Novo titular da Secretaria da Indústria e Comércio diz estar pronto para usar o poder como forma de construir coisa importantes para o Estado

Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

“Estou realizando um sonho que alimentei durante toda a minha vida.” Assim o empresário William O’Dwyer, mais conhecido como Bill O’Dwyer, resume o sentimento que tem ao se tornar o novo integrante da equipe do governador Marconi Perillo (PSDB), como titular da Secretaria de Indústria e Comércio. Ele é sócio-proprietário da Anadiesel, concessionária da Mercedes Benz em Anápolis, além de cônsul honorário da Alemanha em Goiás. Herda do pai, o capitão Waldyr O’Dwyer, — um artífice do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia), hoje com 98 anos — o gosto por trabalhar pelo Estado.

Para chegar ao cargo, Bill faz questão de ressaltar o fato de ter sido indicado por pessoas de referência na área — seu “padrinho” foi o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Pedro Alves de Oliveira. Tudo o que ele queria: chegar à função sem o desgaste de um embate político ou qualquer negociata. “Esse cartãozinho de secretário tem um peso. Não sou político, sou um homem de bem, tranquilo e, neste momento, me sinto realizado com a missão de que fui incumbido.”

Mais do que um secretário, Marconi tem, de fato, um diplomata em sua equipe. Um bom trunfo, como já foi informalmente. Bill agora trabalha com o título de secretário a seu favor. “Entre representar o Estado e estar no Estado há uma diferença. Estou feliz por chegar à secretaria não pelo poder, mas por ter condições de realizar alguma coisa por meu Estado”, resume. Poliglota e de ótimo trato, habilidoso com as palavras, ele já mergulhou na tarefa a que foi designado pelo governador, como revelou nesta entrevista ao Jornal Opção: não vai ficar sentado na cadeira de secretário, mas pelo contrário, vender Goiás ao mundo todo.

Euler de França Belém — O sr. é um homem cosmopolita, conhece o mundo inteiro. O Brasil é uma das maiores economias do planeta e disputa com a Inglaterra o título de 6ª maior potência mundial. E Goiás é um país dentro de outro, embora com uma densidade demográfica baixa. Hoje temos aqui empresas como Mitsubishi, Hyundai, Suzuki e outras gigantes. Como o Estado é visto lá fora?
Goiás tem duas histórias. Em­bora eu não queira citar nosso atual governador com algo como “antes dele” e “depois dele”, sempre acreditei em um Goiás internacional durante minha vida. Tenho um perfil diplomático, fui mandado para o exterior para estudar para ser diplomata, fazer Relações Internacionais, e com 20 anos já estava “vendendo” Goiás lá fora.
Voltei para cá depois de me formar em Direito e fazer alguns cursos no exterior, um deles, inclusive, na Mercedes Benz. Nesse período na Alemanha eu conheci minha mulher e me casei lá. O que ocorreu foi a transformação de minha carreira diplomática em uma diretoria de nossa empresa em Anápolis. Eu estava casado e era praticamente filho único – só tinha uma irmã –, com meu pai precisando de um braço direito para seus negócios. Troquei minhas aspirações para vir para Anápolis assumir a empresa.
Como eu cheguei aos altos postos da hierarquia do Rotary Clube. E, em todas as viagens que eu fazia representando a entidade, proferindo palestras e outras atividades, de um lado era a mala do Rotary e do outro, a mala de Goiás – é o que vou fazer na próxima semana, na Austrália e nos Estados Unidos. Eu queria mostrar que Goiás existia. Há 30 anos, éramos um Estado totalmente desconhecido. O que tínhamos de positivo para falar era o fato de ser o lugar em que estava a capital do País. Até para trazer estudantes de intercambio para cá essa tinha de ser a referência, porque quem vinha para o Brasil queria centros como São Paulo ou Rio, ou então cidades como Salvador ou Fortaleza. Eu me destaquei na atuação diplomática em Brasília sempre acreditando que Goiás não estava ainda colhendo os frutos que poderia por estar tão próximo da capital federal. Assim, em governos anteriores, eu tive decepções ao constatar que a mentalidade ainda não tinha evoluído. O mundo é mais do que o Brasil. Então, eu me colocava à disposição dos governadores e dos secretários de Indústria e Comércio para divulgar Goiás. Eu falava, “estou em Brasília e posso ser um assessor de vocês a custo zero”, desde que eu tivesse pelo menos um cartão de visitas de alguém que representava o Estado.
O primeiro a acreditar em mim nesse sentido foi o ex-prefeito de Anápolis Wolney Martins de Araújo, que me chamou para ser assessor de Relações Internacio­nais. Isso foi o início de minha vi­da pública. Fomos em busca da fábrica de aviões PZL, na Polônia. É a maior fábrica de aviões agrícolas do mundo. Eu acompanhei o então prefeito até aquele país, com vistas a trazer a PZL para a cidade, como de fato fizemos. Se depois não deu certo, isso ocorreu por problemas políticos – o sócio brasileiro quis levar muita vantagem, o que acabou atrapalhando. Depois, em outra viagem internacional, tentei trazer a MAN, a grande fábrica de caminhões que hoje veio com a Volkswagen para o Brasil.

Euler de França Belém — E sobre o projeto holandês, mais recente?
Pelo que sei, houve as consultas e a intenção de realmente instalar essa fábrica em Anápolis. O que não houve foi a aprovação da parte de financiamento dela. Já havia até área reservada para o empreendimento no Daia [Distrito Agroindustrial de Anápolis], mas nos bastidores, para aprovação do projeto, talvez não tenha havido argumentos suficientes para conseguir subsídios do Fomentar, do Produzir ou do FCO [todos fundos de incentivo à instalação de novos empreendimentos].

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Euler de França Belém – Quem chega hoje a Anápolis e compara a cidade ao que era há dez anos, fica surpreso. Há problemas de trânsito – o que, apesar dos transtornos, significa crescimento –, há grandes empresas, laboratórios de porte nacional, condomínios fechados e outras benfeitorias. Qual é o peso econômico e também simbólico do Daia e de empresas como a Hyundai para Anápolis?
Podemos dizer que o Daia nun­ca teve tanto peso na história da cidade. O distrito ficou durante muitos anos como que em hibernação desde sua implantação. Havia poucas manifestações de interesse e áreas disponíveis à vontade. Quem adquiriu área anos atrás hoje está dando gargalhadas, porque hoje, para obter uma delas, é uma tarefa muito difícil, principalmente nos cinco anos. Dessa forma, Anápolis tem sentido a importância do Daia especialmente nos últimos cinco anos, com a vinda das indústrias farmacêuticas. Outra questão é a consolidação do porto seco, que foi um divisor de águas para o Daia. Lembro-me de como fiz propaganda desse porto seco em Brasília, principalmente porque seu superintendente, Edson Tavares, foi nosso colaborador durante 17 anos na A­nadiesel, empresa de meu pai, capitão Waldyr. Ele mesmo diz que sua escola profissional foi com meu pai.
Com isso, tudo foi tomando novo aspecto. Uma coisa boa vai puxando a outra, e a implantação do polo farmoquímico e outras empresas que lá estão – como a Cecrisa, a Precon, a Vigor, a Granol – vieram paulatinamente antes mesmo da Hyundai. Com esta, porém, consolidou-se o propósito de existência do Daia, por que o distrito estava ali, qual a utilidade de haver um distrito agroindustrial – é bom ressaltar que a parte agrícola, de fato nunca existiu, embora tenha nascido também com essa finalidade, talvez porque Anápolis, em um passado já longínquo, tenha sido um importante centro de beneficiamento de arroz. Enfim, o Daia é a alma da consolidação de Anápolis. Sem ele, não teríamos atraído tantas empresas, desde as pequenas até as maiores. Com isso, agora vêm mais gente, novas contratações para as indústrias, hotéis de grande porte e muita mão de obra especializada, principalmente pelo Senai. A Anadiesel doou o primeiro motor Mercedes-Benz para os alunos do curso de Mecânica do Senai de Anápolis. Mais do que isso, aproveitamos esses mesmos alunos em nossa oficina. Ou seja, já há uma parceria consolidada entre a Anadiesel e o Senai, que agora também montou uma escola especializada só em motores Hyundai.

Euler de França Belém – É verdade que a Hyundai será ampliada? E o que seria essa ampliação?
Sim, é verdade. Deve ser um novo modelo de veículo, embora não possamos dar certeza. O que há é um pedido ao FCO de pleitear R$ 200 milhões para essa ampliação.

Elder Dias — E sobre a ampliação do próprio Daia, em que pé está esse tema?
Serão 37,9 alqueires a ser adquiridos pelo distrito [que hoje tem 13,75 alqueires] para essa ampliação. Isso está em fase de negociação da desapropriação. Há uma grande fila de espera por um terreno no Daia. O Goiasindustrial tem recomendado essas pessoas para procurar outros distritos, já que o Estado tem vários deles, mas todos querem ficar no Daia, por conta da localização e da estrutura. Só um grupo, que vai instalar uma usina de biodiesel, queria uma área de no mínimo 30 alqueires no Daia e, como não tinha, adquiriram no município uma área de mais de 50 alqueires, praticamente uma fazenda, com muita água. Fizeram isso para aproveitar toda a estrutura – porto seco, aeroporto de cargas, Ferrovia Norte-Sul etc.

Cezar Santos — O Estado consegue, neste atual momento, levar a estrutura energética para toda essa demanda?
Realmente há um gargalo, a crise da Celg pesa. Mas o que se tem procurado falar para nossos investidores é procurar todos os possíveis caminhos, a ordem é não perder ninguém.

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Elder Dias — O que o Estado já perdeu em termos de investidores por conta do imbróglio da Celg?
Não tenho essa informação, mas não acredito que tenhamos perdido algum investimento de vulto, ainda mais com o empenho que tem o governador Marconi Perillo. Talvez algum empreendimento tenha sido encaminhado para outro distrito. O interesse do governo na industrialização é muito grande, talvez alguma pequena empresa tenha decidido não vir, mas não acredito que o Estado tenha permitido a perda de um grande investimento, se faria qualquer coisa para evitar. Essa ampliação da Hyundai é sinal de que estamos preparados para receber novos investimento. Estamos fazendo tudo para não acontecer qualquer perda.

Cezar Santos — Como está a execução da obra do viaduto?
O viaduto é um problema, a solução que seria virou transtorno. Não houve um estudo adequado de impacto do trânsito, as modalidades de desvio etc. Tanto isso está acontecendo que hoje o próprio Daia está sendo afetado. Para sair ou entrar lá, em determinados períodos do dia há uma grande dificuldade, várias empresas estão com problemas em relação ao horário de trabalho de seus funcionários. O Dnit está repassando o imbróglio para o consórcio que ficou responsável pela obra.

Elder Dias — A obra está demorando mais do que deveria?
Sim, e provocando mais desgaste do que deveria, por uma falta de planejamento do Dnit. Colocam quebra-molas para testar, para ver se vai dar certo ou não. Isso não se faz em uma rodovia em que trafegam 50 mil veículos por dia.

Elder Dias — O sr. diz que o Daia foi essencial para Anápolis ser o que é hoje. Essa ampliação reflete também no Estado como um todo?
Contribuiu muito para a consolidação de Goiás como um Estado industrializado, ou em vias de se tornar industrializado. A partir do Daia, vários outros distritos foram erguidos e consolidados, como o de Aparecida de Goiânia, o de Itumbiara — no qual fui recentemente e com o qual fiquei encantado —, o de Catalão, o de Rio Verde. A gente percebe que o Estado tem hoje boas referências. Assim, a captação de empresas fica muito mais fácil.

Elder Dias — Esse fenômeno parece com o de shoppings, em que uma empresa âncora atrai seu público e, por isso, também outras empresas.
Lembro-me de quando estava nos Estados Unidos. Morávamos em cidades pequenas e, quando visitávamos uma outra e nela havia um McDonald’s, isso era o melhor atestado de que aquela cidade estava indo bem. A instalação do primeiro McDonald’s em Goiânia — até por meio de um amigo, Júlio Junqueira —, o empreendimento era mostrado como orgulho. O mesmo ocorreu quando a rede foi instalada em Anápolis. Isso sempre foi uma marca de que a localidade estava indo em um bom caminho. E isso trazia novos investidores. Bastava ver quantas redes de fast-food vieram no rastro do McDonald’s e estão aí hoje. O Daia foi o McDonald’s de Goiás para a atração de investimentos e a consolidação de um Estado sério, onde empresas de porte estão instaladas. Foi a chave de entrada para uma sala de visitas arrumada.

Frederico Vitor — E o parque tecnológico de Anápolis? É uma das prioridades da SIC?
O projeto é muito arrojado e ainda está em ebulição. Fui convidado para visitar alguns parques tecnológicos no Brasil. Há um totalmente consolidado em São José do Rio Pre­to (SP), outro também no Pa­ra­ná. Pretendo fazer isso brevemente. A­credito que será dada uma nova oportunidade para transformação do Daia, para elevá-lo a um status ainda maior de respeitabilidade, aceitabilidade e de novos investimentos. A fronteira de possibilidades para o Estado de Goiás será ampliada. O parque tecnológico vai mexer com o conceito de novos cursos e com a formação de novos profissionais. Haverá a procura por um novo patamar de nível intelectual.

“Temos de ser otimistas sobre a Norte-Sul”

Elder Dias — A conclusão da Ferrovia Norte-Sul parece algo messiânico, que é só esperança. O sr. aposta suas fichas nisso? E, se aposta, para quando?
Meu pai quer ver a conclusão da Norte-Sul. Em segundo lugar, vejo o entusiasmo de uma pessoa como Ed­son Tavares, para continuar fa­lando das pessoas “pratas da casa” (risos). E, por fim, marcaram para dia 22 a inauguração do trecho que liga Anápolis ao Maranhão. O que é fato é que a consolidação de o­bras assim no Brasil leva tempo. Is­so já é histórico e cultural. Já aguardamos tantos anos para chegar até onde chegamos que, acredito eu, em cinco anos desfrutando do re­sultado dessa espera que a ferrovia nos trouxe até hoje. Temos de ser otimistas, agora que vemos a obra chegar aqui, que não é um sonho, que se tem uma fatia de realidade.

lder Dias — O sr. conhece muitos países e a cultura de cada um deles. Esse traço a que o sr. acaba de se referir — o de arrastar as obras — é algo que incomoda. Em outros países há máquinas que produzem dezenas, até centenas de metros de rodovias por dia. Vemos o trem-bala de Pequim a Xangai, milhares de quilômetros construídos em um período relativamente tão curto. Como é fazer essas comparações?
Eu sou o maior adepto do uso de trens quando estou na Europa, e também nos Estados Unidos. Não alugo carro, faço tudo de trem. É um sistema de integração maravilhoso, especialmente na Alemanha, que tem hoje os melhores trens e as melhores vias férreas do mundo. Você falou que nós, brasileiros, esperamos muito tempo por obras. Vou dar um exemplo pessoal. No dia em que minha filha completou 15 anos foi o dia em que conseguimos a inauguração da pista dupla da BR-153 entre Goiânia e Aná­polis. Foi uma obra feita aos poucos, cada mês era um metro. Foi entregue em 15 anos. Isso significa que nós estamos tão acostumados e tão resignados, falando culturalmente, com o andamento das obras no País que não nos assustamos com algo demorar o triplo do que deveria, de 5 anos passar para o prazo de 15 anos ou mais.

Elder Dias — Temos agora o exemplo da Copa do Mundo. Como o europeu vê o modo de condução da execução das obras para o evento? Constrói realmente uma imagem ruim?
Sim, isso acontece. A imprensa internacional, não é de agora, só noticia as tragédias daqui. Não só na Europa, mas também nos Estados Unidos. Lembro-me muito bem que, morando no exterior, quando chegava a época de carnaval, parecia que a população do Rio de Janeiro toda tinha sido assassinada. Há essa veia negativa que faz com que a imprensa de fora prejudique mesmo mais do que a imprensa que aqui está. Isso afeta diretamente o turismo. Esqueçamos a Copa: o turismo internacional no Brasil é um dos mais baixos do mundo. Enquanto recebíamos 5 milhões de turistas por ano, só Paris recebia 35 mi­lhões. Só Paris. Praga, na República Checa, bateu seu recorde no ano passado, com mais de 30 milhões. Istambul, na Turquia, onde nem tudo funciona bem, recebeu mais de 40 milhões em 2013. Não vamos longe: o Uruguai recebe mais turistas do que o Brasil.

Elder Dias — O sr. é cônsul honorário da Alemanha em Goiás. A que se deve o sucesso do país em relação a seus pares na Europa, que passa, no todo por uma crise econômica. Qual é o segredo e o que podemos tomar como lição?
O segredo passa por ter bons governantes. Veja o exemplo de Angela Merkel [chanceler da Alemanha], que é uma mulher séria e admirável, mas que não é popular, nem carismática, nem bonita. Ela imprimiu à Alemanha a seriedade na arte de governar. Tudo começa por aí. Mas observe o povo alemão: basta a gente olhar as duas guerras mundiais. A Alemanha foi totalmente destruída em ambas. Meus sogros, alemães, ficaram comendo batatas e beterrabas durante um ano no país. A reconstrução passa pela seriedade do povo. Quando o povo ajuda, quando o governante e as instituições financeiras fazem sua parte. Acreditar no governo faz a diferença. Vejo isso na minha própria casa. Comento com meus amigos que tenho uma alemã me esperando em casa, no sentido de disciplina e organização com horário, com gastos. Não se gasta um grão de arroz além do necessário. Esse conceito de responsabilidade e de consciência coletiva é que transforma hoje o alemão na potência que é.
Outro exemplo: o carro alemão. Compare um Mercedes-Benz com qualquer outro carro europeu. Vo­cê vai ver a diferença. Não é à toa que se veem Fuscas com 40 anos ou mais de uso trafegando como se fos­sem zero-quilômetro, como ainda é frequente nas ruas, por exemplo, de Pirenópolis. São da terra de um povo que investiu na qualidade e que sabe segurar a barra. Os alemães não querem parecer ser mais do que são. Pelo contrário: Gustav Manz, o rei do dia­mante na Europa — que morava na mesma cidade em que conheci minha esposa —, andava com sua mulher de ônibus pela cidade. Era o transporte mais prático para eles.

Cezar Santos — Dilma Rousseff, nossa presidente, inventou um mestrado e um doutorado…
O meu chefe na diplomacia alemã é o presidente [Joachim Gauck]. Ele esteve em São Paulo em 2013, inaugurando o Ano da Alemanha no Brasil. Perdemos dois presidentes — homens de altíssimo gabarito, que tiveram de renunciar. Um fez uma declaração não pertinente sobre as Forças Armadas, não foi bem interpretado no Congresso e então caiu; o segundo — que foi até o que assinou minha nomeação como cônsul —, porque descobriram que, no passado, quando era governador em um dos Estados, conseguiu em um banco alemão juros diferenciados para a compra de sua casa. Isso bastou para que ele caísse. Outro caso: estavam preparando o ministro da Defesa para ser o sucesso de Angela Merkel. Acabaram descobrindo que ele copiou citações de um professor sem creditar, para sua dissertação de mestrado. Isso foi caracterizado como plágio. Acabou caindo. Falo isso para mostrar que, lá, as instituições funcionam.

Elder Dias — Goiás teve anunciada o aumento de sua capacidade de endividamento. Para isso, passou a arrecadar mais nos últimos anos e isso ajudou a balança a ficar positiva. Até que ponto o sr. credita isso à área de sua pasta?
Mais renda, mais geração de empregos, mais comércio internacional, tudo isso são fatores de uma composição bem sucedida em determinado tempo e que serviu para aumentar a circulação de nossa economia. Com isso, se há mais dinheiro circulando há a possibilidade de pagar as próprias dívidas ou, ao menos, diminuí-las. Uma boa somatória de fatores.

Elder Dias — Goiás vive um bom momento e o está aproveitando?
Neste momento, sou obrigado a falar do governador Marconi Perillo. Ele realmente foi um bom gestor das nossas dívidas. Ninguém é perfeito, mas ele contribuiu muito com seu dinamismo. Se vocês o conhecerem mais de perto vão perceber: ele não dorme, não para. Ele se alimenta de Goiás, dorme com Goiás, faz Goiás, isso o tempo todo. O bom gestor traz resultados. Marconi tem um entusiasmo que contagia, sua juventude o impulsiona. Eu estive com ele como governador tanto no primeiro como no segundo mandato. Vim para o governo conduzido pelo dr. Mozart Soares, que foi secretário de Indústria e Comércio e depois passou pela Casa Civil. Ainda naquele tempo, o acompanhei à Alemanha, em uma viagem oficial que provocou um grande encontro em 2003. Foi em Goiânia o maior encontro Brasil-Alemanha de toda a história dessa relação diplomática, o primeiro que veio para o centro do País. A CNI e a Fieg deram apoio. Eu me sinto responsável por esse encontro ter vindo para cá por ter trazido, antes, o presidente da Câmara Brasil-Alemanha e ele constatou que a cidade tinha condições de abrigar uma reunião para mais de mil alemães. Naquela época eu vi o entusiasmo do governador, que prontamente me disse “Bill, vamos à Alemanha convidar os alemães para esse encontro”. Isso foi em Frankfurt, em 2003. Passamos uma semana fazendo contatos e reunimos um grande número de empresários. Um dos convidados foi Enrique Iglesias, presidente do Banco Intera­me­ri­cano de Desen­vol­vimento. Trou­xe­mos esse encontro para cá e tudo isso fez com que Goiás se tornasse mais conhecido. A ministra da Agri­cultura à época, Renate Kü­nast, veio para o evento, representando o governo alemão. O somatório de boas ações culminou nesse período bom em que, apesar das crises externas, estamos relativamente bem. Nossa empresa, em particular, está ressentindo esse cenário. Di­minuiu um pouco o fluxo, porque o comprador de nosso veículo está aguardando para ver o que acontece depois da Copa, o que vem com as eleições.

Bill O’Dwyer, em entrevista à equipe do Jornal Opção: “Estou seguindo o bom exemplo de vida que meu pai me deu” | Fernando Leite/Jornal Opção
Bill O’Dwyer, em entrevista à equipe do Jornal Opção: “Estou seguindo o bom exemplo de vida que meu pai me deu” | Fernando Leite/Jornal Opção

Cezar Santos — Como o sr. avalia a política do governo federal de investir maciçamente em “campeões”, como ocorreu com a JBS e o grupo de Eike Batista?
É uma política que não se faria em uma economia em países europeus e nem nos Estados Unidos. Esses investimentos trazem mais riscos do que resultados. Europeus e americanos — e talvez mesmo os asiáticos — não embarcariam em uma canoa furada dessa forma. Ocorre que nossa própria cultura, de querer mais e mais benefícios leva a isso. Mas não vejo isso com bons olhos e creio que o mundo, também não. Não acredito que seja um bom caminho. Basta ver o resultado da empreitada de Eike Batista. Essa notícia correu o mundo, porque ele estava lá em cima, no topo, na lista dos dez mais ricos da “Forbes”, e de repente ocorre tudo isso. É o país que perde a credibilidade.

Cezar Santos — Descobre-se que ele usou até de má-fé. Ele já sabia que tudo estava degringolando e ainda estava vendendo otimismo, ou seja, fez com que muita gente ainda embarcasse em algo falido.
Foi uma cena teatral para que tudo e todos pensassem que aquilo ali era realmente o melhor dos negócios. Foi realmente lamentável.

Elder Dias — O governador deu ao sr. a missão de apresentar Goiás ao mundo. Por toda a sua trajetória, é algo que nem precisaria pedir, não?
Ele realmente enfatizou, no discurso de posse: “Bill, não fique esquentando a cadeira de secretário (risos). Saia, vá para o mundo mostre Goiás e traga novos investimentos para nós.”

Elder Dias — Sua primeira missão foi com o pessoal da embaixada da Indonésia. Como foi?
Foi muito bom. Fomos recebidos na embaixada da Indonésia, que hoje preside um grupo econômico asiático, o Asian, formado por sete países. Estavam lá os sete embaixadores e outros adidos econômicos. Além de conversar, tivemos a oportunidade de fazer a apresentação de Goiás em dados e números. Ficaram impressionados com a quantidade de soja e carne para exportar. Também se surpreenderam por sermos o segundo maior exportador de ouro do País e por termos quase mil produtos — na verdade, 964 itens — para exportação. Ficaram maravilhados.
Tanto é que o embaixador da Tailândia esteve conosco, aqui em Goiânia, na sexta-feira [dia 9], e já nos convidou para um encontro empresarial em São Paulo, no fim de maio, quando Goiás estará se apresentando para um grupo de empresários tailandeses. O país deles é um dos maiores fabricantes de peças de reposição multimarcas para o mundo inteiro. Quando ficaram sabendo da fábrica da Hyundai se interessaram, para, quem sabe, abrirem negociação, em um futuro próximo, para a construção ou parceria de uma fábrica tailandesa para suprir as necessidades de nossas indústrias automotivas. A propósito, estive com o diretor da Mitsubishi — que é do mesmo grupo da Suzuki —, em Catalão. Tudo indica que vão ampliar suas instalações para preparar para a montagem de novos modelos.

Elder Dias — O sr. está na cadeira que era de Alexandre Baldy (PSDB), que agora é pré-candidato a deputado federal. Uma crítica que se fazia a ele era de não estar presente em Anápolis, o que prejudicaria um futuro político naquela cidade. Como o sr. observa isso?
Eu sempre fui muito amigo da família de Baldy, especialmente de seu sogro, Marcelo Limírio, tanto que fui convidado para seu casamento. Alexandre Baldy, mesmo não sendo frequente em Aná­polis — apesar de que ia à cidade todos os dias, já que sua empresa é no Daia —, conseguiu superar com maestria o fato de não estar tão próximo de Aná­polis. Ele adotou uma posição de dar sempre muita atenção ao município, tanto que estava sempre lá: provocava reuniões mensais na Acia [Associação Co­mercial e Indus­trial de Aná­po­lis], passava o dia todo despachando lá. Cansamos de vê-lo na cidade, no bom sentido. Dessa forma, a não convivência dele em Anápolis —algo que foi questionado — foi compensada pelo fato de ele atuar tanto em favor do município.
Com relação à minha indicação, Baldy participou da reunião do Fórum Empresarial em que meu nome foi apresentado pelo presidente da Fieg, Pedro Alves de Oliveira. Ele me apoiou, por me conhecer. A partir daí houve uma série de fatores positivos, tanto que seu sogro, Marcelo Limírio — que seria talvez um divisor de águas na escolha do titular da SIC —, estava presente em minha posse. Consi­dero is­so uma demonstração de apoio e de aprovação de meu nome.

Elder Dias — Ainda em Anápolis, como o sr. avalia a gestão do hoje ex-prefeito Antônio Gomide (PT)?
Ele transformou uma cidade feita e sem atrativos em uma cidade bonita e atraente. Este talvez tenha sido o grande legado de Gomide: a elevação da autoestima da cidade. Somente uma obra, a construção do Parque Ipiranga, já trouxe um novo perfil para a cidade. Ninguém praticava esporte em praças de Anápolis, ninguém fazia caminhadas, ninguém se encontrava em parques. A vida social do município se restringia às ruas e, talvez, ao estádio de futebol. Não havia praças, as que existiam, como a Praça Bom Jesus, estavam abandonadas. Esta foi totalmente restruturada, assim como o Parque Ipiranga e outras praças. O que significa isso? Significa que, com o Daia dando certo e com a administração promovendo a autoestima do anapolino, houve uma soma que resultou em uma gestão boa. Tanto é que ele foi reeleito com aquela margem histórica e saiu com uma aprovação muito alta ainda. Não vou dizer que ele tenha resolvido todos os problemas de Anápolis — a periferia, por exemplo, ainda tem alguns problemas —, mas Gomide trouxe ao município a perspectiva de que ali é um bom lugar para viver. O boom imobiliário e toda a valorização, tudo isso se deu em função dessa nova fase e perfil de cidade.
Naturalmente, tenho de colocar de novo o papel do governo do Estado, que ajudou o anapolino a recuperar essa autoestima, apoiando todas as iniciativas da gestão municipal. Um exemplo foi a reforma da escola que leva o nome de minha mãe, Herta Layser, a transformando em uma unidade padrão século 21, uma das melhores hoje do interior do Brasil. Na época houve polêmica, mas o resultado foi o melhor possível, transformou-se em uma escola padrão.

Frederico Vitor — Em que pé está o Centro de Convenções de Anápolis?
O governo quer entregar parte da obra até o fim de junho e o restante até dezembro.
Elder Dias — O município de Anápolis perdeu neste mês o empresário Walterci de Melo, dono da Teuto. Qual foi a real importância dele para a cidade e para o Estado?
Sempre me dei muito bem com ele e sua família — a irmã de Walterci é madrinha de meu filho. O que eu posso dizer é que Walterci de Melo nunca mudou: desde os tempos em que vendia medicamento em sua Variant até seu último dia foi alguém que sempre tratou todo mundo muito bem. Os funcionários podem dar esse testemunho. A creche que ele ergueu para os filhos de seus trabalhadores era modelo para ser mostrado em telejornais sobre o que pode ser feito em termos de educação para as famílias de seus colaboradores. Sempre deu atenção a esse aspecto social.
Walterci de Melo, por meio do Laboratório Teuto, trouxe um novo conceito de indústria farmacêutica para Goiás. Com sua empresa, outras vieram para o Estado. A secretaria participou, já no primeiro governo Marconi, com todos os incentivos possíveis para o desenvolvimento da Teuto. O resultado é que hoje a Pfizer [gigante farmacêutica alemã] viu tudo isso e, assim como outras multinacionais, acreditou no potencial de Anápolis. Dessa forma, temos hoje o segundo maior polo do setor farmoquímico em todo o País. O medicamento genérico virou uma marca da Teuto, o que se deu, é bom registrar, com o grande apoio do então ministro da Saúde, José Serra.

Elder Dias — O sr. trabalha para Goiás, informalmente, já há muito tempo. O que, na verdade, é uma tradição familiar: seu pai, o capital Waldyr O’Dwyer, também é apontado como um pioneiro nesse modo de ver o Estado. Está no DNA, esse tipo de atitude proativa por Goiás?
O filho, sempre que pode, vai buscar exemplo nos pais. Desde criança eu via a dedicação de meu pai com relação aos negócios que ele empreendia na época. Estou repetindo o que ele fazia na época, só que em condições diferentes: ele era sócio do frigorífico Ma­tingo — um de seus sócios era Orlando Carneiro, irmão do ex-governador Iris Rezende (PMDB) — e vinha para a capital todos os dias. Ficava na Anadiesel pela manhã e seguia para Goiânia à tarde, ele mesmo dirigindo. Natu­ralmente, para a empreitada, tinha um carro bom, um Mercedes-Benz (risos), que rodou quase 1 milhão de quilômetros.
Eu, ainda criança e jovem, via aquilo. E acho que, de alguma maneira, isso me contagiou como bom exemplo. Eu o via sempre se esforçando, se dedicando, tentando melhorar as coisas para alguém. Nunca foi um homem que enriqueceu por outros meios, sua firma sempre foi uma das maiores arrecadadoras do ICMS do Esta­do. Com isso, creio que eu tenha herdado esse sentimento de trabalhar para o bem da comunidade. O que me ajudou muito nisso também foi o Rotary, que é um clube de serviços, que assiste a comunidade com bolsas e intercâmbios. Foi uma consolidação de ideias e exemplos que me fizeram também ter essa dedicação ao Estado. l