Não é fácil cantar em português, então é preciso valorizar o esforço dos estrangeiros

A língua portuguesa não facilita a vida dos artistas. Não é fácil escrever em português e, muito menos compor (de maneira decente, eu digo) nesta língua. É claro que isso não torna as músicas brasileiras de qualidade superiores às de outras línguas, afinal é difícil compor em qualquer idioma, mas agrega valor a elas, sobretudo aos ouvidos que entendem de música. Por isso, não é simples para um estrangeiro cantar em português: há dificuldades, inclusive, físicas para falar a língua. Então, é preciso valorizar o esforço. A lista tem esse propósito. Uma observação: O que reproduzo aqui está — como todas as listas — ancorado no gosto pessoal, mas não invalida a qualidade do conteúdo apresentado. Aprecie, caro leitor.

Sant Andreu Jazz Band  Águas de Março

Sou suspeito para falar de “Águas de Março”, que é uma das composições mais lindas deixadas por Tom Jobim e magistralmente interpretada por ele e Elis Regina. Aqui, a Sant Andreu Jazz Band, da Espanha, faz uma belíssima interpretação desta canção, nas vozes de Alba Armengou e Rita Payes. A escolha foi difícil porque a Sant Andreu, sob direção do maestro Joan Chamorro, tem outras fantásticas versões da MPB brasileira, como “Chega de Saudade”, música de Vinicius de Moraes e do velho Tom, no portuguesa cambaleante da jovem e talentosa Andrea Motis.

Beirut – Leãozinho

Beirut é uma das bandas das quais gosto muito. O primeiro CD que comprei deles foi em Uberlândia há anos atrás, que está no carro até hoje e, vez ou outra, roda de uma ponta a outra. Por isso, a interpretação de “Leãozinho”, de Caetano Veloso, não poderia falta na lista. Neste vídeo há uma fala de Zach Condon sobre seu gosto pela música brasileira e também do porquê cantar a canção de Caetano — ele chega a mostrar alguns LPs e, quando chega no disco de Chico Buarque ele diz que “Roda Viva” é uma de suas músicas “favoritas de todos os tempos”. E fala também de Jorge Ben…

Miriam Makeba – Chove chuva

Aliás, quem fez uma linda interpretação de Jorge Ben Jor, em 1966, foi Miriam Makeba. Ouça a beleza da voz da  sul-africana cantando “Chove chuva”, música de 1963:

Brigitte Bardot – Maria Ninguém

Brigitte Bardot, a belíssima Brigitte Bardot, também tem uma interpretação de música brasileira. Trata-se de “Maria Ninguém”, canção de Carlos Lyra, a qual cantou em 1964. Brigitte merece estar aqui? Claro, afinal, se “Deus criou a mulher”, criou também a Bossa Nova.

Nat King Cole – Suas mãos

O inesquecível Nat King Cole cantou “Ninguém me ama“. A música do compositor pernambucano Antônio Maria foi interpretada em dupla com Silvinha Telles, mas a versão que de fato marcou foi a de “Suas mãos”, também de Antônio Maria em parceria com João Pernambuco.

Dizzy Gillespie – “Desafinado”

Outra interpretação digna de eterno replay é vem do trompetista estadunidense Dizzy Gillespie. Em uma de suas marcantes apresentações, ele tocou esta música de Tom Jobim, empolgando a plateia da época e a quem escuta atualmente, décadas depois da gravação. Dizzy era um mestre do trompete e do jazz e sua versão de “Desafinado” deve ficar eternizada.

Arcade Fire – O morro não tem vez

No Lollapalooza Brasil 2014, a canadense Arcade Fire resolveu mostrar para seu público uma versão muito interessante de “O morro não tem vez”, da grande Elis Regina. O trecho é curto, apenas a primeira estrofe da canção de Elis, mas vale a pena ouvir. Na voz de Régine Chassagne, a banda fez um belo mash up de Elis com “It’s Never Over”, da própria Arcade Fire.

https://www.youtube.com/watch?v=oNlEGyR9X2Q

Esperanza Spalding – Ponto de Areia

Essa é dica do leitor Emerson Fagundes, que é músico e compartilhou com a gente essa lindeza da contrabaixista estadunidense Esperanza Spalding. Uma bela interpretação de “Ponto de Areia”, música do mestre Milton Nascimento. É para fechar com chave de ouro!