Ademir Luiz

Especial para o Jornal Opção

O escritor, engenheiro e funcionário público C. J. Oliveira, autor de “Ciclos do Vento”, obra vencedora da categoria prosa do prêmio Hugo de Carvalho Ramos 2015, e também de “O Caminho dos Passantes”, está lançando um novo livro: “Dimensões do Cotidiano”. As três obras são coletâneas de contos. Consta que C. J. Oliveira planeja um romance. Aguardemos. Por hora fiquemos com suas narrativas curtas.

Uma forma de interpretar um livro, e mesmo traçar uma perspectiva estética de um autor, é por meio das epígrafes que escolheu para ilustrar seu trabalho. Uma epígrafe diz tanto, ou até mais, que um título. 

C. J. Oliveira: escritor | Foto: Divulgação

A primeira epigrafe é “A arte é feita para perturbar, a ciência tranquiliza”, de Braque. Sem dúvida, desde seu surgimento no cenário cultural a arte de C. J. Oliveira perturba. Essa é sua ciência e nesta ciência é bastante hábil. Seus textos não deixam dúvida quanto a isso. Continuando essa reflexão derivativa sobre a natureza da obra de arte, C. J. Oliveira destacou a seguinte frase de Valéry, “O que chamamos uma Obra de arte é o resultado de uma ação cujo objetivo finito é provocar em alguém desenvolvimentos infinitos”. De fato, sua capacidade de perturbar e provocar parecem não conhecer limites. E o mais impressionante é que, aparentemente, o autor não se esforça para gerar tais reações no leitor. É totalmente intuitivo e espontâneo, como atesta a terceira epigrafe, assinada por Mário de Andrade: “Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi”. Uma escolha muito acertada de palavras que gritam “pensar”, “inconsciente”, “justificar”. 

O livro conta com os seguintes contos “O Homem Postiço”, “A Igreja Assombrada”, “A Nova Avenida”, “A Surpresa”, “A Visita”, “O Nadador”, “O Sumiço”, “O Filho Pródigo”, “El Toro”, “Pássaro Caído”, “Vínculo Empregatício”, “Retorno”, “Congresso Internacional”, “Obscuras Impressões”, “O Caso das Canas”, “As Mulheres do Costa” e “O Insuspeito”. Muitos dos trabalhos já figuraram em outras coletâneas e seleções. Mas encontram-se aqui reunidos formando um conjunto que perturba, que incomoda, que se justifica pelo inconsciente que grita sem amarras; textos escritos sem pensar, ilustrando dimensões cotidianas que clamam por correção. Sem isso não há arte. O cotidiano fica sem dimensão. 

Ademir Luiz é presidente da União Brasileira de Escritores-Seção Goiás, doutor em História e professor da Universidade Estadual de Goiás.