“Sem floresta em pé, não tem vida no planeta”, diz escritora de peça sobre Chico Mendes que estreia em Goiânia

20 novembro 2023 às 10h36

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“Sem floresta em pé, não tem vida no planeta. O clima que a gente está vivendo hoje exige que tem um outro olhar sobre a natureza. E isso vem sendo falado desde antes do Chico Mendes, mas só agora estamos experimentando na pele as consequências do descaso ao meio ambiente”, disse Zezé Weiss, escritora da peça Vozes da Floresta – Chico Mendes Vive. O espetáculo será realizado em Goiânia na próxima terça-feira, 21.
A peça traz documentos inéditos da vida do seringueiro e debate a preservação da Floresta Amazônia. Em homenagem a vida do ativista, sindicalista e ambientalista brasileiro, o texto será estrelado pela atriz Lucélia Santos, conhecida por seu papel na novela Escrava Isaura (1976). O evento será realizado no Teatro do Sesc Centro, às 20 horas. A classificação indicativa é de 14 anos e os ingressos podem ser retirados na plataforma do Sympla, com valores a partir de R$ 10.
Zezé explicou ao Jornal Opção que o espetáculo será divido em duas etapas. “A primeira parte será sobre os projetos do Chico Mendes para a preservação da floresta. Alguns áudios ficaram gravados durante mais de 30 anos e, na pandemia, decidimos gravar novamente, resultando em um material muito rico. E a outra parte será sobre a luta ambiental na perspectiva de três mulheres que trabalharam e fizeram parte dessa luta com o Chico Mendes: Valdiza Alencar, Cecília Mendes e a Lucélia Santos”.
A obra vai abordar desde o nascimento do ativista, em 1944, até seu assassinato, em 1998. Sua morte provocou uma repercussão internacional e contribuiu para aumentar a conscientização sobre a importância da preservação da Amazônia e dos direitos das comunidades que dependem da floresta. “No começo eu pensei que estava lutando para salvar as seringueiras, depois para salvar a floresta amazônica, agora eu percebo que a minha luta é pela humanidade”, disse o seringueiro.
“Nós tivemos um período de total anuência do estado brasileiro com a devastação da Amazônia, genocídio dos povos Yanomami, invasões de grileiros e mortes de ativistas. Isso começou a mudar, mas leva tempo para reconstruir porque é uma política totalmente detonada. Mas é possível reverter, a natureza é muito sã e ela reverte por si só”, explicou Zezé. Na última Conferência do Clima das Nações Unidas, o Brasil firmou um compromisso internacional de zerar o desmatamento até 2030.
A escritora e roteirista da peça também comentou sobre a violência contra os ativistas ambientais no país. Somente nos últimos 10 anos, 36 mulheres ambientalistas foram assassinadas na Amazônia. “As mulheres morrem mais anonimamente porque, como ainda é um mundo muito desigual, quando morre um líder conhecido, a gente fica sabendo de imediato. As mulheres demoram mais um pouco. A morte na Amazônia não escolhe sexo, mas ela escolhe lado. Morre ribeirinho, morre seringueiro, morre índio. Esses são os que morrem na Amazônia. Pela questão agrária, pela violência contra a floresta. E é lamentável isso, porque já existem partes da floresta que está produzindo mais carbono que oxigênio”, completou.

Quem foi Chico Mendes
Francisco Alves Mendes Filho, conhecido como Chico Mendes, foi um seringueiro, ambientalista e ativista brasileiro que desempenhou um papel fundamental no movimento ambientalista na floresta amazônica. Nasceu em 15 de dezembro de 1944, no estado do Acre, Brasil, e foi assassinado em 22 de dezembro de 1988.
Mendes tornou-se uma figura proeminente na década de 1980 por seus esforços para proteger a floresta amazônica e seus habitantes indígenas. Ele defendeu o desenvolvimento sustentável e os direitos das comunidades locais, especialmente daqueles dos seringueiros que colhiam látex das seringueiras sem prejudicá-los.
Uma das contribuições mais significativas de Mendes foi a criação do Conselho Nacional dos Seringueiros do Brasil. Também organizou protestos contra a desflorestação e a exploração madeireira ilegal, chamando a atenção para as consequências ambientais e sociais de tais atividades.
O ativismo de Chico Mendes, porém, fez dele alvo de quem se opunha aos seus esforços. Tragicamente, ele foi assassinado em 1988 por fazendeiros que se opunham à sua defesa da proteção da floresta tropical e dos direitos das comunidades locais.
O legado de Mendes continua vivo e ele é lembrado como um mártir da causa da conservação ambiental e da justiça social na Amazônia. A sua vida e obra continuam a inspirar ambientalistas e ativistas em todo o mundo.