Tucano se desliga do governo e diz que a sensação é de dever cumprido depois do quarto mandato à frente do Estado

Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção

Depois de quatro mandatos à frente do Estado como governador, Marconi Perillo (PSDB) encarou uma extensa agenda de inaugurações e despedidas nos últimos meses. Principalmente nos últimos sete dias, momentos antes da desincompatibilização do cargo e de passar a faixa ao agora governador José Eliton (PSDB).

Juntos na gestão há 7 anos e 3 meses, o tucano afirma que confia na habilidade política de seu sucessor para encerrar as ações que deixou em andamento e que a base aliada terá um líder capaz de guiar o grupo à reeleição em outubro. Sobre a gestão, Marconi diz que deixa um exemplo aos governantes brasileiros e goianos ao apresentar uma inédita prestação de contas com as 122 metas de campanha cumpridas e quais ainda estão em andamento ao Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO).

Em conversa com o Jornal Opção no gabinete do Palácio das Esmeraldas na quarta-feira, 4, em que ocupou a cadeira de chefe de Executivo estadual, o peessedebista prefere não dizer que será candidato a senador. “Suponhamos que eu venha a ser convidado a ser candidato a vice-presidente de Geraldo Alckmin”, deixa a questão em aberto.

Patrícia Moraes Machado – O sr. decidiu na última semana à frente do governo adotar uma medida inédita ao apresentar o balanço da gestão ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Por que a decisão ao final do quarto mandato?
Talvez a vivência nos leve a isto. O fato é que essa iniciativa é recheada de ineditismo. Não tenho notícia no Brasil de algum governante que tenha procurado a Justiça Eleitoral para prestar contas do seu plano de governo no final do seu mandato. Acredito que seja algo pedagógico. O que foi entregue são dois compêndios – um mais genérico e outro mais específico – com todas as metas e as explicações em relação ao que foi cumprido e ao que está em andamento.

O balanço é muito positivo. 60% dos compromissos já foram cumpridos. Mais de 30% estão em andamento e continuarão com o governador José Eliton (PSDB), até porque o mandato não se encerra com a minha saída, a gestão continua até o dia 31 de dezembro. Esse é um exemplo que estamos dando para os governantes do País e para os próximos governantes de Goiás.

Augusto Diniz – O que o sr. entende ser o diferencial do quarto mandato à frente do Estado quando comparado com as suas gestões anteriores? O que fica de marca positiva?
A consolidação de muitas políticas. Consolidação da política educacional do governo, que se coloca como uma das mais avançadas do País. Com a distribuição de 1,7 milhão de livros pedagógicos pela Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) aos alunos do ensino fundamental e do ensino médio e também aos professores será garantida a padronização na qualidade da educação para todos. Estamos garantindo computadores, ar condicionado para a rede estadual de ensino, a entrega de escolas padrão século XXI, avançando fortemente nas melhorias pedagógicas, mas também na rede física.

Recentemente encaminhamos para 502 escolas dinheiro para fazerem reforma. No ano passado, fizemos um pacote de aumentos salariais, benefícios como o vale alimentação e muito estímulo à qualificação e preparação dos nossos professores. Estamos chegando a quase 300 escolas de tempo integral. Isso tudo fez uma enorme diferença.

Cezar Santos – Houve avanços em outras áreas?
Outro avanço que acaba por ficar para o quarto governo é a consolidação da nossa rede de hospitais administrados por Organizações Sociais (OSs). Mas isso não começou no quarto governo. A decisão de terceirizar a gestão das unidades hospitalares começou no meu primeiro governo com o Crer e prosseguiu no segundo mandato com mais um hospital – em Anápolis (o Huana). A partir de 2011, avançamos para valer na colocação de OSs qualificadas para gerir e racionalizar os hospitais, trazer economias e ganhos em termos de escala do ponto de vista operacional, de qualidade e de humanização. Hoje nós temos uma rede de hospitais de urgência, uma rede de Centros Estaduais de Referência e Excelência em Dependência Química (Credeqs) que vai se consolidando e estamos começando uma rede de unidades de saúde especializada nas regiões do Estado.

O Conecta SUS —que hoje é o melhor do País, e é o mais procurado por ministros, governadores e secretários do Brasil — trabalha com 200 situações epidemiológicas ou não simultaneamente 24 horas por dia. Temos quatro hospitais acreditados pela Organização Na­cional de Acreditação (ONA) como unidades de excelência de um total de 12 públicos no Brasil e estamos com mais dois em fase final de acreditação.

Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Augusto Diniz – Na gestão da segurança pública pode-se falar em legado?
O outro legado é a consolidação das políticas de segurança, sobretudo no que diz respeito à Inteligência, que foi fortemente agregada nos últimos anos. A ponto de que, quando Irapuan Costa Junior chegou à Secretaria de Segurança Pública, ao ser perguntado como encontrou a pasta, respondeu que se deparou com uma Secretaria muito bem estruturada. A realidade da segurança em Goiás é a de que avançamos extraordinariamente na valorização funcional, com salários e qualificação, preparo dos nossos policiais, formação superior, equipamentos para o trabalho – coletes, armas moderníssimas, viaturas que são renovadas a cada um ano e meio –, motivação, milhares de promoções. O que significa estímulo ao policial. Ao mesmo tempo planejamento para que pudéssemos ter melhorias e resultados positivos na redução dos indicadores de violência. O menor salário para um soldado que já está na polícia há algum tempo é de R$ 6 mil — fora horas extras.

Mas alguns adversários têm de encontrar problemas que existem no Brasil inteiro, como um latrocínio ou um fato isolado e tentam generalizar. Mas o fato é que nós temos uma estratégia de regionalização da segurança. Estamos começando uma estratégia de regionalização de presídios, separamos as facções criminosas. Há todo um trabalho sendo feito e a nossa segurança é um referencial no País. Avançamos muito nessa consolidação.

Não dá para os Estados sozinhos coordenarem e colocarem recursos na área de segurança. É preciso que a União, que criou o Ministério da Segurança Pública por sugestão nossa – o ministro é bom–, avance no sentido de colocar mais dinheiro no sistema prisional e crie um fundo constitucional com vinculação de verbas da União, dos Estados e dos municípios para que possamos ter mais recursos disponíveis na área da segurança, como é o caso da educação e da saúde – em que pese a União gastar muito pouco com esses dois fundos.

Outro foco que é preciso ter é nas fronteiras. O Brasil tem fronteiras escancaradas. Basta ir a Foz do Iguaçu (PR) para ver como entram as muambas, o contrabando de armas e agem os traficantes de drogas. Defendo há muitos anos que o governo brasileiro coloque boa parte das forças armadas, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e convênios com as polícias estaduais nas 12 fronteiras que o Brasil tem com outros países. As nossas fronteiras são completamente abertas. E 90% ou mais dos crimes estão relacionados ao tráfico, consumo de drogas e contrabando de armas.

A partir 2012, começamos um novo trabalho em Goiás com a criação do Comando de Operações de Divisa (COD) da Polícia Militar. De lá para cá, nós já apreendemos mais de 100 mil quilos de drogas nas nossas divisas com outros Estados. Milhares de centenas de armas contrabandeadas também foram interceptadas. Temos um microcosmo aqui que deu certo. Eu advogo com muita veemência, e farei isso muito fortemente daqui em diante, para que tenhamos uma política nacional de segurança pública, com uma Inteligência nacional voltada para o combate à criminalidade.

Cezar Santos – Quais foram os avanços na área de infraestrutura?
O quarto governo também consolida nossa infraestrutura. Goiás salta de 17 quilômetros duplicados em 1998 para quase 400 quilômetros de rodovias estaduais duplicadas. Consolida grandes estruturas hospitalares, presídios novos, centros culturais como o Oscar Niemeyer e o de Anápolis, que será inaugurado, praças como o Centro de Excelência. Obras gigantescas na área de saneamento básico. A estrutura do novo sistema produtor Mauro Borges já custou quase R$ 1 bilhão e é ela que vai garantir a água até metade do século em Goiânia. A estrutura do Corumbá 4, que vai abastecer Brasília e o entorno na região goiana, é outra obra gigantesca. Na área de saneamento básico, nós saltamos de 12 para 81 estações de tratamento de esgoto no Estado.

Nos nossos governos, multiplicamos por três vezes as extensões de redes de coleta de esgoto no Estado. Multiplicamos por três vezes o número de pessoas atendidas com esgoto. Temos quase 60% de famílias atendidas com esgoto ante pouco mais de 20% em 1998. Universalizamos o atendimento com água tratada. Temos hoje quase 99% de famílias atendidas com água tratada da Saneago e um pouco de empresas privadas. Dobramos o número de cidadãos goianos atendidos com água tratada.

Augusto Diniz – Mas estas são marcas que o sr. identifica apenas como do quarto mandato ou são um conjunto de tudo que começou há quase 20 anos?
Eu diria que esse quarto governo con­solida toda uma política que foi iniciada lá atrás. Consolida também as nossas políticas de responsabilidade so­cial. A nossa rede de proteção so­cial é, em termos absolutos, a política mais agressiva do ponto de vista do atendimento ao povo pobre do País. Temos um investimento de R$ 1 bilhão por ano na área social. Políticas co­mo o Renda Cidadã, que atende a 100 mil famílias, o Bolsa Univer­sitária, que está chegando a 200 mil jovens atendidos, Transporte Ci­da­dão, Passe Livre, Passaporte do Ido­so, ajuda a todas as entidades filantrópicas. É a consolidação da política de desenvolvimento estadual de industrialização com a convalidação dos incentivos fiscais que acaba de ser regulamentada pelo governo do Estado.

Marcelo Mariano – Na área de comércio exterior, Goiás atingiu em fevereiro a marca de 50 meses consecutivos de superávit da balança comercial. No início dos anos 2000, Goiás foi o primeiro Estado do Brasil a implementar uma Secretaria de Comércio Exterior. Qual o balanço que o sr. faz do trabalho feito neste setor?
Em 1998, o volume exportador de Goiás era de US$ 317 milhões. Em 2018, deverá chegar a quase US$ 8 bilhões de volume, com um superávit de aproximadamente US$ 5 bilhões. Quando se exporta, você está garantindo emprego, sobretudo quando se exporta valor agregado. Nós trabalhamos muito com esse foco. Fizemos dezenas de missões internacionais para internacionalizar o Estado, divulgar nossa economia, nossas potencialidades, atrair investidores e abrir mercado para os empresários que estavam no Estado.

Me lembro que em 2004 fui à China e levei cerca de 50 empresários. Vários deles começaram a exportar a partir daquela missão. Hoje tem empresários que foram comigo naquela missão na Ásia que já exportam para 60 países. Trouxemos inúmeras indústrias de grande porte de fora para se instalarem aqui. A Secretaria de Comércio Exterior foi fundamental, porque, além das missões que lidero, há um estreitamento muito forte entre o secretário de Comércio Exterior e todos os embaixadores em Brasília. Periodicamente, a Secretaria de Comércio Exterior – que hoje existe como Superintendência Executiva de Comércio Exterior – está em outros países participando de feiras, salões e seminários internacionais, além de receber permanentemente missões estrangeiras. Eu recebi anualmente por volta de 50 embaixadores.

O Gabinete de Gestão de Assuntos Internacionais e a Superintendência Executiva de Comércio Exterior conseguiram atrair para Goiás os embaixadores. Nós cativamos esses embaixadores. Toda e qualquer missão que vem ou pretende vir ao Brasil tenta incluir Goiás nessa rota.

“Grande parte dos políticos de oposição joga para a plateia”

Cezar Santos – Há menos de um ano, líderes da oposição filmavam rodovias em estado ruim de conservação e diziam que isso seria usado na campanha. Qual é a real situação da malha viária goiana?
Quando detratores e adversários param de falar é porque a situação está boa. Quando os hospitais estavam ruins em 2011 por conta do modelo de gestão que havia todo dia estava nos jornais e nas televisões. Quando sai de cena é porque melhorou. Alguns jornais, como o Jornal Opção, são justos e divulgam também o que é bom, não só o que é ruim. No caso das rodovias, não vejo mais vídeos. Até porque não vão encontrar facilmente rodovias estratégicas com problemas.

Temos problemas pontuais, mas há um planejamento, que é feito através dos programas Ro­do­vida Manutenção e o Rodovida Re­construção. Já reconstruímos quase 6 mil quilômetros desde 2013. A verdade é que com esse pla­nejamento para concluir, construir e manter a qualidade das ro­dovias goianas, nós com certeza va­mos para esta eleição com uma argumentação muito forte. Não é uma argumentação política, é a comprovação de quem, trafega pelas rodovias. Tenho visto muitos vídeos de pessoas que saem de Goiás e, ao entrarem em outros Estados, começam a criticar a situação das rodovias desses Estados.

Patrícia Moraes Machado – Diante de todos estes números, como o sr. avalia as informações veiculadas que dão conta de resultados de pesquisas qualitativas que apontam um desgaste de seu grupo e o fim de um ciclo político? Chegou ao fim o tempo da base aliada à frente do governo?
Eu não diria que se trata de fim de ciclo político. O que contamina todo mundo é o desgaste da política brasileira. Todo e qualquer agente público, e não só político, sofre um desgaste muito grande pela disseminação de todos os fatos positivos e negativos pelas redes sociais, pela internet, com uso de fake news. E isso é difícil de ser combatido, embora nós combatamos. Muitos boatos, muitas mentiras – muitas verdades também –, isso faz parte da democracia. Nunca foi tão fácil destratar alguém. Nunca foi tão fácil mentir sobre determinado tema. Nunca foi tão fácil fazer demagogia como agora.

Grande parte dos políticos de oposição joga para a plateia. Se estivessem aqui no meu lugar não fariam um terço do que nós fazemos porque não têm preparo, não têm cultura de gestão, não têm experiência e não têm nada feito por Goiás ao longo de suas vidas. Os desgastes que os governantes têm hoje não são por conta de ciclo ou não. É por conta do desgaste da própria classe política. Se você vai a qualquer Estado brasileiro e for avaliar os governantes, você verá que o nível de tensionamento é grande. Por mais que as pessoas gostem do jeito de governar, muitas têm a tendência de dizer que são contra ou que não aprovam porque há uma antipatia generalizada à classe política.

Se é feita uma pesquisa para presidente, por exemplo, há mais de 40% de pessoas que são contra o juiz federal Sergio Moro, que nós achamos que é uma espécie de unanimidade nacional. Mas basta ver as pesquisas – claro que ele é talvez um dos menos rejeitados – para perceber que está tudo politizado e ideologizado no País.

Euler de França Belém – O sr. não teme que esse desgaste, uma fadiga de material, prejudique o governador José Eliton (PSDB) como candidato à reeleição?
Hoje você tem apenas um lado fazendo críticas, a oposição, criando fake news e procurando defeitos onde muitas vezes não existem. A partir do início da disputa propriamente dita, esses lados que hoje só atacam, atiram pedras, também serão atingidos, desnudados, criticados. Lembranças serão trazidas à tona. De eras em que foram governo e que perseguiram, prenderam, torturaram, que tiveram como base conceitual o império da intolerância. Da emoção em detrimento da razão, da perseguição. Eu diria que o contraditório ainda não começou. É muito fácil você atirar pedras em árvores que dão bons frutos ou em quem está no governo, que é vidraça.

Eu, por exemplo, saio do governo e vou para a arena política sem a responsabilidade do governante, do chefe de Estado, que tem de ter equilíbrio permanentemente. O governador não pode entrar em determinadas polêmicas. Até porque não represento um partido, e sim o Estado. A partir de agora estou livre para enfrentar qualquer debate. O José Eliton talvez não tenha essa liberdade, terá de ter esse comportamento que tenho hoje como governante. Mas depois não.

Esse enfrentamento vai acontecer. Até porque as coisas precisam ser colocadas no devido lugar para que as pessoas não sejam levadas a votar de forma ludibriada, comprando gato por lebre. Acredito que o jogo só está começando e não temo comparação com nenhum governo. Para se ter ideia, estamos deixando 22 hospitais e quando chegamos Goiá tinha sete hospitais estaduais sucateados.

“Meus 2 últimos governos foram os melhores”

Patrícia Moraes Machado – O sr. não teme comparações com nenhum governo, mas e a comparação com suas outras gestões? Pesquisas internas mostram que o eleitor quer um candidato com o perfil do Marconi de 1998.
É muito engraçado isso, porque o primeiro governo foi uma administração que, por falta de dinheiro, mas também por opção, na qual fizemos um trabalho muito forte no social. Esse trabalho continuou, só que fomos avançando fortemente na infraestrutura, na industrialização e na geração de emprego nos ou­tros governos. No último mandato, consolidamos a infraestrutrura, toda a política social e a economia depois da crise.

Não tenho medo de errar ao dizer que esses dois últimos governos foram os melhores. A maior prova disso é que, apesar do que acontece na internet – o que acaba contaminando todo o ambiente político –, eu fiz este ano 180 visitas a cerca de 140 municípios e fui bem recebido em todos. Muito bem recebido. Com euforia, entusiasmo, carinho e afeto. E fui a vários ambientes. Fui à Universidade Estadual de Goiás (UEG) diversas vezes, no ambiente educacional várias vezes, que em muitas épocas é muito crítico e ácido, fui a ambiente militar em muitas ocasiões, a instituições da sociedade em muitas oportunidades. Apesar da intolerância em relação à classe política, consegui andar estes anos todos de cabeça muito erguida por onde passei.

Marcelo Mariano – É claro que ainda é muito cedo, mas o sr. pensa em voltar a disputar o governo em 2022?
Não. A minha missão está cumprida. Comprida e cumprida.

Augusto Diniz – O sr. disse na entrevista ao Opção Play (canal do Jornal Opção no YouTube) que o martelo ainda não está batido sobre a pré-candidatura ao Senado, que ainda há muito a ser conversado. Mas é o caminho natural.
Não acho natural. Supo­nhamos que eu venha a ser convidado a ser candidato a vice-presidente.

Euler de França Belém – O sr. aceitaria?
Claro. Se for candidato a vice-presidente do Geraldo Alckmin (PSDB), que é um homem público de grandes qualidades morais, intelectuais, com uma grande capacidade de gestão, um homem equilibrado, que foi meu colega por quatro mandatos e que sei que posso acreditar nele, é claro que aceito. Por isso não quero falar em candidatura consolidada agora. Tem muita água para correr. Acho complicado formar uma chapa pura, mas e se acontecer?

Marcelo Mariano – Quem seria o vice ideal de Alckmin fora do PSDB: Rodrigo Maia (DEM) ou Henrique Meirelles (MDB)?
Rodrigo Maia seria um excelente vice, o Meirelles seria outro excelente vice em outro campo partidário. Mas, se tiver de escolher alguém dentro do PSDB, que escolha alguém do Centro-Oeste.

Euler de França Belém – Concorrer a deputado federal o sr. descarta.
Não serei candidato a deputado federal.

Cezar Santos – Sabe-se que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso consultou o partido sobre a possibilidade de o sr. ser lançado candidato a vice-presidente. O que há de concreto nisso?
Ouvi pelo líder do PSDB na Câmara, o deputado federal Nilson Leitão (MT), de que, em uma conversa com Fernando Henrique, teriam citado o meu nome por ser um governador experiente, respeitado e de uma região que é a solução para o Brasil.

Euler de França Belém – Mas Fernando Henrique Cardoso parou com as tentativas de trocar Alckmin por outro nome na pré-candidatura a presidente da República?
Fernando Henrique Cardoso é uma pessoa que tem opinião própria, tem uma verve enorme. É um intelectual que vive procurando de alguma maneira contribuir com a melhoria da qualidade da política e com a própria melhoria da qualidade do partido.

Marcelo Mariano – Se Alckmin vencer as eleições, o sr. aceitaria ser ministro das Relações Exteriores? Até por essa aproximação com os embaixadores que o sr. citou?
Eu não colocaria nada disso agora, até porque o futuro é muito incerto. Não sei o que vai acontecer nas eleições.

Marcelo Mariano – Mas esse é um Ministério que o sr. tem certa afinidade.
Eu gosto da política externa, mas acho que poderia colaborar em várias áreas. Depende muito do que irá acontecer. Se for com Geraldo Alckmin, vou trabalhar por ele. Ótimo. Se não, o que eu mais quero é ajudar o Brasil. O Brasil precisa virar essa página da intolerância, da corrupção, da incompetência, que o Michel Temer (MDB) começou a virar com o Meirelles na economia. Precisamos virar essa página da estagnação, com o Brasil nos piores indicadores em educação, desigualdade social, violência. Precisamos começar a recolocar o Brasil nos trilhos e no concerto das grandes nações do mundo.

Patrícia Moraes Monteiro – O sr. tem uma responsabilidade muito grande com a indicação do sucessor como pré-candidato do PSDB e com seu apoio. Mesmo cenário aconteceu com o ex-governador Alcides Rodrigues, quando Goiás viveu um caos por quatro anos. Qual é a garantia de que isso não voltará a acontecer com José Eliton?
A experiência e a maturidade me ajudaram a compreender sociológica e historicamente o que aconteceu naquela época, quando eu não conversei quase nada com o governador Alcides. Ele me surpreendeu no dia em que assumiu o governo com algumas escolhas que foram feitas sem ter tido a delicadeza de conversar comigo. Com José Eliton nós estamos conversando há três anos. Toda a transição foi discutida. Ele tem uma capacidade enorme de dialogar. Me ouviu muito, foi extremamente gentil e correto comigo em todas as discussões, sobretudo envolvendo a equipe que atuará com ele a partir de agora. Pela experiência que tive nos dois casos, a de agora é muito mais amadurecida e que tem tudo para ser exitosa.

Patrícia Moraes Machado – Na história política há a descoberta de traições e novos aliados inesperados. A reação do Vilmar Rocha (PSD) pode ser caracterizada como uma traição política?
Não diria isso. Vilmar tem opinião própria. É um quadro importantíssimo na política goiana. Tem o meu respeito profundo, a minha amizade antiga. Me ajudou demais em dois governos, foi um candidato a senador que quase ganhou as eleições, sempre foi corretíssimo com o tempo novo em todas as eleições. Se sacrificou por isso. Eu jamais faria qualquer crítica ao Vilmar, respeitando inclusive a independência de ele ter formulações próprias, até porque é um intelectual. É uma pessoa da minha convivência pessoal, da minha amizade.

Patrícia Moraes Machado – Mesmo quando Vilmar abre conversa com o senador Ronaldo Caiado (DEM)?
Acho que é um equívoco da parte dele. Um equívoco grave. Porque ele sabe e conhece melhor do que eu Ronaldo Caiado. Mas é um direito do Vilmar. Eu diria que nós temos muitos casos de traição entre sucessor e sucedido, mas também temos casos excepcionais de sucessores que respeitaram seus sucedidos, conviveram juntos e fizeram muito em conjunto por seus Estados. Nós temos no Brasil várias experiências nesse sentido, como no Bahia, Ceará, Minas Gerais, São Paulo.

Patrícia Moraes Machado – Como o sr. avalia quando parte da oposição diz que o deputado federal Daniel Vilela (MDB) é também pré-candidato do sr.?
Daniel fez muitas críticas a mim como deputado estadual e federal. Mas vejo no Daniel uma pessoa madura, respeitosa. É diferente. Se tem uma pessoa que pode falar que sempre esteve na oposição ao meu governo, essa pessoa é o Daniel. Até porque [Ronaldo] Caiado apoiou o primeiro e o segundo governos. Não apoiou Alcides, mas imediatamente após a vitória pulou para dentro do governo e participou efetivamente da gestão. E em 2010 indicou o meu vice-governador, o José Eliton. Não adianta querer esconder esse fato. Já Daniel, não. Daniel e o MDB nunca participaram do governo e sempre fizeram oposição. Essa crítica é injusta em relação a ele. Todas as nossas disputas os protagonistas fomos nós e o MDB.

“Estamos com a folha de pagamento e o 13º salário em dia. Obrigações com saúde, educação e segurança em dia”

“Entrego o Estado com boa saúde financeira”

Marcelo Mariano – Uma aliança com o MDB está descartada? De José Eliton com Daniel Vilela ou Maguito Vilela?
Se depender de mim, deixo as portas abertas para o segundo turno.

Cezar Santos – Na Assembleia, a base aliada tem sofrido algumas baixas. Os deputados Dr. Antonio, Álvaro Guimarães e Iso Moreira foram para o DEM de Caiado. Como o sr. vê essa movimentação?
O Dr. Antonio não era da base, aderiu e desaderiu. Dr. Antonio não é político, está político há pouco tempo. Mas não era da base. Álvaro Guimarães (PR) tem um problema regional e, no mais, nós temos trazido vários partidos que não eram da base e estão se firmando conosco. Um exemplo é o PSB, que não estave conosco em 2014. José Eliton tem uma habilidade enorme para conversar com muitos partidos. Nós vamos sair com mais partidos, com uma aliança fortíssima de candidatos à Câmara, ao Senado e à Assembleia Legislativa. É isso que importa. E com um excelente candidato a governador.

Patrícia Moraes Machado – Como o sr. entrega a saúde financeira do Estado?
Nós estamos com a folha de pagamento e o 13º salário em dia. Obrigações com saúde, educação e segurança em dia. É claro que temos um problema que vai persistir enquanto não houver a reforma da Previdência, que é o déficit previdenciário, e que sempre nos leva a trabalhar duro para enxugar gastos e para conseguir receitas extras todos os anos. O déficit previdenciário de 2017 foi de R$ 2,2 bilhões. É algo compulsório, não depende do governo. A política previdenciária é nacional. São legislações federais. Esse é um fantasma que teremos de conviver sempre.

O déficit previdenciário deve ficar em R$ 2,5 bilhões neste ano. O que se arrecada para pagar os aposentados é R$ 2,5 bilhões a menos do que o gasto que o Estado tem com os aposentados. E isso acontece porque temos as aposentadorias especiais com altos salários, pessoas que se aposentam muito cedo, isso acumula um déficit que cresce a cada ano. Fora isso, José Eliton tem todo conhecimento de que temos uma situação de equilíbrio. Não temos recursos para investir, mas todo ano buscamos com criatividade fontes, fundos e recursos extras para fazer os investimentos e ver o Estado avançar.

Augusto Diniz – Mesmo com as 122 metas atingidas de obras e realizações alcançadas e que foram apresentadas ao TRE-GO, qual era a grande realização que o sr. queria ter entregue, mas que ficará para o governador José Eliton concluir?
Quando falamos em 122 metas entregues é porque estão prontas. Mas nós termos cerca de cem em andamento. Eu queria inaugurar a rodovia para a Goiás (GO-070) toda duplicada até dentro da cidade. Vou entregar até pertinho da cidade. José Eliton vai terminar. Queria ter entregue a rodovia GO-080, que liga Goiânia à Belém-Brasília, com os 90 quilômetros prontos. Vou deixar 1,5 quilômetro para José Eliton terminar. E assim sucessivamente.

Marcelo Mariano – Qual é a importância do Consórcio Brasil Central para o futuro de Goiás?
[Corrige] Para o futuro do Brasil. O Consórcio Brasil Central mexeu profundamente na estrutura do pacto federativo, que não existe. O País é muito injusto. 72% das receitas do Brasil concentram-se na União. Os Estados e os municípios, que são os grandes responsáveis pelas políticas de segurança, educação, saúde, infraestrutura e habitação, têm pouco dinheiro e muita responsabilidade. O Consórcio Brasil Central uniu sete Estados e começou a rediscutir esse pacto federativo. Muitas das políticas que estão acontecendo no País se originaram nas discussões que se iniciaram no fórum.

Euler de França Belém – Governador, o sr. joga xadrez? [Há um tabuleiro na mesa]
Tenho muito jogo de xadrez, mas não sei muito.

Euler de França Belém – Como é a história da revista “Veja” de que o sr. estaria seguindo um guru?
É o mestre espiritual Sri Prem Baba, meu amigo. Eu não estou seguindo, ele é meu amigo. É de Alto Paraíso. É uma pessoa do bem, da paz, que tem uma legião de seguidores. Assisti a uma entrevista maravilhosa dele ao Pedro Bial (“Conversa com Bial”, Rede Globo), e da qual o Reinaldo Gianecchini participou.

Deu uma entrevista excelente para a “Veja”. É uma pessoa que passa três meses na Índia, abraçou causas como a despoluição do Rio Ganges (Índia), o multiculturalismo, o ecumenismo com religiões como o catolicismo, induísmo, islamismo, protestantismo. É uma pessoa muito ligada à questão da água, tem políticas de salvamento de rios no Oriente Médio, no Egito, tem trabalhos no Japão, nos Estados Unidos. É uma pessoa bacana. Sri Prem Baba adotou Alto Paraíso e atraiu um monte de gente para a cidade.

Cezar Santos – É um homem novo.
Mais novo do que eu [o paulistano Sri Prem Baba tem 52 anos. Marconi tem 55 anos].

Euler de França Belém – O que o sr. está lendo?
Comecei a ler agora “A Face Final de Vargas – Os Bilhetes de Getúlio” (Editora Cruzeiro, 1966), de Lourival Fontes e Glauco Carneiro. Ele traz os bilhetes do presidente Getúlio Vargas. O Lourival Fontes guardou os bilhetes, mais de 700, que contam boa parte da história de Getúlio no governo federal.