Empresário e ex-prefeito de Senador Canedo dá certeza de que disputará pela segunda vez o governo do Estado, minimiza dificuldades e faz críticas fortes ao governo de Goiás

Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Enfático. Essa é a palavra para definir esta entrevista de Vanderlan Car­doso (PSB) ao Jornal Opção. Em uma longa sabatina, o empresário e ex-prefeito de Senador Canedo deixou bem claro que não voltará atrás em seu intuito de concorrer, pela segunda vez consecutiva, ao governo de Goiás. As dificuldades são muitas: parte de suas bases estão tomadas por adversários, principalmente o pré-candidato e também empresário Júnior Friboi (PMDB); perdeu o apoio de um de seus esteios, o deputado Ronaldo Caiado (DEM) — vetado por Marina Silva, líder da Rede Sustentabilidade, que se filiou ao PSB e, em troca, exigiu do presidenciável Eduardo Cam­pos o afastamento do grupo dos ruralistas; e tem poucas opções de aliança para a disputa.

Nada disso parece o abalar. Pelo con­trário: “Quanto mais difícil, aí é que me animo mais”, faz questão de res­saltar. As intempéries do mundo político fizeram Vanderlan “ganhar cancha”. Tem um discurso mais se­gu­ro e maduro e parece bem mais pre­parado para ser questionado. Tanto é que não fugiu de nenhuma per­gunta durante quase duas horas. Em algumas respostas, foi franco e, mais do que direto, incisivo — principalmente em relação ao governo estadual.

Vanderlan não poupa críticas ao governo atual. Responsabiliza-o pelo Estado caótico, por promessas não cumpridas e pela derrocada da Celg. Ao contrário, sobre o criticado governo de Alcides Rodrigues, ele procura observar o que teve de bom e ressalta o ajuste fiscal e o próprio acordo com a Eletrobrás, que não chegou a ser finalizado. Outro que merece seus elogios é o possível concorrente Antônio Gomide, de quem o pessebista destaca a administração como prefeito em Aná­polis e a coragem de colocar seu nome à disposição.

Elder Dias — O sr. é um dos maiores capitalistas do Estado e é hoje o maior nome do PSB, cuja sigla significa “Partido Socialista Brasileiro”. A gente sabe que a democracia brasileira ainda tem partidos frágeis, mas como é conviver com essa contradição?
Acho que é a primeira vez que me fazem essa pergunta, talvez porque tanto políticos como a própria imprensa estão vendo que hoje não está existindo mais essa questão. Nos últimos anos, os partidos realmente ficaram em segundo plano, observam-se mais as pessoas e os projetos. Mas, de qualquer forma, se observarmos no próprio PSB, a administração Eduardo Campos [governador de Pernambuco e presidente nacional da sigla] é capitalista, pegou um dos Estados pobres da Nação e o está transformando em uma potência. Pernambuco é exemplo em muitas áreas, como saúde, segurança e educação. Quando fui convidado para o PSB, expus para Campos o que penso sobre a forma de gerir um Estado e tive a autonomia para aplicar esse projeto em Goiás. Estou tendo uma liberdade muito grande para trabalhar.

Euler de França Belém — Então o nome do partido está errado?
Não, não está errado.

Euler de França Belém — Por que se chamar “socialista”?
É um partido que já tem 50 anos. Cada partido vai se adequando à realidade. Se tomarmos o que era o Partido Comunista Brasileiro, por exemplo, já mudou muita coisa em 50 anos.

Elder Dias — Apesar de toda a falta de ideologia do País, existem alguns dogmas na política nacional. Um deles é de que o PT não se alia ao DEM. Na conjuntura atual, se o PT lançar candidatura própria — com o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide —, o PMDB poderia atrair o DEM para sua aliança, desfalcando um potencial aliado de sua coligação. E a política é “a arte do possível”, como disse Otto von Bismarck [unificador da Alemanha]. O sr. estaria preparado para compor um bloco unido da oposição?
Não. Não acredito em união da oposição no primeiro turno.

Elder Dias — O sr. diz isso por não acreditar nessa união ou por não haver mesmo chance de vir a compor?
Não tem essa chance. Nossa pré-candidatura já está definida. Aliás, é a única que está definida no processo. No início, atendemos ao chamado para conversar com demais os partidos de oposição, mas era tudo carta marcada. Não era diálogo, era imposição, já com regras definidas, segundo as quais só poderia ser cabeça de chapa este ou aquele partido e só nos restaria no máximo a vice. Eu queria igualdade de condições e, chegando à convenção, que nosso nome fosse referendado ou não, dependendo da viabilidade. Aí sim, seria justo. Mas, da forma como foi, não era viável. Colocamos nossa pré-candidatura como terceira via, que tinha três pré-candidaturas: a minha, a de Ronaldo Caiado (DEM) e a de Júnior Friboi (na época, no PSB). Júnior foi para o PMDB e Caiado te­ve o problema com a Rede, de Ma­rina Silva. Hoje a única pré-candidatura da terceira via é a nossa. Tenho a garantia do partido de ser candidato.

Cezar Santos — O sr. tem índices bons para o começo de campanha. No entanto, seu partido está, em grande parte, nas mãos de Friboi. Há um problema sério de estruturação. Como driblar essa dificuldade?
Tenho nove meses de PSB. É um partido que foi restruturado. Era pequeno em Goiás. Cheguei sabendo que quem tinha feito uma melhoria para o partido era Júnior. A maioria dos prefeitos que o PSB elegeu teve a participação dele, vieram de outros partidos e se filiaram — como seu cunhado [Aguinaldo Ramos], prefeito de Iaciara, que se filiou ao partido a pedido dele. Deixei muito à vontade as pessoas, inclusive as com mandato, para opção de candidatura, seguir com Júnior ou ficar conosco. Não pedi que ninguém saísse nem tomei partido. Para mim, o apoio político tem de ser natural, nada forçado funciona. A única exceção é o ex-presidente metropolitano, Barbosa Neto, cuja saída foi a pedido do PSB nacional, por causa de declarações que ele havia dado. E ele pediu sua desfiliação, foi algo que ele fez. O que sei é que aonde vamos há gente para nos receber. Se houve quem saísse, há pessoas que se filiaram, que acreditam no projeto. E tem gente tanto do PSB como de outros partidos. Tem gente do PMDB e até do PSDB que está conosco.

Patrícia Moraes Machado — Na época em que o sr. estava no partido, ouvimos que seu nome tinha o apoio de Iris Rezende como pré-candidato ao governo. O que aconteceu exatamente para que o sr. saísse do PMDB? É algo que, agora, parece se repetir com Friboi?
Quero deixar algo claro a vocês: tive o convite do PMDB logo após as eleições de 2010. Com o problema do deputado Sandro Mabel — que tinha me levado para o PR — com o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, fiquei sem ambiente e resolvi sair. Fui muito bem recebido no PMDB e não tive porta fechada em lugar nenhum. Percorri 153 municípios, sempre acolhido por prefeitos, vereadores, deputados, lideranças, desde a jovem guarda à velha guarda do partido. Fui com a expectativa, que todos têm — como Júnior Friboi deve ter —, de que iria conseguir conciliar meu nome ali dentro, mesmo sabendo que há ex-governadores, ex-ministros e prefeitos com condições para governar o Estado e até o País. Em dado momento percebi que seria muito difícil me viabilizar, por causa das particularidades, o que é natural, por ser um partido grande. Não sou de ficar querendo tomar espaço. É meu perfil, assim como Júnior tem o dele e Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central, que chegou a se filiar em 2009, mas desistiu da pré-candidatura], também. Não vim para a política para fazer inimigos. Nunca dei entrevista falando que fui mal recebido no PMDB, ou que não tive espaço. Fui muito bem recebido, só que tenho o projeto de disputar novamente o governo e dentro do PMDB seria mais difícil. Em princípio, conversei com o PSC. Veio o convite do PSB, com a saída de Júnior. Aceitamos e no partido estou tendo a liberdade de andar por Goiás com a garantia de, viabilizando a candidatura, ser o candidato.

Patrícia Moraes Machado — Friboi, então, está na mesma situação pela qual o sr. passou? Quais são essas particularidades que tem o PMDB?
São muitas lideranças e alas. Em todas as pesquisas, Iris Rezende está em 1º lugar entre os nomes do partido. Isso é natural. Se Iris tomasse posição e dissesse “não sou candidato de forma alguma”, seria diferente — para qualquer pessoa, não só para mim. Fica difícil até para alguém ter discurso, dizer “eu vou ser candidato a governador pelo PMDB e quero que Iris deixe de ser candidato mesmo liderando as pesquisas”. São essas as particularidades. Têm outros nomes do partido que já havia à época. Na ala jovem, Samuel Belchior [presidente estadual do partido], um deputado competente; o deputado Daniel Vilela, em quem acredito também; o prefeito de Jataí, Humberto Machado, um excelente administrador, como o ex-prefeito de Goianésia, Gilberto Naves. São muitos os bons nomes do PMDB. Para um cristão-novo em um partido assim, embora vindo bem votado de uma eleição, é algo difícil.

Cezar Santos — Mas então não foi um erro de cálculo, já que o PMDB sempre foi assim?
Não digo que foi erro de cálculo. Não me arrependo de nada do que eu faço. Entrei por decisão minha e saí por decisão minha, não envolvi ninguém.

Cezar Santos — O sr. saiu desgastado. Hoje tem uma imagem de político que fica pulando de galho em galho.
De forma alguma (enfático). Talvez para algumas pessoas haja essa imagem, mas basta pegar a história política dos que estão hoje no poder em Goiás. O governador do Estado começou a carreira política por onde? (questionando)

Cezar Santos — É diferente, Marconi mudou uma vez de partido…
Por que é diferente para ele e não para mim?

Euler de França Belém — Marconi Perillo tem 30 anos de política. O sr. tem 10 e já mudou várias vezes.
Eu fui de apenas três partidos: PR — do qual eu contei o porquê da saída —, PMDB e PSB, agora.

Patrícia Moraes Machado — A partir do momento da troca de partido, a militância também muda. Ou o sr. está trazendo essas pessoas?
Defendo um projeto para Goiás. Não mudei o pensamento sobre isso no PR, no PMDB ou no PSB. O que eu penso sobre saúde, educação ou desenvolvimento continua o mesmo. As pessoas que acreditam nesse projeto continuam nos acompanhando. Outras, que agora o conhecem melhor, se juntaram. É assim que trabalhamos.

Patrícia Moraes Machado — Mas quando o sr. passa por vários partidos deixa de ter uma militância.
Por isso que digo que não me arrependo de nada, nem de ter passado pelo PMDB. Nos 153 municípios por onde passei conheci pessoas que hoje nos apoiam, inclusive do PMDB. Do projeto que tenho não mudei uma vírgula. Aliás, acrescentei, porque em 2010 tínhamos um certo conhecimento do Estado; hoje, meu conhecimento dos problemas de Goiás é muito maior. No PSB — em relação a como era no PMDB, por exemplo —, estou tendo muito mais liberdade de expressar o que eu penso para o Estado, coisa que não podia fazer antes, em determinadas áreas, porque tinha a questão de poder ferir certas pessoas.

Patrícia Moraes Machado — O que o sr. errou na eleição de 2010 e não pretende repetir agora?
Não errei nada. Foi uma candidatura em cima da hora, sem tempo para pré-campanha. Saí de um município pequeno, Senador Canedo, hoje considerado médio. Andei todo o Estado sem ter condições de parar para conversar e falar melhor do projeto, apagando incêndios e outras coisas. Grande parte do PR não me apoiava por já ter compromisso com outras candidaturas. Se me perguntarem se têm coisas que eu não faria de novo, vou dizer que não faria, porque estamos mais maduros. Por isso é que desde agora estamos elaborando um plano de governo, conhecendo melhor a realidade do Estado. Ninguém foi culpado pelo resultado. Se você, por outro lado, perguntar se fui para aquela eleição pensando que iria perder, vou responder que não. Fui para ganhar, trabalhei para ganhar (enfático). Aliás, em tudo o que faço não vou pensando no pior. Por todo o contexto, considero que fui um vencedor naquela eleição. Só tenho a agradecer a Deus por tudo que foi feito naquela campanha.

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Cezar Santos — Politicamente isso está correto. Voltando às dificuldades de coligação, o PDT tem uma aproximação natural com o sr., principalmente pela deputada Flávia Morais e o prefeito de Senador Canedo, Misael Pereira. Mas o partido até o momento não declarou apoio, está claramente dividido. Isso não prova a fragilidade de composição de sua pré-candidatura?

O PDT não vai abrir nada sobre composição agora, só vai falar sobre isso nas convenções. Isso já foi acertado em reunião com a deputada Flávia Morais, com o presidente nacional do partido, Carlos Lupi. O prefeito Misael também estava lá. Traba­lhamos para o PDT ficar conosco, tivemos ótima parceria em 2010. O mesmo fazemos com outros partidos. O que quero deixar bem claro é que nossa candidatura não está atrelada ao “se” — “se” tiver mais partidos, “se” tiver maior tempo de televisão, “se” tiver maior estrutura. Tem candidato aí que nem adversário quer ter. Tem candidato aí que quer escolher adversário. O que quero dizer é que o básico nós já temos.

Cezar Santos — O que o sr. está dizendo é que vai ser candidato, mesmo que sozinho?
Pelo jeito, vocês não me conhecem. Já passei por isso uma vez. Não sei se vocês acompanharam a eleição de Senador Canedo em 2004. Cheguei à convenção sozinho. Não achei um vice. Diziam que era humanamente impossível ganhar do governo do Estado — que era o mesmo que está aí — e dos coronéis do município, com seu poderio. Não havia partido coligado e o PR tinha cinco candidatos a vereador — um deles teve sete votos. Ninguém queria ser vice. Ninguém acreditava. Comecei a campanha de 2004 com 1,5% das intenções de voto, que vinham dos funcionários da minha empresa. O restante da população não me conhecia, era só de ouvir falar. Portanto, vocês podem ter certeza — e eu falo olhando no olho de cada um: quanto mais dificuldade, mais eu me animo.

Patrícia Moraes Machado — Então o sr. pode garantir que não é uma pré-candidatura para negociar depois, por exemplo, uma vice-governadoria?
Se eu trabalhasse dessa maneira, em 2010 eu teria feito a melhor negociação de poder possível. O que as pessoas têm de entender — mas não entenderam ainda — é que eu não vim para a política para usar o poder simplesmente para tê-lo na mão sem executar, sem fazer as mudanças que têm de ser feitas. (enfático)

Patrícia Moraes Machado — A gente sente que sua vontade de ser governador de Goiás potencializou-se nestes quatro anos. O sr. está mais certo e mais seguro.
O PSB me dá essa condição. Estou livre para defender minhas ideias, o que penso, sem ter de vir para uma entrevista, como eu chegava aqui com vocês, e ficar pisando em ovos, pensar que talvez magoe este ou aquele. Se me perguntarem sobre as questões do Estado, vou falar o que penso, sem me preocupar em ter este ou aquele partido comigo. Acredito no projeto e acredito que vamos vencer essas eleições. (enfático)

Patrícia Moraes Machado — Qual é seu projeto para Goiás?
Tirar o Estado desse descrédito. Qual goiano hoje não tem vergonha lá fora de ouvir piadinhas, como “ah, você é de Goiás, da terra daquela confusão do Cachoeira”? Goiás só aparece em mídia negativa. Qual projeto Goiás tem de gestão com planejamento? Quais as metas para educação, para saúde? O que temos para nossas regiões esquecidas, qual o projeto para o Nordeste goiano, para o Oeste, para o Entorno do DF, para a região metropolitana? O que há? (enfático)

Euler de França Belém — O sr. diz que está elaborando há meses um plano de governo. O que pensa, por exemplo, sobre saúde?
É preciso primeiro investir os 12% regulamentares na saúde. É preciso acabar com isso de jogar para a área ex-prefeitos e ex-primeiras-damas, parar de fazer acordos políticos, essa bandalheira toda dentro da saúde e também da educação. Vamos pegar os 12%, que dão e sobram, e investir realmente no setor. Quando isso ocorrer, vamos ter como colocar os hospitais regionais para funcionar, com todos os médicos, vamos ter os centros de especialidades médicas, os centros de especialidades odontológicas. Da mesma forma, com a verba da educação. Em alguns pontos eu sou um tanto polêmico. Esses dias, vi alguém defendendo mais dinheiro para a educação. Mas a educação não precisa de mais dinheiro, não: precisa é que os 25% lhes sejam realmente destinados. Isso dá e sobra, mas é preciso aplicar bem! (enfático)

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Euler de França Belém — Adib Jatene [médico e ex-ministro da Saúde] diz que o problema da saúde — e também da educação — não é só uma questão de dinheiro, mas também de gestão e de criação. É preciso ter ideias diferenciadas para colocar o dinheiro e tudo funcionar. Mas o sr. ainda está falando de forma vaga.
Não estou falando de forma vaga. O que eu digo é que os 12% da saúde precisam de metas em curto, médio e longo prazos. Quais são as metas de curto prazo no Estado? Não são os hospitais regionais? Então vamos investir nos hospitais regionais! Isso é para ontem, aliás, para muitos anos atrás, já deveriam ter feito esses hospitais (enfático). Agora é preciso pegar os que estão em obras há muitos anos e terminá-los, em vez de ficar fazendo maquetes e esqueletos de novos hospitais para depois deixá-los sem funcionar. É preciso fazer o repasse correto dos recursos da saúde aos municípios, como a contrapartida dos PSFs [Programas de Saúde da Família].

Dessa forma, todos os municípios terão mais recursos e vamos deixar de ver a capital e as cidades que investem mais com suas unidades superlotadas. Brigamos muito por isso quando fui presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Goiânia. Na época, o então governador Alcides Rodrigues deixou tudo em dia, coisa que este governo que está aí não está fazendo. O governo federal não atrasa repasse, é o governo estadual que não faz sua parte. Portanto, quando eu digo “aplicar os 12%”, significa deixar de levar deputado de avião para baixo e para cima e usar esses recursos para buscar doentes, dar assistência, levar médicos ao interior. Foi uma pena que em 2010 o eleitor, na maioria, não leu nosso programa de governo, em que havia a “Rota da Saúde”, projeto de levar médicos pelo Estado interior, para municípios sem condições. Isso seria possível, e por quê? Porque tem os 12%, ora! (enfático)
Sobre as OSs, como você me perguntou, não sou contra a terceirização, mas contra a forma com que estão fazendo. Eu fiz muita terceirização em Senador Canedo. Na saúde tem muita coisa que o município e o Estado são incompetentes para fazer. É preciso, então, buscar parcerias, só que têm de ter transparência. Quem está fiscalizando as OSs?

“É preciso fiscalizar as organizações sociais”
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Cezar Santos — O Ministério Público está envolvido na fiscalização…
Não, o Ministério Público já está é denunciando, não envolvido na fiscalização (enfático). O Ministério Público tem mecanismos para deixar alguém lá dentro fiscalizando? Não tem. As OSs estão sem fiscalização, até porque, se houvesse alguma, esses con­tratos de R$ 50 mil para as­sessorias, advogados etc. já te­riam caído por terra. O secretário de Saúde [Halim Girade] é bem intencionado, tanto que esses dias cancelou licitação de medicamentos por superfaturamento. O problema é que a forma de gestão o está “amarrando”.

Euler de França Belém — Para deixar claro, se eleito, o sr. mantém ou não as OSs?
Da forma que fizeram, há uma verdadeira armadilha para o próximo gestor. Desmancharam a saúde! (enfático) Desmancharam a saúde, a ponto de até os equipamentos licitados serem das OSs. Onde estão os profissionais da saúde? Todos espalhados por outros órgãos. Por quê? Porque não é vantagem para a OS manter enfermeira concursada, há muitos anos no Estado, com salário de R$ 5 mil, quando é possível ir ao mercado e contratar técnico de enfermagem por R$ 900. Mas, quando terminar o governo que está aí, as OSs pegam os equipamentos, põem na carreta e vão embora. E aí, como fica a saúde do Estado? (questionando)

Não está havendo transparência com a coisa pública. Se houvesse e repassassem mais 30% de recursos para os gestores do Estado, que já entendem do setor, será que não resolveria? Quanto a mais não estão repassando para as OSs? Vocês, da imprensa, sabem? Não sabem? (questionando) Se vocês da imprensa não estão sabendo, imaginem nós, da oposição, se teremos acesso a esses dados. Se tudo estivesse no Portal da Transparência — o que está sendo pago para a OS, o que se compra, de quem se compra, o que se destinado a assessorias, que parentesco há entre quem está na OS e quem negocia —, sem subterfúgios, seria diferente.

Euler de França Belém — E sobre o atendimento aos pacientes goianos, melhorou ou piorou com as OSs?
As informações que temos são de que no Hugo [Hospital de Urgências de Goiânia], por exemplo, em certos períodos do dia melhorou e em outros, piorou. A avaliação que precisa haver é de quanto foi investido para a melhoria que houve.

Euler de França Belém — O sr. foi ao Hugo para ver observar como está?
Não fui, porque prefiro analisar dados. E não estamos tendo dados das OSs. Se tivesse, poderia saber quanto se gastava antes e quanto se gasta agora. Estive no Hugo ainda no governo Alcides e o atendimento, naquele momento, era muito bom.

Euler de França Belém — O Hugo 2, que está sendo construído na região noroeste de Goiânia, é necessário ou não?
É necessário, assim como são necessários os hospitais regionais do Entorno de Brasília, da Região Norte de Goiás, e do Nordeste goiano, em Posse. O Hugo 2 eu acho até pouco, já deveria estar funcionando e há tempos. Mais do que isso, seria necessário que estivesse funcionando de verdade o Huapa [Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia]. Na saúde, quanto mais tiver melhor. Em Senador Canedo, quando assumimos a cobertura do PSF era de 20%. Em dez meses passamos para 100%, o que permanece até hoje, com o prefeito Misael.

Euler de França Belém — E os Credeqs [centros de referência e excelência em dependência química]? O sr. daria continuidade a eles?
É um absurdo, um desperdício de dinheiro o que está acontecendo em relação aos Credeqs (enfático). E explico por quê: são R$ 25 milhões para construir um. Depois, passarão para uma OS fazer a gestão. Quanto ficará a manutenção desse Credeq por ano? E qual sua capacidade, quantas pessoas vai poder recuperar, vocês sabem? (questionando) Noventa pessoas. Em relação a dependentes de álcool e drogas, o Estado é incompetente, não dá conta de cuidar. O Estado tem de ser um repassador de recursos a quem tem condições de cuidar — as ONGs, as casas de recuperação, as igrejas. Por um custo baixo, essas entidades têm como recuperar as pessoas. Um exemplo é a Jocum [Jovens com uma Missão], uma das muitas casas de recuperação com que trabalhamos há anos, séria, que às vezes tem até 70 pessoas lá dentro. Nosso projeto em 2010 era fazer convênio para repassar recursos a essas casas. O Estado seria apenas fiscalizador. Há quatro anos o projeto tinha custo de R$ 380 por pessoa/mês. Reajustado hoje, daria em torno de R$ 480. Compare quantas pessoas seriam atendidas com R$ 25 milhões, preço de um Credeq, com essa quantia. Em Inhumas tem um senhor, agora eleito vereador, com uma casa de recuperação há muitos anos. São 22 pessoas. Ele me disse que, se o Estado o ajudasse com mais R$ 5 mil por mês, ele colocaria mais 10 pessoas lá. E sabe qual o índice de recuperação dessas casas? Oitenta por cento. É de 80%! (enfático). Então, só com a manutenção que terá um Credeq desses por ano seria possível atender milhares e milhares de pessoas Estado afora. E isso é muito mais do que uma maquete bonita.

Euler de França Belém — E o que o sr. faria com esses Credeqs em construção, se eleito?
Transformaria em hospitais. A área de recuperação de dependentes químicos, modéstia à parte, eu conheço muito bem.

Patrícia Moraes Machado — Há médicos nessas casas?
Têm médicos voluntários. Faço-lhes o convite para ouvirem os que estão se recuperando nessas casas. Marcamos um almoço, para vocês entenderem de perto como o serviço é sério. É bem diferente de eu falar aqui se vocês ouvirem o depoimento de um desses dependentes em recuperação. A diferença é que, se uma casa pertence a uma entidade, ela já tem um carro à disposição, geralmente doado. Vão à Ceasa e já têm verduras e frutas à espera, separados pelos comerciantes. Vão às indústrias e conseguem biscoitos, bolachas etc. Esses alimentos até sobram, depois. Vêm dentistas voluntários, médicos voluntários etc. Agora, imagine como será um centro de recuperação mantido pelo poder público. Um Credeq com 90 pessoas, quantos assistentes sociais não terá? E aí, se for na região tal, o deputado ou o prefeito de lá vai querer indicar administrador, diretores, chefias etc. Vai ter interferência política e virar cabide de empregos.

Elder Dias — Goiânia teve no sábado passado [8/3] uma chacina de quatro garotas relacionada, segundo a polícia, ao tráfico. Há um índice crescente no uso de drogas. Como o sr. liga esse drama ao problema da segurança pública?
Quase todos os crimes que estão ocorrendo se relacionam à droga, isso é fato.

Frederico Vitor — Mas qual é seu projeto para a segurança pública, que padece com déficit do efetivo de policiais, excesso de inquéritos e pedidos de maiores salários?
Não é preciso ser PhD em segurança para saber o que fazer. É preciso, sim, ter noção de administração. Se você olhar hoje, no relatório da polícia, sabe quantos vão se aposentar. Se quiser saber daqui a 20 anos quantos vão se aposentar, você também tem o relatório. Se quiser ter a população daqui a 20 ou 30 anos, também há essa projeção. Então, já que o efetivo de hoje é menor do que o de 20 anos atrás, não concordam que faltou planejamento para a segurança pública em Goiás? (enfático)

Agora, se eu falasse que, se eleito, vou repor o efetivo de uma vez, colocar 12 mil policiais, eu estaria sendo irresponsável. É preciso planejamento, saber de onde virão os recursos. Estamos detalhando isso. Hoje se discute construção de presídios. Há até um sendo feito agora, sem licitação — um promotor disse que, se está fazendo assim, é exatamente porque não houve planejamento. Tenho experiência no assunto porque em Senador Canedo fomos o primeiro ou o segundo município a investir em segurança, colocando banco de horas e investindo na inteligência, contratando policiais nas horas de folga e disponibilizando veículos descaracterizados para pegar traficantes, descobrir armações de roubo e trabalhar com a polícia comunitária.

Esta, então, é a primeira coisa a ser feita: aumentar o efetivo do setor de inteligência, que hoje não chega a 60 pessoas, a maioria em desvio de função. Sabem quantos há nessa área em Pernambuco? São 460 policiais. Vamos investir maciçamente nisso, porque não temos de pegar o coitado que se viciou em pedra de crack, mas, sim, aquele que traz a droga. A Polícia Técni­co-Científica é uma vergonha, a família perde um ente querido e ficam até dias esperando a liberação do corpo. Vamos ter concursos públicos planejados, ano após ano, fazer parcerias e tomar outras medidas.
Hoje, o município que quiser boa segurança precisa tirar do próprio bolso uma verdadeira fortuna. Ou seja, o Estado está terceirizando, para os municípios, também a área de segurança. Bas­ta ver as cadeias públicas: o prefeito que tiver piedade dos presos tem de investir em dentista, médico, alimentação etc., porque o Estado abandonou essas pessoas.

Marcos Nunes Carreiro — A educação também tem problemas estruturais. Como o sr. enxerga a área educacional, tanto em estrutura física como em pessoal?
A educação tem de ser gerida pelos profissionais da área. São eles que devem definir prioridades. E é preciso elegê-las. Ainda temos escolas em Goiás feitas de placas. É preciso construí-las, porque não dá para reformá-las. Também é preciso garantir direitos adquiridos dos professores, como a titularidade. É prioridade comprar R$ 300 milhões em notebooks? Não sou contra dar notebooks às escolas, não. Se há condições, que se faça. Mas quem tem de definir prioridades são os profissionais da educação.

Quando assumi Senador Canedo, em 2005, professor ganhava R$ 494 por mês. A maioria era P-1 e quase todos já tinham mestrado, com direito de ser P-3. A administração anterior alegava não ter dinheiro para dar os direitos aos professores nem para reformar escolas que estavam caindo, algumas com pedido de interdição pelo Ministério Público. Em um ano, demos todas as gratificações de direito dos professores. Construímos escolas-padrão, com piscina semiolímpica. Tudo com os 25% da educação. Vão dizer que sou mágico ou melhor que os outros? Não, o segredo é que, em Senador Canedo, um quilo de arroz custava R$ 2,75 em 2004 e passamos a comprar por R$ 0,75; um quilo de leite em pó era R$ 16,90 e compramos então por R$ 5,90. Estou dando dois exemplos entre muito. Vocês cairiam de costas se soubessem quando a mais pagavam pelo mesmo produto. Passamos a fazer tudo isso —subir salário de professor, melhorar merenda, ampliar escolas — com os 25% da educação.

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Euler de França Belém — O sr. falou da questão administrativa e de investimentos, mas não discutiu a educação em si. Goiás melhorou seu Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que subiu de 16º lugar em 2011 para 5º em 2012 no ranking nacional], dados que não são controlados pelo governo. Então, não houve avanços?
Você acha que os números do Ideb melhoram dessa forma de um ano para o outro? (enfático) Verifique com mais exatidão: esse índice de Goiás foi obtido com a exclusão dos alunos com notas inferiores. É a sistemática com que as informações foram repassadas para o MEC [Ministério da Educação] que fizeram com que houvesse esse salto.

Cezar Santos — Então houve manipulação?
Manipulação, sim. Manipulação dos dados. (enfático)

Cezar Santos — O governo federal aceitou essa manipulação?
O governo federal até questionou, mas foram dados que o Estado repassou, excluindo os alunos com péssimas notas.

Euler de França Belém — E o sr. repassou esse material para o Ministério Público?
Não, porque é o Ministério Público quem tem de apurar. No momento certo, vamos apresentar esse material. Mas pensem: como poderia haver essa ascensão repentina no índice, sendo que houve uma longa greve, com escolas paradas e toda a crise no setor? Com isso tudo, como poderia haver esse aumento no índice dessa forma? Como pôde ter melhorado? Isso não chamou a atenção de vocês, que são bem informados? (enfático)

Euler de França Belém — O que me espanta é o sr. não ter denunciado isso.
Nas entrevistas em que me deram a oportunidade eu falei sobre essa questão.

Euler de França Belém — Mas o sr. deveria ter levado esse material ao Ministério Público.
Isso foi repassado a deputados. A partir daí, é questão deles se movimentarem. Mas, entre os partidos de oposição, o único que se manifestou com documentos, por exemplo, na questão envolvendo a Celg foi o PSB. Na página do partido está tudo registrado, passo a passo: como foram feitas as negociações, a perda para o Estado com o governo federal, o que está acontecendo agora —, tudo com documentos.

Euler de França Belém — E o que foi a questão da Celg?
Vaidade, pura vaidade. Tínhamos uma negociação feita pelo ex-governador Alcides Rodrigues, no valor de R$ 3,7 bilhões, parte dos quais iriam para a Celg fazer linhas de transmissão, subestações etc. e pagar dívidas. Dessas dívidas, quase R$ 1 bilhão era de ICMS com o Estado, o que foi pago logo que foi repassado o recurso. Em 2010, após as eleições, o senador e governador eleito enviou aquela carta dizendo que não honraria os compromissos do acordo. E este não foi fechado. Pelo acordo, o Estado ficaria com 93% das ações — um máximo de 5% iria para a Eletrobrás — e uma dívida de R$ 3,7 bilhões, sendo que quase R$ 1 bilhão voltaria para os cofres estatais, em forma de ICMS.
Bem depois, com a Celg em maior dificuldade, rolando dívida a juros astronômicos, a empresa fez novo acordo, de R$ 3,5 bilhões. Desde então, o que foi investido na Celg? Quantos quilômetros de rede de transmissão? Zero. E quanto de participação nas ações o Estado passou para a Eletrobrás? Cinquenta e um por cento, e a Eletrobrás ficou majoritária. Agora, a Eletrobrás declarou, em documento, que para assumir a Celg com as dívidas a mais é preciso um aporte de quase R$ 1,9 bilhão. Então, se o Estado quiser, tem de fazer sua parte desse aporte. Só depois de aportado esse valor é que a Eletrobrás assumirá o abacaxi da Celg. E nem assim mais ela está querendo assumir — daí toda essa protelação. Com isso tudo, ao fazer as contas — e isso está no site do PSB —, chegamos ao prejuízo, para nós goianos, de R$ 5,7 bilhões entre uma negociação e outra. Se tivesse sido feito o aporte na Celg no tempo certo, ela voltaria a operar “no azul” e teria outro valor de mercado. Sabe de quanto seria esse valor? Mais de R$ 10 bilhões, sendo que, na negociação anterior, estavam garantidos a nós, goianos, 93% da empresa. Ou seja, o Estado teria para si R$ 9,3 bilhões. Hoje a empresa está no vermelho, ninguém quer e nós vamos pegar mais R$ 1,9 bilhão de dívida para as futuras gerações. Nossos filhos, netos e bisnetos estão com a conta.

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Patrícia Moraes Machado — Por que a negociação do governo Alcides Rodrigues sobre a Celg foi às vésperas de uma eleição? Houve a suspeita de que esse dinheiro pudesse ser usado em campanha.
Alcides, quando assumiu, não tinha condições de buscar nem meio centavo emprestado. O Estado estava com déficit, antecipação de receitas de grandes empresas e 16 planos de cargos e salários do governo anterior. Era preciso pôr as contas em ordem para pleitear o acordo. A partir daí, foram quase dois anos de negociação até um acordo vantajoso para Goiás, que outros Estados não tinham conseguido. E o então senador disse que não honraria o contrato com a Eletrobrás, porque já estava eleito governador. Por isso, digo que tudo foi perdido por vaidade.
Mas não digo que o problema da Celg começou de 15 anos para cá. Não, começou com a venda de Cachoeira Dourada [em 1997] (enfático). Em 2012, Cachoeira Dourada deu lucro líquido de quase R$ 400 milhões para os acionistas.

Euler de França Belém — Maguito Vilela, então governador, disse que foi pressionado para vendê-la. O sr. venderia Cachoeira Dourada?
De forma alguma, pelo amor de Deus! (enfático) O governo de Itamar Franco em Minas Gerais foi pressionado também. Estava quebrado, mas foi na contramão: investiu e comprou usinas e distribuidoras, até de fora do Estado. Hoje a Cemig [Companhia Energética de Minas Gerais] tem muito dinheiro em caixa. Minas Gerais hoje ganha na atração de indústrias por conta dessa estrutura. Vender Cachoeira Dourada foi a mesma coisa de pegar a galinha dos ovos de ouro e passar para frente. (enfático) Faça uma conta básica: em um ano, R$ 400 milhões de lucro líquido; em um mandato, seria R$ 1,6 bilhão. E quanto o governo do Estado foi buscar para fazer o programa das rodovias em Goiás? R$ 1,5 bilhão. E sabe quanto seria necessário para conseguir levar a energia elétrica necessária — para indústrias, empresas, pivôs centrais, consumidores em geral etc. — a todo o Estado? R$ 800 milhões. Enquanto isso, no Sudoeste goiano, a Comigo [Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano] inaugurou uma unidade sem energia elétrica, apenas com grupos geradores.

Patrícia Moraes Machado — O funcionário público é um gargalo da administração desde sempre. Diz-se que a folha de pagamento vai inviabilizar o Estado. Como o sr. pretende lidar com essa situação?
Primeiramente, funcionário público não é gargalo. É ele quem conduz o Estado. O que faz com que as coisas não aconteçam é a malversação do dinheiro público. São as promessas mirabolantes em época de campanha, para depois não honrar os acordos com os servidores. Veja a situação dos policiais civis. Por que eles estão fazendo greve? Ora, eles não estão pedindo nada mais do que o prometido em 2010.

Euler de França Belém — O sr. não está sendo populista? São 160 mil funcionário públicos que pegam a maior parte da receita do Estado. Goiás tem 6 milhões de habitantes. O sr. não vai trabalhar para reduzir a folha?
São 130 mil servidores na ativa. Já pensou se eles nos ajudarem a reconstruir o Estado, fazendo sua parte, sendo exemplo em todas as áreas? Já imaginou esse exército trabalhando por Goiás? Imagine agora o que economizaria o Estado, não fossem todos os cargos comissionados de R$ 10 mil, R$ 15 mil, R$ 20 mil. Os muitos contratos que existem, também. Hoje, tem órgão que não tem cadeira suficiente para o povo sentar. Hoje, tem gente que foi para a UEG, mas nem sabe o que é UEG! (enfático) A UEG era uma ideia bonita, mas foi dominada pela ingerência política. Quem tem de tomar as decisões sobre a UEG são os profissionais da universidade. São eles que deveriam decidir onde seriam construídas as novas unidades. Tem unidade em cidade que sem a menor condição de receber um polo, mas que era de um “compadre”. E tem cidade maior que ficou sem. É essa autonomia que continua faltando à UEG.

Euler de França Belém — Por que a Rede Sustentabilidade está fazendo críticas ao sr. em Goiânia?
Há divergência de opiniões. Os fundadores da Rede estão conosco. Mas outras, como Martiniano Cavalcante, pensam diferente. Respeito, mas não concordo, especialmente em relação a Ronaldo Caiado e a Alcides Rodrigues. Espero que até as convenções cheguemos a um consenso.

“Defendo que Antônio Gomide seja candidato”

Euler de França Belém — Como o sr. analisa as gestões de Paulo Garcia em Goiânia e Antônio Gomide?
Tenho ido a Anápolis muitas vezes nos últimos quatro anos. A gestão de Gomide é avaliada como positiva por mais de 90% da população. A gente vê na cidade que o povo está satisfeito com a administração dele, tem uma aprovação maciça. É uma pessoa competente e que, ao colocar seu nome como pré-candidato, só acrescenta ao debate político. Defendo que Antônio Gomide venha a ser candidato. Por que ele não pode ser? Por que sempre só as mesmas pessoas? Vamos servir sempre, no máximo, para ser vice de alguém? Ele é corajoso e está andando o Estado inteiro. E acho que ele vai disputar a eleição.

Euler de França Belém — E sobre a gestão de Paulo Garcia?
Péssima. Não tem ação. Veja a questão da folha do funcionalismo, a que ponto chegou; o viaduto na Marginal Botafogo, que não acaba; a cidade está com lixo para todo lado. No PMDB, eu defendi que o partido tivesse candidato a prefeito em 2012. Não apoiei Paulo Garcia à reeleição porque não concordava com sua forma de administração. Faltou pulso em várias ações.

Empresário Vanderlan Cardoso em entrevista a editores e repórteres do Jornal Opção: “Não deixo de investir em Goiás” | Fernando Leite/Jornal Opção
Empresário Vanderlan Cardoso em entrevista a editores e repórteres do Jornal Opção: “Não deixo de investir em Goiás” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Elder Dias — O sr. vê alguma similaridade entre sua gestão em Senador Canedo e a de Gomide em Anápolis?
São perfis muito parecidos. O cidadão anapolino já vinha com problemas há algumas administrações e, como ocorreu comigo, desacreditado, também Gomide passou por dificuldades para receber apoio na primeira campanha. Ele ganhou e implantou um sistema em que as coisas começaram a acontecer. Hoje o anapolino tem autoestima elevada, assim como a população de Senador Canedo. O povo tem orgulho de seus governantes quando eles fazem seu dever de casa. Uma cidade como Jesúpolis, pequena, com PIB baixíssimo, teve um prefeito [Silvan Furtado] que criou distrito industrial, levou empresas, fez escolas e creches boas e foi o maior construtor proporcional de casas populares do País, entre outras coisas. Em compensação, a gente chega a municípios maiores e está todo mundo desanimado, a cidade parece abandonada.

Patrícia Moraes Machado — O sr. concorda com o estilo de administração praticado no governo Alcides Rodrigues?
Houve austeridade para colocar as contas em ordem e também não prometeram o que não podia fazer. Concordo com isso. Não concordo com o fato de Alcides ter segurado tanto tempo sem contar como de fato havia recebido o Estado.

Patrícia Moraes Machado — E sobre o fato de pagar fornecedores no último dia de mandato, deixando o Estado sem caixa para a folha seguinte?
Alcides deixou quase R$ 1 bilhão, que era o ICMS pago pela Celg. Espalharam inverdades, mas agora a verdade está vindo à tona. Barraram de última hora os recursos para a Celg — que viriam em janeiro de 2011 —, mas a empresa pagou todo o ICMS que devia para o Estado, que era dinheiro do caixa do governo anterior. Aliás, em 2011, as contas do governo só fecharam no fim do ano por causa do dinheiro deixado pela gestão anterior. E o que Alcides deixou de pagar, se não me engano, foram R$ 560 milhões que faltaram para a folha.

Cezar Santos — Mas quando Marconi renunciou e passou o governo a Alcides, este falou maravilhas. O mesmo ocorreu depois das eleições de 2006. Por que depois de muito tempo é que o governo anterior ficou ruim?
As melhores pessoas para responder isso são Jorcelino Braga, que era secretário da Fazenda, ou o próprio Alcides Rodrigues. Não posso dar uma resposta que tem de ser dada por algum deles.

Patrícia Moraes Machado — Mas a pergunta é para o sr. por ser apoiado por eles. Vai recair sobre sua candidatura essa imagem negativa.
Não é por ter o apoio deles que minha forma de administrar vai seguir à risca o que foi tal gestão. Eu já disse e repito que vou aproveitar o que foi bom, adaptar a nosso estilo. Mas não o que foi ruim.

Patrícia Moraes Machado — O sr. disse que é difícil surgir novos nomes com os antigos ainda na cabeça do eleitor. A culpa é de Iris Rezende, por não surgir gente nova? O problema está em Iris ou em vocês, candidatos mais recentes, que não conseguem se consolidar na cabeça do eleitor?
Na pesquisa espontânea, vêm sempre os nomes mais conhecidos. Quando há a pesquisa estimulada a coisa muda. Tem cenário em Aparecida de Goiânia que nosso nome aparece em primeiro lugar na estimulada. Em todas as pré-campanhas, todas as vezes, Iris Rezende vai sair na frente, porque é o nome mais conhecido. No decorrer do processo os indecisos vão se definindo. A gente vê que as pessoas não querem mais essa polarização. Em 2010, entrando na disputa em cima da hora e com apoio de um governo com desaprovação alta, tivemos quase 20% dos votos.

Patrícia Moraes Machado — Por que o sr. está levando suas empresas para fora de Goiás?
Não estamos levando empresas para fora, pelo contrário, estamos ampliando. Em Senador Canedo está ocorrendo uma ampliação enorme.

Patrícia Moraes Machado — E a unidade em Pernambuco?
Temos uma empresa em Pernambuco porque lá é feito um produto, o salgadinho, que não temos como industrializar aqui e levar para lá, o frete fica inviável. É para abastecer o Nordeste. Já temos também uma unidade em Camaçari (BA), que atende os municípios baianos. Mas para os produtos os quais temos condições de fazer aqui e pagar o frete até lá, continua sendo feito dessa forma. É o que ocorre com a batata, o biscoito, o salgadinho de trigo, entre outros.

Patrícia Moraes Machado — Mas o sr. não estaria deixando de investir em Goiás?
De forma alguma. Quando comecei minha empresa, em 1996, eram 70 funcionários. Hoje são 700, só em Senador Canedo. Fora do Estado são em torno de 600 a 700 também.

Patrícia Moraes Machado — Não eram empregos que poderiam ser gerados aqui?
Não tem como produzir um produto aqui e transportá-lo para o Nordeste. Só o frete já o inviabilizaria. O que está sendo produzido na Bahia é produto que não tem como ser transportado. Como a gente poderia competir com quem produz lá e recebe todos os incentivos fiscais e a proteção do Estado com as substituições tributárias?

Euler de França Belém — Como o sr. avalia a política de financiamento dos “campeões” do BNDES?
Há empresas que precisam mesmo de investimentos, mas vemos o caso de R$ 10 bilhões do BNDES indo para o ralo nas empresas de Eike Batista. Preocupa-me ver recursos dos brasileiros indo compor o quadro societário de algumas empresas. É uma espécie de estatização.

Euler de França Belém — Os americanos não conseguem entender como o governo tem 31% das ações de uma empresa como a JBS-Friboi.
Se o banco acredita em uma empresa e quer emprestar, tem de emprestar, mas não ser acionista, porque, se isso ocorre, não poderá deixá-la quebrar. Aí se cria a justificativa para ficar sempre mandando dinheiro para essas empresas. Isso é dinheiro do contribuinte. A beneficiária não precisaria ser a JBS, poderia ser até a minha empresa, mas sou contra, porque é dinheiro nosso. O cadastro da empresa pode apontar para que haja um financiamento, mas sou contra o BNDES entrar em capital societário.

Euler de França Belém — No caso da Mitsubishi, o sr. acha que é uma empresa que precisa realmente de incentivos para ficar em Goiás?
Temos de saber separar o que é incentivo fiscal de créditos outorgados para algumas empresas de Goiás.

Euler de França Belém — Então o sr. vê isso como benefício?
Não, isso eu vejo como roubo (enfático). Uma montadora de automóveis não vem se instalar em Goiás se não for por incentivos. O que o Estado pode oferecer como “plus”? O terreno, benfeitorias (terraplenagem, asfalto, energia de qualidade etc.) e um incentivo fiscal diferenciado. Mesmo que seja 100% [de renúncia fiscal], isso geraria empregos no município, outros fornecedores chegando, ou seja, estaríamos ganhando de alguma forma. Mas o que há é algumas empresas não pagarem nada e ainda serem autorizadas a vender seus créditos para outras que têm de recolher ICMS. Isso foi aprovado na Assembleia Legislativa.

Euler de França Belém — Eleito, então o sr. vai rever o Produzir [programa de fomento do Estado]?
Não, o Produzir dá uma condição de até 73% de benefícios em impostos. O que vou rever é essa bandalheira. Isso tem de acabar (enfático). O que ocorre é que uma determinada empresa passa a ter direito a benefício de até 100% do ICMS a recolher — ou seja, zero de recolhimento. Já que não vai pagar nada, acumula créditos, ao comprar produtos. Esses créditos a empresa pode negociar com outra e vendê-los com deságio. Aí quem compra pega o crédito e o compensa na Secretaria da Fazenda do Estado. Isso está sendo feito em Goiás em termos de milhões e até bilhões de reais desde 2011. Para se ter ideia, tem empresa que recolhia R$ 10 milhões por mês no governo Alcides Rodrigues. A partir de 2011, passou a recolher zero. E ainda está vendendo crédito.

Euler de França Belém — Quais são as três principais bandeiras do PSB?
Gestão, administração, distribuição de renda com justiça social. Creio que a maioria dos partidos trabalhe nesse sentido.

Euler de França Belém — Em alguns países de regime socialista, embora não comunistas, há a preocupação de melhorar a distribuição de renda nas empresas, inclusive com participação dos trabalhadores nos lucros, 14º e 15º salários. O que o sr. acha disso?
Isso vem sendo feito não só nesses países, mas em todo o mundo. A empresa que quer se modernizar e crescer já adota essa política.

Euler de França Belém — O sr. pratica isso em sua empresa?
Fazemos isso em nossa empresa todo ano. Dependendo do cargo e das metas atingidas, temos até quatro ou cinco salários a mais.

Euler de França Belém — Como é exatamente a distribuição dos lucros em suas empresas?
Temos muitas maneiras de beneficiar o funcionário, com vários programas. Por exemplo, quem completa dez anos de casa ganha incentivo para reformar ou até mesmo construir sua casa. Implantamos sistemas de gestão, como o 5S [programa de qualidade total de origem japonesa] e o ISO 9001, para os quais temos de obedecer a regras. Fazemos isso não de agora, mas há tempos, em áreas como saúde, educação e cursos específicos. Até meses atrás tínhamos cursos de inglês e telecurso, com salas de aula. Nossa empresa Cicopal era referência em tratamento bucal já há 15 anos. Depois disso, várias seguiram o exemplo e implantaram gabinetes odontológicos, fruto dessa iniciativa da Cicopal. A propósito, quando assumi a prefeitura de Senador Canedo, o tratamento bucal foi uma das áreas em que de imediato atuamos — já no segundo ou no terceiro mês adquirimos 30 gabinetes odontológicos e levamos o serviço para toda a cidade.