“Catarina, a Viúva Virgem” é um romance sobre a triste história da infanta espanhola

26 fevereiro 2023 às 00h00

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Mariza Santana
No ano de 2015, o rei Henrique VIII foi considerado o pior monarca da história inglesa pela Associação dos Escritores Históricos do Reino Unido. Ele é lembrado como um tirano que dividiu religiosamente o país e causou confrontos e mortes por séculos, somente porque desejava ter um herdeiro do sexo masculino para continuar a dinastia Tudor. Para isso, não hesitou em criar a Igreja Anglicana, da qual se tornou o chefe supremo, para que pudesse se separar de sua rainha, Catarina de Aragão, solicitação que foi negada pelo papa na época.
Tudo isso é história e até os dias de hoje os relatos sobre a dinastia Tudor atraem a atenção de pesquisadores e do público geral, por isso são muitos os livros, filmes e séries sobre o tema. No livro “Catarina, a Viúva Virgem”, a escritora inglesa Eleanor Alice Buford Hibert, sob o pseudônimo de Jean Plaidy, refaz a trajetória da infanta espanhola Catarina de Aragão, nos seus primeiros anos de estadia na Inglaterra, desde que chegou, ainda bem jovem, para se casar com o primogênito de Henrique VII, Arthur, passando pelo matrimônio real e a viuvez precoce, sem que o enlace fosse consumado.
Surgia então, conforme conta o romance, a viúva virgem, que embora fosse a filha caçula de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, reinos que deram origem à Espanha e eram potências da época, foi condenada a um triste destino.

Ao ficar viúva, Catarina se viu em uma situação difícil na corte inglesa, sem uma posição definida, passando por dificuldades financeiras junto com sua pequena comitiva, enquanto as peças do xadrez político da Europa se moviam naquele início dos anos 1500.
Um novo pretendente a marido era Henrique, o príncipe de Gales, irmão mais novo de Arthur, ainda um menino, mas já dando sinais do homem vaidoso e temperamental que iria se tornar, pois essas características iriam forjar o futuro déspota Henrique VIII, aquele que a entidade dos escritores do Reino Unido elegeu como o pior monarca da história do país.
A morte de Isabel de Castela, mãe de Catarina, as ambições de seu pai, Fernando de Castela, a loucura de sua irmã Joana, herdeira de trono de Castela, que tinha uma fixação pelo marido Felipe, arquiduque de Flandres, a fraca atuação do embaixador espanhol. Todos esses ingredientes contribuíram diretamente para as desventuras de Catarina em terras inglesas. Ela não consegue retornar para a Espanha, e fica anos a fio à espera de uma solução e da boa vontade do monarca inglês e de seu pai.
Já li outros livros sobre a dinastia inglesa e assisti à série “The Tudors”. Confesso que o tema me atrai e fascina, principalmente o destino de Catarina de Aragão que, como todos sabemos, depois de finalmente se casar com Henrique VIII e se tornar a rainha da Inglaterra, seria repudiada por ele. O monarca se divorcia da espanhola, depois de criar sua própria igreja, para desposar Ana Bolena, aquela que foi decapitada a mando do próprio marido, mas que foi a mãe da rainha Elizabeth I, uma grande figura da história do Reino Unido.
Após suceder a meia-irmã Mary Tudor, filha de Catarina, Elizabeth I, por sua vez, foi tão tirana quanto o pai quando o assunto era defender sua legitimidade no trono, embora tenha dado início, no seu reinado, aos anos de ouro da Inglaterra como nova potência europeia.
O livro “Catarina, a Viúva Virgem” se resume a uma parte da história da infanta espanhola em terras inglesas, mas traça um panorama detalhado do contexto político da época na Europa, no início do século XVI. Mostra ainda como a morte precoce de um herdeiro, no caso Arthur, que é descrito como doentio, mas de bom caráter, levou a Inglaterra para os anos turbulentos do reinado de Henrique VIII, marcado por perseguições religiosas, rebeliões combatidas com rigor sanguinário e esposas sendo descartadas na busca de um herdeiro varão.
Não é à toa que este monarca inglês recebeu o título de pior da história do Reino Unido. Mas sua história, de suas esposas e filhas, e também de seus antepassados, continuam a atrair o interesse de gerações, mesmo tantos séculos depois.
Mariza Santana é jornalista e crítica literária. E-mail: [email protected]