Cinema e história: duas palavras sobre a amizade de Wyatt Earp e Doc Holiday
25 outubro 2024 às 15h05
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Herondes Cezar
Doc Holiday era primo de Margaret Mitchell, a autora do romance “E o Vento Levou”, e serviu de inspiração para a escritora criar o personagem que no filme “E o Vento Levou” é interpretado pelo ator Leslie Howard. Ele era dentista e ficou tuberculoso (no filme “Sem Lei e Sem Alma”, Kirk Douglas, que faz Doc, diz que abandonou a profissão porque seus clientes não gostavam da sua tosse). Por causa da tuberculose, não era bom para sua saúde que continuasse a viver no Estado sulista da Geórgia. O médico lhe recomendou ir para o Oeste, onde o clima lhe seria mais benéfico, por ser seco.
Se ainda me lembro, foi numa cidadezinha chamada Fort Griffin que Wyatt Earp conheceu Doc Holiday. Wyatt, que era xerife em Dodge City, onde tinha por auxiliar (deputy) ninguém menos que Bat Masterson, foi a Fort Griffin à procura de um criminoso e, por meio do dono do saloon local, conheceu Doc Holiday, que lá vivia jogando baralho. Como tinha começado a mineração de prata em Tombstone, no Arizona, Wyatt já estava de plano a se mudar para lá, levando seus irmãos, para explorar saloon, com jogatina, e possivelmente garimpar prata. Como se simpatizou com Doc, convidou-o a acompanhá-lo rumo a Tombstone.
Wyatt chamou também seu irmão Newton, o mais velho e aleijado de uma perna, por conta de um ferimento na Guerra de Secessão e que estava em outro Estado, assim como o irmão Virgil (nascido imediatamente após Wyatt), que era auxiliar de xerife em outra cidade. Os três seguiram juntos para Tombstone, aonde posteriormente iria se juntar a eles Morgan Earp (nascido imediatamente após Virgil). Havia ainda o caçula dos Earp, chamado James.
Letal duelo do curral OK: Clantons X Earps
Em Tombstone, Wyatt, que era do Partido Republicano, tentou se candidatar a xerife, mas outro candidato, do Partido Democrata e protetor do bando dos Clanton, ladrões de gato, lhe propôs que o apoiasse, que na eleição seguinte ele teria seu apoio como contrapartida. Wyatt topou o acordo, mas o outro, depois de eleito, não cumpriu o trato, evidentemente, para continuar protegendo o bando dos Clanton. Não demorou muito, estourou o conflito entre os Earp e os Clanton, que desaguou no duelo do curral OK, no qual Wyatt, Virgil, Morgan e Doc enfrentaram cinco bandidos e mataram três.
O fatídico duelo do curral OK e suas consequências, inclusive um processo judicial, mudou para melhor a vida de Wyatt Earp, que ficou rico garimpando ouro no Alaska. Wyatt se livrou do processo judicial sobre o duelo com uma defesa consistente (eu tenho o texto que ele leu no tribunal e pretendo traduzi-lo um dia).
O texto usado por Wyatt para se defender deve ter sido escrito por outra lenda do Velho Oeste, o jornalista John Clum. Os irmãos Earp contavam com o apoio de Clum, dono do jornal “Tombstone Epitaph”.
Há filmes sobre o jornalista, que anteriormente tinha sido oficial da Cavalaria e administrador da Reserva de San Carlos, no Arizona. Ele inovou no trato com os índios, permitindo-lhes eleger membros da tribo para cargos da administração da reserva. E até conseguiu a proeza de fazer com que o apache Gerônimo, foragido e que barbarizava na fronteira do Arizona com o México, retornasse para a reserva de livre e espontânea vontade.
Herondes Cezar, crítico de cinema, faleceu na quinta-feira, 24 de outubro, aos 79 anos.