A presença de uma superbactéria resistente a antibióticos no Rio Meia Ponte tem gerado preocupação entre especialistas em saúde ambiental. A pesquisadora Elisa Flávia Baião, que conduz estudos sobre o tema, detalhou ao Jornal Opção os desafios enfrentados para conter o problema e os desdobramentos de sua pesquisa.

Segundo Elisa, a iniciativa ainda está em fase inicial de parcerias com órgãos públicos. “Até o momento, o que a gente teve de novidades é que já fizemos dois contatos prévios com a Semad e estamos tentando ver parcerias para continuar a investigação do Rio Meia Ponte e de outros rios do estado também. Mas ainda estamos em fase de tratativa”, explicou.

Elisa destacou que a solução para o problema não é simples. “Esse é um problema bastante complexo de difícil solução a curto prazo, porque o grande problema é a presença constante de antibióticos nos rios, que seleciona bactérias resistentes. Isso se torna um problema de saúde pública, mas também individual, porque nós, como população, fazemos muito descarte errado desses medicamentos”, disse.

Segundo ela, a forma incorreta de descartar remédios, jogando sobras de antibióticos no vaso sanitário, na pia ou no lixo comum, contribui para a proliferação das bactérias resistentes nos rios, que acabam recebendo efluentes domésticos e urbanos.

Elisa também apontou que o problema não se restringe ao descarte doméstico. “A agricultura e a pecuária fazem um uso muito grande de antibióticos, e muitas vezes esse uso não é controlado. Enquanto a venda de antibióticos para uso humano é regulada, o controle sobre a utilização na pecuária e na agricultura não é tão rígido”, afirmou.

Ela detalhou ainda que os antibióticos são utilizados na agropecuária tanto para prevenção de doenças em animais e plantas quanto como fator de crescimento. “A partir do momento que o animal faz uso do antibiótico, o esterco fica contaminado e muitas vezes é utilizado como adubo. Então o medicamento volta para o solo, amplificando o problema”, explicou.

Para a pesquisadora, ações urgentes são necessárias, ainda que os efeitos sejam percebidos a médio e longo prazo. “Precisamos conscientizar a população sobre o descarte incorreto e mobilizar políticas públicas para regular o uso de antibióticos na agropecuária. A divulgação dessas informações é essencial para alcançar tanto a população em geral quanto os formadores de decisão”, ressaltou Elisa.

O estudo

Pesquisadores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) confirmaram a presença da bactéria Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) no Rio Meia Ponte, principal manancial que abastece Goiânia.

A MRSA foi detectada em oito pontos do rio, do trecho da nascente à foz, com maior concentração em áreas urbanas, onde resíduos de antibióticos favorecem a seleção de bactérias resistentes.

Elisa explicou que a bactéria pode atingir indiretamente a população por meio de alimentos irrigados com água contaminada, animais que consomem essa água e pessoas em contato com eles, formando um ciclo de transmissão que envolve também hospitais.

O estudo não analisou a água de torneira, portanto não há comprovação de contaminação direta da água distribuída à população. O estudo servirá como base para monitoramento contínuo da MRSA, identificação de suas origens e estratégias para reduzir riscos ambientais e à saúde humana.

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