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Nos últimos dias, 3 telefonemas de Lula movimentaram o noticiário político: o que ele se recusa a fazer a Donald Trump, o que recebeu de Vladimir Putin e o que fez para Xi Jinping.

O presidente do Brasil tem completa razão: por qual motivo conversaria com um ditador igual ao líder dos Estados Unidos se pode falar com esses apóstolos da democracia que dirigem a Rússia e a China? Imagine como foram os diálogos. Eu imaginei.

Primeiro, com Putin:

–Presidente Lula, como está tudo aí?

–Camarada Putin, aqui em Brasília tá frii demais. Tamo precisano de seu calô, ô mano.

–Senhor Lula, aqui o lugar mais quente é a Sibéria, que é pra onde a gente manda os adversários.–Aqui, eu tenho mandado praquele lugar…

–O senhor é um gênio, dr. Lula. Fiquei sabendo que 2 milhões e 300 mil crianças brasileiras de até 3 anos de idade estão sem creche, impedindo a mãe de sair de casa. Gênio, senhor Lula, gênio! São menos 2 milhões e 300 mil mães distribuindo currículo, o que derruba os índices de desemprego. Por isso, o Obama dizia que o senhor é o cara.

–Num posso dizer que os cumpaêro tá errado…

–Outra ideia magistral sua é essa de quase dobrar para 6,3% o aumento da tarifa de luz e passar para quase US$ 10 bilhões os gastos da Conta de Desenvolvimento Energético. Aí, pegou a despesa toda, repassou para a classe média e isentou 60 milhões que vão votar no senhor. Gênio, você é o cara!

[risos gerais em russo e português]

–Me tire uma durda: como os cumpaêro russo tão fazeno sem o Gugo?

–Censuramos tudo, mas reconheço que sua ideia é melhor. Adaptei e mandei colocar num quadro a sua frase: “Se big techs não quiserem regulação, que saiam da Rússia”. Até porque já saíram.

–Num posso dizê que o cumpaêro tá errado…

–Já falei para os meus ministros marcarem conferência com a equipe do Trump e, quando eles mandarem o link, o meu pessoal fazer igual o seu fez com o secretário de Tesouro norte-americano: fingir que não sabe quem é.

–A gente vai aprendendo algumas coisas com a idade…

–Falar em idade, aprovo o que seus aliados dos sindicatos aprontaram com os velhinhos. Determinei ao Fundo de Pensões, o INSS da Rússia, que tome o dinheiro dos aposentados, senão eles vão gastar tudo com remédio e remédio é droga. O senhor é minha inspiração.

–A vearada daqui num sabe o que qué. Botei passage de avião a duzentos conto e só 1 e pouco pu cento que quis. Povin ingrato…

–Pega esses que compraram as passagens e envia tudo pra cá.

–O sinhô vai recepicionar ês em Moscou?

–Não, vou mandar pra Sibéria.

Resumo da ligação de 1 hora de Xi, da China, para Lula:

–Camarada Xi, vamo derrubar aquele agente laranja do Zistado Zunido?

–Meu papo contigo é comercial e territorial. Como sempre, tentei, pelo método pacífico de apresentar propostas de revisão, para alterar esta situação intolerável. É mentira quando o mundo exterior diz que apenas tentamos realizar as nossas revisões por meio de pressão. Quinze anos antes de o Partido Comunista Chinês chegar ao poder, houve a oportunidade de realizar essas revisões por meio de acordos e entendimentos pacíficos. Por iniciativa própria, apresentei não uma, mas várias vezes propostas para revisar as condições intoleráveis. Todas essas propostas, como sabem, foram rejeitadas –propostas para limitar armamentos e até, se necessário, desarmamento; propostas para limitar a guerra, para eliminar certos métodos de guerra modernos. Conhecem as propostas que apresentei para satisfazer a necessidade de restaurar a soberania chinesa sobre os territórios adquiridos no Cone Sul. Conhecem as intermináveis tentativas que fiz para um esclarecimento e entendimento pacíficos do problema do canal na Nicarágua entre Atlântico e Pacífico e, mais tarde, do problema dos produtos xing-ling. Foi tudo em vão. É impossível exigir que uma situação impossível seja resolvida por meio de uma revisão pacífica e, ao mesmo tempo, rejeitar constantemente a revisão pacífica. Também é impossível dizer que quem se propõe a realizar essas revisões por si mesmo transgride uma lei, visto que o Brics não é lei para nós. Uma assinatura nos foi arrancada com pistolas apontadas para a cabeça e com a ameaça de fome para milhões de pessoas. E então esse documento, com a nossa assinatura, obtido à força, foi proclamado como uma lei solene. Da mesma forma, também tentei resolver o problema de minério, proteína e frutas, propondo uma discussão pacífica. Que os problemas precisavam ser resolvidos era claro. É perfeitamente compreensível para nós que o momento em que o problema deveria ser resolvido tenha sido de pouco interesse para as potências ocidentais. Mas esse momento não é indiferente para nós. Além disso, não foi e não poderia ser indiferente para aqueles que mais sofrem. Em minhas conversas com estadistas brasileiros, discuti as ideias que vocês reconhecem do meu último discurso, parecido com o seu no Encontro Nacional do PT. Ninguém poderia dizer que este era de alguma forma um procedimento inadmissível sob pressão indevida. Então, naturalmente, formulei finalmente as propostas chinesas, e devo repetir mais uma vez que não há nada mais modesto ou leal do que essas propostas. Gostaria de dizer isso ao mundo. Só eu estava em posição de fazer tal proposta, pois sei muito bem que, ao fazê-lo, me coloquei em oposição a milhões de chineses. Essas propostas foram recusadas. Não só foram respondidas inicialmente com mobilização, mas também com crescente terror e pressão contra nossos compatriotas e com um lento estrangulamento econômico, político e, nas últimas semanas, por meios militares e de transporte.

–Ok, camarada.

*Adaptado de parte do Projeto Avalon, discurso de Hitler depois de invadir a Polônia, em 1939.

Demóstenes Torres, 64 anos, é ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, procurador de Justiça aposentado e advogado. Escreve para o Poder360 semanalmente às quartas-feiras.

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