Durante a 16ª Conferência sobre Biodiversidade (COP 16), realizada em Cali, Colômbia, na segunda-feira, 28, cientistas internacionais anunciaram que mais de 38% das espécies de árvores no mundo correm risco de extinção. Essa avaliação foi conduzida pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) em colaboração com a Botanic Gardens Conservation International (BGCI).

O número de espécies arbóreas ameaçadas é alarmante e supera a quantidade total de animais em risco, incluindo anfíbios, répteis e mamíferos, reforçando a necessidade de proteger esses ecossistemas vitais para a biodiversidade global.

As florestas sustentam milhares de espécies, criando habitats essenciais para uma gama diversificada de vida, de plantas a fungos e animais. Segundo o estudo da IUCN, 16.425 espécies de árvores estão ameaçadas de desaparecer, muitas delas fundamentais para a estabilidade ambiental. 

Para a chefe da Birdlife International, Cleo Cunningham, o cenário é crítico. Ela afirma que a análise reforça a necessidade de restaurar ecossistemas florestais para garantir a sobrevivência de inúmeras espécies, incluindo as populações humanas que delas dependem.

As florestas, além de serem um abrigo, desempenham papéis fundamentais na manutenção do equilíbrio climático. Elas regulam ciclos biogeoquímicos, como o ciclo do carbono, além de atuar na reciclagem de nutrientes e na retenção de água. 

A América do Sul, conhecida por sua biodiversidade abundante, abriga um amplo número de espécies arbóreas, muitas delas agora em perigo. Dos 13.668 tipos de árvores avaliados na região, 3.356 estão ameaçados de extinção. Algumas das árvores mais afetadas são espécies que contribuem não apenas para a paisagem e para o turismo, mas também para a saúde de todo o ecossistema.

A floresta amazônica, maior bioma da América do Sul, encontra-se em situação de alerta. Em 2024, de janeiro a setembro, a degradação na região atingiu 26.246 km², conforme dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) da ONG Imazon. Esse valor representa um aumento de 1.265% em relação ao mesmo período de 2023, quando a área degradada foi de apenas 1.922 km². 

Em 2021, mais de 140 países, entre eles Brasil, China, Rússia e Estados Unidos, comprometeram-se a pôr fim ao desmatamento até 2030. Esse acordo ambicioso abrange cerca de 90% das florestas globais. Entretanto, a perda de árvores continua a aumentar em várias regiões, impulsionada pela exploração madeireira, agricultura extensiva e expansão urbana.

Para a consultora da Climate Focus, Erin Matson, a dificuldade em conter o desmatamento se deve, em grande parte, ao lucro gerado pela exploração das florestas. “Os governos são frequentemente afetados pelo lucro, e é muito mais fácil ganhar dinheiro desmatando uma floresta ou extraindo madeira do que a protegendo”, afirmou.

A destruição das florestas compromete não só o habitat das espécies, mas também agrava crises climáticas. A emissão de dióxido de carbono resultante da derrubada de árvores acelera o aquecimento global, intensificando o efeito estufa e causando mudanças climáticas que impactam toda a vida na Terra.

O declínio das árvores e seus efeitos 

Segundo a avaliação da IUCN, a eliminação de espécies arbóreas representa uma perda irreparável. Cada árvore extinta leva consigo um microcosmo de interações ecológicas. Sem a presença desses indivíduos, o equilíbrio dos ecossistemas se rompe, afetando diretamente outras espécies que dependem das árvores para sobrevivência, seja como fonte de alimento, habitat ou proteção. As árvores desempenham funções insubstituíveis: elas controlam a erosão do solo, filtram o ar e mantêm a umidade do ambiente.

Com cerca de mil cientistas participando da avaliação, a pesquisa foi abrangente e incluiu 80% das espécies de árvores conhecidas. O relatório apresentado pela IUCN destaca que a conservação das árvores é uma responsabilidade global e que o futuro do planeta depende de um esforço coletivo para proteger essas espécies.

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