Batman vs. Superman: a nova era dos quadrinhos no cinema
01 abril 2016 às 08h59
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O longa divide opiniões, mas algo é certo: DC/Warner mostram que não vão seguir os passos da Marvel nos cinemas e apostam em um filme feito para fãs que têm mais experiência em HQs
ANA AMÉLIA RIBEIRO
Especial para o Jornal Opção
O ano de 2016 é o ano das HQs mais aguardadas no cinema. Teremos: “Capitão América: Guerra Civil” (28/04), “X-Men: Apocalipse” (18/05), “Esquadrão Suicida” (04/08) e “Doutor Estranho” (03/11). O pontapé inicial foi com “Deadpool”, no dia 11 de fevereiro, logo seguido pelo recentemente lançado “Batman vs. Superman: A Origem da Justiça” (24/03). E o que falar desse filme que “mal” chegou aos cinemas e já é considerado um sucesso de bilheteria, e de críticas? Muitas coisas! Veja:
O universo das HQs no cinema
Desde os anos 2000, com o primeiro filme dos X-Men (Bryan Singer), os filmes de quadrinhos foram se “moldando” aos cinemas. Tivemos grandes blockbusters desde então, e alguns fracassos pelo caminho. Porém, em parceria com a Warner, a DC está desde o final dos anos 1980 caminhando na corda bamba, que é a linha tênue entre um bom filme de herói e catástrofes de bilheteria.
Oito anos depois do fracassado “Batman & Robin” (Joel Schumacher), em 2005 o diretor Christopher Nolan ficou com a responsabilidade de recriar o Homem Morcego nos cinemas, trazendo para a telona uma trilogia de um Batman mais sombrio, com uma pegada realista e mais humana.
Com o sucesso de “Batman Begins”, DC/Warner, que estavam há 19 anos sem lançar filmes sobre o filho de Krypton, lançam em 2006 “Superman: O retorno” (Bryan Singer) — até então as produções “mais recentes” sobre o filho de Krypton eram os seriados “Lois e Clark – As Novas Aventuras do Superman” (1993-1997) e “Smallville” (2001-2011). Apesar das boas críticas, e da boa bilheteria na época, a Warner decidiu não dar sequência ao filme do Superman, e deixou uma promessa de reboot para o futuro, focando, apenas, no encerramento da trilogia do Cavaleiro das Trevas de Nolan.
A Marvel, no entanto, foi pioneira na arte de construir personagens. Em 2008, com “Homem de Ferro” (Jon Favreau), ela deu início ao Universo Marvel dos cinemas, e a partir daí todos os filmes lançados por ela foram para construir a narrativa de “Os Vingadores – The Avengers” (Joss Whedon), lançado em 2012.
Nesse momento, com o final da trilogia dirigida por Christopher Nolan, DC/Warner “perceberam” que estavam “atrasadas” em relação a construções de universo de filmes de heróis. Então, com a consultoria de Nolan, DC/Warner contratam Zack Snyder (“300” e “Watchmen”) para dirigir e criar o Universo DC nos cinemas, começando em 2013 com o polêmico “Man of Steel – O Homem de Aço”.
O Filho de Krypton vs. O Morcego de Gotham
“Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (BvsS) era um filme muito esperado pelos fãs da DC, desde seu anúncio na San Diego Comic Con de 2013. O filme é a continuação de “Homem de Aço” (2013) — ambos dirigidos por Zack Snyder, um diretor que divide opiniões. Considerado visionário, mas ao mesmo tempo pretencioso e até mesmo arrogante, Snyder é do tipo de diretor que te faz pensar, por dias, sobre seus filmes. Com “BvsS”, ele nos trouxe uma nova era de filmes de quadrinhos da DC no cinema, um pouco atrasado, vamos ser sinceros quanto a isso, mas trouxe.
O filme que conta a história do início da Liga da Justiça vai na contramão de todos filmes adaptados dos quadrinhos feito pela concorrente Marvel. Esqueçam os tons claros e quentes, e piadas alegres, e pós-créditos. Preparem-se para os tons escuros e muito sépia, piadas sarcásticas (com selo Alfred Pennyworth de qualidade), e nenhuma cena pós-crédito; além de muito slow motion e uma enxurrada de easter eggs das HQs, dignas de deixar qualquer Capitão América boquiaberto com tantas referências.
Apesar das inúmeras críticas negativas, o filme teve uma boa abertura de bilheteria. O longa estreou dia 24 de março e arrecadou R$ 45 milhões no Brasil desde sua primeira exibição ao público, nas pré-estreias de quarta-feira. Isso fez com que o filme tivesse a maior abertura de todos os tempos em solo brasileiro, deixando para trás “Vingadores: Era de Ultron” (R$ 37,1 milhões) e “Deadpool” (R$ 25,1 milhões), se tornando o campeão de bilheteria não só do ranking geral (ultrapassando “Os Dez Mandamentos”), mas também das adaptações de quadrinhos aos cinemas.
O filme já arrecadou US$ 501,9 milhões no mundo todo, segundo a Variety. Porém, apesar disso, a bilheteria caiu 54,9% de sexta-feira, 25, para domingo, 27, nos EUA segundo a Forbes, registrando a maior queda de bilheteria de filmes sobre quadrinhos no mesmo final de semana de estreia, ficando à frente da desastrosa adaptação de “Quarteto Fantástico” (48,3%).
“BvsS” é um filme de 8 ou 80, quem ama defende com unhas e dentes, e quem odeia critica com a mesma intensidade. Eu faço parte da turma que defende o filme, pois, apesar de ser um longa feito “às pressas” pela DC/Warner, foi um bom começo para a formação da Liga da Justiça. É um filme que tem erros e clichês, sim, como qualquer outro filme de super-herói; a diferença foi o recurso do “fan service”, e Snyder soube trabalhar muito bem esse recurso durante o longa.
Se você não entende muito de “Cultura Pop Nerd/ Geek” e ficou “boiando” no termo “fan service”, a tradução do nome já diz tudo: é um serviço feito para fã. É um recurso usado pelos diretores e roteiristas, que são feitos para agradar fãs e, às vezes, usado como recurso comercial. Snyder apela para o fan service do início ao fim de “BvsS”, com raras exceções.
Em momentos específicos do filme, os leitores dos quadrinhos tiveram a sensação de estar assistindo, em “live action”, cenas de determinadas HQs. No início do filme, quando mostram a morte dos pais do Homem Morcego, Thomas e Martha Wayne, a cena é retirada dos quadrinhos “Cavaleiro das Trevas” (TDK). Outra cena marcante com essa pegada é quando Clark Kent, o Superman, deixa de lado sua briga contra Bruce para salvar uma vítima de um incêndio no México — essa parte recria alguns quadros de “Superman: Paz na Terra”. Sem contar as cenas que são referência aos jogos “Injustice: Gods Among Us” e “Batman: Arkham”.
Como já havia dito, o filme tem tanta referência que eu precisaria escrever outro texto, só para comentar cada uma delas. Sem contar os spoilers para quem ainda não viu o filme.
Para muitos críticos, o filme “não passa de um trailer, com de duas horas e meia de duração”, porém, é um filme que mostra a que veio. Muitas teorias das conspirações (que foram elaboradas a partir dos trailers) são desconstruídas no decorrer do longa. Alguns clichês do roteiro podem ser facilmente justificados com algumas HQs icônicas dos protagonistas.
O Batman segurando uma arma, por exemplo, é encontrado numa cena idêntica em “Cavaleiro das Trevas”; Superman matando no “Injustice” — com uma motivação bastante diferente da do filme, é verdade, mas mata. São detalhes pequenos que quem não lê as HQs, não aprova e/ou não entende, e que poderiam ser melhor adaptados pensando nesse público que foi no cinema querendo assistir a “Era de Ouro dos quadrinhos”.
Com “BvsS”, Snyder mostrou, em tons de sépia — desculpem, mas não podia deixar passar essa referência —, que a DC não vai seguir os mesmos passos da Marvel nos cinemas. Já chegou mostrando um fan service, muito bem servido, um filme feito para fãs que têm mais experiência no mundo das HQs da DC. Poderia ter sido um filme que atraísse a atenção da garotada que está começando a se interessar por super-heróis agora, como a Marvel faz em suas franquias? Sim, poderia. Porém, nós estamos falando de um filme da DC dirigido pelo Snyder, então “BvsS” está sim dentro da expectativa esperada, desde seu anúncio em 2013.
É um filme com exageros, clichês, alguns diálogos fracos, com algumas cenas inseridas de forma abrupta? Sim, mas é um filme que sai do padrão de filmes de heróis produzidos ultimamente, um filme que te faz refletir sobre o que é ser um super-herói, ou como seria se eles realmente existissem. Um filme que te faz discutir durante dias se ele é bom ou ruim, que tem ótimos argumentos de ambos os lados, que é digno até de textão de uma jornalista desconhecida no Opção Cultural.
Assistam o “BvsS” e converse com quem gostou e com quem não gostou, tire suas próprias conclusões sobre o filme. Mas não deixe de ver. Porque, se um filme é bom ou ruim, o que vale é a sua opinião, de você ter gostado, se divertido; ou não. No final das contas, o maior crítico do filme é você e sua experiência no cinema.
“Ding, ding, ding, ding, ding”
O que esperar dos próximos filmes da DC/Warner no cinema? Acredito que muita coisa boa está por vir, começando com “Esquadrão Suicida”. Ano que vem tem o filme contando sobre as origens da Mulher Maravilha, no dia 22 de junho, e a “hora da verdade” com a “Liga da Justiça – Parte 1” chegando aos cinemas no dia 16 de novembro — e até lá muitas teorias serão criadas graças aos easter eggs de “BvsS”. E muita coisa pode mudar no arco, dependendo do sucesso dos próximos lançamentos e da repercussão de “A Origem da Justiça”.
Um adendo:
Falando um pouco das atuações, o filme traz novamente Henry Cavill como Superman, só que agora interpretando o filho de Krypton bastante confuso com suas ações, desde sua batalha contra Zod. Amy Adams, de Lois Lane, mostra o que é ser uma donzela em perigo. Diane Lane, a Martha Kent, é a ponta do iceberg da cena mais clichê (e a mais funcional) do filme.
O filme também conta com a atuação de Ben Affleck como Batman. O ator trouxe para as telonas um Homem Morcego mais obcecado, e visivelmente perturbado após 20 anos “trabalhando” como o Cavaleiro das Trevas de Gotham. O experiente Jeremy Irons vive o “mordomo-mecânico-voz da consciência” Alfred Pennyworth; a lindíssima Gal Gadot, de Mulher Maravilha, surpreendeu bastante interpretando a Princesa das Amazonas.
Por último, mas não menos importante e um pouco decepcionante, Jesse Eisenberg como Lex Luthor. Ele recriou o dono da LexCorp mais psicótico e exagerado, com uma pitada de Coringa, deixando muito claro durante o filme que seu relacionamento conturbado com o pai deixou ele mais agressivo com figuras de autoridade, vamos por assim dizer.
Ana Amélia Ribeiro é jornalista e fã incondicional de quadrinhos. DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica.