mobilizam dentro de mim tudo o que já estudei e experienciei no que diz respeito aos conceitos de literatura e suas relações com a vida.

O primeiro livro, do qual estou muito desejosa, é o romance “Mandíbula”, da equatoriana Mónica Ojeda, que aborda o universo feminino numa perspectiva brutal, violenta e monstruosa, problematizando as construções que herdamos e as que nos são impostas ao longo de nossa existência. Estou muito instigada, gosto de literatura latino-americana, das experiências que perpassam o fantástico e o realismo simultaneamente, e acredito que essa leitura há de remexer muito com minhas vivências profissionais, pessoais, afetivas, éticas e poéticas.

O segundo livro, também da minha lista de desejos mais remotos, é “O deserto e sua semente”, do argentino Jorge Baron Biza. A ficha catalográfica do livro indica “ficção argentina”, mas já sei que há muito de autobiográfico nesse título, já que estive orbitando o universo dessa obra, como um flerte fatal que, inevitavelmente, me levará a um abraço íntimo com a obra. Essas experiências que mesclam atributos de diferentes gêneros literários e textuais, que apontam, evidenciam e até denunciam o trágico da existência humana muito me provocam. E um pouco disso está nas razões que colocam essa obra na minha lista de leituras/desejos.

A terceira obra também é um romance, obra inédita e grata surpresa que a Companhia das Letras me ofereceu a partir da parceria que mantivemos em 2023. Trata-se de “O escravo”, romance de uma de nossas pioneiras, a Carolina Maria de Jesus. Muitos leitores contestaram o lugar literário de Carolina por suas obras mais aclamadas, como “Quarto de despejo” e “Casa de alvenaria”, configurarem diários e autobiografias, não explicitando a composição ficcional de maneira mais proeminente. Esse romance vem para quebrar essa antipatia, e estou ansiosa para contemplar e vivenciar esse processo a partir da leitura dele.

8

Maria Luisa Ribeiro — Escritora e ex-presidente da UBE Goiás

“O Sentido da Vida”, do escritor italiano radicado no Brasil Contardo Calligaris. Li “Todos os Reis Estão Nus” e gostei do estilo e da temática. E pretendo em 2024 ler “O Sentido da Vida” por ter sido entregue pelo autor pouco antes de sua morte iminente, imagino que trata -se de um momento único de criação em que o ser humano, o psiquiatra e o autor, juntos fazem um balanço existencialista. Aprecio a temática universal e a incursão pela psiquê e a alma humana.

9

Ademir Luiz — Presidente da UBE Goiás e professor da UEG

Da mesma forma que 1968, 2023 foi um ano que não terminou. A despeito disso, inevitavelmente 2024 vai começar e é preciso planejar as intenções de leituras para o ano. Neste caso, creio que “A arte de driblar destinos”, de Celso Costa, é uma ótima pedida para iniciar as leituras de janeiro. A obra ganhou o Prêmio Leya de 2022 e é um “romance-mosaico que toma a educação como motor”.

Fevereiro, mês curtinho, ficará bem representado com o igualmente curto “O círculo dos Mahé”, do belga Georges Simenon, autor mais conhecido pela atuação no gênero policial, mas que escreveu aqui um retrato “sombrio e cruel de um homem comum, preso em sua mundanidade e consumido pela obsessão”. Quem nunca?

Possivelmente, devo tomar posse na Cadeira 31 da Academia Goiana de Letras entre o final de fevereiro ou ao longo de março. Não sem alguma necessária autoironia, uma boa pedida será “O imortal”, de Mauricio Lyrio, romance que “põe em evidência os encontros e desencontros entre a política e a literatura, ao mesmo tempo que expõe o drama do homem que confronta seus limites por meio do amor e da arte”. Justiça poética.

Por falar em poesia, “A cidade esquecida e outros poemas”, do americano William Carlos Williams, vai trazer lirismo para abril com versos marcados por “descrições que podem ser lidos a um só tempo como instantâneos da realidade e como retratos expressionistas eu se abrem para experiências metafísicas”. Revelar o transcendente nas dobras do cotidiano é arte para poucos.

Em maio, mês de meu aniversário, lerei o volume de contos “Fica comigo está noite”, de Inês Pedrosa. Depois do clássico “Fazes-me falta”, lerei tudo que puder da escritora portuguesa. Neste livro, “as personagens estão quase sempre em perda, ou em desencontro, ou na expectativa do reencontro. Mas raramente estão conformadas com a sorte que lhes coube”.

Aprecio o fogo que sempre acompanha junho. Talvez esse fogo possa esquentar a leitura do clássico “E os hipopótamos foram cozidos em seus tanques”, escrito a quatro mãos pelos beats Willian S. Burroughs e Jack Kerouac. “A divertida trama juvenil do romance, que gira em torno de amizade, poesia e experiências com sexo e drogas, acaba se revelando a anatomia de uma tragédia passional”.

Para julho, mês de férias, boa pedida é a Cidade Luz retratada no romance levinho “A livreira de Paris”, da americana Kerri Maher. “Quando a jovem estadunidense Silvia Beach abre a Shakespeare and Company em uma rua tranquila de Paris em 1919, não tem ideia de que ela e sua nova livraria transformarão o panorama literário mundial”. Paris é mesmo uma festa.   

Dizem que agosto é o mês do cachorro louco. Pelo sim, pelo não, lerei “A Cachorra”, da colombiana Pilar Quintana. Segundo o jornal Le Monde, “um texto poderoso sobre uma mulher revoltada que não se rende completamente ao sofrimento”. Le Monde disse, le monde para. 

Setembro, mês da Independência, lerei a novela “O Amante detalhista”, do argentino Alberto Manguel, só porque gostei do título e gosto de autor, que foi discípulo de Jorge Luis Borges. Neste livro, Manguel cria um personagem “sequioso de livrar o desejo da frustração e da melancolia que assediam o ato amoroso – até que uma criatura singular, fragmentária e indivisível, venha frustrar seu empenho e devolvê-lo ao tormento erótico”.

Outubro, como não poderia ser diferente, pede “Outra novelinha russa”, do chileno Gonzalo Maier, “uma jornada onírica, com toques de melancólica ironia, pela minguada paisagem do pós-Guerra Fria Soviética”. Que seja uma revolução literária. 

Em novembro vamos refletir sobre a vida, o universo e tudo mais com o romance “A violoncelista”, do alemão Michael Krüger, que se vale de um “imbróglio amoroso para passar em revista os destinos da arte e das teorias estéticas do passado e da atualidade”.

Em dezembro lerei o livro que ganhei no amigo secreto de minha confraria esse ano, “A leste dos sonhos”, da antropóloga francesa Nastassja Martin. Sequência de “Escute as feras” onde “por meio de seu exercício singular de etnografia; gesto intelectual e discursivo, ela se torna aqui também um gesto político”. De dezembro a dezembro, o ciclo se fecha, pronto para recomeçar em 2025, como acontece nos sonhos.

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Nilson Jaime — Escritor e crítico literário

A convite do editor-chefe do Jornal Opção, Euler de França Belém, e do presidente da UBE-Goiás, Ademir Luiz, anualmente participo das listas de leitura do jornal para o ano seguinte. O promotor de Justiça e bibliófilo Marcelo Franco costuma desdenhar de sua própria lista, já que nem sempre cumpre o planejado, segundo suas palavras. Também falho no cumprimento do programado, mas consola-me o fato de que outros livros aparecem ao longo do ano, de forma a me deixar com o sentimento do dever cumprido. Esse é o grande prazer da leitura e da bibliofilia: o inusitado, a leitura arrebatadora que aparece repentinamente e nos surpreende. Costumo ler até três livros ao mesmo tempo, sem pressa, demoradamente, sorvendo-o, como a um bom vinho, levando dias ou semana para completar a leitura, dependendo do tema. Nunca marco livros com caneta, mas com “post it” coloridos, a fim de facilitar futura utilização, durante as pesquisas para escrever.

Na lista deste ano, dividi os livros por temas, acrescentando a inédita seção “leituras por dever do ofício de editor-geral”, que desempenho na “Coleção Goiás +300, Reflexão e Ressignificação”. Neste papel, deverei ler — ainda que nem sempre de forma lúdica, mas por obrigação — os capítulos que comporão as obras da coleção.

A “Coleção Goiás +300, Reflexão e Ressignificação” é uma iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), do Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado (Icebe) e da Sociedade Goiana de História da Agricultura (SGHA), com coordenação do historiador Jales Mendonça e minha.

Envolvendo cerca de 450 pesquisadores de três dezenas de universidades e instituições culturais brasileiras, já foram publicados, até esta data, seis livros — lançados em dezembro de 2022 e em outubro de 2023 — devendo chegar a 18 obras publicadas em 2025. Os autores buscam refletir, a partir de uma concepção decolonial, a história das relações de exploração e opressão dos colonizadores sobre os povos originários e afrodiaspóricos deste território, e suas consequências até os dias atuais, a fim de ressignificar valores e ações da população hoje existente em Goiás.

Por dever do ofício de editor

1 — “Goiás +300 — Povos Afrodiaspóricos”. Organizado pelas doutoras Thaís Marinho (PUC Goiás) e Martha Quintiliano (quilombola, mestra e doutoranda em Antropologia Social), o livro trata da questão afrodiaspórica e das africanidades em Goiás. Dentre outros temas, mostrará as proibições impostas aos Negros de serem alfabetizados e proprietários, até o advento da República, proporcionando a imensa desigualdade social em Goiás e no Brasil até os dias de hoje. Trata também das políticas de reparação, essenciais à equidade necessária à justiça social.

2 — “Goiás +300 — Mulheres”. O olhar feminino de vinte e cinco mulheres, sobre 25 figuras vanguardistas da sociedade goiana, que vai de Damiana da Cunha e Leodegária de Jesus a Belkiss Spenziére Carneiro de Mendonça e Consuelo Nasser (Cevam). Organizado pelas pesquisadoras Lúcia Rincón (PUC Goiás), Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante Ribeiro (PUC Goiás) e Elizabeth Abreu Caldeira Brito (Aflag), trará um capítulo sobre “A perseguição às lésbicas durante o Regime Militar” e outro sobre as “Mulheres Trans”, escrito por uma pesquisadora trans. Participam como autoras a escritora Maria José Silveira e a reitora da UFG Angelita Pereira de Lima.

3. “Goiás +300 — Música”. Este livro está sendo organizado pelo maestro Marshal Gaioso Pinto (IFG), Othaniel Alcântara (Emac/UFG) e Aline Santana Lobo (Aplam e Seduc Goiás). O livro fará uma síntese das músicas indígenas, afrodiaspóricas, sacra, erudita e popular em Goiás, incluindo as criações das principais bandas e orquestras. Tem previsão de lançamento – assim como os dois anteriores — para maio de 2024.

4. “Goiás +300 — Direitos Humanos”. Com organização dos professores Eguimar Felício Chaveiro (IESA/UFG), Tereza Caroline Lôbo (Icebe e IHGG) e Romualdo Pessoa (IESA/UFG), este livro pretende tratar temas como desaparecidos políticos, tortura, sistema prisional, direito à infância e à velhice condignas, direito à educação, trabalho escravo e questão LGBTQIAP+, dentre outros, no contexto de Goiás.

5 — “Goiás +300 — Brasília”. Com organização dos doutores Lenora Barbo (IHGDF e Icebe) e João Guilherme Curado (Icebe e IHGG), o livro se propõe a registrar a história de Brasília, evidenciando os protagonistas de Goiás que ajudarem em sua criação e consolidação, normalmente esquecidos pelos autores que escrevem sobre a capital federal. Figuras como Altamiro de Moura Pacheco, Marechal Aguinaldo Caiado de Castro, Bernardo Sayão, e até “Toniquinho JK”, terão suas importâncias documentadas para a posteridade, no contexto da criação de Brasília.

6 — “Goiás +300 — Agricultura familiar e agronegócio”. Os professores Ricardo Assis Gonçalves (UEG), Sandro Dutra e Silva (UniEvangélica) e Nilson Jaime (ICEBE) serão os organizadores deste livro que tratará da importância da agricultura familiar e do agronegócio em Goiás, responsáveis por tornar este estado um dos maiores polos agropecuários do Brasil. Com um time de pesquisadores da UFG, UEG, Embrapa e outras instituições, o livro documentará das agriculturas indígenas e quilombola, até os conglomerados agrícolas que dominam a cena econômica goiana na atualidade.

7 — “O Tronco” (Pyreneus Editorial, 2024, 380 páginas), de Bernardo Élis. Estou lendo atentamente esse clássico da literatura brasileira (em suas várias edições), considerado por alguns o maior romance já escrito em Goiás. A atenção redobrada se dá por dever, já que sou o editor da edição comemorativa de 70 anos, que será publicada no próximo ano. O heptagenário de “O Tronco” só ocorrerá em 2026, mas para fugir da coincidência com o aniversário de 70 anos de dois outros clássicos (“Grande Sertão: veredas”, de Guimarães Rosa e “Vila dos Confins”, de Mauro Palmério), a edição comemorativa do romance de Élis será antecipada, por razões mercadológicas. Esta edição contará com uma fortuna crítica do escritor, incluindo livros, revistas, teses, dissertações, entrevistas, filmografia, exposições e outras produções sobre sua obra.

Ciência

1 — “Como evitar a próxima pandemia” (Companhia das Letras, 336 páginas), de Bill Gates, com tradução de Pedro Maia Soares e Claudio Marcondes. A partir de conclusões de estudos encomendados pela Fundação Melinda e Bill Gates, o criador da Microsoft, e hoje filantropo, faz uma reflexão sobre as ações das sociedades e dos governos para prevenir pandemias que ameacem a Humanidade.

2 — “A grande gripe — A história da gripe espanhola, a pandemia mais mortal de todos os tempos” (Intrínseca, 603 páginas), de John M. Barry, com tradução de Alexandre Raposo e outros cinco tradutores. Como uma predição da epidemia de Covid 19, o autor descreve a grande luta de governos, médicos e pesquisadores para controlar a epidemia da Gripe Espanhola, em 1918.

3 — “El Big Bang y el origen del universo — la teoria más ambiciosa jamás pensada”, da série Un Passeo Por el Cosmos, publicada pela Editec, Espanha. O Big Bang como nunca antes descrito. Este livro, assim como os quatro próximos, faz parte de um lote de 18 livros da mesma coleção que adquiri em Buenos Aires.

4 — “De la simplicidade a la complejidad — propriedades emergentes de los sistema complejos”, da série Un Passeo Por el Cosmos, publicada pela Editec, Espanha. O assombroso universo, a partir de partículas subatômicas, até as galáxias.

5 — “El agua em el cosmos – la matriz de la vida”, da série Un Passeo Por el Cosmos, publicada pela Editec, Espanha. Como surgiu a água na Terra? O livro trata da água em seu sentido cósmico e das teorias de como ela chegou à Terra, propiciando vida.

6 — “La evolucion – el fenómeno más complejo del universo”, da série Un Passeo Por el Cosmos, publicada pela Editec, Espanha. Esclarecimentos sobre a Teoria de Evolução de Darwin e Wallace.

7 — “La energia de las estrelas – de los núcleos atómicos a los núcleos estelares”, da série Un Passeo Por el Cosmos, publicada pela Editec, Espanha. A grande revelação deste livro é sobre a forma como tudo que há na Terra – inclusive os seres vivos – tem sua origem nas estrelas, onde são formadas a partículas fundamentais.

8 — “A inteligência das Aves” (Fósforo, 366 páginas), de Jennifer Ackerman, com tradução de Reinaldo José Lopes e Tania Lopes. Presente de Euler de França Belém em agosto de 2022, faz parte das minhas leituras atrasadas. “Que tipo de inteligência permite que uma ave preveja a chegada de uma tempestade distante?”. Questões como essas são abordadas nesse livro, sobre a inteligência dos únicos dinossauros sobreviventes à grande extinção ocorrida há 65 milhões de anos: as aves.

9 — “Filosofia Verde – Como pensar seriamente o planeta” (É Realizações Editora, 416 páginas), de Roger Scruton, com tradução de Maurício G. Righi. Outro presente de Euler de França Belém na minha estante, a me cobrar a leitura toda vez que olho para ele. O autor defende que sustentabilidade e ecologia não deveriam ser bandeiras da esquerda, mas de todos os humanos.

10 — “O mosquito – a incrível história do maior predador da humanidade” (Intrínseca, 608 páginas), de Timothy C. Winegard, com tradução de Leonardo Alves. “A incrível história do maior predador da humanidade, responsável pela morte de mais de dois milhões de pessoas por ano. São 110 trilhões de insetos assassinos, quase invisíveis, contra 7,7 bilhões de seres humanos. A humanidade terá chance?”.

História

1 — “História do Brasil Colônia” (Editora Contexto, 176 páginas), de Laima Mesgravis.

2 — “O império brasileiro – 1822-1889” (Avis Rara, 285 páginas).

3 — “Escravos – a vida e o cotidiano de 28 escravos brasileiros esquecidos pela história” (Estação Brasil, 208 páginas), de Leandro Narloch.

4 — “Doze capítulos sobre escravizar gente e governar escravos – Brasil e Angola, séculos XVII-XIX” (Mauad X, 344 páginas). Organizado por Denise Vieira Demetrio, Ítalo Domingos Santirocchi e Roberto Guedes.

Música e Literatura

1 — “Essas mulheres – o protagonismo da mulher na canção de Chico Buarque” (Editora Recriar, 552 páginas). Organizado por Ronaldo Cavalcante. Dividido em sete partes, este livro traz um capítulo (“Cecília: te escuto?”), escrito pela poetisa radicada em Goiás, Márcia Maranhão De Conti (do ICEBE), que me presenteou o livro.

2. “Cultura, Religião & Sociedade em Chico Buarque de Holanda” (Editora Recriar, 232 páginas). Organizado por Ronaldo Cavalcante e prefaciado por Leonardo Boff. Também este livro traz um capítulo escrito por uma goiana: Valéria Victorino Valle (da Academia Anapolina de Letras – Anale e da União Literária Anapolina – ULA), assina o capítulo 4 (“O artifício buarqueano do desconforto jocoso em ‘A permuta dos Santos’”).

3. “Aquarelas do Brasil – contos da nossa música popular” (Agir, 311 páginas). Organizado por Flávio Moreira da Silva, traz um capítulo escrito por Bernardo Élis (“Noite de São João”).

4. “No verso do caso – volume 2” (Cânone editorial, 252 páginas), de Sandra Maria. A segunda parte de “No Verso…” foi impressa em 2021, mas só lançada em 2023, por causa da pandemia de Covid 19. Série de poemas, crônicas e uma entrevista da autora do excelente “Folhas secas sob meus pés” (2017), em um livro com formato instigante e bem-produzido.

5. “Travessia na memória” (AD Arte & Design, 2023, 260 páginas), de Álvaro Catelan. Crônicas do lendário professor, radialista e crítico – sócio titular do Instituto Bernardo Élis – que marcou época em Goiás e que reside hoje em Itu-SP.

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Edson Aran, escritor e cartunista

Vou entrar o ano com “Especulações Cinematográficas” (Intrínseca), do Quentin Tarantino. O livro precisa de certa lentidão para uma melhor apreciação. Em cada capítulo, o autor cita vários filmes dos anos 70, faz inúmeros cruzamentos com outras obras e menciona as novelas policiais que as inspiraram. Como sou aplicado — ou obsessivo compulsivo — vejo (ou revejo) cada produção listada para checar se minha opinião bate com a do diretor.

“Especulações Cinematográficas” é uma mistura de autobiografia, crítica de cinema, fofocas de Hollywood e idiossincrasias do diretor. Todo mundo que é apaixonado por alguma coisa é cheio de idiossincrasias, então tudo bem.

No paralelo, leio o livro de crônicas do Marcelo Martinez, “Sequestramos sua mãe, é melhor comprar este livro” (Grupo Almedina). Os textos têm o formato de um esquete de TV e as histórias são sempre em cima de situações quotidianas, com diálogos ágeis e divertidos. Lembra um pouco o Luis Fernando Verissimo, mas também parece um desenho animado doidão com gags absurdas.

Outra coisa que vou fazer em 2024 é sair à caça da obra do Flann O’Brien, escritor irlandês da primeira metade do século 20 que foi admirado por muita gente boa, incluindo James Joyce. A razão desse interesse repentino foi um livrinho chamado “How to be read” (Penguin), do crítico literário e acadêmico britânico John Sutherland. São mais de 500 páginas onde o autor resenha com bastante humor e alguma maledicência as obras literárias que julga importantes. Estava lendo sobre o humor absurdista de Flann O’Brien e me lembrei que tinha um livro dele esquecido na estante e nunca lido: “O Terceiro Tira” (LP&M). Comecei a ler e me surpreendi com a trama maluca, os elementos surrealistas e o humor nonsense. O romance foi bastante comentado na Internet faz alguns anos, pois era considerado uma das inspirações do seriado “Lost”. Faz bastante sentido, mas vou evitar spoiler pra não estragar a experiência do eventual leitor.

Agora estou em busca de outra obra de O’Brien que nunca foi publicada em português, “At Swin — Two Birds”, uma das favoritas de Graham Greene. Na trama, os personagens de um romance se revoltam contra o autor e exigem mudanças na história. Parece divertido.

https://newsletterdoedsonaran.substack.com/

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Euler de França Belém — Editor-chefe do Jornal Opção

Poetas nunca são demais. Por isso a minha lista de leitura — sempre digo que penelopiana (desfaço-a e, durante o ano, faço novas listas) — inclui vários bardos. “Os Tambores da Tempestade”, de Delermando Vieira, já está sendo lido. É um belo livro de poeta que sabe desconcertar o leitor, levando seu cérebro a, digamos, rebolar… na caça aos seus múltiplos e enviesados sentidos e formas. (Quem aprecia Jorge Luis Borges deveria ler a poesia de mestre Vieira. O Brasil tem sorte com os Vieiras.)

Como se sabe, mesmo antes de Jorge Luis Borges, não há releitura — só leitura. O leitor e o livro mudam com o tempo. O primeiro pelo amadurecimento cultural-existencial. O livro por causa da crítica literária (um livro analisado por Luiz Costa Lima sempre fica “maior”. Por isso, “A Ousadia do Poema — Ensaios Sobre a Poesia Moderna e Contemporânea Brasileira” deveria figurar em qualquer lista). Então, sobretudo por causa de Yêda Schmaltz, leio ou, sabe-se lá, releio “Hidrografia Lírica de Goiás”, de Darcy França Denófrio.

A análise que Darcy França Denófrio faz da poesia de Yêda Schmaltz é um espetáculo à parte. Há uma profunda mestria no mostruário do que a poeta fez com a mitologia, criando, por assim dizer, uma mitologia singular, pessoal, íntima. Da mesma crítica, figura na minha lista “O Redemoinho do Lírico — Estudos Sobre a Poesia de Gilberto Mendonça Teles”.

Talvez por ser um notável crítico literário, Gilberto Mendonça Teles às vezes não é visto como grande poeta. Mas é um dos maiores poetas brasileiros. A crítica de Darcy França Denófrio, atentíssima, eleva-o e nos convida a ler o bardo (um dos poucos escritores patropis que, ao fazer uso do humor, não está fazendo necessariamente poema-piada).

Estou me preparando para a leitura da poesia de Aidenor Aires. Não sei se estou fazendo o certo ao começar por “Amaragrei”. Mas é um belo livro. “Eu vou sozinho e sou muitos/ esta é minha fortaleza,/ o sangue que vem de longe/ no meu corpo se represa”. Há uma vitalidade na sua poesia que impressiona. Com a ressalva de que sua força não lhe retira certa delicadeza ao “ensinar” a dança mágica das palavras.

Leio, com prazer, a poesia de Heloisa Helena de Campos Borges, que, parecendo simples, é de um refinamento que surpreende (há uma dicção clássica apropriada por uma, digamos, leitura modernista). Agora, adquirido na Livraria Armazém do Livro, vou começar a leitura de “Muitas Luas”.

Prometo, mas não sei se irei cumprir (todo leitor tem alma de político), ler toda a poesia de Mário Faustino, agora que encomendei, via Estante Virtual, a sua biografia, escrita por uma professora universitária do Pará. (Namorei o livro por um longo tempo e acabei pagando por ele quase 180 reais, com frete)

Braz José Coelho é um autor — prosador (contista) — subestimado. Escreve muitíssimo bem. Figura na minha lista deste ano com “Os Cães e a Rede” e “Um Homem e Sua Família”. Já havia lido, com imenso prazer, “Peonagem e Cabroeira”.

Impus-me uma missão para 2024: ler ou reler a obra de Valdivino Braz, um dos maiores poetas brasileiros, que também é um prosador de primeira linha (está escrevendo um grande romance e oxalá tenha saúde para conclui-lo. Li a parte que publicou, “O Gado de Deus”, e é, de fato, de rara excelência). A poesia de Braz é altamente enganadora, porque se, à primeira vista, parece simples, não o é. Pelo contrário, é de uma sofisticação e complexidade raras. Merece ser lido e analisado por críticos do naipe de Luiz Costa Lima e Antonio Carlos Secchin.

Li (ou sonhei que li), num livro de fábulas não escritas, que, no oitavo dia, já descansado, Deus disse: “Vou colocar em Santa Catarina alguns dos melhores tradutore(a)s do país. Até o ‘novo’ tradutor alemão [Berthold Zilly] de ‘Grande Sertão: Veredas’ andará por lá”. Ora, ouvindo estrelas, dirão: “Isto é mentira”. Não se duvida de possíveis mentiras de Deus — é pecado quiçá venial. Pois Dirce Waltrick, Fedra Rodríguez, Maria Lúcia Milléo Martins e Regina Przybycien são tradutoras exímias, pontes mais seguras do que a Rio-Niterói.

Operando como um exército cultural de duas mulheres, Maria Lúcia Milléo Martins e Regina Przybycien colocam nas livrarias brasileiras o livro “Folhas — Seleção de Poemas”, de Lloyd Schwartz (Editora 7Letras). Já pedi o meu exemplar na Livraria Travessa.

A Editora 34, heroica, lançará a poesia completa de Walt Whitman, com tradução de Guilherme Gontijo Flores (autor de traduções admiráveis).

Como estou interessado em entender a história do Estado do Tocantins, irmão caçula e rebelde de Goiás, vou ler “O Discurso Autonomista do Tocantins”, de Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante. Li algumas páginas e pude perceber duas cousas: a pesquisa é rigorosa e a escrita, sóbria e sólida.

Espero o segundo volume do romance “Naquele Morros, Depois da Chuva”, de Edival Lourenço, uma obra-prima que precisa ser publicada em Portugal. Irapuan Costa Junior, que mora no país de Maria Gabriela Llansol (autora que me surpreende e confunde) e aprecia o livro, deveria apresentar a literatura do romancista e poeta aos hermanos lusos.

Li a metade em 2023 e vou terminar a outra metade em 2024. Trata-se simplesmente, senão do melhor, de um dos melhores livros sobre a Amazônia. Sabe aquela obra que acrescenta, que dinamita velhos saberes (e os sensacionalismos de praxe)? Pois, convido o leitor a ler “Sob os Tempos do Equinócio — Oito Mil Anos da História na Amazônia Central”, de Eduardo Góes Neves. A obra contém apenas 221 páginas. Mas se perceberá que se trata de conhecimento altamente concentrado e rigoroso. Um dos poucos livros realmente imperdíveis sobre o assunto.

A biografia de Leonel de Moura Brizola (1922-2004), de Karla Monteiro, deve sair este ano pela Companhia das Letras. Leitura “imperdível” (espero) a respeito de um dos maiores políticos do país. Foi governador de dois “rios”: o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. Na década de 1960, contribuiu para a radicalização das esquerdas, inclusive do governo do presidente João Goulart — que nada tinha de comunista, era nacionalista e, no máximo, socialdemocrata —, o que contribuiu para o golpe civil-militar de 1964. Brizola era de esquerda, talvez até de centro, mas, para os militares, era “comunista”. Karla Monteiro é autora de uma excelente biografia do empresário e jornalista Samuel Wainer.

Diz-se, por aí, que Brizola “roubou” dinheiro de Fidel Castro, o “rainho Vitório” de Cuba. O político gaúcho, que se acariocou, seria “El Ratón”. Verdade? Não há provas. De fato, Leonel, o Itagiba de Moura, recebeu dólares da ilha, mas não os “furtou”. Usou o money para financiar a “guerrilha” brasileira — inclusive sua “inação”. Tudo indica que o político que Lula da Silva “substituiu”, pondo-o na reserva da história, era decente.

Autor de uma biografia exemplar de Carlos Marighella — a rigor, um grande retrato histórico do século 20 —, Mário Magalhães talvez coloque nas livrarias, pela Companhia das Letras, o primeiro volume da biografia, quiçá monumental, do jornalista, escritor, editor e político Carlos Lacerda (1914-1977). Para quem estuda a história do país, pelo menos entre as décadas de 1940 e 1960, o governador da Guanabara (por sinal, gestor eficiente) é incontornável. Goste-se ou não dele.

Há um certo alumbramento com “É a Ales”, de Jon Fosse, Nobel de Literatura de 2023. De fato, o sujeito escreve bem. Desconfio que é seu experimentalismo — diria que tardio — que congrega e congraça almas pias. Talvez eu esteja equivocado, mas a prosa do escritor norueguês não me entusiasma (me parece enfadonha). Depois de Édouard Dujardin (1861-1949 — o livro “Os Loureiros Estão Cortados, que inventa o fluxo de consciência, é um dos pais literários do autor de “Ulisses”. Há uma boa edição no Brasil), James Joyce, Virginia Woolf, Faulkner e Samuel Beckett, certas “inovações”, como escrever sem o uso de pontos, me parecem velhas, démodés.

Mais desanimado do que Sísifo, ainda estou lendo “É a Ales” e “Brancura” já está na minha algibeira. Aliás, parei a leitura da obra de Jon Fosse para ler o romance de Colm Tóibín (que retoma a história da mãe brasileira de Thomas Mann, Julia da Silva-Bruhns).

A Companhia das Letras e a Fósforo planejam publicar novos livros de Jon Fosse.

“O Mágico” (tradução de Christian Schwartz e Liliana Negrello; soa estranho o uso de “van” [o veículo] quando se está se tratando de fatos da década de 1930), de Colm Tóibín, é uma biografia com alma. De vivos. Não de mortos. O escritor irlandês romanceia a vida de seu par alemão Thomas Mann, sem falsear os fatos, mas apimentando-os, por certo, sobretudo quando se trata de expor sua bissexualidade. Estou lendo o romance, muito bom, e as histórias sobre a construção de “Morte em Veneza” e “A Montanha Mágica” (ainda não cheguei na parte que examina o romance “Doutor Fausto”) são narradas com certo brilho, encanto e, sim, uma ironia fina.

A poeta e crítica literária uruguaia Cristina Peri Rossi tem livros interessantíssimos (tive de comprar em sebos de Montevidéu, em Buenos Aires só encontrei dois exemplares.), mas é praticamente desconhecida entre nós, patropis. A Editora Bazar do Tempo, li na “Folha de S. Paulo”, vai publicar dois de seus livros. O jornal não revela quais. Seria interessante traduzir “Julio Cortázar Y Cris”, um belo livrinho de 117 páginas.

Preciso terminar a leitura dos contos encadeados de “As Maçãs Douradas”, de Eudora Welty, com tradução (e apresentação) de José Roberto O’Shea. A americana é uma escritora — excelente — que precisa ser mais publicada no Brasil. Mesmo escrevendo de modo diferente, pertence à linha dos grandes autores sulistas, como William Faulkner e Flannery O’Connor.

Como a China me interessa, assim como ao mundo, já está na minha mesa de leitura “Como a China Escapou da Terapia de Choque”, de Isabela M. Weber. A economista alemã me parece excessivamente entusiasmada com o modelo chinês. Mas também me parece perspicaz sua tese de que o avanço da economia chinesa tem a ver com o fato de não aplicar algumas medidas receitadas pelo capitalismo do Ocidente. (Há um preconceito imenso contra Henry Kissinger, mas seu “Sobre a China” é excelente.)

Um livro mui bueno — li parte em 2023 e espero concluir em 2024 — é “Sempre Paris — Crônica de uma Cidade, Seus Escritores e Artistas”, de Rosa Freire D’Aguiar (excelente tradutora de Proust e Céline). Li a primeira parte, sobre o trabalho da autora como repórter na França (e outras paragens) — é uma verdadeira aula de jornalismo —, e as entrevistas de Eugène Ionesco (me surpreendeu, eu o pensava como uma espécie de doidivanas do teatro, e não é nada disso: há lógica e precisão na sua fala), Julio Cortázar e Ernesto Sabato. As demais não li.

Quem estuda a história do Holocausto ganhou um presente extraordinário da jornalista-historiadora Blima Rajzla Lorber: o livro “Brasileiros no Holocausto e na Resistência ao Nazifascismo” (é o resultado de sua dissertação de mestrado defendida na USP). Trata-se de uma obra pioneira e, daqui para frente, referência obrigatória para quem quiser pesquisar o assunto.

Blima Razsa Lorber fez o que muita gente não faz: examinou documentos, detidamente, e conseguiu fazê-los “falar” o que, de algum modo, “escondiam”. Espero que a pesquisadora exemplar nos brinde com outro livro sobre o assunto. Ela me disse que está descobrindo novas informações.

Li o assustador prólogo de “Gandhi e Churchill — A Rivalidade Épica que Destruiu um Império e Forjou Nossa Era” (823 páginas), de Arthur Herman, com tradução de Renato Prelorentzou. Digo assustador porque mostra a violência brutal dos ingleses na Índia e a violência igualmente brutal (vingança contra o colonialismo) dos indianos contra os filhos da terra de Shakespeare.

Adquiri na Livraria Palavrear o livro “Um Antídoto Contra a Solidão — Conversas com David Foster Wallace”, de, claro, David Foster Wallace. A obra saiu pela Editora Âyiné, com tradução de Sara Grünhagen e Caetano W. Galindo.

Curiosamente, e deve ser uma falha minha, quase todo mundo acha David Foster Wallace um gênio literário, mas eu não acho. Porém aprecio suas críticas e suas entrevistas. Para mim, ele é como Edmund Wilson, que fez crítica de primeira e literatura de segunda.

Este ano, se Zeus me ajudar, planejo terminar a leitura do livro “O Brasil no Olhar de William James” (são cartas, diários e desenhos), organizado por Maria Helena P. T. Machado. O irmão de Henry James visitou o Brasil e escreveu sobre o país. O livro foi publicado pela Edusp.

Henry Kissinger é percebido pela esquerda, ou parte dela, como um celerado internacional. Mas é mais do que isto, como entendem os chineses. Era um estadista. O historiador Niall Ferguson, no lugar de execrá-lo ou edulcorá-lo, decidiu escrever uma ampla biografia de um homem crucial para o século 20 (assim como George Kennan). O primeiro volume acaba de sair no Brasil: “Kissinger 1923-1968: O Idealista”.

Nem sei se vou ler as 966 páginas de “Mestres do Ar — A Saga dos Jovens Que Voaram nos Bombardeiros Americanos na Guerra Contra a Alemanha Nazista”, de Donald L. Miller. Aliás, já ia escapando de fininho, para contorná-lo, mas, como o livro foi elogiado por gente do naipe de David McCullough e Keith Lowe, fiquei imensamente curioso. Tenho de poupar umas pilas e, se obtiver a autorização de Candice Marques de Lima, minha consorte, o trarei para casa (livros, ao lado de cachorros e dos gatos, são os melhores amigos dos terríveis e destrutivos humanos). Os atores Clark Gable e James Stewart participaram dos bombardeios.

Gay Talese é desses autores imperdíveis, pois escreve com uma graça imensa sobre qualquer assunto. A Companhia das Letras vai publicar suas memórias, “Bartleby and Me”. Desde já, figura na minha lista dos dez mais. Assim como “Imagens Imóveis — Sobre Fotografia e Memória” (tradução do ótimo poeta Paulo Henriques Britto, de quem comecei a ler a prosa), de Janet Malcolm, de quem lei quase tudo.

De Salman Rushdie não há como não ler “Knife”, a história sobre o ataque que sofreu nos Estados Unidos.

Mesmo sem saber quais, talvez os preparados por Bruna Ramos (sobre música de protesto) e Heloisa Teixeira, lerei os livros que estão sendo escritos para descomemorar os 60 anos do golpe civil-militar de 1964. Em abril, o golpe engendrado por civis e perpetrado por militares, numa cornucópia deslavada, se tornará sexagenário. O golpismo não está morto. Se estivesse, Jair Bolsonaro seria uma ficção, e não uma realidade fortemente presente.

Como li a biografia de Di Cavalcanti em 2023, a escrita por Marcelo Bortoloti, não deixarei de ler a da pintora Djanira da Motta e Silva, de Josélia Aguiar. Sairá pela Todavia. Gostaria muito de ler a de Millôr Fernandes, mas Paulo Roberto Pires — autor da ótima biografia de Jorge Zahar — não diz palavra sobre sua finalização.

O “médico” que mais admiro no país é o dr. Sus (ou SUS), que, como Emily Dickinson, usa branco. Portanto, não deixarei de ler “SUS — Uma Biografia”, de Clóvis Bulcão e Luiz Antonio Santini da Silva. Sairá pela Record em 2024.

O que seria dos pobres e da classe média — a que busca ascensão e redenção, sem saber direito o que é (o bolsonarismo alojou-se, como uma espécie de inconsciente coletivo, na cachola de vários “integrantes” do classemedismo palpiteiro e adepto da cultura inculta) — sem o dr. Sus? Nem quero imaginar.

A Relicário, mestre em traduzir poesia, colocará nas livrarias a “Prosa Completa” de Alejandra Pizarnik (que aprecio mais como poeta — tenho a edição de sua poesia completa, em espanhol. Por isso, posso atestar que sua poesia tem sido publicada com esmero no Brasil). A tradução é de Nina Rizzi e Paloma Vidal.

Darei um zapeada em algum livro do filósofo John Gray e coloquei na lista, mais uma vez — estou lendo a conta-gotas —, “Tempo de Mágicos — A Grande Década da Filosofia: 1919-1929”, de Wolfram Eilenberger. São analisados Walter Benjamin, Martin Heidegger, Ernst Cassirer e Ludwig Wittgenstein (que encontrou no filósofo José Arthur Giannotti um grande intérprete nos trópicos). O livro é elogiado por Rüdiger Safranski e Hans Ultrich Gumbrecht.

Ah, tantos livros. Agora, que tenho 62 anos, sei que meu tempo está encurtando (terei mais 18 anos saudáveis? Minha mãe, Zinha-Frutuosa Fagundes Belém morreu, no dia 4 de dezembro, aos 87 anos, depois de um longo tempo com Alzheimer e Parkinson). Por isso, tenho de ser mais seletivo.