Apoiadores do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, se envolveram em polêmica na última semana. Uma das figuras de maior destaque na última campanha do republicano, o empresário Elon Musk, esteve no centro de discussões sobre a concessão de vistos H1-B (para trabalhadores estrangeiros qualificados), indo contra aliados tradicionais de Trump, como o antigo estrategista chefe da Casa Branca, Steve Bannon.

Todo o atrito começou com a nomeação do investidor indiano Sriram Krishnan como conselheiro sênior de políticas em inteligência artificial. O fato da posição estratégica ser ocupada por um estrangeiro provocou reação da base mais radical de Trump com relação à imigração, tema central na campanha do republicano. 

Bannon criticou publicamente os “oligarcas do Vale do Silício” por empregarem estrangeiros com salários menores: “Isso é uma fraude. Estão tirando empregos de cidadãos americanos, entregando-os a estrangeiros sob o programa H-1B e pagando menos. É ganância e abuso de poder, pura e simplesmente”.

Outra ativista da extrema direita com antiga ligação à Trump, Laura Loomer, chamou a nomeação de antiética em relação ao movimento “América em Primeiro Lugar”. Além disso, ela ainda atacou antigas declarações de Krishnan nas quais ele defendia maior acesso aos green cards (visto permanente dos Estados Unidos) para trabalhadores qualificados.  Para Loomer, apoiadores mais recentes de Trump no Vale do Silício, como Musk, são muito novos na aliança para definir os rumos sobre temas tão importantes como a imigração. 

Em defesa do H1-B 

Musk se posicionou muito abertamente em defesa dos vistos H1-B, tendo ele próprio chegado aos Estados Unidos através de um documento desse tipo. “Há uma escassez permanente de excelente talento em engenharia. Esse é o fator limitante fundamental no Vale do Silício”, publicou o CEO da Tesla e da Space-X. 

O multi bilionário disse que vai entrar em “guerra” na defesa desse tipo de autorização especial, e complementou: “A razão pela qual estou nos Estados Unidos, juntamente com tantas pessoas importantes que construíram a SpaceX, a Tesla e centenas de outras empresas que tornaram os Estados Unidos fortes, é por causa do H1B”.

Leia também: Musk promete “transparência total” ao liderar novo departamento governamental

Conheça quem serão as figuras próximas de Donald Trump no novo mandato

Os vistos H1-B normalmente possuem validade de três anos, com possibilidade de prorrogação do prazo ou solicitação de green card. Só neste ano, a Tesla, companhia de Musk, já obteve 724 autorizações dessa natureza. Anualmente, cerca de 65 mil trabalhadores entram no país legalmente dessa forma.

As declarações de Musk e dos aliados mais conservadores de Trump puxou declarações em defesa da concessão do visto para estrangeiros qualificados. Vivek Ramaswamy, aliada de Trump, partiu em defesa de Musk e disse que a “cultura americana” valoriza a “mediocridade”, reforçando a necessidade de se captar mão de obra qualificada no exterior. 

Reação 

A intensificação da discussão pública levanta uma questão: como se dará a relação da base mais conservadora de Trump com os apoiadores mais recentes, do mundo das Big Techs? 

Até o momento, os discursos radicais do republicano sobre imigração criaram expectativas em seus eleitores, entretanto, a atual discussão indica que Trump pode ser mais flexível sobre o assunto do que mostrou inicialmente. 

Nikki Haley e Steve Banon, representantes do movimento Make America Great Again (Maga), são alguns dos que defendem que a postura de empresários como Musk retira empregos dos estadunidenses e baixa os salários. Para eles, a mão de obra estrangeira é contratada a um preço menor, o que afeta a disponibilidade de boas posições para quem nasceu no país. 

No seu primeiro mandato, Trump tentou dificultar o acesso a esse tipo de visto de trabalho qualificado, mas não conseguiu o apoio necessário no Capitólio. Agora, depois de certo silêncio, o presidente eleito partiu em defesa de Musk, dizendo, em entrevistas, que defende o uso do visto H1-B (tendo ele próprio empregado dezenas de pessoas nessa categoria). O posicionamento do republicano acende alerta amarelo para apoiadores de longa data, que se preocupam com a influência do Vale do Silício nos rumos do novo mandato.