Mariza Santana

Um ano após a morte de uma de suas filhas gêmeas idênticas de forma trágica, o casal Angus e Sarah Moorcroft se muda de Londres para uma ilha escocesa distante e isolada, que o homem havia herdado da avó. O propósito era reconstruir a vida familiar, despedaçada pela perda de uma das gêmeas em um acidente doméstico. Além do desafio de reformar e tornar habitável o casarão situado na ilha onde está instalado um farol, os Moorcroft se deparam com um novo drama: a dúvida sobre qual das gêmeas morreu e qual sobreviveu.

Isso acontece porque Kristie — a suposta sobrevivente — começa a ter crises de identidade e passa a dizer que é Lydia, a irmã falecida, além de enfrentar problemas de relacionamento na nova escola. Ela afirma ver o fantasma da gêmea que morreu, enquanto por seu lado, Sarah e Angus se deparam com os fantasmas do relacionamento, que envolvem mentiras, adultério e segredos de lado a lado.

Esse é, em suma, o enredo do livro “As Gêmeas do Gelo”, thriller psicológico de S. K. Treymane, pseudônimo do jornalista britânico Sean Thomas. Paralelamente ao drama da morte de uma das filhas gêmeas idênticas, o escritor descreve a natureza inóspita do norte da Escócia, com suas belezas e perigos, e o inverno rigoroso.

A narrativa ora é feita do ponto de vista de Sarah, ora de Angus, mas logo no início o leitor percebe que há algo errado com essa família que deixa Londres tentando reconstruir a vida em um local ermo, de difícil acesso. Treymane nos apresenta Angus como um arquiteto talentoso, mas bem próximo do alcoolismo. Já Sarah parece confusa e perdida, tentando integrar a filha à nova vida escolar, mas ela própria é guardiã de segredos e também está à procura de desvendar os mistérios do marido.

Com uma prosa ágil e emocionante, o escritor britânico consegue envolver o leitor no drama dos Moorcroft que, ao longo do romance “As gêmeas do gelo”, também começa a ter dúvidas a respeito da identidade da própria filha. Afinal, quem sobreviveu ao acidente foi a gêmea Kristie, ou foi Lydia? Tudo é construído de forma a criar incertezas também nos pais da menina, que tinha apenas sete anos de idade e perdeu sua gêmea idêntica. Esse é o principal trunfo do romance.

Quanto ao desenlace da história, penso que tem sua lógica, mas uma lógica masculina, afinal quem escreveu o romance foi um homem. Entretanto, deixo a conclusão a cada leitor e leitora, pois uma obra artística não pertence exclusivamente ao seu autor. Quando ela é apresentada ao público, cada um tem o direito de interpretá-la à sua maneira. Isso é o mais belo da arte e não poderia ser diferente na literatura.

Jornalista e escritor britânico

S. K. Treymane é jornalista e escritor. Nasceu na Inglaterra em 1963 e estudou Filosofia na University College London. Como jornalista escreveu para o “Times”, o “Daily Mail”, o “Sunday Times” e o “Guardian”.

Em 2013 ele se tornou blogueiro e comentarista para o “Daily Telegraph”, no Reino Unido. Vive em Londres e tem duas filhas. Os seus livros são êxitos de vendas nacionais e internacionais. O livro “As Gêmeas do Gelo”, inclusive, poderia muito bem inspirar um filme. E certamente vai.

Mariza Santana é jornalista e crítica literária. E-mail: [email protected]