Postagens feitas pelo jornalista Yago Sales nas redes sociais, atualmente repórter do jornal O Hoje, revelam que os ataques do vereador Kleybe Morais (MDB) ao jornalista da CBN Goiânia José Bonfim, durante sessão dessa quarta-feira, 5, na Câmara Municipal de Goiânia, seriam direcionadas a ele. Se colocando como provável vítima dos ataques do parlamentar, Yago se pronunciou em suas redes sociais, alegando que foi confundido com o colega.

“Confundido comigo, [José Bonfim] foi vítima do ódio que Kleybe Morais e outros vereadores nutrem por mim desde que comecei, em 2016, a cobrir a Câmara para o Jornal Opção”. Yago explicou que em outro jornal, no Dia Online, foi pautado por um editor a vasculhar documentos que chegaram na portaria. “Entendi a influência de Kleybe em concursos e processos seletivos. O MP já investiga o caso e repassou à PF após a publicação da reportagem”.

No relato, Sales descobriu que o vereador recebia dinheiro público, mas não trabalhava em uma Organização Não-Governamental (ONG). “Na época, fiz matérias que resultaram em várias denúncias, a ponto do [então] prefeito Iris me chamar, educado, democrático e pedir que o procurasse cada vez que publicasse uma reportagem. O contato foi feito apenas via assessoria”.

Recentemente, em maio, o jornalista Yago Sales revelou que, sem nenhum constrangimento, uma assessora parlamentar de Kleybe Morais supostamente cobrava R$100 por diploma falso de pós-graduação dentro do gabinete 10.

A suposta venda teria sido feita principalmente às vésperas em que professores assumiram o processo seletivo simplificado 001/2021 da Secretaria Municipal da Educação (SME) e alguns deles procuravam o gabinete em busca de documentos emitidos. A apuração revelou que a documentação era falsa. Desde então, a prefeitura não deu resposta sobre uma auditoria que seria feita para apurar a denúncia.

Pautado pelos princípios jornalísticos da ética e imparcialidade, Yago sempre procurou o parlamentar antes das publicações das reportagens, porém, não obteve retorno. “E, cabe lembrar o momento em que Kleybe me acusa, avançando contra o colega José, de mentiroso pelas coisas que publiquei. Eu procurei o parlamentar para ouvir o outro lado todas as vezes […] mas ele se escondeu”.

Sem apontar nomes, o colega jornalista diz que vem recebendo ameaças. “Venho pedindo ajuda há meses sobre ameaças, carros rodeando minha casa, gente me seguindo e recados que chegam ‘das sombras’. Procurei a Polícia Civil, que ainda não me chamou para dar depoimento, solicitei ajuda a entidades, que emitiram notas, e falei a colegas que parecem descrentes, mas ainda estou sob o risco, a qualquer momento, não poder mais avisá-los”, desabafa.

Ataques

O vereador Kleybe Morais fez ataques homofóbicos e ameaças contra o jornalista da CBN Goiânia José Bonfim durante a sessão dessa quarta-feira, 5, na Câmara Municipal de Goiânia. A agressão verbal começou quando o parlamentar pediu espaço para se pronunciar e criticou, sem citar nome, um jornalista que, na visão dele, vai à Casa para fazer “caricatura e fofoquinha” de vereadores.

“Não vou aceitar bandido na imprensa vindo pautar a Câmara, pautar vereadores aqui, não. Eu vou para cima e vou na goela. Já fiz uma vez e vou fazer de novo. E para quem sabe ler, um pingo é letra. Vem pra cima de mim que vai voltar do mesmo jeito. Vai voltar com o rabinho entre as pernas”, disse o vereador.

Em seguida, o parlamentar disparou ataques homofóbicos contra o repórter. “Não me importa se é hétero ou gay. Não me importa se é bicha ou homem. Mas se vem pra cá pra fazer algazarra, pra fazer furdunço, vai voltar do mesmo jeito para fora daqui”, declarou.

Respeito à imprensa

Sem pedir desculpas ao repórter atacado, Kleybe leu, nesta quinta-feira, 6, uma nota na tribuna da Casa se dizendo a favor da “imprensa livre, séria, de credibilidade”. Disse que não está na Câmara para fazer “política de boa vizinhança” e que tem até familiares que são jornalistas. “Sou contra a toda e qualquer forma de fake news. Aos jornalistas que praticam a imprensa séria, sadia, honesta, as minhas desculpas e meu reconhecimento. O que não posso tolerar é se valer de tão importante ferramenta para a propagação de inverdades”, citou o vereador.

Sem mencionar o nome de nenhum repórter ou esclarecer se realmente direcionou os ataques à pessoa errada, o vereador afirmou que o episódio ocorrido na quarta-feira se refere apenas a um jornalista específico, e não à imprensa como um todo. “Era um caso isolado, fruto de uma rixa antiga, que jamais tem relação com toda a imprensa e aos jornalistas, profissionais esses que respeito e considero fundamentais para a democracia”, disse.

“Por fim, ressalta-se que o vereador Kleybe Morais (MBD) não se opõe a imprensa boa, saudável e que leva a informação correta a população. Porém, é e sempre será contra a imprensa que se vende por interesses particulares e partidários e que propaga fake news com intuito de promover a disseminação do ódio”, frisa.