Rubens Otoni: “Vou ser o embaixador de Goiás junto ao governo federal”

29 janeiro 2023 às 00h00

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Quem ler esta entrevista do deputado Rubens Otoni ao Jornal Opção vai perceber a presença constante de algumas palavras, sempre presentes em seu discurso. A principal é “trabalho”. O petista chega agora a seu sexto mandato em Brasília e é o “decano” entre os parlamentares de Goiás no Legislativo federal. Uma história que construiu a partir de muita construção nas bases, o que faz desde que ajudou a fundar o partido no Estado, no início da década de 80.
Outros termos bastante frequentes na fala de Otoni são “harmonia” e “sintonia”, que dizem bastante sobre o comportamento político que sempre adotou. Com a volta do PT ao poder central, ele vê a antipolítica protagonizada por Jair Bolsonaro (PL) perdendo espaço e se coloca com a missão de ajudar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a aumentar sua base de apoio na bancada goiana e, ao mesmo tempo, obter mais atenção da União aos pleitos locais. “Quero ser o embaixador de Goiás no governo federal, para trazermos o máximo possível de investimentos”, resume, acreditando que pode juntar até 12 deputados para atuar juntos pelo projeto governista.
Um de seus objetivos é atuar como ponte entre dois adversários, representantes de polos opostos que hoje se mostram mais moderados: Lula e Ronaldo Caiado (União Brasil). Reconhecendo a oposição “ferrenha” que o governador de Goiás já fez ao PT, Rubens Otoni tece um comentário importante sobre ele: “Caiado sempre foi muito respeitoso e muito correto na maneira de trabalhar. E é a forma que o PT trabalha também.”
O sr. é um dos fundadores do PT em Goiás e chega agora a sua sexta legislatura em Brasília. Como fica o ânimo após tanto tempo de trabalho?
Há razão em fazer essa pergunta. Depois de chegar ao sexto mandato de deputado federal, o questionamento é se tem alguma novidade que possa motivar o trabalho. O que posso dizer é que, nesta altura da carreira, estou mais animado do que nunca para representar o Estado de Goiás em Brasília. Falo isso exatamente pelo momento político que estamos vivendo no Brasil. Vejo que hoje há um grande desafio, uma imensa responsabilidade: colocar a política no lugar em que ela deve estar. Política não é lugar para incentivo à violência, ao ódio, à intolerância, ao preconceito. Ao contrário, a política é o espaço do diálogo, da mediação, da negociação e do respeito àqueles que pensam diferente na busca de soluções para os problemas da sociedade.
Meu objetivo é trabalhar em harmonia com as lideranças dos mais diversos partidos e de maneira especial com os Poderes constituídos. Quero ser o embaixador de Goiás no governo federal para trazermos o máximo possível de investimentos e, com isso, melhorar a vida de nosso povo. Vejo que, neste próximo mandato, temos esta missão: retomar a política para seu leito natural. E, por isso, estou muito motivado e assumindo com muito ânimo essa responsabilidade de ajudar nessa grande tarefa.

Justamente pelo grande desafio à frente, precisávamos de uma liderança como Lula, forjado nas articulações políticas
O presidente Lula diz praticamente a mesma coisa: faz questão de se mostrar forte, inclusive fisicamente, e várias vezes externou que se sente como se tivesse 30 anos. E, de fato, se vê que ele tem empenhado muita energia em suas primeiras ações, a despeito do cenário anômalo que vivemos. A decisão de demitir o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, após menos de três semanas de governo mostra a que ele veio, que não está a passeio na Presidência da República. Acredita que Lula, como conciliador e negociador que é, vá mesmo conseguir trazer essa política desse momento tão atípico e ruim de volta para seu “leito natural”, como o sr. diz?
É um grande desafio, como eu falei. E eu dizia durante a campanha que, justamente por termos esse grande desafio pela frente, é que precisávamos de uma liderança como Lula, forjado nas articulações políticas, na busca do entendimento e na superação de grandes questões. Em maio de 2021, quando o nome dele estava começando a se colocar bem para a Presidência da República, as pessoas questionavam se isso seria interessante ou não, porque ele poderia ser candidato, ganhar, mas ser presidente e não conseguir fazer o que fez quando de seus dois mandatos anteriores. Foi então que ele me falou uma coisa que não esqueço: “Rubens, você acha que, depois de tudo que eu passei e enfrentei, eu voltaria a ser presidente para fazer menos do que eu já fiz?”, ele me disse, para completar. “Eu estou voltando porque me sinto preparado para assumir esse desafio, se os problemas são maiores, eu também tenho mais experiência do que eu tinha.”
É isso que eu enxergo em Lula, um presidente preparado, forjado na luta e pronto para o desafio que já está enfrentando. E as primeiras ações, como você mesmo mencionou, já mostram a que ele veio: para servir à comunidade, ao povo, principalmente para servir aos mais necessitados. Basta ver que, neste início de governo, mesmo com toda essa conturbação, ele já esteve no interior de São Paulo, visitando populações que estavam enfrentando o drama das enchentes [no domingo, 8, Lula esteve em Araraquara, município paulista que foi atingido por fortes chuvas]; já criou as condições para um Bolsa Família que valha 600 reais, para atender às famílias mais carentes e sinalizou que já em março haverá mais 150 reais para as que tiverem filhos até 6 anos; da mesma forma, esteve na semana passada na Amazônia, em Roraima, para verificar as condições dos indígenas da tribo Yanomâmi, dando uma mensagem positiva não só para os brasileiros, mas também para a comunidade internacional. Além disso, Lula já está viajando, construindo conversas com diversos líderes, foi à Argentina e ao Uruguai, retomando o protagonismo que o Brasil tinha no mundo todo. Há uma disposição muito grande dele ao trabalho e posso dizer que sinto o mesmo, como deputado federal, para fazer o melhor nesta grande tarefa nacional, mas também contribuir para o desenvolvimento econômico e social de Goiás.
Na verdade, há até algo contido em falar que este começo de governo está sendo um período conturbado. Na verdade, o País está conturbado desde 2018, quando Bolsonaro foi eleito. Lula enfrenta uma circunstância muito diferente daquele que encontrou há 20 anos, em 2003, a despeito da crise cambial, da ameaça de volta da inflação à época, entre outros problemas. Agora, há um cenário do que poderíamos chamar de uma grande desinstitucionalização. As instituições precisam ser reconstruídas. E a que preocupa mais, no momento, são as Forças Armadas. O sr. acredita que a condução desse processo tem sido satisfatória? O governo federal está lidando de forma adequada com esse poder à parte que ganharam novamente os militares?
Isso diz respeito ao que eu disse no começo: é preciso colocar a política no lugar em que ela deve estar. É preciso que volte o respeito, que se garanta a harmonia entre os três Poderes e que se garanta o espaço de cada instituição. É a política que faz esse trabalho. Em meu ponto de vista, Lula está avançando e já tomou medidas importantes que já sinalizaram para o rumo certo. As Forças Armadas têm papel importantíssimo no País e nós queremos garantir a elas todas as condições para que ela o cumpra. Mas é preciso que elas façam isso do lugar delas. Cada um em seu lugar, isso vale para todos. O presidente Lula já deu o recado: ele é o comandante-maior das Forças Armadas. E é um recado de quem quer trabalhar em harmonia. Precisamos superar este momento delicado que estamos vivendo no Brasil, em que houve um grande desmonte de nossas políticas públicas. A verdade é esta: vejamos o exemplo do Estado de Goiás. Nós tínhamos, no Brasil e aqui, o programa Minha Casa Minha Vida, que ajudava de maneira enorme a garantir moradias populares para famílias de baixa renda, de três salários mínimos para baixo. Nos últimos quatro anos, quantas dessas famílias receberam casa popular? Praticamente nenhuma. Nos governos Lula e Dilma [período de 2003 a 2016], criamos só em Goiás mais de 50 mil moradias. Esse programa foi praticamente desativado, criaram outra coisa, com outra visão, construíam casa para quem ganha de dez salários para cima. E para quem ganha até três salários?
Outra questão, sobre a agricultura familiar, que tem tudo a ver com nosso Estado. Se em nossos governos demos toda a atenção ao agronegócio – que nunca foram tão bem quanto com Lula e Dilma –, também nunca nos esquecemos do pequeno produtor. Garantimos o espaço para o agronegócio produzir para exportação, mas também criamos as condições para o pequeno produtor trabalhar a parte do alimento que vai para nossa mesa, porque é esse pequeno produtor que garante mais de 70% do que vai para nossa casa, que está na feira, que você compra. Essa estrutura da agricultura familiar foi desmontada, não tem mais apoio ao pequeno produtor. É outra questão que vai ter de ser trabalhada, para garantir todos os recursos necessários.
Na área da educação, temos inúmeras creches com obras paralisadas. Estou lançando um programa, dentro de nosso mandato como deputado federal, chamado Reconstrução em Goiás, de modo a contribuir com o governo federal em nosso Estado.

Vamos buscar mais recursos e novos investimentos para o Estado de Goiás
E em que consiste esse programa?
Nós queremos contribuir com a retomada das obras inacabadas do governo federal em Goiás. Há um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) em que constam mais de mil obras nessa situação, apenas da esfera federal. E, pasme, mais de 50% delas não estão apenas inacabadas, mas também paralisadas. Então, por meio desse projeto, queremos retomar essas obras e, assim, recuperar o investimento público, para não perder esse dinheiro. Ao mesmo tempo, vamos buscar mais recursos e novos investimentos para o Estado de Goiás.
A partir desse relatório do TCU, o que mais o sr. conseguiu vislumbrar sobre as obras da União em Goiás?
Eu fiz uma checagem com a realidade dos fatos. Na verdade, isso ainda está em processo, porque ainda não demos conta de verificar todos os 246 municípios do Estado. Porém, já fizemos contato com pelo menos 50 cidades e, apenas nelas, percebemos mais de cem obras que não constavam no relatório, talvez nem por falha do TCU, mas pela dinâmica do documento. Por exemplo, as obras relativas à moradia parecem estar todas afetas à Caixa Econômica Federal. Ou seja, quando se puxa na Caixa o extrato dos projetos de moradia que ainda não foram concluídos, aparecem dezenas, que, então, vão ser incorporados a essa lista do TCU. Pelo projeto que lancei, estou atualizando esse relatório, fazendo contato com prefeituras e câmaras municipais, de modo a fazer uma vistoria dessas obras, verificar de fato o estágio em que se encontram, se há algum impasse jurídico, se tem problema de licitação ou se a questão é financeira. Enfim, queremos descobrir o que está acontecendo e criar condições para que cada obra seja retomada e entregue à população.
Evidentemente, é um trabalho que não vou dispor dos quatro anos do mandato, é algo para ser feito no primeiro ano, para ajudar o governo federal. Ao mesmo tempo, estou contatando municípios e recebendo sugestões de outros investimentos que possam ser feitos para colaborar no desenvolvimento de determinada região ou de determinado município. É algo que quero fazer já no início de meu mandato e que quero fazer em sintonia com o governo federal.
Muitas dessas obras são feitas em parceria. Aqui em Goiânia temos o caso do BRT Norte-Sul, que tem recursos federais e municipais. Nesse caso, para citar um exemplo, o sr. tem ideia de como está a situação?
Estamos iniciando esse trabalho agora – aliás, a ideia era que tudo fosse lançado em 1º de fevereiro, que é quando começa o novo mandato, mas a urgência faz com que já façamos um adiantamento. Eu já tive a oportunidade de fazer uma visita ao governo do Estado, no sentido de me colocar à disposição de trabalhar em conjunto para a solução de desafios. Vou fazer também uma visita ao prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), a quem já visitei no ano passado, visando essa pauta específica do levantamento de obras inacabadas, para ver em que posso ajudar para agilizar o processo. Meu desafio é resolver o encaminhamento dessas obras já no primeiro ano para que, depois, trabalhemos em obras com novas ideias e novos investimentos.

Caiado sempre foi muito respeitoso e correto na maneira de trabalhar
Como está a relação do PT goiano com o governador Ronaldo Caiado, que sempre fez oposição histórica e ferrenha ao partido e aos governos de Lula e Dilma? No Executivo, parece que há um Caiado bem mais moderado do que aquele da atuação parlamentar. O sr. acredita em uma aproximação entre o presidente e o governador, ainda que de forma administrativa?
De maneira institucional, administrativa, a chance de que ocorra uma aproximação entre o presidente e o governador é de 100%. Até porque ambos – Lula e Caiado – amadureceram muito após chegar ao Executivo, perceberam o quanto é importante esse diálogo. Sou testemunha e posso falar com tranquilidade, porque convivi com Ronaldo Caiado como deputado federal, com ele fazendo uma oposição ferrenha na Câmara a nosso governo. Mas preciso ressaltar: ele sempre foi muito respeitoso e muito correto na maneira de trabalhar. Nunca deixou dúvida sobre suas posições. É o jeito com que o PT trabalha também, a gente faz oposição, mas sempre procura ser correto, sem ação conspiratória, mas com a visão de quem defende de maneira legítima seus pensamentos, ainda que outras pessoas não concordem com isso.
Convivi muito bem com Ronaldo na Câmara dos Deputados e tive oportunidade de fazer trabalhos importantes juntamente com ele – como parceiro, por exemplo, na reforma política. Nunca tive dificuldade de trabalhar com ele e não terei agora, ainda mais tendo ele a experiência de executivo, percebendo a importância das parcerias e alianças. Já sinalizei a ele e já disse ao vice-governador Daniel Vilela (MDB) sobre minha disposição de trabalhar em conjunto para fazer, de minha parte, essa ligação com o governo federal, para que Goiás e seu governo sejam contemplados e tenhamos acesso a todas as políticas e todos os recursos possíveis para podermos atender a nossa comunidade.
O sr. já chegou a conversar com o governador este ano?
Eu ainda não o visitei ainda, até em respeito à situação de saúde dele. Mas já conversamos após a eleição do presidente Lula e senti em Caiado toda a disposição de fazer esse trabalho integrado. Da mesma forma, o presidente também tem a mesma vontade, todos sabem como ele dialoga com todo mundo, independentemente de partido político. Claro, diferenças políticas e partidárias existem, quando chegar a hora do processo eleitoral muito possivelmente cada um estará em um campo diferente do outro, mas isso não é problema. Isso não impede a gente de fazer o melhor pela comunidade. É assim que eu sempre trabalhei e não é por acaso que sou o único dos 17 deputados de Goiás que tem seis mandatos em Brasília. Por quê? Porque sempre trabalhei de maneira respeitosa. Além da questão dos partidos, não tem um município goiano sequer que eu não tenha ajudado por conta de o prefeito ser do partido A, B ou C. O governo de Goiás sempre teve minha parceria, independentemente de quem estivesse no cargo. Quando vem o período eleitoral, é legítimo de cada parte defender seu projeto. Isso é ter maturidade e vamos desenvolver isso, vejo que não haverá dificuldade.
O mesmo serve para as prefeituras, também. Estou em Anápolis, onde quem ganhou a prefeitura fez isso em uma disputa conosco [Roberto Naves (pP) foi reeleito vencendo o deputado estadual e ex-prefeito Antônio Gomide (PT)]. Nós respeitamos o resultado e me coloquei à disposição para ajudá-lo. O prefeito sabe disso. Assim, da mesma forma, vale para todo o Estado de Goiás. Temos o pensamento de trabalhar em harmonia com todos os que queiram o bem da comunidade.
Acabar com essa tensão dos últimos quatro anos interessa aos parlamentares também
E sobre a “maturidade” da nova bancada goiana em Brasília? Há alguns nomes eleitos que se postam de forma bem radical. Como o sr. vê o todo dessa bancada, da qual 80% de integrantes teriam, ideologicamente falando, uma oposição natural ao governo do PT? Com quantos votos Lula pode contar?
Ainda é cedo para fazer uma análise mais precisa, porque a nova legislatura assume em 1º de fevereiro e por volta do dia 15 começam de fato os trabalhos. Então, creio que teremos as primeiras votações apenas na primeira quinzena de março. Então, aí poderemos perceber com quem poderemos contar. Em um momento inicial, eu diria que, por nossa análise, dos 17 deputados federais, poderíamos ter mais da metade % deles na base. Ora, se sairmos de 20% para mais de 50% já é um avanço muito grande. Estou empenhado por essa governabilidade, no entendimento com os colegas para que pensem no melhor para o País, inclusive para colocarmos a política no lugar em que ela deve estar, como já dissemos. Acabar com essa tensão permanente dos últimos quatro anos interessa aos parlamentares também. Estou trabalhando com a possibilidade de termos de 10 a 12 parlamentares de Goiás na Câmara para dar seu apoio às votações para o Executivo federal.
Temos em Goiás alguns parlamentares que são bolsonaristas radicais e que foram eleitos com esse sentimento antipolítica. O próprio eleitorado deles exige esse tipo de comportamento. Talvez seja cedo para falar sobre isso, mas como o sr. vislumbra o destino desse tipo de político, agora que tudo, parece, tende a voltar ao trânsito convencional?
Temos de dar tempo ao tempo para saber até quando esse tipo de política sobreviverá na sociedade brasileira. Penso que a tendência é terem um espaço menor do que no último período. Não diria que vá acabar, que não terá espaço para esse pessoal, mas creio que esse espaço vai diminuir consideravelmente. De minha parte, não terão o combustível para incentivar essa ação, não vou fazer esse enfrentamento. Terão meu respeito do ponto de vista democrático, sempre soube e saberei conviver com quem pensa diferente. Vamos, no entanto, construir o projeto com quem quiser construí-lo. Se tivermos os 17 deputados federais de Goiás trabalhando em harmonia com isso, será ótimo; mas, se tivermos 15, 10 ou 5, será com esses que vamos estar juntos.

O Estado nunca recebeu tantos investimentos federais como naquelas gestões [de Lula e Dilma]
Temos experiência com isso, porque nos governos de Lula e Dilma fizemos trabalhos importantes em Goiás. O Estado nunca recebeu tantos investimentos federais como naquelas gestões, porque havia uma maturidade da bancada em Brasília para atuarem de maneira integrada. Eram parlamentares de partidos diferentes, mas que estavam juntos para obter resultados. Não fosse isso, será que conseguiríamos duplicar a BR-060 de Goiânia a Jataí em apenas três anos? Conseguimos porque foi um trabalho de muitas mãos, inteligente e de unificação, pensando no bem do Estado, independentemente de posição partidária. Eu acho que é possível repetir isso, com respeito e sintonizados em algumas ações. Em vez de criar dificuldades e problemas, contribuir com o governo e assim facilitar a busca de recursos e investimentos para Goiás.
Nesse caminho de tentar juntar todos, inclusive governadores, a discussão e aprovação da reforma tributária pode ser uma espécie de amálgama?
Com certeza. A reforma tributária é fundamental para fazer justiça tributária. Quando se fala nesse tema, pensam que o governo quer arrecadar mais. É verdade, a questão tributária tem como motivação isso mesmo, para melhorar a execução das políticas públicas. Só que aqui no Brasil temos um desafio a mais: fazer arrecadação com justiça. É inadmissível que o pequeno contribuinte pague, proporcionalmente, mais do que os milionários. E, para resolver isso, é preciso haver um acordo em vários pontos, de modo que, por exemplo, a tributação não privilegie o governo federal em detrimento dos Estados e dos municípios, não seria justo – como não está sendo. É outro trabalho que precisa ser feito a muitas mãos, com harmonia, sintonia e articulação. O ministro [da Fazenda, Fernando] Haddad tem trabalhado bastante e quer apresentar, já até o meio do ano, uma proposta sintonizada com os entes federados, uma reforma tributária que atenda a todas as esferas do Executivo e nos traga um formato que haja justiça no pagamento dos impostos e no qual quem ganha mais pague mais e quem ganhe menos pague menos ou, eventualmente, até nem pague, que seja isento e receba as devidas políticas públicas.
As eleições municipais parecem ainda longínquas, mas são no segundo semestre de 2024. Estamos a pouco mais de um ano e meio das urnas. O PT já esteve no poder em Goiânia por três vezes, bem como também já ocupou a cadeira principal em Anápolis. O quadro atual parece complicado para as esquerdas em todo o Estado. Qual é o plano do partido para as disputas?
Preparar para 2024 é o grande desafio. Em Goiás, o PT precisa recuperar espaços institucionais importantes que já teve. Como você observou, já governamos Goiânia e Anápolis, já esteve à frente de Valparaíso, Goiás e dezenas de outras cidades do Estado, bem como foi vice em Aparecida de Goiânia e Luziânia. Nosso objetivo, obviamente, é buscar voltar a ocupar espaços. É natural que a capital e Anápolis sejam referência para a organização do Partido dos Trabalhadores, até como estímulo para o trabalho em outras regiões. Portanto, vejo como natural que cheguemos a 2024 com candidaturas viáveis tanto nas duas cidades, para ganhar as eleições e também se tornarem essas referências para motivação e organização à disputa nos municípios do interior e em suas câmaras municipais.
Ambos [Adriana Accorsi Edward Madureira] têm potencial para ganhar e fazer uma grande gestão em Goiânia
O PT pode bancar para Goiânia o ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Edward Madureira?
Em Goiânia temos vários nomes à altura para a disputa. A deputada Adriana Accorsi é o nome que está na linha de frente por ter dois mandatos no Legislativo estadual e agora estar indo para Brasília, na Câmara Federal, além de já ter concorrido duas vezes para a Prefeitura da capital. É um ótimo quadro para enfrentar o processo. O professor Edward teve um desempenho extraordinário nas eleições de 2014 para deputado federal, ficando como primeiro suplente, e agora nesta, novamente, mesmo com todas as dificuldades do pleito, se posicionou muito bem e outra vez é o primeiro suplente. Queremos vê-lo assumindo a vaga de deputado, mas é um nome que tem todas as condições para a disputa municipal, tem experiência de gestão e com relacionamentos não só dentro do PT, mas em toda a sociedade. Ambos não apenas nos representariam com uma eventual candidatura, mas têm potencial para ganhar e fazer uma grande gestão em Goiânia.
O ex-deputado Luis Cesar Bueno pode assumir a Sudeco [Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste], há essa possibilidade?
O Partido dos Trabalhadores em Goiás fez uma lista de sugestões para o diretório nacional, com lideranças que têm condição de desenvolver alguma tarefa e contribuir com o governo federal, entre pessoas que estejam disponíveis, obviamente. Luis Cesar Bueno está entre esses nomes, é um quadro que tem muita experiência e que deixaria Goiás muito bem representado em qualquer missão do governo federal, como, por exemplo, a direção da Sudeco.
E como fica o Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] em Goiás? Estão cogitados os nomes dos professores Antônio Caldas, da PUC [Pontifícia Universidade Católica de Goiás], e Yussef Campos, da UFG. O sr. preferiria algum dos dois, ou seria outro nome?
É preciso entender como esses cargos são definidos. Aqui em Goiás, esse processo sempre se deu com a base do governo federal no Estado, entre os parlamentares. Então, depende de quem, nessa harmonia que queremos construir, faça a indicação desse nome. Não quer dizer que eu vá participar disso. Em outra ocasião, quando tive a oportunidade de indicar, me tocou fazer uma para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. O governo federal geralmente deixa para a bancada de apoio no Estado essa discussão. No PT, há várias sugestões de nomes, seja para o Iphan ou outros postos. O momento é de discussão é para Brasília
É bom lembrar que já temos, do partido, Olavo Noleto como secretário-executivo de Relações Institucionais, e que ele tem junto a ele Sérgio Alberto Dias, o Serjão, como seu chefe de gabinete, bem como o [advogado] Zé do Carmo. As definições que estão sendo tratadas agora visam ocupar os espaços em Brasília. Os cargos nos Estados, como é o caso do Iphan em Goiás, devem ser definidos em março, e podem ficar com o PT ou com qualquer outro partido aliado.