A gestão da Secretaria de Saúde em Goiânia continua sendo uma preocupação para a população, que sofre com falta de estrutura, insumos, medicamentos e atendimentos básicos. Segundo o novo secretário de saúde da capital, Wilson Pollara, a dívida da prefeitura com os hospitais privados ultrapassam R$ 170 milhões. Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Wilson defendeu o fortalecimento da atenção primária, indicou resolução da crise nas maternidades e da Santa Casa, comentou sobre a precariedade da saúde mental e indicou as futuras ações da pasta. 

O secretário assumiu o cargo no dia 3 de outubro em meio a um cenário catastrófico, enfrentando desafios e buscando soluções para as crises acentuadas pela gestão passada, de Durval Pedroso. Além de médico, Wilson Pollara é professor, pós-graduado, Mestre, Doutor e Livre-Docente em Cirurgia Geral, com experiência na área de saúde e também em administração hospitalar. Ele foi secretário-adjunto do Governo do Estado de São Paulo durante a gestão de Geraldo Alckmin e secretário municipal de João Doria.

Ele explicou à reportagem que assumiu a pasta em um momento difícil por conta da herança deixada pela pandemia da Covid-19, que causou uma crise geral na saúde, seja ela pública ou privada. “Foram muitos contratos e convênios feitos, muitas UTI’s (Unidade de Terapia Intensiva) contratadas e muitos recursos foram desviados para a alta complexidade, tirando os recursos da atenção básica”, pontuou. Além disso, explicou que está trabalhando para melhoria da infraestrutura das unidades básicas de saúde e fornecimento de materiais de insumo e remédios, que estão em falta. 

Bruna Isecke trabalha na USF (Unidade de Saúde da Família) Riviera e conta, que apesar da unidade ser uma das mais novas do município, os problemas são constantes. “Sempre temos problemas com a nossa Autoclave, que vive estragando. Na parte da odontologia para esterilização dos materiais, o compressor também vive estragado porque já veio usado de outro lugar. Em relação aos agentes de saúde, nós estamos há 10 meses com o nosso salário defasado recebendo valor referente a 2022”, explicou ela. 

De acordo com a agente de saúde, a Constituição determina o recebimento de vencimentos de dois salários mínimos. Sendo assim, a Prefeitura não vem respeitando a emenda constitucional 120, porque a União repassa o dinheiro mensalmente, mas o município não tem passado o valor atualizado. Ela contou ainda que se reuniu com o secretário de saúde e a informação foi de falta de recursos para o pagamento. 

A Secretaria de Finanças soltou uma portaria, um memorando, explicando que não pode ter mais gastos porque está próxima ao limite credencial. Sobre a dívida de R$ 170 milhões, o secretário de saúde explicou que a prioridade de sua gestão é a população “carente” e “necessitada”. Segundo ele, o montante dos débitos ultrapassa o orçamento de um ano inteiro, que é de aproximadamente R$ 150 milhões. Ele disse ainda que uma auditoria será feita para discutir os débitos e propor soluções. 

O atraso no pagamento dos serviços prestados ao Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores de Goiânia (Imas) já totaliza um ano. Atendimentos realizados em setembro de 2022 ainda não foram pagos. A situação acende um sinal de alerta e pode inviabilizar a continuidade dos atendimentos aos pacientes do SUS e do Imas pelas instituições privadas. Questionado sobre, Wilson informou que a gestão do IMAS não compete a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). 

As trocas recorrentes na diretoria do IMAS não parece ser uma solução para os graves problemas que afetam o setor. Pelo contrário, pode ser mais um sinal de instabilidade e incoerência na administração. Desde que Rogério Cruz (Republicanos) tomou posse como prefeito, em janeiro de 2021, a diretoria já foi trocada 6 vezes. 

Crise generalizada atinge todas as áreas da saúde 

Segundo Wilson Pollara, a crise com as maternidades da capital foi resolvida. As maternidades Hospital e Maternidade Dona Iris (HMDI), Nascer Cidadão (MNC) e o Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara (HMMCC) haviam recentemente anunciado suspensão dos atendimentos por falta de recursos. Além disso, o médico indicou também a resolução da crise do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia.

“A Santa Casa vai ser nosso hospital referência e também estamos trabalhando nas  construções das unidades de saúde, trazendo o corujão, carretas da saúde, fazendo entrega de remédios a domicílio, dentre outras ações”, explicou Wilson. Durante a gestão João Dória, Pollara foi o responsável por zerar as filas de atendimento, usando o tempo ocioso de hospitais particulares em favor da comunidade, através do projeto ‘Corujão Saúde’. 

Apesar dos avanços, Pollara tem sido criticado pela postura em relação às Organizações Sociais de Saúde (OSS). Os funcionários e pacientes do sistema de saúde pública criticam a privatização e a terceirização do serviço. As organizações são entidades que se habilitam a fazer um contrato de gestão com o Estado para gerenciar uma unidade de saúde. A OS fica responsável por abastecer a unidade, dar manutenção e fornecer mão de obra para a execução das atividades. 

Para a agente de saúde Bruna Isecke, a crise na saúde municipal é uma das piores enfrentadas nos últimos anos. “Falta soro, não tem seringa, não tem folha. Na minha unidade, por exemplo, não tem folha para os agentes trabalharem, não tem folha para o médico imprimir a receita. Falta toner, falta medicamento, falta fita de HGT, sashas, gazes, não tem condição de trabalho”, denunciou. Ela comentou ainda que teve um período que a unidade de saúde ficou 1 ano sem médico para realizar atendimentos. 

Outra situação crítica em Goiânia apontada pelos funcionários é a futura falta de técnicos de enfermagem nas unidades de saúde. Segundo ela, por falta de enfermeiros, os agentes vêm sendo colocados para fazer triagem. “A gente não tem competência legal, não tem estudo técnico para fazer esse tipo de coisa. As prefeituras vêm obrigando os trabalhadores a se remanejar para áreas que não são de sua competência.” 

Com a greve dos administrativos, trabalhadores de outros órgãos estão exercendo atividades na educação municipal de Goiânia sem o preparo necessário. Pelo menos 120 unidades escolares e Centros Municipais de Educação Infantil em Goiânia, de um total de 400, enfrentam interrupções nos serviços devido à greve dos servidores administrativos da Educação, que teve início no começo do mês. Para mitigar o problema, a administração municipal está deslocando servidores da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) para auxiliar na limpeza e cozinha, enquanto a cidade fica sem coleta seletiva.

Para Bruna, no entanto, a situação mais crítica é na unidade de saúde do setor Leste Universitário, onde a prefeitura fez a remoção do pessoal para uma reforma que era para ter começado há três meses, mas ainda não foi iniciada. “A unidade está caindo aos pedaços, caiu um pedaço de gesso na cabeça da médica no meio do atendimento”, conclui Bruna.