Lula diz a Trump que Bolsonaro “faz parte do passado” e defende julgamento do ex-presidente
27 outubro 2025 às 09h34

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira, 27, que conversou com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre Jair Bolsonaro, mas destacou que o ex-chefe do Executivo brasileiro “faz parte do passado da política brasileira”. O encontro entre os dois líderes ocorreu em Kuala Lumpur, na Malásia, à margem da 47ª Cúpula da ASEAN, e teve como pauta principal as tarifas impostas pelos EUA às exportações brasileiras e as sanções aplicadas a autoridades do país.
Em entrevista coletiva após a reunião, Lula afirmou ter dito a Trump que o julgamento de Bolsonaro no Brasil foi legítimo e baseado em provas robustas. “Expliquei a ele que o julgamento foi muito sério, com provas muito contundentes. Disse também a gravidade do que eles tentaram fazer no Brasil. Eles tinham um plano para me matar, matar meu vice e matar o ministro Alexandre de Moraes”, declarou o presidente.
Segundo Lula, Trump demonstrou interesse em entender o contexto político brasileiro recente. “Ele sabe que rei morto, rei posto. O Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira. Eu ainda disse para ele que, com três reuniões comigo, perceberia que o Bolsonaro era praticamente nada”, afirmou o petista.
Antes do encontro, no domingo, 26, Trump foi questionado por jornalistas sobre Bolsonaro e respondeu que “se sentia mal” pelo que o ex-presidente brasileiro havia passado. Apesar da declaração de solidariedade, o americano manteve uma postura de diálogo com Lula durante a reunião.
Negociações comerciais
A conversa entre Lula e Trump marcou um novo passo nas negociações entre Brasil e Estados Unidos sobre o chamado “tarifaço” — um conjunto de aumentos tarifários norte-americanos sobre produtos brasileiros, justificados por Washington com base em supostas preocupações democráticas. Lula aproveitou o encontro para reiterar o pedido de suspensão temporária das tarifas enquanto durarem as tratativas diplomáticas.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que acompanhou a reunião, o diálogo foi “positivo e produtivo”. “O presidente Lula reforçou que o Brasil tem compromisso com a democracia e com o Estado de Direito, e que as punições aos responsáveis pelos atos de 8 de janeiro seguiram rigorosamente o devido processo legal”, declarou o chanceler a jornalistas.
Primeiro encontro formal
Essa foi a primeira reunião oficial entre Lula e Trump desde que ambos reassumiram protagonismo em seus respectivos países. Os dois já haviam conversado por telefone e se cumprimentado brevemente durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro, mas sem agenda formal.
Segundo fontes do Itamaraty, a expectativa é que a reunião sirva como base para uma reaproximação diplomática entre Brasília e Washington, especialmente em temas comerciais. A avaliação é de que, apesar das diferenças ideológicas, os dois governos buscam soluções pragmáticas para destravar o comércio bilateral e reduzir tensões geradas nos últimos meses.
Durante a coletiva, Lula também afirmou que pretende continuar o diálogo com Trump em novas rodadas de negociação. “O importante é que estamos conversando. A diplomacia serve justamente para isso: resolver divergências com diálogo e respeito”, disse.
O encontro, realizado em meio à agenda internacional do presidente brasileiro na Malásia, reforça o esforço do governo para consolidar a imagem do Brasil como ator de peso nas discussões econômicas e democráticas globais.
