Projeto de costura de mulheres Kalunga vira alternativa para gerar renda e preservar a identidade cultural

16 junho 2023 às 21h11

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Tuia Kalunga, líder comunitária de Monte Alegre de Goiás, tem se dedicado incansavelmente a um projeto que visa gerar renda e preservar a identidade cultural da comunidade quilombola Tinguizal. Situada a 65 km da sede do município, essa comunidade composta por 78 famílias encontrou na costura uma oportunidade de transformação.
Atualmente, a “Associação Mulheres Quilombo Kalunga de Monte Alegre” conta com a participação de 32 mulheres que se envolvem nas atividades de corte e costura. Elas suportam roupas, acessórios e tapetes, incorporando adereços tradicionais às peças. Embora a produção ainda esteja em suas preferências iniciais, esses itens são comercializados na região local e também chegam às mãos de voluntários que os levam até Brasília, capital do país.
Maria Helena Serafim Rodrigues, conhecida como Tuia Kalunga, lidera esse projeto com grande satisfação. Seu compromisso em fortalecer a comunidade e promover o desenvolvimento sustentável é evidente. Monte Alegre de Goiás, embora enfrente desafios socioeconômicos, possui um tesouro precioso: seu território abriga um vasto e preservado bioma de Cerrado, com nascentes e uma rica diversidade de fauna e flora.
Além disso, dentro dos limites de Cavalcante e Teresina de Goiás, encontra-se o sítio histórico que abriga o Patrimônio Cultural Kalunga. Esse local é reconhecido como o maior território quilombola do país em extensão, com aproximadamente 230 mil hectares, onde vivem cerca de quatro mil quilombolas. Em 2021, a ONU entendeu esse espaço como o primeiro Território e Área Conservada por Comunidades Indígenas e Locais (Ticca) do Brasil.
Apesar das estatísticas desfavoráveis, tais como a baixa quantidade de renda de empresas ativas, o número limitado de funcionários registrados, a média dos trabalhadores formais e a taxa de escolarização e o Produto Interno Bruto abaixo da média, a maior parte da população de Monte Alegre não encontra ocupação serviço público municipal, na agropecuária de subsistência, em atividades informais ou é beneficiária de programas sociais.
Por trás desses desafios, a espiritualidade de Tuia Kalunga e da comunidade local mostra que há esperança e potencial para transformar a realidade. A preservação da cultura quilombola, aliada à preservação ambiental do Cerrado, revela o caminho para um futuro mais próspero e sustentável para Monte Alegre de Goiás.
“Nos inspiramos na história, na memória e na vivência. Como ainda não temos grandes recursos de vendas, o que fazemos é apenas para comprar e repor matéria-prima”, afirma Tuia Kalunga.
A produção é extremamente baixa devido à falta de um processo produtivo eficiente e profissionalizado. Para resolver esse problema, o Sebrae promoveu um curso chamado “Aprender a Empreender Social” nos dias 6 e 7 de junho, em parceria com a associação. Essa iniciativa tem como objetivo preencher essa lacuna, fornecendo capacitação profissional e garantia para o desenvolvimento das associadas, a fim de gerar reconhecimento, emprego e renda.
“A intenção é que elas se capacitem para, no futuro, terem uma produção mais consistente, inspirada no estilo Kalunga, com muitas cores e estampas”.
Elaine Moura, gestora estadual do Projeto Território Empreendedor Nordeste Goiano, ressalta que o Sebrae Goiás tem como objetivo primordial ajudar as mulheres da comunidade a concretizarem seus sonhos no ramo da moda, preservando a tradição e as memórias afetivas de sua cultura por meio da confecção de roupas. “É valioso quando o conhecimento sobre empreendedorismo encontra as habilidades naturais da pessoa”, diz.
Segundo Elaine, o próximo passo oferecerá uma consultoria de design para orientar as mulheres na criação de suas próprias coleções de moda, abrangendo aspectos como modelagem, produção, mercado e vendas. A expectativa é que a associação já esteja presente nas atividades de inclusão social da Amarê Fashion – Semana da Moda Goiana, que ocorreu de 29 de agosto a 2 de setembro em Goiânia.
Elaine Moura ressalta que o objetivo do Sebrae é proteger o progresso econômico das regiões, envolvendo líderes e comunidades locais na construção conjunta de uma agenda de desenvolvimento para a área, com o intuito de transformar o território no melhor lugar para se viver e empreender.
“A ideia é apoiar a associação no desenvolvimento de habilidades empreendedoras. E uma das iniciativas será levá-las para a Amarê Fashion a fim de que elas conheçam o universo da moda”, explica.