Salatiel Soares Correia

Especial para o Jornal Opção

A Rússia sempre soube expressar sua rica cultura dentro e fora de suas fronteiras. Especificamente na poesia, alerta o crítico literário e tradutor Irineu Franco Perpetuo — autor do livro “Como Ler os Russos” (Todavia, 300 páginas) — para a constelação de poetas que surgiu no país, em menos de 25 anos. Nomes como Velimir Khliébnikov, Aleksandr Blok, Óssip Mandelstam, Marina Tsvetáieva, Anna Akhmátova, Boris Pasternak (era mais poeta do que prosador), Vladimir Maiakóvski, entre outros, estiveram, cada um a seu tempo, na vanguarda mundial. Todos esses poetas pertenceram aos diversos movimentos culturais ocorridos no país.

Escapa ao escopo deste ensaio-resenha comentar, detalhadamente, cada um desses movimentos, visto que esses escritos intencionam ater-se a fornecer ao leitor uma visão panorâmica da literatura russa. Ou seja, ver a floresta, e não as árvores, sendo que isso é o possível a fazer-se num espaço de reduzidas dimensões como este. A quem se interessar em ir mais a fundo neste assunto, faço a seguinte sugestão: leia o livro de Irineu Franco Perpetuo, que publicou uma síntese indispensável sobre a literatura russa (incluindo, claro, o pai-fundador Púchkin e os grandes prosadores, como Gógol, Tolstói, Dostoiévski, Turguêniev e o brilhante contista Tchékhov). Posto isso, façamos um breve comentário a respeito de cada um desses movimentos.

Acmeísmo e futurismo

Anna Akhmatova, poeta russa | Retrato por Olga Kardovskaya

O primeiro deles, o simbolismo, intenciona transformar o mundo por intermédio da arte. Dois dos mais representativos poetas desse movimento são Merejkóvski e o carismático Aleksandr Blok. O simbolismo começou a esgotar-se como movimento em 1907, numa Rússia em crise. A partir daí, surgiram dois novos movimentos que se associaram ao simbolismo por diferentes caminhos: o acmeísmo e o futurismo. 

De acordo com o autor, o acmeísmo “pretendia restabelecer a palavra em toda a força e clareza, como reação ao clima enevoado da poesia simbolista”. Ou seja, no entender dos acquimistas, os simbolistas não conseguem ver “árvores na floresta” simbólica.

Um nome de expressão ligado a esse movimento foi o de um famoso casal de poetas Ana Akhmátova e Nikolai Gumilev. Voltarei a comentar a respeito desses dois poetas.

Por fim, resta-nos tecer breves considerações a respeito do último desses movimentos culturais russos. Trata-se do futurismo. Este, por ser inovador, é antagônico ao simbolismo. Os futuristas negam o passado para ovacionar a revolução tecnológica e industrial. Enquadra-se nesse movimento um poeta russo muito conhecido no Brasil: Vladimir Maiakóvski (traduzido, por exemplo, por Boris Schnaiderman).

Sofrimento e literatura de alto nível

Óssip Mandelstam, poeta russo perseguido por Stálin | Foto: Reprodução

“Em nenhum lugar do mundo se dá importância à poesia, é somente em nosso país que se fuzila por causa de um verso”, com essas palavras o grande poeta russo Óssip Mandelstam revelou o sofrimento que atinge escritores, pintores que ousam usar a única arma da qual dispõe o intelectual: a crítica. Estes podem, dependendo da crítica que façam ao regime, serem obrigados a seguir um dos seguintes destinos: exílio na Sibéria, serem assassinados ou ficarem eternamente vigiados pelo Estado numa situação muito parecida àquela descrita no romance “1984”, do escritor britânico George Orwell.

 “O Arquipélago Gulag” (Carambaia, 702 páginas, tradução de Lucas Simone), livro do escritor Aleksandr Soljenítsyn, revela, com detalhes, os horrores dos campos de concentração soviéticos localizados em pequenas ilhas que formavam um arquipélago. Nessa época, onde imperava o horror, os soviéticos denunciavam seus compatriotas (vizinhos, amigos, familiares) na esperança de evitarem ser presos ou até mesmo fuzilados. “O Arquipélago Gulag” é a obra-prima de Alexander Soljenítsyn, principalmente por causa dela, foi laureado com a maior honraria que pode um escritor receber em vida: o Prêmio Nobel de Literatura.

Quem passou exilado pela Sibéria foi um dos maiores escritores da Rússia, Fiódor Dostoiévski. Ele foi acusado de conspirar contra o czar Nicolau. Muito do sofrimento que esse grande autor, um dos maiores escritores da terra de Liev Tolstói, passou inspirou-lhe a construir sua obra-prima, que se tornou um clássico da literatura mundial: “Os Irmãos Karamázov”.

Por último, é oportuno relatar o sofrimento de uma das maiores poetas da Rússia. Falo de Anna Akhmátova, que vivenciou a execução de seu primeiro do marido, o também poeta Nikolai Gumilev, e a morte de seu segundo marido, o historiador da arte Nicolai Púnin. A obra-prima dessa escritora, “Réquiem”, chora pelos que choram: as mães que perdem seus filhos, as mulheres que ficam viúvas, às vezes, as duas coisas. Todo autor é um escritor de si mesmo. Sendo assim a poetisa expressava em seu “Réquiem” uma dor que vinha do fundo de sua própria alma.

Breve pausa para esclarecimento

Nesse rápido surfar pelas ondas da rica literatura russa, avaliaremos uma pequena amostra de talentosos escritores que fizeram da poesia um instrumento crítico, capaz de incomodar com governos totalitários.

A poesia usada como instrumento de luta política provocou a reação de ditadores como Stálin, então, ocasionando muito sofrimento na alma de intelectuais contrários ao regime.

Na Rússia, o sofrimento ceifou prematuramente muitos talentos que se mostraram resilientes ao autoritarismo de Estado forte para punir e favorecer, mas fraco para transformar. Nesse ambiente kafkiano nasceram grandes obras literárias, as quais são não só patrimônio da Rússia, mas também de toda a humanidade. Dito isso, continuaremos a surfar pelas ondas da literatura russa em busca de grandes autores que fizeram do romance, do conto ou da novela um instrumento de crítica à realidade que os cerca.

Céu estrelado dos prosadores russos

Dostoiévski e Tolstói, já citados nessa resenha-ensaio, construíram suas obras-primas tendo a prosa como instrumento de expressão literária. Devido à importância deles, têm esses autores livre trânsito entre poetas e prosadores.

Por absoluta limitação de espaço, tive de optar por três nomes entre mais de uma centena de grandes escritores que tinha à disposição. Para representar essa legião de estrelas, escolhi: Andrei Platónov, Isaac Bábel e Boris Pasternak. Todos esses intelectuais, de uma forma ou de outra, tiveram problemas com o Estado autoritário. O preço a pagar se manifestou de diversas formas: depressão, ansiedade, fuzilamento ou suicídio. Posto isso, façamos um breve comentário a respeito de cada um deles.

Andrei Platónov

Andrei Platónov, escritor russo | Foto: Reprodução

Andrei Platónov é um autor russo tido, por seus pares, como o mais importante escritor russo do século vinte. Dentre a legião de seus admiradores, destaca-se o ganhador do Prêmio Nobel de literatura de 1987 Joseph Brodsky, russo que, expulso, radicou-se nos Estados Unidos. Entende este intelectual que a capacidade que tinha esse escritor com a língua russa levava esse idioma para um beco sem saída semântico.

Desse modo, embora Andrei Platónov fosse comunista, considerado uma sumidade em seu país, ele teve de lidar com o beco sem saída que colocava seu próprio idioma. A esse respeito, Irineu Franco Perpetuo relata que livros de Andrei Platónov geram um paradoxo em que ele diz uma coisa que pode ser interpretada de outra forma. Essa aparente rejeição ao comunismo de um comunista nato irritou o ditador Stálin. Sobre esse assunto, os escritos do autor de “Como Ler os Russos” reproduzem uma possível irritação do ditador contra os escritos de Andrei Platónov: “Canalha! Seu filho de quinze anos foi detido em 1938 e condenado ao gulag siberiano, de onde saiu em 1940, doente terminal de tuberculose”.

Proibidos de circular no território russo, os livros de Andrei Platónov só seriam publicados na União Soviética, nos anos de 1980, num outro ambiente político chamado de glasnost.

Isaac Bábel

Isaac Bábel, escritor russo | Foto: Reprodução

Isaac Babel é uma das mais expressivas personalidades das literaturas de seu país. Ele soube expressar-se num gênero literário no qual é considerado o maior especialista da Rússia: o conto (um deles, é claro, porque há o grande Tchékhov). Naqueles tempos de grande turbulência que ocasionaram tantas mortes, a pena do grande escritor produziu inúmeras obras para o entendimento da Rússia como país.

Isaac Bábel mudou clandestinamente de sua cidade natal, Odessa, para Moscou (clandestino porque ao judeu não era permitido migrar), na capital russa, esse judeu-russo encontrou aquele que impulsionaria de vez sua carreira literária: Maksim Górki, este um talentoso escritor, dramaturgo, contista e, o mais importante, um influente ativista político.

“Contos de Odessa”, do escritor russo Isaac Bábel, na tradução de Rubens Figueiredo | Foto: Jornal Opção

Na condição de contista de inegável talento, Isaac Bábel, de início, produziu pequenas obras autobiográficas. Este foi o caso de “Contos de Odessa” (1931) e o livro que lhe propiciou ganhar fama internacional, “O Exército da Cavalaria”. Nesses escritos, o autor apresentou uma coleção de relatos da Guerra Civil que seguiu à Revolução de Outubro, expondo cenas de grande brutalidade. Resultado: essa obra-prima provocou a ira de uma parcela do exército.

Irineu Franco Perpetuo relata que “O Exército da Cavalaria” mexeu com os brios do poderoso e lendário comandante da cavalaria vermelha Semion Budionny, e este imputou punições ao escritor. Todavia Isaac Bábel foi salvo por aquele que se tornou seu grande e verdadeiro amigo: Górki.

Em “Como Ler os Russos”, o autor relata a relação promíscua entre o já autor renomado, Isaac Bábel, e os altos círculos do poder russo. Essa relação cobrou um alto preço desse grande escritor, pois ele foi preso, torturado e acusado de ser trotskista. O regime ditatorial do implacável Stálin não poupou, nem mesmo, a figura pública de um dos maiores escritores da Rússia. A rica vida literária de Isaac Bábel desapareceu quando o regime ordenou seu fuzilamento.

Se os mandantes do assassinato de Isaac Bábel pensaram que calariam a voz do mito com a morte, engaram-se. Passados 80 anos do ocorrido, ele continua mais vivo do que nunca no coração do povo russo.

Boris Pasternak

Boris Pasternak: grande poeta e prosador russo | Foto: Reprodução

Este é um nome com lugar de destaque no céu estrelado da literatura russa. Escritor de primeira linha, Boris Pasternak brilha, com a mesma intensidade, como poeta, como prosador, como tradutor e como respeitável acadêmico. Seus ensaios acadêmicos chegam a superar a sua vasta produção literária. Infelizmente, num ambiente repleto de estrelas, tive de fazer opções, mesmo sabendo que inúmeras injustiças eu iria cometer.

Desse modo, pedindo muitas desculpas aos outros Boris Pasternak, do acadêmico ao poeta, escolhi a produção em prosa desse intelectual. O que fez a diferença nessa minha escolha se chama “Doutor Jivago” (Companhia das Letras, 616 páginas, tradução de Sonia Branco; as poesias foram traduzidas por Aurora Fornoni Bernardini), um romance que custou 10 anos de pesquisa ao autor. “Doutor Jivago” se encontra ao mesmo patamar de outras duas obras-primas da literatura russa e mundial: “Os Irmãos Karamázov”, de Dostoiévski, e “Guerra e Paz”, de Tolstói.

A grandeza dessa obra-prima da literatura russa conta a história de um amor dividido do médico Yuri Jivago e duas mulheres. No caso em questão a esposa que ela transfere o amor maternal; e a amante, a quem ele realmente deseja como mulher.

Como toda obra-prima, “Doutor Jivago” alça-se a essa condição por ser capaz de atrelar as partes com o todo. Dito de outro modo: ao amor dividido entre os três personagens atrela-se o pano de fundo centrado na Revolução Russa de 1917.

Doutor Jivago foi considerado, pelos censores, como sendo antissoviético com sutis críticas ao stalinismo, à coletivização, ao grande expurgo e ao Gulag. O livro obteve um sucesso absoluto de vendas no exterior e deu ao seu autor o maior prêmio da literatura mundial — o Nobel. O mundo de então vivia a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Nesse ambiente de contínua tensão, “Doutor Jivago” serviu de propaganda anticomunista por mostrar os horrores da revolução bolchevista. Por essa razão, a agência de inteligência norte-americana (Central Intelligence Agency, CIA) foi decisiva, por muitos anos, na circulação da obra-prima de Boris Pasternak. Anos mais tarde, a Perestroika de Mikhail Gorbachev liberou a publicação que possibilitou ao filho desse grande escritor, anos após a o falecimento de Boris Pasternak, a convite da Academia Sueca, receber, em Estocolmo, o que era de direito do pai dele. No panteão dos grandes escritores russos, Boris Pasternak é um nome de fato imortal.

Uma palavra final      

Enfim, creio que, com esta visão panorâmica desenvolvida neste ensaio-resenha, procuramos discutir a grandeza da literatura russa. Vencida essa etapa, estamos mais instrumentalizados tanto para enfrentar a literatura mais condensada da poesia e dos contos quanto dos calhamaços de mil páginas, como é o caso dos romances “Guerra e Paz” (sem esquecer que escreveu “Anna Kariênina”, traduzida no Brasil, de maneira brilhante, por Rubens Figueiredo, o mesmo tradutor de “Guerra e Paz”), de Tolstói, e “Os Irmãos Karamázov” (vale a pena ler a tradução de Paulo Bezerra, direta do russo. É um trabalho de mestre de Paulo Bezerra), de Dostoiévski.

Grande parcela da intelectualidade entende que o sofrimento constrói a boa literatura. Creio ser essa uma meia verdade, pois de nada adianta ter sofrimento se não existam bons escritores para contarem as duas realidades inerentes ao ser humano — a interior e a exterior. A literatura russa tem todos esses ingredientes. O sofrimento de ver milhões de russos morrerem nas guerras, um clima altamente adverso aliado às disparidades regionais de um país de dimensões continentais, os horrores de ditadores como Stalin e assim por diante. A antiga União Soviética, hoje, Rússia, talvez, seja o lugar do mundo no qual os intelectuais mais foram perseguidos. Castigos mais brandos eram punidos com penas não tão brandas assim. Que o diga o exílio na fria e distante Sibéria ou as prisões no inferno do arquipélago Gulag ou, nos casos mais graves, o fuzilamento. (Por sinal, recomendo, como leitura complementar, o livro “Sussurros — A Vida Privada na Rússia de Stálin”, de Orlando Figes. A obra tem 824 e saiu no Brasil pela Editora Record, tradução de Marcelo Schild e Ricardo Quintana. O mesmo Figes é autor de outra obra excepcional: “Uma História Cultural da Rússia”.)

A literatura russa não só resistiu como saiu mais engrandecida de todas as intempéries pelas quais passou. Ao longo de sua história, solidificou-se nessas bases de tanto sofrimento. Não é por acaso que obras-primas como “Guerra e Paz”, “Os Irmãos Karamazov”, “Doutor Jivago”, enfim, a prosa da literatura russa caminha de mãos dadas com centenas de poetas para ser, cada vez mais, o que sempre foi: absolutamente universal, lida nos quatros cantos do mundo. Quem lê e entende um clássico russo jamais sairá da sua leitura como quando nela entrou.

Dias pra facilitar a leitura da literatura russa

Paulo Bezerra: tradutor de Dostoiévski | Foto: Reprodução

Aapresento, a seguir, um roteiro para facilitar sua leitura dos livros russos.

1

Escolha das edições e traduções certas

Antigamente, os leitores brasileiros liam as obras traduzidas de maneira indireta. Ou seja: os clássicos eram traduzidos para o inglês e francês e, só depois, ao português. Hoje, já se encontram edições diretamente traduzidas da língua materna russa. Ciente disso, escolha sempre a tradução direta do idioma original.

Rubens Figueiredo: tradutor de Tolstói, Tchekhov, Turguêniev e Bábel | Foto: Divulgação

Editora 34, Companhia das Letras, Nova Alexandria e a pequena Editora Kalinka publicam traduções diretas do russo. Entre os grandes tradutores estão Boris Schnaiderman (o decano, já falecido), Aurora Fornoni Bernardini, Sonia Branco, Denise Sales (traduziu, por exemplo, parte da obra do magnífico Varlam Chalámov), Irineu Franco Perpétuo (tradutor de Mikhail Bulgákov e do fabuloso Vassili Grossman), Lucas Simone, Tatiana Belinky (falecida), Cecília Rosas, Paulo Bezerra (o grande tradutor de Dostoiévski no Brasil), Nivaldo dos Santos, Paula Vaz de Almeida, Francisco Araújo, Zoia Prestes (filha de Luiz Carlos Prestes), Daniela Mountian (tradutora de Daniil Kharms, precursor do surrealismo) e Rubens Figueiredo (tradutor de Tolstói, Tchékhov e Turguêniev).

2

Número elevado de personagens

Os livros russos são, sempre, repletos de muitos personagens. Nesse sentido, a dica para uma boa leitura produtiva é esta: o leitor deve procurar ir anotando os nomes que vão surgindo nas histórias.

3

Saiba como dominar os nomes

Todo nome russo tem três partes: a do meio, denominada patronímico, refere-se ao pai. Um exemplo: Vladimir (prenome), Ivánovitch “(filho de Ivan”), Golovin (sobrenome).

Quem é o autor

Irineu Franco Perpetuo: tradutor de Vassili Grossman e Mikhail Bulgákov no Brasil | Foto: Reprodução

Façamos, agora, as apresentações do autor. Irineu Franco Perpetuo nasceu em São Paulo, em 1971. É jornalista, tradutor e colaborador da revista “Concerto”. Tem muita experiência nas traduções do russo, dentre as obras que traduziu para o português, destacam-se: “Memórias do Subsolo”, de Fiódor Dostoiévski, “Memórias de um Caçador”, de Ivan Turguêniev, “Vida e Destino” (a ditadura stalinista impediu a publicação do livro, que só na União Soviética nos tempos da Glasnost) e “A Estrada”, de Vassili Grossman, e “O Mestre e Margarida”, de Mikhail Bulgákov.

Salatiel Corrêa, engenheiro e escritor, é mestre pela Unicamp. Colaborador do Jornal Opção.