Você nunca mais escreveu cartas sobre o amor.
Covarde.

Aprendeu a amar outros mundos? E nós, que vivíamos nos carteando

disfarçando que estávamos, notas de cartas apostando.

Por muito tempo não houve para quem escrever cartas.
Não que elas não se materializassem de tempos em tempos,
mas não havia para quem escrever cartas.

Tuas cartas marcadas,
trocadas por amor,
sumira.
Covarde.

E você nunca mais escreveu sobre o amor.
Daquelas cartas que escrevestes,
o que sobrou?

Enquanto isso
Eu fiz ressurgir o céu da noite
em que pintei o céu da sua boca.
Teus lábios,
que não derramaram uma gota de perdão,
se apertaram ao me ver.

Ah, que se eu tivesse nascido nos templos dos gregos
roubaria os sentidos mais íntimos dos humanos.
Mas fiz o que pude,
para que as minhas cartas de amor
ficassem sempre à mostra
naquelas páginas cinza,
para que eu nunca esquecesse
das tuas cartas de amor.

A primeira vez que me mostrei
foi numa carta covarde de amor.
E por isso ainda hoje escrevo algumas cartas,
ainda que covardes.

Você reparou?
Nunca mais escrevestes cartas por amor.
E nem devia.
Pra quem seria?
Me espremo todo santo dia para tirar
uma nova carta sobre o gosto do amor

A mistura de nossos gestos
se misturavam em nossas bocas,
com gosto de amor.

Me espremo todo santo dia
para tirar uma nova carta de amor.

Tenho feito grandes planos,
ainda que comuns.
Sonhado novos sonhos,
ainda que pensem de mim.
Tenho reclamado de boca cheia,
mesmo que em grande parte em razão.

Covarde que fui, que sou,
escrevi mais uma maldita carta de amor.
Que nunca foi.

Desprevenido, desajeitado,
serviu aos dois.
Covarde e afobado,
serviu a mim.

A distância
e a intimação,
serviu a quem?

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