Pacientes e funcionários denunciaram ao Jornal Opção o fechamento do Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (CROF) pela Prefeitura de Goiânia. “Estão dando a desculpa que o fechamento é para reforma, mas mexeram até no CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde)”, disse uma funcionária que optou por não se identificar. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) vai fechar a unidade no dia 1° de fevereiro.

Ela relatou que nos últimos 5 anos a Secretaria de Saúde vem desmontando o Croft aos poucos. “O Croft tinha tudo dentro, um centro cirúrgico que funcionava, tinha sala de redução com anestesista, neurologista. Dentro das especialidades de ambulatório tinha ortopedista pediátrico, dois equipamentos de raio-x, era ótimo, era resolutivo”. Atualmente, chove mais dentro do Centro do que fora dele. Em novembro do ano passado, os pacientes ficaram um mês sem raio-x porque a Prefeitura de Goiânia não pagou os hospitais que forneciam o serviço.

“Como é o único centro de referência que temos, ele atende o estado de Goiás e também outros estados, como a Bahia e o Maranhão. O CROF era o antigo CAIS do Dergo e se tornou esse Centro de Referência sem muita estrutura. Poucos reformas foram feitas ao longo dos últimos anos. Há 2 anos foi feita uma pequena reestruturação, mas houve mais desvio de recursos do que melhorias de fato”

Ao longos dos últimos anos, a SMS vem desmontando os serviços e tirando as especialidades. O Ministério Público de Goiás (MPGO) já foi acionado para investigar o desmonte na saúde pública municipal. Segundo os funcionários relataram, o que mantinha o Centro funcionando era o ex-diretor Eduardo Abrao da Silva. Com a nova gestão da SMS, no entanto, ele foi demitido.

“O CROF era a referência para onde os bombeiros levavam os paciente. O SAMU também já tinha como referência levar o paciente para o CROF. Agora, vão ter que ficar rodando as unidades por aqui porque a secretaria nunca sabe de nada”, denunciou a funcionária. Segundo ela informou, a Secretaria anunicou o fechamento para reforma por 120 dias, mas pretendem fechar a parte de urgência para sempre.

“A unidade do setor Vila Nova está passando por reforma, mas não fecharam. Por que está fechando o Crof? A unidade do Urias Magalhães também fechou para reforma, mas reabriu em 2018. O Jardim América ficou mais 4 anos. O Guanabara está fechado até hoje. Por que então não pega a equipe do Crof e leva pro Guanabara?”, questionou a servidora.

Procurada pelo Jornal Opção, a Secretaria Municipal de Saúde disse que a reforma se faz necessária porque a unidade “precisa de melhoria na estrutura e também para que o serviço de ortopedia possa ser ampliado no local” (confira ao final).

Sucateamento da saúde como estratégia para privatização

Flaviana Alves, diretora do Sindsaúde-GO, alerta ainda que o município de Goiânia não pode cometer o mesmo erro do governo de Goiás. “Privatizar não é a solução! Recebemos diariamente denúncias de precarização em hospitais terceirizados. Sobrecarga e falta de condições de trabalho, falta de medicamentos e insumos, perseguições de chefia, restrições de acessos aos serviços de saúde são algumas delas”.

O receio também se deve ao fato de que muitas organizações sociais estão sob investigação e tantas outras já foram processadas e condenadas por envolvimento em fraudes, desvios, pagamento de propina a políticos e governantes, e outros tipos de crimes.

Vice-presidente do Sindsaúde, a enfermeira Neia Vieira, também é conselheira e lembra que o sucateamento das unidades de saúde é visível. “Estamos observando há 1 ano que a prefeitura está sucateando as unidades, não dando nenhum tipo de manutenção nos prédios das unidades, deixando faltar tudo. Claramente um plano arquitetado para justificar a implementação das organizações sociais, com a justificativa que a secretaria não estava conseguindo fazer a gestão adequada”.

Em consonância com a vice-presidente do Sindsaúde, a membro do Conselho Municipal, Rita Aparecida, reforça que os governos, após sucatearem propositalmente as unidades de saúde, têm usado as organizações sociais sob a alegação de que a gestão pública é ineficiente. “Muito recurso público é usado nessas contratações é o resultado tem sido desastroso no final das contas”, afirmou.

Nota da Secretaria Municipal de Saúde

A Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), fará ampla reforma no Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (Crof) a partir de primeiro de fevereiro. Durante as obras, parte das equipes irá reforçar o atendimento de ortopedia que já existe nas Upas Maria Perillo (Região Noroeste) e Itaipú. A outra parte vai para o Cais Vila Nova. O Município trabalha para disponibilizar ortopedista também na Upa Novo Mundo.

A reforma se faz necessária porque a unidade precisa de melhoria na estrutura e também para que o serviço de ortopedia possa ser ampliado no local. A prefeitura vai implantar uma sala cirúrgica no Crof para a realização de cirurgias ortopédicas de pequena e média complexidade, o que não existe atualmente. O Crof também passará a ter leitos de recuperação anestésica e leitos de enfermaria.