“Ter Caiado como aliado só vai agregar rejeição a Marconi Perillo”

24 abril 2014 às 16h36

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Líder de um dos principais grupos de apoio ao governador, o prefeito de Goianésia protesta contra possível troca de Vilmar Rocha pelo deputado democrata como dono da vaga ao Senado na chapa da base aliada

O prefeito de Goianésia, Jalles Fontoura (PSDB), representa uma das maiores bases de apoio político do governo estadual. Mais do que isso, seu grupo tem um representante na cúpula da gestão: o aliado de primeira hora do governador Marconi Perillo, deputado Vilmar Rocha, presidente do PSD em Goiás, que foi o secretário-chefe da Casa Civil do tucano até o fim do ano passado e é pré-candidato ao Senado. De 1999 a 2001, no primeiro governo de Marconi, Jalles também foi peça importante, como secretário da Fazenda.
As articulações de pré-campanha fazer agora surgir uma pedra no meio do caminho: o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), que sempre teve uma relação conturbada com Marconi, está em rota de reaproximação com a base do governo. E a condição para uma aliança é a vaga de candidato a senador. Jalles Fontoura sai em defesa do aliado. “Vilmar Rocha é sem dúvida o melhor nome para representar Goiás no Senado Federal. E além de ser extremamente bem preparado para o cargo, sempre esteve com Marconi. Já Caiado, além de trazer rejeição, nunca ajudou o governador durante seu mandato”, resume.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, além de duras críticas ao possível pacto com o deputado líder dos ruralistas, Jalles faz um balanço de sua segunda passagem pela prefeitura de Goianésia — a primeira foi entre 1977 e 1983 —, analisa os pontos positivos e negativos dos pré-candidatos da oposição e afirma que o ciclo do PT no governo federal chegou ao fim. Filho do ex-governador Otávio Lage (1966-1971), ele resgata a história do pai como um dos primeiros a investir de fato em infraestrutura e educação.
Elder Dias — Goianésia é uma cidade estratégica para a base aliada e para o governo e sua família tem um peso considerável na região e na política do Estado. O sr. é um grande apoiador do deputado federal Vilmar Rocha (PSD), que pretende uma vaga no Senado. Mas ele poderia ser convidado a assumir o lugar de vice em uma chapa de Marconi Perillo (PSDB) para abrir espaço para um novo aliado, que seria o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), que também quer ser senador. Como o sr. tem visto essa movimentação, já que seu grupo tem divergências históricas com o grupo de Caiado?
O deputado Vilmar Rocha é bem votado em Goianésia desde os anos 90, em sua primeira candidatura. Foi sempre um grande parlamentar para a nossa região, que também é sua origem — Vilmar é de Niquelândia —, mas faltava a ele um cargo executivo, com o qual foi contemplado neste governo de Marconi Perillo. Como chefe da Casa Civil, ele demonstrou seu potencial. Vilmar Rocha é, disparadamente, o melhor candidato a senador por Goiás. É preparado, tem currículo, passou por oito eleições sem nunca ter dinheiro para as campanhas. É uma pessoa com excelente formação moral e intelectual e muita credibilidade. Ele ser candidato ao Senado é uma solução natural, soma como nenhum outro nome para a candidatura à reeleição de Marconi.
Além de tudo isso, Vilmar fez um grande trabalho político para seu partido, o PSD, que hoje tem o segundo maior tempo de televisão entre os partidos da base, o segundo maior partido que apoia o governo. Ele não tem características para vice-governador, é uma pessoa talhada para o Legislativo, é um parlamentar nato. Goiás merece um senador do nível de Vilmar Rocha no Senado e acho que ele trabalhou intensamente para isso, inclusive dispensando um colégio eleitoral como o de Goianésia, que lhe ajudaria em muito a garantir um novo mandato de deputado.
Cezar Santos — Não há dúvida de que Vilmar é um grande nome ao Senado. Mas a engenharia da política às vezes impõe nuances que os atores têm de engolir. A presença de Caiado na chapa agrega valor, segundo pesquisas da própria base. Essa realidade não pode ser um duro golpe na pretensão de seu grupo?
Ronaldo Caiado agrega apoio e rejeição. Ele é um típico político do voto proporcional, segmentado. Tem uma votação que não aumenta nem diminui, é sempre a mesma. Mas, ao contrário de Vilmar Rocha, cotado até para ser vice-governador, o deputado Caiado não tem qualquer característica para candidatura majoritária. Quando ele se arriscou nisso, como à Presidência [em 1989] e ao governo do Estado [em 1994], ele começou bem e terminou em último.
A fonte eleitoral dele é o conflito, o “modus operandi” de sua política é o confronto. Normalmente ele conflita com o governador Marconi Perillo, como já conflitou com Anthony Garotinho [PR, ex-governador do Rio], com Marina Silva [PSB, ex-senadora do PT e ex-candidata à Presidência pelo PV], entre outros casos. Ele polemiza sobre questões como o programa Mais Médicos, por exemplo. É um grande deputado, importante para o Congresso e para Goiás, mas não tem características de alguém que some, como é necessário ser para disputar o Senado. Ronaldo não é de soma, é de segmento. Se ele tivesse uma carreira no Judiciário, teria de ser grande promotor, mas jamais poderia ser juiz. Ronaldo Caiado é parte e Senado é soma. Isso, para mim, é de uma clareza total. Ele é uma pessoa que não seria eleito governador, ou mesmo prefeito de nenhuma cidade de Goiás, exatamente por essa característica de ser parte e conflitar com a maior parte. Ele é assim desde a UDR [União Democrática Ruralista, entidade que Caiado presidiu], é da história dele. Repito, é um bom parlamentar, é bom para a eleição proporcional. Um dos grandes desafios de Marconi Perillo na próxima eleição será reduzir a rejeição. Ele não precisa de ninguém que agregue rejeição, ao contrário.
Elder Dias — No fim de todas as contas — somas, subtrações, multiplicações e divisões —, o sr. acha que ter Caiado na base aliada é prejuízo?
Em qualquer ângulo que se estude a questão, o melhor candidato ao Senado é Vilmar Rocha. Por exemplo, o tempo de televisão que Vilmar leva é maior do que o do DEM. Por outro lado, Caiado soma muito como deputado, mas não é agregador. Ele combateu ferozmente o governo Marconi Perillo, não votou no governador. E ainda deixou uma herança muito pesada, que foi Demóstenes Torres. Caiado foi pai, mãe, avô e avó de Demóstenes. Isso é algo ruim que o governo teve de passar e até hoje não conseguiu digerir totalmente. De seu lado, Vilmar agrega equilíbrio, credibilidade, competência política e capacidade de ser um grande apoiador no Senado. Já o deputado Caiado não tem essa característica, nunca ajudou o governador durante seu mandato. É um grande parlamentar em sua área, em seu segmento.
Cezar Santos — Em que pese o que o sr. diga, o que dita os rumos de uma campanha eleitoral são as pesquisas. E Vilmar Rocha está muito mal nas intenções de voto para o Senado.
A pesquisa, neste momento, registra o conhecimento que se tem da pessoa. O voto em si é algo vinculado ao futuro, à expectativa, e é definido durante a campanha. O conhecimento serve apenas de base; não fosse assim, o próprio Marconi não poderia ter sido candidato em 1998, porque não tinha nada nas pesquisas. Durante esse mandato do governador, Vilmar trabalhou intensamente pela gestão e, muitas vezes, trabalhou só nos bastidores para aparecer o resultado. Mas, desde que haja um alinhamento político, a popularização do nome é rápida e ocorrerá na hora certa. Uma coisa fundamental que ele tem é a credibilidade. Noto isso em minha cidade, que ele representa há 23 anos. Popularidade vai e vem. O que é preciso, no momento, é alinhar quem pode contribuir neste momento e no futuro com o governo Marconi e sua vitória. Vilmar já provou isso nestes quatro anos e já vinha provando antes. Para mim, é simples, uma questão de bom senso, de viabilidade, de soma.
Cezar Santos — O sr. escreveu um artigo semanas atrás falando de uma síndrome de Estocolmo do governo. Essa síndrome nada mais é do que a admiração, até afeição pelo inimigo. A base aliada está sentindo uma atração por esse “inimigo”, no caso, Ronaldo Caiado?
Meu registro se deve ao fato de que o deputado Ronaldo Caiado foi opositor no passado e agora também ao governo Marconi. Fez uma oposição dura e, na maioria das vezes, injustas. O que estou lembrando é de que ele não foi companheiro em nenhum momento. De repente dá um cavalo de pau de 180 graus e passa a ser um aliado? Então, eu acho que fazer uma troca dessas, dispensando um grande político por alguém que tem uma votação segmentada, não é uma boa. Foram esses os argumentos que usei.
Cezar Santos — Mas Caiado foi agora designado líder da minoria na Câmara dos Deputados e com indicação expressa de seu partido, o PSDB. Isso não é resultado de uma articulação maior?
Eu tenho certeza de que a partir do ano que vem ele pode ser líder da maioria na Câmara, que é o meio dele. Não tenho nada contra Ronaldo, pelo contrário, estou analisando o cenário politicamente. Ele tem boas características para candidato proporcional, mas não poderia ser nunca candidato a governador. Aliás, ele já tentou uma vez, começou em 1º e terminou em último. É um problema de gênese que ele tem. Têm muitos políticos com esse tipo de característica, segmentado. Um grande exemplo é Jean Marie le Pen, que sempre é candidato a presidente na França.
Caiado vai agregar apenas rejeição a Marconi. Vou dar um exemplo: quando Demóstenes foi candidato a governador, ele já era um fenômeno e andou o Estado inteiro com Caiado. Qual foi o resultado? Demóstenes caiu de 13% no início da campanha para 3% no fim e teve pouco mais de 80 mil votos [na verdade, 95 mil votos, ficando em 4º lugar no primeiro turno de 2006]. Caiado teve 140 mil votos. Isso é uma prova cabal de que não houve transferência de voto de um para o outro, nem andando coladinhos. Ronaldo Caiado teve de aceitar o apoio de seu partido a Marconi somente pelo fato de que 90% de sua legenda era aliada ao governador, como ainda é. Então, como que, de repente, o eleitor vai perceber essa situação de pura conveniência eleitoral, ou eleitoreira, melhor dizendo? Como de repente Caiado vira amicíssimo? Isso fere o bom senso.
Euler de França Belém — Marconi está indo para sua quarta eleição pessoal ao governo e a quinta seguida de seu grupo. Dificilmente terá como se apresentar como o “novo”, o que não quer dizer que não possa se mostrar como o elemento da mudança, o que não tem nada a ver com a ideia de “novo”. Para isso, porém, é preciso ter um discurso. Qual seria esse discurso de Marconi para convencer o eleitor goiano depois de ficar 16 anos no poder, ele que combateu tanto os 16 anos do PMDB e do grupo de Iris Rezende?
O mandato de governador, na prática, tem oito anos, com uma revalidação ocorrendo no meio disso, aos quatro anos. É o que vai ocorrer agora. A pergunta a se fazer é: o governo está bom? Marconi está preenchendo as expectativas das pessoas? Está sendo visto como realizador? Um governador tem um favoritismo natural, com a vantagem de estar no poder, mas a população vai responder essa pergunta.
Especialmente a partir de 2013, o governo Marconi Perillo está em uma crescente. Tempos atrás vi o seguinte comentário de um político: para descer, o político vai de elevador; para subir, aí é preciso ir de escada. Marconi vem subindo a escada. Hoje eu diria, sem sombra de dúvidas, que ele é amplamente favorito no interior de Goiás. Neste momento, ele está sendo capaz de passar para as pessoas a imagem de um bom governo. Como eu comentei, só em Goianésia são R$ 200 milhões. Isso vale para o Estado inteiro. Isso é que pesará para as pessoas ao analisar.
A própria postulação de Caiado, essa mudança de 180 graus que ele fez, mostra isso. Ele era um opositor feroz, mas agora viu que ali há um caminho de vitória, o que todos querem trilhar. É claro que nenhuma eleição está decidida, mas o grande desafio para Marconi, hoje, é a Grande Goiânia e o Entorno de Brasília. São duas áreas fundamentais que vão decidir muita coisa. No interior do Estado, Marconi já está respondendo bem como governo. Em Goiânia, há a influência de Iris Rezende e o Entorno é uma região ainda nebulosa politicamente.
Euler de França Belém — Qual é o debate que Marconi Perillo quer provocar nesta eleição?
Temos um governo em plena época de investimento, criando expectativas, com obras diversas. Qual é o projeto, então? Continuar o bom governo. A aprovação de Marconi Perillo está subindo de escada, o que é a melhor forma e mais segura — os saltos são perigosos. Então, o projeto do governador para um segundo mandato é dar continuidade ao que está feito hoje e gera enorme expectativa em qualquer região do Estado. Além disso, é preciso fazer muito mais. Temos, então, as questões de infraestrutura. Hoje, Goiás não é só Goiânia mais. Um bom índice de atividade econômica para medir isso é a distribuição do ICMS. A capital já foi 30% e hoje caiu abaixo de 20%. Ou seja, Goiás cresceu muito, há organizações faturando bilhões de reais e o Estado não é mais a grande fonte de emprego. Isso agora cabe ao mercado. À exceção talvez de Antônio Gomide (PT), nenhum outro pré-candidato tem uma proposta tão clara como Marconi. A questão da Celg é séria, mas há também outras, como nas áreas de educação, saúde, infraestrutura, conhecimento, eficiência da gestão pública, geração de emprego etc. Quem propuser melhor a questão do desenvolvimento social e econômico pode criar uma expectativa muito grande para o Estado. Creio que Marconi tem essa vantagem nesse aspecto, até porque agora o governo deslanchou. Naturalmente, tudo isso terá de ser muito discutido ainda para elaboração do programa de governo.
Cezar Santos — E se, por algum motivo, Marconi Perillo não for o candidato da base? Haveria algum nome que pudesse assumir seu lugar de imediato e com força diante do eleitorado?
Não. Apesar de Marconi ainda não ter se declarado como tal, ele é o não candidato mais candidato entre todos os que estão aí. Ele está fazendo sua gestão de forma bem feita, visitando o Estado inteiro e ouvindo as pessoas independentemente de sigla partidária. Está fazendo o trabalho correto para que sua administração tenha uma continuidade normal a partir da atual realidade. O eleitor vai optar entre isso e tomar outro caminho, mas não vi nenhuma consistência nas alternativas colocadas.
Cezar Santos — A entrada de Iris no jogo, se declarando pré-candidato, muda algo na oposição? Fortalece o grupo ou o racha mais ainda?
É preciso colocar todas as alternativas no jogo. O eleitor, livre, está com uma consciência crescente. Como dizia o Tancredo Neves [ex-ministro e ex-governador de Minas Gerais, presidente eleito e que morreu antes de tomar posse, em 1985], é preciso deixar a onda bater para estudar a espuma. Sem dúvida, Iris é o candidato mais forte da oposição e o que mais se aproxima em índices de intenção de voto ao governador Marconi. É saudável sua entrada no processo. Estamos vivenciando um processo rico para a democracia e no qual podemos crescer muito. Entretanto, nesses próximos três meses, a oposição vai ter de se unir. Fizemos isso em 1998, quando, depois de 16 anos, fomos capazes de ter a humildade de nos unir para fazer uma bela campanha, que resultou na primeira eleição de Marconi Perillo.
Cezar Santos — PMDB e PT saírem com candidato próprio é algo bom ou ruim para a base aliada?
A divisão favorece a base, porque ela gera sequelas. A lição de 1998 foi a de que foi a união que fez nossa força, levando-nos de índices insignificantes nas pesquisas para a vitória. Mas o processo exige humildade e capacidade de renunciar. Esse é o desafio que se impõe à oposição até junho, nas convenções.
Frederico Vitor — A JBS-Friboi tem investimentos em Goianésia?
A JBS, infelizmente, não tem nenhum investimento em nossa cidade. Eu gostaria que tivesse.
Frederico Vitor — Júnior Friboi (PMDB) disse que quer levar sua bagagem de experiência empresarial para a esfera pública. É possível?
A contribuição dos empresários à política normalmente é boa, interessante. Friboi pode agregar ao mundo político. E esse é também um desafio da oposição, agregar as qualidades de cada um de seus candidatos para formar um todo e propor um formato de Estado.
Elder Dias — O sr. falou nessa reavaliação no meio de um “mandato” de oito anos, e eu concordo que há essa tendência de ser quem está no poder o candidato mais forte e mais provável. Mas como o sr. vê cada um dos outros candidatos? O que há de melhor e de pior em Iris, Friboi, Gomide e Vanderlan Cardoso (PSB)?
Vamos começar por Antônio Gomide, meu conterrâneo. Ele é um bom candidato, representa renovação da política goiana e teve muito êxito à frente da prefeitura de Anápolis. Porém, é um candidato novo dentro de um quadro velho e em decadência, que é o governo do PT. Iris Rezende, aos 80 anos, jamais poderá representar o novo e, em minha região, não tem nenhum apelo quanto ao futuro, é muito ligado ao passado. Hoje, tem muita ligação com Goiânia e pouquíssima ligação com Goiás. Essa é uma limitação muito séria, além da idade. De positivo, ele tem sua experiência, seus mandatos como bom prefeito de Goiânia nas duas ocasiões em que esteve à frente da cidade e alguém que sempre tem motivação para ser candidato. É o nome mais forte da oposição.
Já Vanderlan Cardoso é uma pessoa de grande experiência empresarial e foi um grande prefeito para sua cidade, Senador Canedo. O problema é que tem uma estrutura muito pequena para fazer uma candidatura de porte majoritário — o que atinge também o candidato do PT. O empresário Júnior Friboi é audacioso, voluntarioso, com a ambição de ser governador e que tem muito dinheiro. Seu ponto negativo é não ter qualquer experiência ou visão política. A frase que representa muito bem Friboi é aquela que diz que às vezes a pessoa é tão pobre, tão pobre, que só tem dinheiro. Isso é um quadro que pode ser colocado. Entretanto, todos nós somos cheios de defeitos e qualidades. O desafio é colocar essa mistura em um grande projeto para convencer o eleitor. Como eu já disse algumas vezes, é preciso ter humildade, acima de tudo.
Elder Dias — Goianésia tem tido um papel importante também na eleição proporcional. Vilmar Rocha era o grande nome à Câmara. Como fica agora? E para a Assembleia?
Nosso candidato a deputado estadual é Hélio de Sousa (DEM). Nós o apoiaremos à reeleição, é o nome de todos nós. Para a Câmara, temos alguns nomes. Estamos fazendo um debate com toda a base aliada local e deveremos bater o martelo agora em abril. Já recebemos cerca de oito pré-candidatos, fizemos até audiências com eles. É hora de sentar e resolver isso no contexto local. Teremos de fazer uma boa escolha, porque substituir Vilmar Rocha não será fácil.
“O País fatalmente terá recessão em 2015 e 2016”
Elder Dias — O sr. e sua família têm uma ligação forte com o ex-reitor da UFG Edward Madureira, hoje filiado ao PT e pré-candidato a deputado federal. Se não fosse a opção partidária que ele fez seria um nome quase natural para suceder Vilmar?
Edward construiu parte de sua história, ainda jovem, em Goianésia, onde trabalhou e morou por vários anos. É uma pessoa brilhante. Eu cheguei a convidá-lo para aderir a nossa base. Se ele ainda morasse em nossa cidade, já teria sido eleito prefeito. Ele resolveu optar por outro caminho e respeitamos essa eleição.
Elder Dias — O sr. acha que ele será bem-sucedido na carreira política, em um partido com a estrutura do PT?
Eu creio que há boa possibilidade. O grande nome hoje do PT em Goiás é o deputado Rubens Otoni, que também é nascido em Goianésia. Otoni será tranquilamente reeleito, é deputado de 200 mil votos. Mas vejo espaço para Edward crescer politicamente, é uma das opções mais viáveis ao partido, uma pessoa de muito valor. Espero que ele seja eleito.
Cezar Santos — E na campanha nacional? O sr. acha que o PSDB consegue contrapor uma alternativa? A presidente Dilma Rousseff está caindo na aprovação e nas pesquisas, mas ainda venceria no primeiro turno.
Como eu disse, eleição neste momento mede muito mais o conhecimento que se tem do candidato do que qualquer outra característica. Eduardo Campos (PSB) [governador de Pernambuco] pode ser presidente do Brasil e, aliás, é um grande candidato. Do ponto de vista da oposição, sua vantagem é ter um grande candidato no Nordeste, que é Campos — que tem feito uma gestão excelente em seu Estado —, e outro no Sudeste, que é Aécio Neves. Este é uma opção fora do Eixo Rio-São Paulo e tem feito também uma ótima administração em Minas Gerais. São ambos candidatos muito mais novos que Dilma e politicamente mais competentes que a presidente, que está passando por intenso processo de desgaste por falhas na gestão do País. Os números do Brasil são terríveis, nós fatalmente teremos uma grande recessão nos anos de 2015 e 2016. Hoje a situação emblemática é a da Petrobrás, mas isso é geral. Esse ciclo do PT está se encerrando e, como a economia não vai ajudar a presidente Dilma, quem vai eleger o presidente será a política. Tenho a percepção de que tanto Aécio como Campos proporão melhor o futuro. É inimaginável pensar que continuaremos a ter Guido Mantega à frente do Ministério da Fazenda, o principal cargo do governo. Só para comparar, o titular da Fazenda no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi Pedro Malan, um grande ministro. Hoje a situação das finanças do Brasil é desastrosa e vai gerar consequências políticas.
Cezar Santos — O sr. vê possibilidade de o ex-presidente Lula voltar a ser candidato, em lugar de Dilma, por ela estar desgastada?
Acho que não. Isso não é fácil, até porque, ao ser desencadeado o processo, quem hoje pode parecer imbatível — no caso, o presidente Lula — pode ser surpreendido. Essa troca depois de Dilma ser candidata praticamente declarada é muito complicado. Creio que o ex-presidente será prudente o suficiente para não querer voltar ao passado, assim como fez Fernando Henrique.
Elder Dias — O sr. não guarda semelhança dessa história de Lula e Dilma com a de Marconi e Alcides Rodrigues (PP), a história de “criador” e “criatura”?
A questão é que o governador Marconi, já tinha rompido com a gestão de Alcides praticamente no início. No caso de Dilma, ela se declara intimamente ligada a Lula e um não vai ser jamais oposição à outra. Seria algo muito traumático, afinal pertencem a um partido que tem governadores e grandes bancadas no Senado e na Câmara. Não é fácil. O que penso é que o PT tem de assumir sua verdade. Lula não vai querer entrar nessa, mesmo porque ele já foi presidente durante oito anos. O Brasil tem de pensar para frente e não para trás. Embora na política não existam as palavras “nunca” e “sempre”, acho muito pequena a possibilidade de retorno de Lula.
Elder Dias — O sr. assumiu a prefeitura de Goianésia há um ano e três meses. Como a cidade se encontra hoje?
Goianésia é uma cidade politicamente organizada, isso é uma marca histórica. Em seus 60 anos de existência, sempre houve um excelente desempenho com a gestão pública no município. Neste tempo até agora, meu primeiro desafio foi estruturar a equipe e consolidar um programa que montamos, chamado Goianésia Pode Mais, no qual a ideia central é a implantação da faculdade de medicina, com o mote “cidade do conhecimento”. Goianésia é muito bem estruturada do ponto de vista de infraestrutura pública e privada. É uma cidade que tem uma renda alta e uma boa arrecadação. A proposta, então, é dar outro passo: de uma economia baseada no agronegócio e no agroinvestimento — o que será um caminho que continuará a ser trilhado — passaremos além disso, com um polo de conhecimento. Nesse polo, focamos, entre outras alternativas, na faculdade de medicina.
É uma conquista que vai mudar Goianésia, no sentido de ampliar enormemente o setor de serviços e criar um sistema de excelência na saúde. Este foi um tema que, na minha campanha política, foi a principal demanda. Vi que a demanda da saúde tinha a mesma intensidade das de educação, segurança, emprego, asfalto juntas. Então, resolvi — ao mesmo tempo em que caminhamos rumo à faculdade de medicina — promover um serviço de excelência na saúde primária, melhorar a saúde de média complexidade e trabalhar a alta complexidade em parceria com a iniciativa privada, o que inclui UTI, hemodinâmica, cardiologia, ortopedia etc., é algo que a cidade exige de nós hoje.
Portanto, além da estruturação normal, o “feijão com arroz” da administração, trabalhamos muito com o conhecimento. Agregue-se a isso as faculdades de agronomia e de engenharia e as creches. Para mim, a grande oportunidade de reduzir a desigualdade é a universalização do acesso à educação infantil. É um direito constitucional, os primeiros 11 anos da criança são de responsabilidade do município, o que nos dá uma grande janela para trabalhar a questão da igualdade. Todos os alunos recebem o mesmo uniforme, a mesma nutrição, o mesmo material.
O grande desafio é estabelecer uma rota do conhecimento desde o nascimento da criança até o nível superior. A faculdade de medicina é um símbolo, ilustra bem isso e vai mexer com todo o ritmo da cidade. Goianésia já é, hoje, um polo. Dos 64 mil habitantes, 20 mil vão todo dia à sala de aula, sentam-se no banco da escola. Isso sem contar os programas como o Pronatec [Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego], o Bolsa Futuro, os cursos do Senai e de ensino profissionalizante. Temos praticamente um terço da população diretamente na escola.
Cezar Santos — O sr. tem tido oposição na Câmara de Goianésia?
Tenho oposição, e dura. Temos nove vereadores na situação e seis na oposição, um quadro bem estabilizado. Interessante é que, nos 60 anos de Goianésia, só perdemos eleições em três vezes, mas sempre temos pleitos polarizadíssimos.
Elder Dias — A rivalidade política de Goianésia é bem diferente do que ocorre em outras cidades goianas, como Catalão. É uma disputa que ocorre sempre em alto nível.
É verdade. Por exemplo, eu sou amigo do ex-prefeito Gilberto Naves (PMDB), não temos nenhum problema de ordem pessoal. Temos uma discussão política. Nosso grupo nunca trabalhou contra qualquer gestão, independentemente de quem fosse o prefeito. E essa é uma qualidade que os dois lados têm.
Cezar Santos — Goianésia continua atraindo empresas?
Do ponto de vista da gestão pública, recebemos, no biênio 2013-2014, R$ 200 milhões de investimento. É um montante muito expressivo, quase duas vezes o orçamento municipal. Grande parte disso vem do Estado. Do ponto de vista privado, Goianésia vem recebendo muitos investimentos de uma grande cooperativa francesa na área de tecnologia de produtos para a agricultura. Há também outra empresa, nacional, na área de produção de adubo organomineral. A Hering está duplicando o número de empregados, que hoje são 500. Há também muitas outras iniciativas em nível local. Podemos dizer que o município está vivendo um excelente momento em relação a investimentos privados e públicos.
Cezar Santos — E como está a preparação da mão de obra para atender ao que pedem esses investimentos?
Para citar um exemplo, toda sexta-feira começo a atender as pessoas no gabinete às 5h30. Atendo todos os que vão me procurar. Há um ano, 80% dessas pessoas buscavam emprego. Hoje isso acabou, a cidade não tem desemprego. Pelo contrário, até falta gente, por conta da questão da qualificação, o que vai ao encontro do que você me perguntou. O profissional qualificado, além do sistema seriado, vem por meio dos cursos profissionalizantes do padrão Senai.
O Senai é uma grife. Lembro-me de que, na campanha eleitoral, quando eu entrava em algum ônibus de uma das três usinas de açúcar e álcool que têm em Goianésia para pedir voto, via as pessoas ainda sonolentas, mas bastava falar que iríamos trazer o Senai. Falava isso e já gerava um silêncio. Qual era o perfil daquelas pessoas? Adultos, na maioria homens, que já não estavam na idade escolar, mas que percebiam que tinham de deixar de cortar cana para operar máquina. Ou seja, se qualificar. Eles têm toda a razão, tanto que hoje praticamente inexiste essa figura que faz o trabalho manualmente. Toda a tecnologia que foi absorvida pelo setor exige pessoas. Na semana passada, uma das usinas mandou uma relação de propostas oferecendo empregos, todos neste nível: caldeireiro, motorista de caminhão, operador de trator etc. Estão desesperados, porque falta gente. O Sine [Site Nacional de Empregos] de Goianésia está muito ativo e temos um bom regime de empregos.
O grande desafio dentro desta era do conhecimento que queremos incentivar é oferecê-lo em todos os níveis. Por exemplo, profissionalizar via Senai. Convidar o Senai para se instalar em Goianésia, em parceria com a Fieg [Federação das Indústrias do Estado de Goiás] foi uma das primeiras providências que tomei como prefeito. Estamos agora ampliando o Cepgol [Centro de Educação Profissional Governador Otávio Lage], onde há milhares de pessoas fazendo cursos, bem como no Pronatec, um programa do governo federal. Temos também uma sede regional do Sebrae. A demanda pelo conhecimento técnico é enorme na cidade, as pessoas precisam porque querem mais qualidade de vida, renda maior, mais oportunidades. Todo esse conjunto está embutido nessa forma de gerir. Em uma lavoura de cana, é muito comum ver uma menina bem vestida descendo de uma colhedeira, daquela máquina enorme. A Hering, em sua unidade, primeiro prepara pessoal para operar seus equipamentos já com uma base boa. A gente tem hoje uma demanda muito grande e é preciso oferecer esse conhecimento para qualificar as pessoas.
Elder Dias — O trabalho manual é cada vez mais escasso, então.
Sim, acabou. Está substituído quase que integralmente pela máquina. Agora, a máquina dificilmente vai um dia substituir o homem em atividades de operação, que exigem manipulação, raciocínio etc. As pessoas estão absorvendo esse conhecimento em uma velocidade muito grande. Nesse meu escritório, nas visitas que recebo na sexta-feira, vou observando como está mudando o perfil. Para ter ideia, quem procura emprego são basicamente mulheres com grau de instrução abaixo da nona série e alguma dificuldade para adequar seu tempo ao trabalho. Pessoas com nível superior raramente aparecem. Observo também que raramente encontro alguém sem celular. Ou seja, é outro contexto, a miséria praticamente desapareceu, é residual. Tem pobreza, isso sim, mas basicamente por falta de instrução.
Elder Dias — O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade está bem posicionado?
Estamos entre os melhores de Goiás. O IDH só não é ainda maior porque estamos sempre recebemos mais gente, cerca de 2 mil pessoas a mais a cada ano. Em uma cidade como Ceres, com população estabilizada, o IDH tende a crescer.
Elder Dias — O sr. falou de uma meta importante, que é apostar na educação e no conhecimento. Falando agora das dificuldades do município, temos a questão das drogas, que é algo generalizado no Estado e no País. Mas qual seria um problema particular da cidade a ser enfrentado?
Se há duas coisas emergentes — enquanto, por exemplo, o uso do cigarro cai — são a droga e a diabetes. São dois males do mundo moderno. O Brasil ainda não aprendeu a resolver o problema da droga. Há dois anos fui à Índia, que é um país com o dobro da população brasileira em uma área menor do que a metade de nosso país. Lá há uma miséria inacreditável, mas não têm problema de droga lá. O mesmo ocorre na Turquia. No Brasil não aprendemos como lidar e que envolve família, polícia, Justiça, saúde, educação e muito mais.
Especificamente falando de Goianésia, a droga começou a ganhar importância na área da saúde há dez anos. Temos feito uma repressão muito forte, tanto que não há nenhum traficante médio ou grande da região que esteja fora da cadeia, o que mostra o trabalho eficiente da polícia por lá. O diabetes também é um problema sério, e vem junto com o da obesidade, é algo crescente. No tema infraestrutura, não há nenhum problema insuperável. Talvez um desafio seja aumentar a integração da cidade na malha rodoviária asfaltada do Estado. Goianésia já foi canto, hoje passou a ser entroncamento. Uma parte dos R$ 200 milhões de investimento público no município está sendo investido, em parceria com a Saneago, no programa Goianésia 200%, que significa 100% em captação e distribuição de água e 100% em coleta e tratamento de esgoto. Isso vai ser completado ainda neste ano e é um dado interessante sobre a cidade.
Hoje, em minhas sondagens que faço, o maior problema que temos na cidade é asfalto. Se tirar o assunto asfalto de uma rodinha, a conversa acaba. Geralmente a crítica sobre o buraco do asfalto bate direto na canela do prefeito, a mãe do prefeito é lembrada (risos). Em nosso caso, o recapeamento é muito mais importante do que outras medidas de pavimentação, porque hoje Goianésia é uma cidade totalmente asfaltada. Então, vamos começar um programa vigoroso de recapeamento agora no período seco.

Elder Dias — O sr. vai procurar ou já procurou o governo para buscar o Rodovida Urbano?
A prefeitura de Goianésia já tem uma estrutura própria para fazer asfaltamento. Vamos fazer isso em parceria com as empresas privadas e também a Agetop. Nesse programa vigoroso de restruturação, vamos visar também a questão da sinalização das vias. É um problema que está totalmente na nossa mão para resolver e vamos fazer isso.
Frederico Vitor — Um problema sério nos últimos anos em Goiás é o abastecimento de energia elétrica. Em Goianésia, o sr. tem recebido reclamações de investidores em potencial sobre esse tema?
Demais, demais mesmo. A questão da Celg, do ponto de vista macro de infraestrutura do Estado, é gravíssima. Para essas indústrias novas conseguirem fornecimento de energia tem sido muito complicado. O pior é que a falta de energia constante também dá muito prejuízo. Hoje, em Goianésia, as pessoas estão todas tendendo a optar por grupos geradores de óleo diesel para compensar o drama seriíssimo causado pela Celg. Nas usinas não existe esse problema, porque elas próprias geram energia e até vendem o que sobra para o sistema. Talvez esse seja o problema mais grave da economia de Goiás, porque é limitante para investimentos, para o crescimento e para a competitividade do Estado.
Elder Dias — Seu pai, Otávio Lage, foi uma figura chave para o desenvolvimento do Estado em um determinado momento de grande desafio político, que era a primeira fase da ditadura militar. Como o sr. avalia a trajetória dele e o legado ao Estado?
Esse período que vivemos é ótimo para colocar isso sob a ótica histórica. Otávio Lage foi um dos maiores governadores que Goiás já teve. Foi o único eleito pela UDN aqui, já que o grupo de Pedro Ludovico era muito forte. Ele multiplicou a estrutura do Estado em várias vezes. No prefácio do livro que o jornalista Jales Naves está escrevendo sobre meu pai, escrevo que ele passou por cima do fato de Goiás ser naquela época um Estado pobre. Apesar das carências, foi um governador que fez enormes investimentos nas questões básicas. Em uma das passagens do livro, o senador José Caixeta pergunta a Otávio Lage por que não optava por fazer um grande estádio ou um autódromo. Ele respondeu: “No futuro, alguém vai fazer tudo isso, essas grandes obras. Meu negócio é investir na educação, em estradas e em energia.” Otávio Lage olha a estrutura inacabada do Centro Administrativo [hoje Palácio Pedro Ludovico Teixeira], que Mauro Borges havia começado, e fazia a conta de quantas escolas e estradas poderia fazer com o dinheiro.
Então, na infraestrutura e na educação, aquilo que é base para gerar riquezas, ele talvez tenha sido o maior governador de Goiás até hoje. Para ter ideia, Goiânia tinha basicamente três escolas — o Lyceu, o Pedro Gomes e o Instituto de Educação de Goiás. Com ele, a educação multiplicou em qualidade e em unidades. Na questão da energia, quando ele assumiu a Celg estava quebrada e havia a campanha “Cachoeira Dourada é nossa”. Todo mundo estava brigando pela usina, que estava praticamente falida e a concessão de sua segunda etapa seria transferida para o governo federal. Otávio Lage fez terminar a obra e, no fim, o Estado estava vendendo energia para Brasília.
Um fato interessante: meu pai era piloto de avião e costumava verificar as obras voando. Lá de cima ele avistava as falhas e fazia a observação. Uma vez, em um desses voos, ele disse “olha, falta um bueiro naquela estrada ali”. O diretor de obras do Dergo na época, Salvino Pires, contestou. Meu pai então, embicou o avião para se aproximar e Salvino, apavorado, disse: “Governador, não precisa, pode deixar que eu vou fazer dois bueiros!” (risos)