Na reta final do período da seca, a população de Goiás já almeja o retorno das chuvas previstas para meados de outubro, segundo o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (CIMEHGO). Entretanto, restando cerca de um mês para o início do período chuvoso, a baixa umidade relativa do ar ainda continua e uma onda de calor elevou a temperatura para 40ºC ou acima em diversas cidades goianas.

Apesar do calor e da baixa umidade do ar, a programação para o retorno das chuvas segue normal. De acordo com Nilson Clementino Ferreira, professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (EECA-UFG), a previsão segue os estudos de normais climatológicos. “Se pegarmos todos os registros meteorológicos do Cerrado, é possível ver a chuva voltando sempre em meados de outubro. Temos um estudo resultante chamado normais climatológicos, com dados de um intervalo de tempo de 30 anos, tempo observado para definir o clima de uma região. Com 90 anos de estatísticas, a precipitação continua com um comportamento muito semelhante. Por isso não está atrasada”, explicou o docente.

Estamos desperdiçando a oportunidade de infiltrar água da chuva no solo. Ou seja, perdemos essa água e isso faz com que depois falte na época da seca.

Apesar do comportamento normal, sem alterações no período chuvoso, Nilson fala que ocorreram mudanças na distribuição e na intensidade. “Alguns anos atrás, as chuvas no Cerrado foram melhor distribuídas. Sendo que demoravam o dia inteiro e tinham pouca intensidade, sem formar enxurrada. Atualmente, percebemos que a chuva ocorre no final do dia e com muito mais força. Além de ocorrerem irregularidades, ou seja, dias em que há muita precipitação em pouco tempo e dias em que ocorrem veranicos, com intervalos de até uma semana sem chuva”, afirma. Ele ainda ressalta que é uma situação preocupante porque é necessário que chova todos os dias para abastecer os mananciais.

“A chuva forte não deixa tempo para a água infiltrar no solo, por isso escorrem superficialmente”, afirmou Clementino, destacando que as alterações na vegetação nativa também atrapalham o processo de infiltração. “Um dos fatores que causam as tempestades é o aquecimento global. Com um ambiente mais quente, tenho mais evaporação de água. Nas nuvens, ela pode subir e congelar mais rápido, por conta da pressão atmosférica menor. Então, temos a formação de temporais”, completou.

Dessa forma, o professor alerta que a ausência de infiltração das precipitações pode trazer problemas para o futuro próximo. “Estamos desperdiçando a oportunidade de infiltrar água da chuva no solo. Ou seja, perdemos essa água e isso faz com que depois falte na época da seca”, avisou o vice-coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Ciência do Fogo (NEPEF).

“Precisamos entender que o Cerrado possui um regime de chuva particular, sendo um verão chuvoso com precipitações diárias, e um inverno muito seco com meses sem chuva. Algo que é natural dos biomas savânicos em todo o mundo. Só que as populações urbanas aumentaram e a demanda por água também, seja nas cidades ou na zona rural. Também alteramos a vegetação nativa, tiramos as árvores de raízes profundas que facilitam a infiltração da água no solo e substituímos essa vegetação por pastagens e agricultura, com raízes superficiais. Fora que o solo ficou mais compactado, então a água não infiltra na mesma quantidade que antes”, afirmou Ferreira.

As populações urbanas aumentaram e a demanda por água também, seja nas cidades ou na zona rural. Também alteramos a vegetação nativa, tiramos as árvores de raízes profundas que facilitam a infiltração da água no solo e substituímos essa vegetação por pastagens e agricultura, com raízes superficiais.

Segundo Clementino, a infiltração da água no solo é necessária para que os corpos hídricos, como rios e lagos, sejam abastecidos. Dessa forma, quando ocorre a situação de enxurrada, significa que a água está sendo perdida. Fora que no ambiente de zona rural, a enxurrada pode formar erosão do solo.

Como consequência, o docente apontou que a seca e falta de infiltração trazem falta d’água, uma situação de insegurança e crise líquida. O que pode trazer consequências para o abastecimento de água.