A biblioteca no pátio da escola: de como, sendo criança, a leitura flui e inunda o coração que lê

17 janeiro 2023 às 12h50

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Soninha dos Santos
Especial para o Jornal Opção
Na semana da criança, gastei tempo com lembranças boas. Me lembro que, quando eu era pequena, nas escolas onde estudava, nunca vi livro literário, em lugar algum nem nas mãos das professoras. Também não me lembro de ouvir professoras contando histórias. Os contadores de histórias, dos quais me lembro muito bem, são meus tios paternos e meu pai, uma hora ou outra… mas nunca usaram livros, mesmo porque não os tinham.
Depois, quando fui para o antigo “ginasial”, conheci a primeira biblioteca da minha vida. Ficava perto do estacionamento, num lugar afastado, onde quase ninguém ia. Eu fui. Lá vi pela primeira vez uns livros grandes, com ilustrações que eu nunca tinha visto na vida, mas que, de cara, me fascinaram: oito volumes das “Mil e Uma Noites”. Lembro também que nunca mais fui a mesma depois de conhecer esse lugar e essa coleção. Virei o que sou até hoje: “Rata de biblioteca”.
A partir daí minha relação com esse espaço se tornou tão imprescindível para a minha existência quanto o ar que eu respiro. Para poder continuar lendo depois da escola me ofereci como voluntária da Biblioteca do CSU do Jardim América e, realmente, nesse lugar, aprendi o que era ler de verdade e compreendi o que a leitura poderia nos fazer quando a gente não tivesse nada além da vida.

Virei professora e a literatura passou a ser ferramenta das mais importantes nas minhas aulas, tanto quanto qualquer outro recurso didático.
A ideia da biblioteca escondida, perto de um estacionamento, numa sala remota ou no fundo de um corredor escuro ainda continua a me incomodar… e muito!
Que leitor, criança ou não, se sentiria atraído por um espaço assim, aparentemente nem um pouco convidativo? Mesmo escondendo a razão de ser das bibliotecas: convite à leitura, ao deleite, à fruição?
E qual não foi minha surpresa quando, certa tarde chuvosa de outubro, recebi o convite para conhecer e contar história numa biblioteca recém-inaugurada: a biblioteca do Colégio Agostiniano. Quando lá cheguei, minha surpresa não poderia ter sido mais encantadora. Me vi diante de uma biblioteca colorida, ampla, clara, com grandes janelas envidraçadas, plantas serpenteando a visão e, o mais incrível, no meio do pátio da escola, perto da quadra e das cantinas. Ninguém que passasse pela escola deixaria de ver ou de apreciar a arquitetura fantástica dos meus sonhos de leitora.
Daí em diante, essa visão cotidiana passou a fazer parte dos meus dias e meu prazer maior se dá quando alunos e alunas saem de minhas aulas e vão correndo atrás das fantásticas histórias escondidas em suas prateleiras…
Ler é bom, mas o gosto pessoal e a vontade devem ser estimulados por um ambiente que chama e convida: “venha, a biblioteca no meio do pátio da escola, te espera!”… “Você não vai querer perder essa aventura, vai?