“Doonby”, do cineasta britânico Peter Mackenzie, fala do humano e do quanto cada um é essencial 

Cineasta Peter Mackenzie: “Estou apaixonado pelo Brasil. Vocês têm um excelente futebol, uma excelente gastronomia e, claro, belas garotas” | Foto: divulgação
Cineasta Peter Mackenzie: “Estou apaixonado pelo Brasil. Vocês têm um excelente futebol, uma excelente gastronomia e, claro, belas garotas” | Foto: divulgação

Yago Rodrigues Alvim

“Eu descobri que temos que aproveitar cada momento e tentar fazer alguma diferença”, diz Sam Doonby. Inter­pretado por John Schneider, o personagem dá nome ao quarto filme do cineasta britânico, o diretor Peter Mackenzie. “Doonby”, de 2014, foi lançado na última semana na capital goiana, com estreia prevista para o dia 16 de junho.
Mackenzie esteve na cidade para a ocasião e visitou o Jornal Opção. An­tes, o diretor visitou Brasília, também divulgando sua obra-cinematográfica; depois de Goiânia, ele agora segue para São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
De carisma ímpar, o britânico contou sobre sua história no cinema, o processo de produção do longa, período em que lutou contra um câncer, e falou ainda da magia do cinema: a de mudar a vida ao redor. Leia abaixo a entrevista traduzida livremente para o português.

Gostaria de saber, primeiramente, sobre sua história com o cinema e, em especial, com “Doonby”.
A história de “Doonby” começou na minha mente há 34 ou 35 anos atrás. Na época, eu não fazia filmes, eu vendia chocolates; e foi quando escrevi a história e tentei vendê-la. Foi horrível. Mas eu aprendi muito com isso. Depois, comecei a trabalhar em uma agência publicitária como redator (copywriting); entrei para a área de comerciais, na produção e, por fim, comecei minha própria companhia de produção – isto, claro, ao longo dos anos. Eu produzi aproximadamente 300 comerciais por todo o mundo. Eu comecei na Inglaterra, depois fui para a Bélgica e segui para Grécia, Singapura, Austrália, Índia (…). Eu nunca estive antes na América do Sul; esta é a minha primeira vez e o Brasil é maravilhoso. Estou muito contente de estar aqui.

Eu estava capacitado para fazer filmes, já que estava na área de direção. Fiz três filmes e comecei a produzir “Doonby”. É sobre um rapaz misterioso, Sam Doonby, que se munda para uma pequena cidade no Texas – que é um lugar real. Lá, ele consegue um emprego em um bar de blues, o Leroy’s Bar. Ele é um cantor muito bom, mas as pessoas não sabem e, até determinado momento, é apenas um barman. Ele se torna muito popular, todos o amam. Mas aparece, enfim, uma garota local, por quem ele se apaixona. Doonby está sempre no lugar certo e na hora certa, em inúmeras ocasiões, e impedindo desastres.

As pessoas, no entanto, começam a se perguntar “quem é esse cara? o que ele está fazendo? esta era uma cidade muito calma até ele chegar aqui”. Então, rejeitam-o e a garota também. Ele some sem que saibam quem ele é, de onde veio; ele apenas desaparece até que descobrem tudo o que ele fez, que ele salvou todas aquelas pessoas, as quais estariam mortas se não fosse por ele. A história é sobre a importância da existência de todos nós, a minha, a sua, a de qualquer pessoa; pode ser boa ou não, mas nós temos influência na vida dos que conhecemos e, se escolhermos ser bons, será uma boa influência.

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Mas o filme tem um final triste?
Você tem de assisti-lo (risos). Acontece uma reviravolta nos minutos finais e você fica “Oh, meu Deus” e tudo que você sabia antes muda. O que é interessante no filme é que, ao final, ninguém se move; as pessoas ficam lá, estáticas, olhando para a tela: “Oh, só mais um minuto”, perplexas.

É a primeira vez que vem ao Brasil; o que o sr. está achando do país e, em especial, de Goiânia?
Estou apaixonado pelo Brasil. Desde quando eu era um garotinho o país era uma fantasia para mim e eu queria conhecê-lo. Vocês têm um excelente futebol, uma excelente gastronomia, excelentes músicas e, claro, vocês têm belas garotas. É um país muito glamoroso e eu estou aproveitando muito. A­cho que existe uma inteligência bra­sileira e eu não sei dizer por quê; vocês abraçam e se afeiçoam, di­ferentemente de pessoas de outros lugares. Os brasileiros são muito apaixonantes. E tem uma ex­celente tradição fílmica. Vocês os en­tendem e não precisam ser só blo­ckbusters de ação – não; as reações são muito boas. Isso é fantástico.

O filme foi lançado só agora no Brasil. Quando ele começou a ser produzido e foi lançado mundialmente?
O lançamento nos EUA foi na última semana de 2014, mas ainda assim foi em 2014. O processo de produção começou assim que eu tive em mãos o roteiro e fomos ao Texas para filmar – o financiador, que tinha muito dinheiro, fez questão de filmarmos no Texas, pois é onde ele vive; ele o financiou por ter gostado muito do roteiro. Então, eu me encontrei com um elenco, que é excelente; nós temos, dentre os atores, John Schneider, que fez “Smallville” e é muito popular; conseguimos ainda Ernie Hudson, de “Ghostbusters”; Robert Davi, dos “Goonies”; e Jennifer O’Neill, uma atriz que nasceu no Rio de Janeiro e fez “Summer of 42”. Nos anos 1960, todos os garotos do mundo eram apaixonados por ela. (risos)
A pré-produção durou cerca de dois meses; a filmagem seis semanas; e a pós-produção durou, infelizmente, mais tempo que o esperado, pois eu fui diagnosticado com câncer de garganta. Hoje, estou bem, mas fez com que o processo de pós-produção fosse muito longo, pois eu estava na quimioterapia, com radiações e tudo mais. Durou quase um ano para lançarmos o filme e nós fizemos isso na América, onde teve uma boa repercussão. Depois, lançamos além-mar. Na Polônia, foi como aqui, foi muito bem-sucedido. Ficamos muito animados. E queremos ainda lançar o filme na África do Sul, Índia e Austrália.

O sr. gostaria de filmar no Brasil?
Eu tenho muitos roteiros que funcionariam bem no Brasil, em uma coprodução. Eu amaria filmar aqui, pois vocês têm ótimos atores. As­sisti a novelas e vocês têm ótimas atrizes. Quando passarmos por São Paulo e Rio de Janeiro, eu es­pero conhecer o máximo de pessoas que puder; não consigo pensar em nada mais legal que filmar aqui.
Já tenho um novo roteiro, que é um pouco paranormal. É uma estrela do rock que está se recuperando do vício das drogas e que se casa com uma garota selvagem, com quem tem um casamento vodu. Eles ganham de presente de casamento um computador com um aplicativo estranho, que os ajuda financeiramente e, do nada, coisas começam a aparecer na casa. É este tipo de história. Não começamos ainda a filmá-lo, nada assim; estamos pensando em Nova Orleans, mas poderia funcionar aqui. Chama-se “The Weeding Pre­sent” [“O Presente de Casamento”].

Como foi a recepção no mundo e no Brasil? E teve algo que lhe marcou?
Foi incrível, muito emocionante, as pessoas me cumprimentaram e agradeceram. E teve uma pessoa em particular que estava de fato muito emocionada. Ela assistiu ao filme e disse que mudou sua vida. Isso foi muito emocionante para mim. É cu­rioso quando você escreve algo, transforma em filme e ele tem um efeito no público. Você pensa “ok”. (risos)

Esse é o objetivo de se fazer filmes?
Claro. Não é de todos os cineastas? Você conhece “Ghost” [Do Outro Lado da Vida]? Quando eu terminei de assisti-lo e olhei ao redor e todos estavam em lágrimas; eu pensei “se eu puder fazer isso…” (risos) Este é o segredo, ter efeito no público. Você pode transformar a vida de alguém. Meu filme não é religioso, político, nada disso; eu me certifiquei de todas as formas para que não o fosse. É maior que isso, melhor. Ele é humano. E faz com o outro pense, reflita de um jeito que os entretenha também. Mas ele tem isso, de reflexão, de humano. Eu espero que isto aconteça, que as pessoas pensem sobre o filme dois ou três dias depois, e não que elas vão para uma pizzaria, depois da sessão, e já tenham esquecido do filme. Es­pero, de coração.

Veja abaixo o trailer de “Doonby”, do cineasta britânico Peter Mackenzie.