Um dos primeiros desafios do comando de quem assumir Goiânia a partir do ano que vem é lidar com o período chuvoso, que costuma começar no final do ano e segue até meados de março. A preocupação com enchentes e inundações urbanas fica mais evidente a partir dos relatos do povo gaúcho, que ainda enfrenta as consequências de desastres ambientais. Especialistas apontam que, por diferenças topográficas, dificilmente Goiânia enfrentaria consequência tão severas, mas ainda assim mortais.

Projetada por Atílio Correa para ser a nova Capital de Goiás, Goiânia tinha como meta abrigar cerca de meio milhão de moradores em sua estrutura de cidade grande e moderna. Após a expansão urbana, a cidade hoje abriga mais de 1,4 milhão de moradores, de acordo com o Censo do IBGE. A população vive em estruturas de concreto que encobrem os leitos e cursos de rios, aumentando os efeitos de enchentes urbanas.

Córregos soterrados

O lago que aflora no Córrego dos Buritis, por exemplo, nasce pouco acima do Clube de Engenharia, na rua 84. Essa nascente, conta Gislaine Cristina Luiz, professora de geografia formada na Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Geotecnia pela Universidade de Brasília (UNB), percorre pelo subsolo em voltas dos clubes, cobertos por calçadas, ruas e prédios, até chegar ao parque. Ela conta que na região do antigo Fórum de Goiânia, região constantemente afetada por enchentes e cheias, há uma estrutura de concreto por onde passa o córrego.

“Nos prédios da Avenida Goiás, os elevadores não podem ser usados porque o fosso do elevador fica inundado. Porque ali em baixo tem um monte de córrego. Goiânia foi construída dentro de uma região inundada por pântanos. A gente pode chamar isso de planície de inundações”, explica a especialista em clima urbano, alagamento e inundações

O processo é chamado de impermeabilização do solo, que quer dizer que a água encontra resistência para chegar ao subsolo. “Se a gente for pensar na fórmula como as cidades são construídas, essas aeras de inundações quase sempre são ocupadas e impermeabilizadas”, pontua.

Em grande parte, a cidade escolheu como intervenção a canalização desses córregos, como uma metodologia para transportar a água do seu ponto inicial e diminuir as chances de alagamentos. O exemplo é visto, por exemplo, na Marginal Botafogo. “É um local de caos, e não precisaria ser. Existem várias alternativas hoje para esse controle de fluxo superficial. Existe um asfalto permeável, existem concretos que permite a passagem de água. Se você tem um estacionamento com bloco de concreto que permite essa impermeabilização, quando chove a água infiltra e não vai correr para a rua”, explica.

Diretrizes dos pré-candidatos

A equipe da pré-candidata a prefeita de Goiânia, Adriana Accorsi (PT), aponta que a ideia é seguir o modelo de construção e reestruturação de parques e bosques da cidade. Luís César Bueno, coordenador de campanha da petista, lembra que “na gestão de Darci Accorsi foi construído o Bosque Vaca Brava, o Bosque Areião e reestruturado o Bosque dos Buriti e construção do Parque Macambira Anicuns que foi legado de Pedro Wilson com continuidade com Paulo Garcia.”

Ele diz ainda que haverá uma preocupação da gestão em desenvolver políticas públicas de preservação das nascentes e rios e “fazer uma liberação de construções, obedecendo o mínimo necessário para o escoamento das chuvas.”

Vanderlan Cardoso (PSD), por sua vez, aponta para os problemas históricos da cidade que foram agravados pela “urbanização desordenada e a insuficiência do sistema de drenagem.” “Como forma de reduzir esses impactos na cidade, é fundamental investir em infraestrutura verde, como a criação de áreas de retenção de água nos parques lineares, além da criação de novos parques”, diz.

Além da modernização do sistema de drenagem que não suportam mais o volume de água pluvial, ele argumenta que Goiânia “precisa ser pensada com planejamento de pelo menos 30 anos à frente” aliado a medidas de conscientização da população sobre educação ambiental. “Campanhas que incentivem o descarte adequado de lixo e a preservação das áreas de permeabilidade natural, com benefícios para quem manter áreas assim em sua residência, podem reduzir significativamente os alagamentos”, finaliza.

Já para o pré-candidato Sandro Sabel (UB), a estratégia será definida em etapas de curto, médio e longo prazo. Ainda no primeiro trimestre, diz em nota, o objetivo é fazer com que os “veículos da Prefeitura sejam híbridos e abasteçam com etanol e a utilização de transporte coletivo com combustíveis menos poluente, já atendendo o Padrão Euro 6”.

A nota reforça ainda que o planejamento de preservação e ampliação das áreas verdes em Goiânia “vai garantir melhor qualidade de vida e reduzir os impactos causados nos períodos de estiagem, que tendem ser mais prolongados, e também nos períodos chuvosos, que embora mais curtos, acontecem com maior intensidade e causam sérios problemas à nossa capital, como os alagamentos.”

O documento fala também sobre “parceria entre prefeituras da Região Metropolitana, especialmente vizinhos que pertencem às bacias do Ribeirão João Leite e do Rio Meia Ponte”. “Uma medida rápida e de custo relativamente baixo é promover o reflorestamento das margens dos nossos córregos, envolvendo a sociedade nesta campanha”.

O pré-candidato Leonardo Rizzo (Novo) aponta que a prioridade dos projetos será a “prevenção dos danos causados por eventos climáticos extremos, ampliação da fiscalização do uso dos rios e revitalização do Meia Ponte”. O documento divulgado por ele ainda diz sobre a adequação do aterro controlado e cooperação para a construção de um novo aterro sanitário e a antecipação do Marco do Saneamento para até 2028.

Ações da Prefeitura

Já a Prefeitura de Goiânia, cujo atual ocupante, Rogério Cruz, é pré-candidato à reeleição, informou que há uma proposta para criação da Lei para a criação de um Fórum de Mudanças Climáticas de Goiânia – Gynclima – em tramitação na Câmara Municipal. As discussões com órgãos do Estado e município, além de instituições de ensino e pesquisa, vão resultar no Plano de Mudanças Climáticas de Goiânia.

“No entanto, em paralelo às discussões em andamento no Legislativo, o Executivo tem desenvolvido ações preventivas para enfrentar o desafio das mudanças climáticas, implementando estratégias eficazes para mitigar os riscos e proteger a população e o meio ambiente”, diz.

A nota destaca que o prefeito Rogério (SD) inaugurou “oito novos parques ambientais em Goiânia.” “As unidades se somam às outras 55 já existentes e fazem com que Goiânia seja considerada a capital mais verde da América do Sul, do Brasil e a segunda do mundo, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).”

Já no campo da infraestrutura, de acordo com a gestão, houve o investimento de de R$ 200 milhões em drenagem urbana. “Dos 99 pontos de alagamentos identificados pela Defesa Civil, a Prefeitura de Goiânia já realizou intervenções em 70 deles”, diz a nota.

Confira a nota da Prefeitura de Goiânia na íntegra

A Prefeitura de Goiânia informa que está em tramitação na Câmara Municipal um projeto de Lei para a criação de um Fórum de Mudanças Climáticas de Goiânia – Gynclima (PL 458/2023).

Após a criação do fórum, o mesmo, sob coordenação da Gerência de Formulação de Educação, Política e Pesquisas Ambientais (GERFEP), fará a discussão sobre o tema com os vários atores envolvidos, como as secretarias municipais, órgãos do Estado e instituições de ensino e pesquisa.

A partir destes debates, a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) irá elaborar o Plano de Mudanças Climáticas de Goiânia.

No entanto, em paralelo às discussões em andamento no Legislativo, o Executivo tem desenvolvido ações preventivas para enfrentar o desafio das mudanças climáticas, implementando estratégias eficazes para mitigar os riscos e proteger a população e o meio ambiente.

Apenas na gestão do prefeito Rogério, foram inaugurados oito novos parques ambientais em Goiânia. As unidades se somam às outras 55 já existentes e fazem com que Goiânia seja considerada a capital mais verde da América do Sul, do Brasil e a segunda do mundo, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No campo da infraestrutura, a atual administração enfrentou o problema histórico de inundações com um pacote de investimentos de R$ 200 milhões em drenagem urbana. Dos 99 pontos de alagamentos identificados pela Defesa Civil, a Prefeitura de Goiânia já realizou intervenções em 70 deles.

Atualmente está em elaboração o Plano Diretor de Drenagem Urbana de Goiânia (PDDU), um projeto em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e que irá nortear as políticas públicas para o setor para as próximas décadas.

Além disso, o município investiu no número de agentes, viaturas, treinamento e em equipamentos para a Defesa Civil. Em setembro de 2023, o órgão elaborou um plano de contingência para inundações e enchentes que está em execução e que foi responsável pela celeridade e o êxito das ações de proteção a moradores goianienses durante as chuvas intensas em 2024.

A Defesa Civil também trabalha em conjunto com as secretarias municipais de Infraestrutura Urbana (Seinfra), Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), Meio Ambiente (Amma), Mobilidade, Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), Governo de Goiás e o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas (Cimehgo), além de empresas como a Equatorial e Saneago, para o monitoramento de alterações climáticas e implementação de medidas de proteção em tempo real, garantindo respostas rápidas diante de adversidades.

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