Empreendimentos de energia renovável causam desmatamento 10 vezes maior

16 junho 2024 às 17h08

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Empreendimentos de energia renovável no Brasil causaram a destruição de 4,5 mil hectares de vegetação nativa no último ano, um aumento de 9,5 vezes em relação a 2020, quando 475,99 hectares foram desmatados. Segundo levantamento realizado por ((o))eco, com base em dados do MapBiomas, a Caatinga do nordeste brasileiro é o bioma mais afetado.
Entre 2020 e 2023, o desmatamento total provocado por projetos de renováveis atingiu 9,4 mil hectares, área equivalente à capital do Espírito Santo, Vitória. Dos oito estados brasileiros que registraram desmatamento por energia renovável no período, seis estão no nordeste. A Caatinga sofreu 92,6% do total desmatado, seguida pelo Cerrado com 7,3% e a Amazônia com 0,1%.
O maior desmatamento ocorreu no município de São José do Belmonte, Pernambuco, onde está localizado o maior complexo de energia solar da América Latina, comandado pela espanhola Solatio. Entre 2020 e 2023, 1.513 hectares de vegetação nativa foram desmatados para dar lugar ao complexo de painéis fotovoltaicos, representando 1% do território municipal.
Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, criticou o desmatamento para a energia solar, considerando-o um contrassenso para o Brasil. Cristina Amorim, coordenadora da Iniciativa Plano Nordeste Potência, destacou que, apesar das tecnologias de energia renovável serem consideradas limpas, a forma como são implementadas não é.
Ela ressaltou a falta de planejamento e avaliação das consequências das instalações, que muitas vezes substituem áreas dedicadas à produção rural familiar e subsistência, gerando impactos como redução de renda, insegurança alimentar, êxodo rural e problemas de saúde.
O Plano Nordeste Potência revelou que 66 gigawatts (GW) estão outorgados para projetos de energia renovável na região Nordeste, equivalentes a quase cinco Itaipus de potência. Desses, 28,7 GW são de projetos solares e 34,4 GW de projetos eólicos.
Em janeiro, a iniciativa publicou “Salvaguardas Socioambientais para Energia Renovável”, com mais de 100 recomendações para uma transição energética justa e inclusiva. O documento enfatiza que a transição energética deve considerar não apenas a capacidade de geração, mas também as condições e o contexto das áreas de instalação para evitar impactos negativos nas comunidades locais.