Evento atraiu público ao Centro Cultural Oscar Niemeyer durante três dias não só com a bebida, mas também com cafés especiais, gastronomia e música

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Marcas goianas chamam a atenção com estilos diferentes e ingredientes especiais | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

Bruna Aidar

O consumo de cervejas artesanais em Goiânia está a todo vapor. A cada ano, surgem marcas especiais, lojas especializadas e bares voltados exclusivamente para esse produto – segundo a consultoria Mintel, em 2014, o mercado cresceu 36% no Brasil. Neste fim de semana, a cidade recebeu também um festival dedicado a este público: o Festival IBU Goiânia.

Sob o lema “beba menos, mas beba melhor”, como bem disse mestre cervejeiro da Astúria, Edmilson Silva, o IBU movimentou o Centro Cultural Oscar Niemeyer com cerveja, cafés especiais, gastronomia e música.

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Segundo um dos organizadores do evento, o proprietário do Ateliê do Grão, Rodrigo Ramos, o IBU foi pioneiro em unir cervejas e cafés. “Existem alguns festivais nesse formato nos Estados Unidos, mas no Brasil foi a primeira vez”, destaca.

Para ele, a experiência de unir os dois produtos foi positiva.  “O público de cafés especiais não conhecia, às vezes, as cervejas artesanais, e acabou conhecendo. O pessoal que era das cervejas artesanais e não conhecia o café artesanal, também experimentou”, conta.  “Foi muito legal essa interação e ver que uma coisa tem muito a ver a outra”, comemora.

Rodrigo também destaca que esse é um ótimo momento para a realização de festivais do tipo. “O consumo de café cresce 2% ao ano, o de café especial cresce 25%. Tem muito mais gente ingressando nesse consumo de bebidas diferenciadas e de bebidas especiais, do que das commodities”, esclarece.

Falando especificamente do seu ramo de atuação, explica que oportunidades para o próprio cliente conhecer um produto especial são fundamentais. “O café especial tem demanda por um público novo. Existem feiras direcionadas aos produtores, operadores de máquinas e de cafeteria, torrefadores, mas não existe uma feira direcionada ao público final”, relata e completa: “Se esse público final não conhecer o produto, não tem como ele consumir.”

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Patricia Mercês e o sommelier de cervejas Alberto Nascimento comandam a Colombina: “A gente traz mesmo o cerrado pra dentro da garrafa” | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

No festival, além das cervejas que despertaram a curiosidade dos visitantes — destaque para a Roleta Russa, uma India Pale Ale super amarga com índice IBU de 120 –, as marcas goianienses chamaram a atenção. Colombina e Astúria atraíram o público com ingredientes regionais, inusitados e opções diferenciadas da bebida.

Patricia Mercês, que comanda a Colombina, destaca que a marca é um bom exemplo do crescimento do mercado goianiense. Criada há um ano e meio, a cerveja já conquistou o público e tornou-se referência da bebida produzida no Estado. “Tem crescido muito o interesse. Nosso público vem conhecendo, tem deixado de consumir as padrões e buscado algo a mais”, disse ela.

O destaque da Colombina são os ingredientes escolhidos pelo sommelier da marca, Alberto Nascimento. Apostando em produtos típicos do Cerrado, atrai a curiosidade do público, como aponta Patrícia: “Nós, do setor cervejeiro, vemos que a evolução da cultura cervejeira no Brasil é justamente você trazer o que você tem na sua região pra cerveja”. “A gente traz mesmo o cerrado pra dentro da garrafa.”

Além das cervejas de catálogo, as marcas também têm buscado criar produtos especiais, que atraiam a atenção do público. Para o festival, a Colombina, por exemplo, levou a Romaria, criada especialmente para o aniversário da capital. A cerveja, inusitada, mistura a mutamba, fruto típico do México, com a baunilha do cerrado.

A Astúria, por sua vez, conquistou muita gente com a Red, que leva rosas e hibisco na composição. Bem suave, foi um dos destaques do festival. As cervejas colaborativas, em parceria com outras empresas, também são bastante exploradas, como ressalta o mestre cervejeiro da cerveja, Edmilson Silva.

Edmilson Silva, mestre cervejeiro da Astúria: 40 anos no ramo da cerveja | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção
Edmilson Silva, mestre cervejeiro da Astúria: 40 anos no ramo da cerveja | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

Edmilson trabalha com cerveja há 40 anos, com passagens por grandes empresas, como a Ambev. Ele foi convidado pela Klaro, marca de chope que produz a Astúria, e, recentemente, participou da criação do novo produto, que tem quatro meses de mercado.

Ele conta que, a partir de um Mestrado em Administração de Negócios (MBA, na sigla em inglês), a empresa percebeu a existência de um mercado em potencial no ramo das cervejas artesanais. “Percebemos esse nicho aí, começamos a estudar um pouquinho mais o mercado, e vimos que era uma tendência de outros estados, de outras marcas”, explica. “Achamos que pegava bem aqui pra Goiás e acho que não erramos não”, comemora.

Segundo Edmilson, o público é muito interessado nas cervejas artesanais, mas ainda tem muito a aprender: “Às vezes a pessoa pede uma IPA (India Pale Ale), mas na verdade não é a IPA que a pessoa quer”. “Eu percebo que as pessoas precisam de muitas informações ainda, porque muitas pessoas não sabem o que é cerveja artesanal, não entendem de estilo”, diz.

Ensinar o público a apreciar estes produtos, com uma pegada mais artesanal, também é um dos objetivos do IBU e das próprias marcas. “À medida que a gente entra pra falar alguma coisa, que a pessoa descobre, busca mais informações, eu percebo que isso enriquece e ajuda a gente”, sustenta. Ele destaca que workshops e cursos, com troca de informação entre o público e a empresa, são extremamente produtivos.

Rodrigo concorda e diz que o objetivo das marcas não é “constranger” o cliente. “Quero que o coloque a bebida na boca e veja: ‘Isso aqui é diferente, isso aqui é bom’. Então a gente quer que ele tenha uma experiência sensorial, não quero que ele tenha constrangimento, não é nada disso. É sentir uma sensação bacana”, finaliza.