Salatiel Soares Correia

Especial para o Jornal Opção

A ciência evolui ante aos esforços sinérgicos de cientistas que trabalha na chamada fronteira do conhecimento. O verdadeiro intelectual é movido pela eterna dúvida tal como o ser ou não ser  do grande dramaturgo inglês Willian Shakespeare.

Senso assim, quem por esforço e inteligência transita pela fronteira do conhecimento integra um seletíssimo grupo de gente que beira a genialidade quebrando paradigmas descobrindo o novo que se impondo contribui para o avançar científico.

Um bom exemplo de criação do novo foi embate travado entre dois dos maiores economistas do século passado: o austríaco Friedrich von Hayek e o inglês John Maynard Keynes. O debate ideológico entre esses dois dos maiores economistas da história reflete o embate entre o Estado e o mercado.

Os inúmeros embates entre Keynes, pró Estado e Hayek, ideólogo do liberalismo, ,provocaram uma verdadeira revolução na maneira de pensar  o saber econômico.   O  debate se mostrou favorável a Keynes no momento em ele publicou um dos mais influentes livros de economia do mundo. Trata-se da “Teoria do Emprego, do Juro e da Moeda” que  colocou o  gênio Maynard na  dianteira da guerra ideológica travada com o também gênio Friedrich. O liberalismo,  sentiu o golpe  que só seria , de fato, resgatado com  a publicação da obra prima do pensar econômico. Trata-se  de   “ O Caminho da Servidão.” De Hayek, Tanto a obra de Hayek , como Teoria Geral de Keynes  , tivera uma  legião de seguidores. Quanto ao vencedor dessa contenda prefiro manter a dúvida, pois é a  luta de dois gênios que produziram , ao longo de suas existências, decisivas contribuição para evolução da economia como ordenador sistêmico.

O que acima se expos muito nos ajudará a entender da luta solitária, de um dos maiores economistas do Brasil  que prestou enormes serviços  ao país. Trata-se de André Lara Resende. Este juntamente com outro economista de gênio ,Persio Árida,  tiveram atuação decisiva na elaboração do plano  que venceu, de fato, a inflação no país. Tanto um quanto o outro tem amplo reconhecimento por parte de seus milhares de admiradores que essa dupla tem nos  quatro cantos do mundo na academia e no centro de excelência onde eles concluíram seus doutorados:  lendário Instituto de Tecnologia de Machassussetes , MIT.

Tal como o Plano Real, concebido sob  a batuta da dupla Larida( La de Lara e Rida de Arida)(, André Lara Resende se propôs a enfrentar solitariamente uma grande causa reservada  a intelectuais que militam na fronteira do conhecimento. É a partir daí que o filho do escritor Oto Lara Resende disparou suas críticas contra um dos alicerces da economia: a chamada macroeconomia. Que, segundo ele, se encontra  em crise presa  numa camisa de força ideológica. Eis aí um tipo de discussão praticamente inexistente do país. Muitos de nossos economistas lidam bem com o conhecimento já estabelecido  nos melhores livros das academias mundial esse assunto, entretanto raros, muitos raros ousaram a fazer o que hoje faz André Lara Resende: criticar um dos preciosos dogmas que dão forma a  macroeconomia. Ao fazer isso , um dos pais do Plano Real prega suas ideias discutindo arduamente quase que solitariamente. Creio que foi por essa razão  que ele resolveu  voltar para os Estados Unidos e lá ,se estabelecer por dois anos como professor convidado da Universidade de Colúmbia. Só assim um dos pais do Plano Real encontrou o que não existe no Brasil: à ambiência certa para  a ambiência certa para debater com acadêmicos de alto nível como ele que mulita na fronteira do conhecimento. convite da Universidade de Colúmbia para

 Antes de seguirmos em frente, apresentemos a você leitor o autor do livro que ora passo a resenhar.

Quem é André Lara Resende

André Lara Resende: economista | Foto: Reprodução

André Lara Resende nasceu no Rio de Janeiro em 1951. Formou-se na Pontifica Universidade Católica .Fez   mestrado na Fundação Getúlio Vargas e Doutorado no Massachusetts Institut e of  Technology.Durante a elaboração do Plano Real, teve  ele um papel destacado na elaboração dos fundamentos que tornaram exequíveis O plano Real. Doutor André  Lara Resende tem ampla experiencia   no mercado financeiro. Nó mundo  acadêmico, o professor André Lara Resende é uma referência. Publicou vários livros. Dentre as suas publicações destacam-se: “Os limites  do possível”(2013), “Devagar e simples”(2015) e” Consenso e  Contrassenso.” Sua mais recente publicação “ A Crise da Macroeconomia” elevou o debate econômico para as fronteiras do Estados Unidos. E foi de lá, na Universidade de Colúmbia, que um dos pais do Plano Real debateu com seus pares norte-americanos sua revolucionária tese em torno da crise da macroeconomia.

Economista elevou o nível do debate

Que motivação teve um acadêmico de reconhecido talento a dar um tempo na sua rica vida de banqueiro  bem-sucedido no mercado financeiro. para se tornar professor ,por dois anos , de num dos templos do saber norte americano: a Universidade de Colúmbia? Se esse  escritor for  o autor desse livro que ora resenho creio que ele foi atrás de um ambiente sinérgico integrado pelos melhores economistas dos Estados Unidos. Economistas como ele, voltados para entender a teoria econômica na sua essência mais profunda. Não tenho dúvidas  de que  as teses de André Lara Resende exigiam um outro ambiente  integrado pelos maiores cabeças do mundo. Esse ambiente certamente era os Estados Unidos .

Queda da macroeconomia convencional

Um dos pontos básicos contestados pelo autor  põe por terra um dos pilares que sustentam (ou sustentavam) a macroeconomia convencional: a de que  uma das causas da inflação se atrela a continua emissão de moeda. Indo de encontra  a esse conceito, o filho do grande Otto Lara Resende contrargumenta  enfatizando que “ moeda não causa inflação, Dado que  moeda é apenas  índice do registro contábil dos ativos e passivos na economia.” Provada essa tese, cai por terra a velha imagem tão utilizada pela direita brasileira em seus discursos políticos: o da máquina do governo continuamente emitindo papel moeda em tempos de elevada inflação.

 Outro mito  inerente a ortodoxia convencional  relatado pelo autor se atrela ao fato da incapacidade de o Banco Central não ter como controlar os agregados monetários.  A seu juízo,  “a taxa básica juros passou então a ser oficialmente aceita como principal instrumento dos bancos centrais.”

Prosseguindo na desconstrução dos pressupostos da  macroeconomia convencional, André Lara Resende centra suas críticas  na incapacidade  de a macroeconomia convencional representar  uma realidade inconteste na macroeconomia moderna: a de explicar a inflação de ativos como consequência do passivo financeiro do Estado. Quanto a isso entende o autor ser uma alta nos  preços privados  equivalente  a uma alta dos ativos privados.

Como o exemplo de queda da macroeconomia convencional, creio ser oportuno citar, um pressuposto relativo à inflação, habilmente desconstruído pelo autor. Trata-se da associação direta do crédito    a existência de uma poupança. Ao fazer essa correlação do crédito-poupança, a macroeconomia convencional não tem instrumentais teóricos capazes de explicar a inflação de ativos oriunda da expansão do passivo financeiro do Estado. 

Por último, creio ser esclarecedor citar  os reflexos da mudança institucional de uma importante instituição federal no tocante ao  controle da inflação: o Banco Central.

A respeito disso, o autor deixa bem claro que o Banco Central atrelado ao lastro metálico é bem diferente do novo Banco Central. Sobre esses assuntos passemos a palavra para o Doutor André Lara Resende: “O Banco Central, restrito pela exigência  de lastro metálico, não poderia garantir a liquidez aos títulos da dívida.” No entanto, no contexto de uma nova realidade inserida em novos pressupostos o Banco Central poderá garantir a liquidez comprando ou refinanciando a dívida do mercado com emissão de reservas bancárias. Resultado: toda reserva de liquidez do sistema é mantida em títulos públicos.

Outra  crítica que o autor defere contra a  macroeconomia convencional se atrela a um importante indicador de fundamental importância para estabelecer políticas consistentes. Trata-se da taxa de juros.   Quanto a esse importante instrumento de política monetária, enfatiza o autor que “a taxa de juros é um instrumento de política do Banco Central, portanto uma variável exógena.” Mais adiante Lara Resende  enfatiza  que  implicações da aplicação destas transcendem a macroeconomia convencional, onde reina absoluta a instituição Banco Central.

Dom Quixote e moinhos de vento não-gigantes

Não é minha intenção cansar os leitores com  informações eminentemente técnicas. Muitos outros aspectos analisados pelo autor fogem aos objetivos dessa resenha que procura  enfatizar a importância  das críticas proferidas por esse quase gênio André Lara Resende. O que intenciono mostrar aos leitores é exatamente a importância das críticas de um economista extremante qualificado ter sido capaz, mesmo distante do mundo acadêmico por quase 3 décadas,  de se afastar por dois anos de sua lucrativa atuação no mercado financeiro  , aceitar o convite da Universidade de Columbia para defender suas ideias junto as maiores cabeças do pensamento econômico mundial.

Não resta a menor dúvida que a macroeconomia convencional se encontra preso a “Camisa De força ideológica “de que tanto nos  o autor em seus escritos  Mudar paradigmas é algo difícil de se fazer. Ao concluir a leitura  dos escritos do professor André Lara Resende fiquei coma impressão de que como está estruturada, a macroeconomia convencional tende a favorecer  o setor privado em detrimento do Estado.  Percebe-se que ações defendidas pelo autor—a exemplo da possiblidade do estado emitir crédito e do endividamento do estado-fortalece o Estado no combate à inflação e ,de certa forma, limita a ação privada que por tantos anos defendeu modelos alicerçados na emissão de moeda como instrumento de combate da inflação. Milton Friedman, emérito defensor do monetarismo é ,hoje, um retrato na parede.  Ao que tudo indica a macroeconomia convencional está com seus dias contados.

Nesse contexto, diferente de Dom Quixote que na sua loucura enxergava monstros nos moinhos de vento. André Lara Resende , um economista realmente brilhante, sabe muito bem aonde  quer chegar. A força de seus argumentos balança o edifício da velha macroeconomia.

   Posto isso, encerro  essa resenha com os seguintes dizeres que expressam a ideia central desse pequeno grande livro desse grande pensador que é André Lara Resende: “O liberalismo econômico acusa então o aumento do passivo do Estado de ser a razão da crise e reforça a camisa de força ideológica da necessidade de restringir seu poder financeiro. Urge romper a camisa de força ideológica da macroeconomia convencional para poder repensar e superar as distorções do capitalismo que ameaça sua sobrevivência.”

Salatiel Soares Correia é engenheiro, administrador de empresas, mestre em Planejamento Energético pela Unicamp. É autor, entre outros livros de “O Capitalismo Mundial e a Captura do Setor Elétrico na Periferia”. É colaborador do Jornal Opção.