Saiba como funciona a venda de órgãos no único país que a legalizou

26 agosto 2023 às 13h19

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A ideia de vender órgãos às vezes é ventilada por ultraliberais como o candidato à presidência da Argentina, Javier Milei, que acreditam que o Estado não deve se sobrepor ao livre mercado. Entretanto, o único país do mundo que permite a venda de órgãos não é um representante do anarcocapitalismo – justamente o contrário. Trata-se da teocracia do Irã, onde o estado é totalitário e ultraconservador.
No país persa, existem regras: apenas cidadãos iranianos podem vender rins; este é o único órgão cujo comércio é permitido. O valor é tabelado, com custo máximo de 4.600 dólares (cerca de R$ 22,5 mil). As partes da transação devem estar inscritas no sistema governamental que faz a ponte entre os dois, baseado em critérios como tipo sanguíneo, perfil imunológico e características físicas, como peso e altura.
Anualmente, cerca de 1400 iranianos vendem seus rins. Desde abril de 2000, o governo iraniano paga pela cirurgia e o vendedor recebe o valor do órgão vendido quando a operação é concluída.
Consequências
Com uma renda per capita anual de 4.091 dólares, o Irã é um país pobre. (Para comparação, a renda per capita anual brasileira é de 7.507 dólares). Quando as alternativas se esgotam, iranianos encontram na venda de seus rins uma saída. A Organização Mundial da Saúde (OMS) se opõe à comercialização de órgãos, pois a prática submete os vendedores de órgãos a riscos e piora seus indicadores de saúde.
Ilegalidade
Do ponto de vista dos órgãos nacionais de saúde, a medida reduz o tempo de espera para transplantes. Entretanto, a pressão para adquirir órgãos continua existindo, por outras formas além da venda. Cerca de 13% dos rins são retirados de cadáveres, em doações como as brasileiras.
Há também as vendas ilegais – aquelas nas quais as partes não estão cadastradas nas vias governamentais iranianas. Nesta forma ilegal de comércio de órgãos, rins são negociados por valores mais altos, em troca da promessa de contornar a fila de espera dos transplantes. No comércio ilegal, não há como ter certeza da procedência do órgão doado.