Morte de mais de 8 milhões de abelhas em Goiás vira caso de polícia; entenda

16 janeiro 2024 às 16h37

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A Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema) e a Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) deflagraram, nesta terça-feira, 16, a Operação Proteção das Abelhas em Bela Vista de Goiás e Silvânia. Ao menos três casos de mortandade desses importantes polinizadores foram enviados para o Poder Judiciário.
A investigação, coordenada pelo titular da Dema, Luziano Carvalho, identificou mortes em dois locais em Bela Vista de Goiás, com total de 26 e 31 colmeias, respectivamente; e um caso em Silvânia, que soma 32 colônias. Segundo ele, cada lote tem média de 3 milhões de abelhas. O policial disse que três agricultores foram indiciados. Como os nomes deles e nem das defesas foram revelados, a reportagem não coseguiu contato. Mas o espaço segue em aberto para manifestação.
“São abelhas que estão mapeadas. Você já imaginou as abelhas que não estão mapeadas. Isso não se tem registro”, ressalta, lembrando também que houve registros de mortes desses insetos também em Orizona. “Lá, a mortandade foi de 5 milhões de abelhas”.
Por que a morte das abelhas é tão preocupante?
Além do papel importante para a polinização de culturas, ou seja, para a agricultura, a maior parte dessas abelhas são de manejos da apicultura, para a produção de mel e comercialização. “A mortandade dessas abelhas vai ter reflexo diretamente na produção da própria agricultura e na economia”, destaca o delegado Luziano Carvalho.
Especialista na biologia dos seres vivos e meio ambiente, o ecólogo Igor Madureira de Assis explicou os riscos de extermínios de abelhas. “É uma perda significativa, que vem acontecendo com mais frequência, com a liberação, no último governo, bem alta dos diferentes agrotóxicos que foram banidos na Europa e em todo o mundo. E a gente, aqui no Brasil, indo na contramão”, lamenta.
Madureira cita os impactos econômicos e ambientais com as mortes de milhares desses insetos. “Para a natureza, independente de serem abelhas nativas ou exóticas, elas exercem uma função muito importante que é da polinização, um benefício tanto para as culturas comercializadas quanto para as plantas nativas, no nosso caso, do Cerrado, para poder conseguir uma reprodução de frutos”, pontua.
Vilão das abelhas
O principal dos agrotóxicos que vitimam as abelhas, mencionado pelo delegado Luziano Carvalho, é o Fipronil. Em novembro do ano passado, o presidente da comissão técnico-científica da Confederação Nacional de Apicultores, Ricardo Orsi, tratou em audiência pública sobre o uso deste pesticida. De acordo com ele, em dose normal o produto mata as abelhas imediatamente. Orsi contou que nos casos em que há diluição, o Fipronil mina as colônias.
“Fizemos várias diluições para chegar àquilo que queríamos (0,4 nanograma por abelha). Realmente, não matou nenhuma abelha imediatamente. Mas, em oito semanas, não tinha mais uma colônia dentro da colmeia: em quatro semanas, já não havia mais postura da rainha; em seis semanas em área de cria fechada, pré-pupa e pupa reduziram significativamente; e, em oito semanas, perdemos todas”, alertou.
Luziano Carvalho explica que a comercialização e uso do Fipronil não são proibidos no País, mas apenas a distância da aplicação dele em regiões de apiculturas. “A proibição é para a utilização em uma determinada distância. Em Goiás, a média é de 5 quilômetros, do apicultura até a lavoura. Então, eu sempre falo: é o uso inadequado”.
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