Ação em Goiânia exalta a Leitura como ato de resistência
03 fevereiro 2019 às 00h00
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NegaLilu Editora e Casa da Cultura Digital promovem de 4 a 14 de fevereiro o “Leitura & Resistência”, bem como a segunda edição da feira e-cêntrica de publicações independentes
Segundo o escritor argentino Alberto Manguel, “ler sempre é um ato de poder”. “E é uma das razões pelas quais o leitor é temido em quase todas as sociedades.” Já o educador brasileiro Paulo Freire, em seu célebre “A Importância do Ato de Ler”, reitera o poder emancipatório da leitura o que tornaria impossível, portanto, desvincular-lhe de seu caráter político. É justamente com o intuito de promover o engajamento sociocultural em torno da prática da leitura que a NegaLilu Editora e a Casa da Cultura Digital realizam, de 4 a 14 de fevereiro, em Goiânia, o “Leitura & Resistência”. Voltada à leitura e à formação de leitores e de escritores, esta movimentação busca articular autores, bibliotecas, mediadores de leitura, editoras independentes, selos literários, coletivos criativos, publicadores e artistas gráficos a partir de uma visão do mercado livreiro renovado.
O “Leitura & Resistência” foi idealizado pela professora e pesquisadora Micheline Lage (IFG Goiânia) e pela escritora e jornalista Larissa Mundim, a partir de diretrizes do Plano Nacional de Leitura e Escrita (PNLE). Sancionada em 2018, a legislação orienta políticas públicas reconhecendo que a capacidade de leitura e de escrita são ferramentas estruturantes para o desenvolvimento pleno do potencial humano e para a expressão da diversidade cultural. Simultaneamente acontecerá a segunda edição da feira e-cêntrica de publicações independentes, nos dias 9 e 10 de fevereiro, na Vila Cultural Cora Coralina.
Segundo Larissa, muito mais do que ‘pregar para convertido’, a ação visa ir além do público já leitor e atrair o interesse da população em geral. “O ‘Leitura & Resistência’ pretende ser uma mobilização de médio e longo prazo, começando com uma maratona de 10 dias de conexão entre agentes estratégicos que trabalham com Literatura, Leitura e Escrita. A partir da criação desta rede interessada em formação, produção e debate, queremos promover uma articulação entre ações pré-existentes (grupos de estudo, grupos de leitura, coletivos criativos, centros culturais, pontos de cultura), para adensar o programa de atividades e a produção de conhecimento que possa colaborar para a execução de ações de política pública (como o PNLE), bem como estimular o surgimento de novos projetos”, detalha Larissa.
Para Micheline, a expectativa é a de reacender o debate acerca da importância da leitura e da escrita não só no contexto escolar, mas para além dele. “Sou professora de língua portuguesa e literatura brasileira há mais de vinte anos e toda minha trajetória acadêmica e profissional se constituiu em uma militância a favor da leitura e da escrita. Acredito firmemente que um bom leitor é, sem dúvida, um cidadão mais crítico, portanto alguém que se insere de maneira mais consciente na sociedade por meio de práticas de leitura e de escrita”, conclui.
Ambas compactuam com a premissa de que não basta qualquer leitura; é preciso que o leitor possa ser qualificado. “Que saiba fazer da leitura e da escrita parte de sua vida cotidiana. Que seja capaz de compreender metáforas, de apreciar construções sintáticas artísticas, que saiba decifrar camadas simbólicas presentes no texto, que sinta prazer nesse jogo, que é a relação leitor-texto. Esse leitor saberá fazer escolhas, não ficará preso apenas ao que a indústria cultural coloca à sua disposição nas livrarias maiores. Saberá estratégias interessantes para encontrar o que gosta nas bibliotecas, nas livrarias de rua, na escola em que estuda, com outros amigos leitores, enfim saberá fazer da leitura parte de seus prazeres”, diz Micheline.
“Na minha visão de escritora, cabe ao escritor facilitar acessos a universos e realidades diversas, convidando o leitor a experimentações fora da rotina. No Brasil deste início de século, escritores têm um papel importante: prever o futuro”, conclui Larissa.
Atividades: bate-papos e oficinas
As provocações do “Leitura & Resistência” terão início com a intervenção urbana #PovoQueLê. “Cada pessoa doa 30 minutos de leitura de uma obra literária de sua escolha. Qualquer cidadão que estiver passando pode participar. Ao final das 24 horas, vamos divulgar a lista de livros como sugestão de leitura”, explica Larissa Mundim. O ato público acontecerá na confluência entre as Avenidas Araguaia e Anhanguera, em frente à loja Fujioka, numa vigília de 24 horas de leitura, 12 horas na segunda, 4, e mais 12 horas na terça, 5, entre 7 horas e 19 horas, no Centro de Goiânia. Durante o ato público, também haverá a divulgação de dados da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”.
Esta pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro e divulgada em 2016 também é tema da palestra do professor Rildo Cosson (DF), com mediação de Micheline Lage (IFG-GO), no dia 8 de fevereiro (sexta), às 14 horas, no Centro Cultural UFG. A quarta edição da “Retratos da leitura no Brasil” constata que o Brasil tem 104,7 milhões de leitores, cerca de 56% da população brasileira, que agora se aproxima de 207 milhões de habitantes. Entre outros aspectos da pesquisa, chama a atenção o fato de que mais da metade destes leitores declaram ler apenas um livro: a Bíblia.
A leitura é também o tema condutor do minicurso que será ministrado pela escritora e professora Ana Elisa Ribeiro, no dia 6 de fevereiro (quarta), às 18h30, no Centro Cultural UFG. “Leitura ontem e hoje: modelos, suportes, tecnologias” pode interessar aos pais e mães atentos aos impactos da cibercultura na vida de seus filhos.
De acordo com Ana Elisa Ribeiro, o minicurso trata das práticas de leitura atuais inseridas em um contexto de mudança e diversidade tecnológica, assumindo um ponto de vista conciliador e criativo. Não excludente do leitor cego e de baixa visão. Atividade destinada também a coordenadores pedagógicos, professores, bibliotecários, estudantes e interessados na formação de leitores.
A programação constitui-se também de seis oficinas de capacitação e qualificação profissional nas áreas de revisão, escrita criativa, artes visuais e autopublicação. Esta agenda de atividade prática se inicia com a “Oficina de Revisão do texto literário: leituras, liberdades e licenças”, conduzida pela escritora e professora mineira Ana Elisa Ribeiro; “Nem todas as cartas de amor são ridículas – oficina de autodeclaração de amor a (m)eu corpo abjetificado”, com a poeta e editora Tatiana Nascimento (DF); Oficina de criação poética “Erotismos, atravessamentos e afetos: outras narrativas, outras vozes no tecido textual”, com a poeta e professora Cristiane Sobral (DF); Linogravura (ou linoleogravura), processo de gravura muito semelhante à xilogravura (gravura em madeira), com o artista visual Luiz Antena; Oficina “Autoetnografia desenhada: a experiência corpo-lugar”, com a artista visual goiana Sophia Pinheiro; e “Oficina Publique-se, com os psicólogos e ‘zineiros’ Rico Lopes e Delza Eloy (GO) fechando a programação.
Feira e-cêntrica
Mais um destaque do Leitura & Resistência é a feira e-cêntrica de publicações independentes que, este ano, reúne 76 expositores de Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Livros especiais, zines, periódicos culturais e artes gráficas serão comercializados por editoras independentes, selos literários, coletivos criativos e artistas visuais. A curadoria é de Larissa Mundim e de Sophia Pinheiro, que coordenaram processo seletivo de expositores entre 14 de novembro e 24 de dezembro, com mais de 200 inscrições de todo o Brasil.
Lançamentos
Durante a feira, haverá lançamentos literários, sempre às 18h30, com autores de Goiás e de outros estados: Ademar de Queiroz (O baú do Menino Deus), Cristiane Sobral (Tainá e Uma boneca no lixo), Movimento Respeita (São nossas as notícias que daremos), Augusto Rodrigues Niemar (Poemas da rua do fogo), Chyntia Barcellos (Fatos, afetos e preconceitos: uma história de todos os dias) e Tarso de Melo (Alguns rastros).
Também está previsto, no domingo, 10, a partir das 19h30, o “Sarau das Minas GO”, com coordenação de Carol Schmid. Criando ambiência para a visitação da feira, DJ Perini toca vinil, a praça de alimentação oferece opção vegana e o bar Apeia e Cola estará aberto durante todo o dia.
Bibliotecas e livrarias
“Não existirá uma política pública séria e eficaz para o livro, para a leitura e para a escrita sem dedicação à formação de leitores desde a educação infantil e também dedicado à qualificação de leitores de todas as idades”, defende Larissa Mundim, uma das coordenadoras do Leitura & Resistência. A essência desta discussão atravessa o bate-papo “Melhores práticas de gestão e dinamização de bibliotecas”, no dia 12 de fevereiro, às 15 horas, no Centro Cultural UFG. A atividade reúne gestores de bibliotecas públicas e privadas de Goiânia, além de mediadores de leitura e contadores de histórias.
Como grandes aliadas na difusão da leitura, as livrarias também participam deste fórum de discussão instalado pelo Leitura & Resistência. No dia 9 de fevereiro (sábado), às 16 horas, na Vila Cultural Cora Coralina, está marcada a roda de conversa “Livrarias de rua como espaço de resistência e transformação social”, com a participação da Avoar Livros, Mandrake Comic Shop, Livraria Leodegária, Livraria Palavrear, Pomar Livraria, durante a feira e-cêntrica.
“Evidências de inovação no mercado editorial” é outro bate-papo que aborda de forma complementar as discussões sobre o livro, a leitura e a escrita, que motivam a realização deste evento. Esta roda de conversa está programada para 10 de fevereiro (domingo), às 16 horas, na Vila Cultural Cora Coralina, também durante a feira e-cêntrica. João Varella (Lote 42, SP), Larissa Mundim (NegaLilu, GO), Lucas Gehre (LTG, DF) e Rachel Gontijo (A Bolha, DF) são os editores convidados.
Além dos momentos discursivos promovidos pelo Leitura & Resistência, o programa prevê visita técnica ao Ateliê Tipográfico da UFG, no Campus 2, no dia 14, às 14 horas. Na ocasião, o grupo visitante compartilha ideias sobre “Técnicas de impressão: resgate do fazer analógico e artesanal para a produção gráfica-literária”, com o diretor do CEGRAF, Antonio Corbacho Quintela.
PROGRAMAÇÃO
SEG (4/2) e TER (5/2) – 7h às 19h
#PovoQueLê: 24h de leitura. Intervenção urbana. Local: Av. Anhanguera com Av. Araguaia, Centro.
QUA (6/2) – 18h30
Minicurso: Leitura ontem e hoje: modelos, suportes, tecnologias, com Ana Elisa Ribeiro (MG). Local: Centro Cultural UFG
QUI (7/2) – 9h
Oficina: Revisão do texto literário: leituras, liberdades e licenças, com Ana Elisa Ribeiro (MG). Local: Centro Cultural UFG
SEX (8/2) – 14hMesa redonda: Análise da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, com Rildo Cosson (DF) e Micheline Lage (GO). Local: Centro Cultural UFG
SÁB (9/2) – 9h
Oficina: Nem todas as cartas de amor são ridículas – oficina de autodeclaração de amor a (m)eu corpo abjetificado, com Tatiana Nascimento (DF). Local: Sindicato dos Jornalistas de Goiás
10h às 20h, Feira e-cêntrica de publicações independentes. Local: Vila Cultural Cora Coralina
14h, Oficina de Criação poética: Erotismos, atravessamentos e afetos: outras narrativas, outras vozes no tecido textual, com Cristiane Sobral (DF). Local: Sindicato dos Jornalistas
16h, Roda de conversa: “Livrarias de rua como espaço de resistência e transformação social”. Com Avoar Livros, Livraria Leodegária, Livraria Palavrear, Mandrake Comic Shop e Pomar Livraria. Local: Vila Cultural Cora Coralina
18h30, Lançamentos literários: Ademar de Queiroz (O baú do Menino Deus), Cristiane Sobral (Tainá e Uma boneca no lixo) e Movimento Respeita (São nossas as notícias que daremos). Local: Vila Cultural Cora Coralina
DOM (10/2)
10h às 20h, Feira e-cêntrica de publicações independentes. Local: Vila Cultural Cora Coralina
14h, Oficina: Gravura em linólio, com Luiz Antena. Local: Vila Cultural Cora Coralina
16h, Bate-papo: “Evidências de inovação no mercado editorial”, com João Varella (Lote 42, SP), Larissa Mundim (NegaLilu, GO), Lucas Gehre (LTG, DF) e Rachel Gontijo (A Bolha, DF/RJ). Local: Vila Cultural Cora Coralina
18h30, Lançamentos literários: Augusto Rodrigues Niemar (Poemas da rua do fogo), Chyntia Barcellos (Fatos, afetos e preconceitos: uma história de todos os dias) e Tarso de Melo (Alguns rastros). Local: Vila Cultural Cora Coralina.
19h30, Sarau das Minas GO. Condução: Carol Schmid. Local: Vila Cultural Cora Coralina
SEG (11/2) – 14h, Oficina: Autoetnografia desenhada: a experiência corpo-lugar, com Sophia Pinheiro (GO/RJ). Local: Pomar Livraria
TER (12/2) – 14h, Oficina de zine: Publique-se (parte 1), com Rico Lopes e Delza Eloy. Local: IFG Goiânia
15h, Bate-papo: “Melhores práticas de gestão e dinamização de bibliotecas”, com gestores de bibliotecas, estudantes, mediadores de leitura, contadores de história. Local: Centro Cultural UFG
QUA (13/2) – 14h, Oficina de zine: Publique-se (parte 2), com Rico Lopes e Delza Eloy. Local: IFG Goiânia
QUI (14/2) – 14h, Visita técnica e roda de conversa: “Técnicas de impressão: resgate do fazer analógico e artesanal para a produção gráfica-literária”. Local: CEGRAF-UFG