Pole dance ganha força em Goiânia e rompe estigmas com arte, expressão e histórias de superação
01 novembro 2025 às 20h00

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O pole dance, muitas vezes associado apenas ao sensual, vem ganhando novos significados e espaços em Goiânia. A artista e professora Súrya Macário, idealizadora do Cerrado Fusion Fest, destaca que a prática vai muito além da estética e da performance corporal. Para ela, trata-se de uma forma legítima de arte e expressão, com vertentes que envolvem técnica, força e emoção.
“O pole artístico é diferente do esportivo e do sensual. No artístico, o foco está na expressão e na narrativa corporal, no modo como a dança conta uma história. O esportivo trabalha mais o desempenho físico, e o sensual é uma vertente igualmente válida, que resgata o poder e a confiança de quem dança”, explica Súrya em entrevista ao Jornal Opção.
Segundo a artista, o estigma de sexualização ainda é um desafio para o reconhecimento do pole como linguagem artística. “Infelizmente, muitas pessoas ainda olham com preconceito. Mas o pole é uma arte completa — exige preparo físico, criatividade e autoconhecimento. Ele transforma o corpo e a mente”, afirma.
Goiânia se torna polo da modalidade
Súrya destaca que Goiânia tem se tornado referência nacional na prática do pole dance. Embora existam poucos campeonatos, a capital já reúne eventos de destaque e cerca de cinco clubes dedicados à modalidade. “A comunidade está crescendo. Temos cada vez mais alunos e artistas comprometidos em mostrar o lado artístico, poético e emocional dessa dança”, diz.

Ela também enfatiza os benefícios físicos e mentais da prática. “O pole melhora a postura, a força, a resistência e o equilíbrio, mas também ajuda muito no bem-estar emocional. Eu digo que estou sempre dançando — é uma maneira de estar presente, de me reconectar comigo mesma”, afirma. Para ela, a prática não pode ser considerada uma terapia, mas é “terapêutica”.
Além disso, o pole dance, segundo Súrya, pode até melhorar relacionamentos interpessoais. “Muitas mulheres me contam que a relação com o marido mudou depois que começaram a dançar. O pole desperta autoestima, confiança e liberdade, e isso reflete em todas as áreas da vida”, comenta.
“A vovó do pole”
Entre as alunas que transformaram a dança em uma aliada de vida está Sandra Fortunato, de 71 anos, que se define com orgulho como “a vovó do pole”. Ela começou a praticar por incentivo das filhas, mas acabou sendo a única da família que seguiu firme na modalidade.
Diagnosticada com câncer de medula, Sandra encontrou no pole dance força e motivação para enfrentar o tratamento. “Não posso mais fazer o transplante pela idade, mas encontrei no pole a minha cura. Ele me devolveu a alegria e a vontade de viver”, relata.

Apesar do entusiasmo, Sandra reconhece que parte da família ainda se preocupa. “Eles têm medo de eu me machucar, mas o pole me dá energia e equilíbrio. Já participei de competições em São Paulo e no Rio Grande do Sul, e quero continuar dançando enquanto puder”, afirma sorrindo.
Cerrado Fusion Fest celebra o movimento
O Cerrado Fusion Fest, realizado pela primeira vez em 2011, voltou neste ano com o propósito de desmistificar o pole dance e apresentar a modalidade como expressão artística e cultural.
O evento contou com a presença de Grazzy Brugner, considerada a maior referência brasileira em pole dance e responsável por introduzir a prática no país. A participação da artista reforçou o caráter formador e inspirador do festival, que busca abrir espaço para novas linguagens corporais e artísticas em Goiás.
