Às vésperas do encerramento oficial da COP30, a presidência da conferência intensificou esforços diplomáticos para costurar um acordo mínimo sobre um dos pontos mais sensíveis da Cúpula de Belém: a inclusão, ou não, de um “Mapa do Caminho para o Fim dos Combustíveis Fósseis” no texto final.

De um lado, cerca de 80 países liderados pelos Estados Árabes resistem a qualquer menção ao tema. Do outro, um bloco igualmente robusto insiste que a conferência não pode terminar sem uma sinalização concreta sobre a transição energética global. Entre as posições antagônicas, o Brasil tenta conduzir um “caminho do meio” que permita algum avanço político.

Reunião fechada busca destravar impasse

Segundo apuração de ((o))eco, a presidência da COP convocou para a tarde desta sexta-feira, 21, uma reunião privada com apenas dois representantes por bloco negocial. Quatro temas considerados críticos estão na mesa:

  • financiamento para adaptação,
  • medidas unilaterais de comércio,
  • lacuna de ambição nas NDCs,
  • e o controverso Mapa do Caminho para o Fim dos Fósseis.

O panorama ficou ainda mais delicado após o texto preliminar divulgado na manhã desta sexta retirar completamente a referência ao roadmap — que havia aparecido discretamente em rascunhos anteriores.

Colômbia lidera declaração paralela pelo fim dos fósseis

Em movimento coordenado, 25 países lançaram oficialmente a Declaração de Belém para o Fim dos Fósseis, documento que reivindica a criação de um roteiro global para a eliminação progressiva do petróleo, gás e carvão.

O texto afirma o compromisso coletivo com “uma transição justa, ordenada e equitativa para longe dos combustíveis fósseis”, alinhada ao limite de 1,5°C. Entre os signatários estão: Austrália, Chile, Costa Rica, Dinamarca, Finlândia, Jamaica, México, Países Baixos, Panamá, Vanuatu, Fiji e Tuvalu — além da própria Colômbia.

A ministra colombiana do Meio Ambiente, Irene Valez-Torres, afirmou que “esta COP não pode terminar sem um mapa claro” e estimou que mais de 80 países já apoiam a proposta.

Junto com a declaração, foi anunciada a Primeira Conferência Internacional sobre o Fim dos Combustíveis Fósseis, marcada para 28 e 29 de abril de 2026, em Santa Marta, na Colômbia.

Brasil tenta equilibrar expectativas

Na coletiva desta sexta-feira, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, tratou do tema de forma indireta. Ele reconheceu que “algumas prioridades podem não avançar como gostaríamos”, mas ressaltou que a presidência brasileira trabalha para fortalecer consensos multilaterais, e não para favorecer agendas específicas do país anfitrião.

Ape sar do esforço, até o momento não houve mudanças nos tópicos em disputa.

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