Pedro Sales: “Goiás tem políticas habitacionais sem paralelo no Brasil”
11 dezembro 2023 às 18h57
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Bárbara Noleto, Elder Dias e Italo Wolff
À frente da Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinfra), Pedro Sales é responsável pelas políticas de habitação, transporte e saneamento e é um dos principais homens de confiança do governador Ronaldo Caiado (UB). Nomeado em fevereiro de 2023 pelo governador, Sales é o responsável por formular, executar e monitorar os recursos destinados à Infraestrutura — um dos principais cargos no Executivo do estado.
Advogado, especialista em direito tributário e mestre em direito constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público; o secretário já esteve à frente de outras secretarias e órgãos estaduais, como a Secretaria de Estado da Administração (Sead), a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego), a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), a Agência Goiana de Habitação (Agehab) e o conselho fiscal da Saneago. Criada neste ano, a Seinfra é a organização administrativa e contábil para a implementação do Fundo de Infraestrutura (Fundeinfra), uma contribuição de segmentos do agronegócio para custear obras de melhoria da malha viária estadual.
Em entrevista ao Jornal Opção, Pedro Sales conta detalhes sobre as tecnologias chinesas apresentadas durante a missão do Estado de Goiás na China. Ele também apresenta obras e planos da Seinfra em todo o Estado nas áreas de saneamento, habitação social, fontes de energia limpa, internet de qualidade para a educação básica, malhas rodoviárias, investimentos, recursos. Pedro Sales comenta ainda a atual relação do Governo Estadual com o Governo Federal, e suas perspectivas políticas para o futuro.
Italo Wolff – Quais foram os resultados da missão goiana à China?
A viagem à China foi muito proveitosa. No tocante à captação de novos investimentos para o Estado, o Governador Caiado assinou dois protocolos. O primeiro com a Chint Power, uma empresa focada em matrizes energéticas limpas que tem o interesse de trazer para Goiás um equipamento de leitura inteligente de água e luz; a gente pode revolucionar esse setor. O segundo protocolo com a Weichai Group, que é uma fábrica de motores. Ambas têm expectativa de se instalarem em Itumbiara, em parceria com a Stemac, que é uma fábrica de geradores.
O Governador também visitou grandes fornecedores chineses que têm parcerias com o Governo do Estado, como a Semoc, onde teve a oportunidade de tratar da expansão dos investimentos da mineração chinesa na cidade de Catalão. Visitou a Huawei, que agora vai trazer o wi-fi 6 para a Secretária de Educação, nossos alunos vão ter acesso a tecnologia de wi-fi que é líder mundial. E visitou a BYD, tivemos seis ônibus elétricos adquiridos para o transporte coletivo metropolitano. Existe o interesse de expandir para muito mais veículos, a depender da análise de performance desses ônibus. E a expectativa é a melhor possível.
No campo educacional, fechamos um convênio com a universidade de Pequim, que vai receber estudantes goianos para cursos na área das mudanças climáticas. É uma oportunidade para os estudantes goianos criarem relações com os estudantes chineses em uma das mais reconhecidas instituições de ensino do mundo, estudando sobre essa importante temática. Então, foi uma viagem baseada em situações concretas da vida cotidiana do Estado de Goiás, aquilo que está sendo vivido pelo cidadão goiano. É muito importante, porque está abrindo oportunidades novas e colocando Goiás no mapa dos Estados parceiros de grandes empresas chinesas.
Elder Dias – Entre essas empresas, parece que alguma vai fornecer um serviço para toda a América do Sul, você pode me explicar melhor?
A Weichai [Group] é uma Líder mundial em geração de energia limpa e ela está vindo para Goiás para um corte específico da operação dela, que é relacionado à produção desses equipamentos de leitura inteligente de luz e água, mas uma vez instalada, ela tem interesse de ampliar aquilo que ela tão bem executa na China, que é a tecnologia de matrizes energéticas para toda a América do Sul. E o que vai acontecer, agora que tivemos a oportunidade de observar? As novas tecnologias estão demandando fontes de energia alternativas, energia solar e tal. Então quando você observa no mundo os países que vão aderindo essas novas tecnologias, eles vão abrindo uma segunda onda de mudanças de matrizes energéticas. E aí a China viveu muito bem esse processo e pretende liderar no mundo, né? Tem uma liderança global nessa questão da energia. E a Chint [Power] vem com um objetivo específico, que é o maquinário, mas ela talvez seja uma das que mais tem potencial para que depois venha a impactar todo o nosso continente com a expansão das placas solares, material para bateria, novos tipos de baterias, então estão olhando com muita atenção essa vinda deles para o Brasil. Até porque, tem um produto que já tem uma demanda, pode ser uma outra oportunidade também. Mas eles estão atentos ao fato de que o mercado brasileiro vive essa transformação. Nós estamos aí, começando a aquisição de ônibus elétricos, temos em Goiânia revendas de carros elétricos. Pela primeira vez na América Latina, a concessionária da Sara em Brasília, teve um carro elétrico como o mais vendido do mês. Então é muito perceptível que quem mexe com essa questão da energia também esteja capturando esse momento e vendo no Brasil essa grande oportunidade, e os chineses são grandes líderes nesse segmento.
Bárbara Noleto – E na área da infraestrutura, teve algo que chamou sua atenção?
Estamos em diálogo com uma empresa chamada Crec4, ela tem uma tecnologia totalmente diferente de montagem de habitação de interesse social por módulos, as casinhas são montadas por encaixes modulares e cimentados, uma espécie de pré-moldado. E aí eles desejam estabelecer uma parceria com uma empresa goiana, para mandar isso por navio, e aqui a empresa montar as peças modulares. Então ela precisa encontrar no Brasil um parceiro local para trazer essa tecnologia de construção de habitações e quer que esse parceiro monte o projeto e venda essas casas ou se insira nos programas habitacionais estaduais e federais, como o Minha Casa Minha Vida ou o nosso Casa a Custo Zero, já fizemos uma reunião com dois empresários goianos e está em fase de avaliação.
Italo Wolff – Ainda sobre habitação, eu queria que o senhor fizesse um balanço do programa Para Ter Onde Morar, que foi lançado quando o senhor estava na Agehab. Eu estive olhando os dados, mais de 6.000 estruturas desde 2019, como que o senhor avalia o impacto dele?
Eu vejo da seguinte forma, o governo tem obtido um destaque nacional em relação a segurança pública, é visível nas estatísticas; tem se destacado na educação pública, pelos resultados que teve no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb); teve uma vitória gigante na saúde que é a regionalização dos atendimentos de saúde no Estado. Ainda assim, eu colocaria no pódio, fazendo fileira com essas grandes atuações, a pasta de habitação. O governo do Estado de Goiás tem uma diversificação de políticas habitacionais que não tem paralelo no Brasil. É o único Estado que tem um programa inibitório do crescimento do déficit habitacional quando ele paga o aluguel social. Ele também é o único que entrega casas a custo zero no Brasil. Quando você vê casa a custo zero, fora de Goiás, é porque provavelmente aconteceu uma situação de calamidade, algum desmoronamento ou tragédia. Esses dias eu vi a rede social do Governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, ele estava entregando casas no litoral paulista, para populações vitimadas pela tragédia que perderam suas residências.
Aqui no Estado de Goiás não é uma ação episódica, é entregue em larga escala, nós vamos tentar e vamos conseguir 10.000 casas a custo zero. Nós temos também, e pouca gente divulga, o maior subsídio habitacional do Brasil, o Estado dá 45 mil reais para programas habitacionais em parceria com o governo federal. Pro sujeito adquirir uma casa no Minha Casa Minha Vida, ou qualquer outro programa do governo federal, normalmente é a entrada do imóvel. O que faz com que famílias de baixa renda, que tem até uma renda que suporte a prestação, mas não tem como entrar naquele financiamento, conseguem através do programa de crédito. A Agehab dá 45 mil reais e elimina ali a entrada do valor do imóvel. Então você percebe que é uma gama de programas que estão acontecendo. Quando você vai no entorno do distrito federal, fica difícil ver um empreendimento da Caixa Econômica que não tenha também a Agehab como parceira, fazendo com famílias que estavam totalmente fora de uma condição do mercado tenham a condição de ter uma casa própria. Temos a nossa Casa a Custo Zero, hoje eu estava num sorteio de casa na cidade de Buriti, ainda nessa semana eu estive em Pontalina também. Então temos a habitação conseguindo resultados fantásticos e essa parceria com o Presidente Alexandre Baldy foi fenomenal, ele tem feito uma grande condução da Agehab. E através da sua articulação política, aumentou exponencialmente o número de residências de faixa um que o Estado de Goiás vai receber. Isso aí é prestígio político dele e do Governador, e nós vamos conseguir grandes resultados na habitação.
Italo Wolff – Foi anunciado no PAC de Goiás que ele vai ter três principais eixos, né? O BRT, o Cora e o Minha Casa Minha Vida. Eu queria saber como funciona, a secretaria tem participação?
É o seguinte, quando você abre o chamamento do Minha Casa Minha Vida e o empreendedor recebe uma oportunidade na capital, para ter um financiamento para um empreendimento de 200 unidades, ele se cadastra na Caixa Econômica Federal, obtém ali o seu financiamento, aí ele procura a Agehab para que seja aplicado esse subsídio em cima desse valor já incentivado. E aí a gente consegue alcançar famílias com prestações de imóveis de 200 reais, 150 reais, esse valor seria 10 vezes maior numa situação de mercado sem nenhum tipo de subsídio, federal ou estadual. Então a Agehab busca se consorciar com os empreendedores que obtiveram análises favoráveis para aquele empreendimento no Minha Casa Minha Vida. Inclusive encaminhamos para a Assembleia um projeto na semana passada, que é para criar o Faixa Zero. Com esse projeto nós podemos aumentar o nosso subsídio até zerar o valor do imóvel. Ou seja, nós vamos adquirir o imóvel do Minha Casa Minha Vida para o governo estadual distribuir a custo zero para a população.
Elder Dias – E o Fundeinfra? A situação ficou pacificada com a classe? Porque eles não gostaram nem um pouco, tanto é que a gente viu a batalha que foi. E é ao mesmo tempo a base do Governador, é como se ela tivesse se sentido traída, como ficou isso politicamente?
Eu diria que a base do Governador hoje, pela forma como ele governou, são sete milhões e duzentos mil goianos. Ele teve destaque na área social, habitacional, educacional. Entretanto, de fato, ele teve sua origem no setor rural. Bom, nenhum segmento da sociedade fica feliz de ser chamado a pagar tributos, né? Isso é normal, mas na medida que viram os recursos sendo bem empregados, compreendem. São três obras já iniciadas, outras tantas em licitação, e mais outras em fase de projeto executivo. Acho que a sociedade vai vendo gradativamente uma prestação de contas daquele recurso e vai encarando de uma forma menos hostil, entendendo que ali tem sim uma contraprestação importante para a sociedade, para o bem comum e para o desenvolvimento do Estado. E isso vai gerando um apaziguamento dos ânimos, eu acredito nisso.
Italo Wolff – Tem 44 obras já aprovadas pelo conselho, elas já têm data para começar?
São 44 situações peculiares, únicas e diferentes. Tem uma que já acabou, que é a GO-080 entre Barro Alto e Goianésia, uma obra importante para o setor da mineração. Tem outra que começou, a GO-040 que vai do Distrito de São Domingos até Bom Jesus. Outra em curso, em Doverlândia, obra do setor de grãos. Aí tem mais uma que tá na iminência de começar, obra de Cristalina até a divisa com Minas Gerais. E outras tantas que ainda nem começou, está contratando o projeto executivo, então quer dizer que só vai entrar no trecho daqui um ano. Elas estão em diferentes estágios.
Bárbara Noleto – E como é decidido o que é prioridade, entre essas obras já aprovadas?
É decidido o que é prioridade pela votação dos conselheiros. Os conselheiros definem o que é prioridade e a partir dali você tem um trâmite administrativo. Não tem “ah, isso aqui vai ser primeiro que essa”. Não, vai contratar o projeto e a obra, aquela que andas administrativamente à frente da outra vai passar. Você tem projetos mais simples e projetos mais complicados, você tem fornecedores mais eficientes que outros, as coisas acabam formando uma fila natural da marcha administrativa. A gente quer que tudo fique pronto para ontem, se possível.
Bárbara Noleto – Sobre o Pacto Nacional pela Retomada de Obras da Educação Básica, são seis unidades em diferentes cidades: Cavalcante, Porangatu, Minaçu, Nerópolis, Piracanjuba e Faina. Você pode falar mais sobre a questão dos recursos federais? Parece que tem algum tipo de empecilho aqui. E o que está sendo feito sobre isso?
Primeiro é importante entender a origem desse problema, são obras decorrentes de repasses federais do passado, alguns de mais de dez anos atrás, para a construção de colégios para as crianças da educação básica. Não teve nada a ver com o Estado, mas tem tudo a ver a partir do momento em que o Estado pode ser um agente que contribua para desembaraçar os entraves dessas obras. Eram obras de convênios da união com o município, os recursos não foram bem aplicados, ou foram aplicados de forma mal coordenada e geraram paralisações nas obras. Para que o Governo Federal possa voltar com essas obras é preciso um levantamento técnico da situação delas e um responsável técnico que se responsabilize pelas declarações e informações. Só então o Governo Federal pode retomar aqueles investimentos. As municipalidades onde estão essas obras não tem condição de fazer esses levantamentos e esses projetos para possibilitar a continuação. Então o que foi feito? Com toda a equipe técnica, viajamos esses municípios, foi feita toda a análise dessas obras, o preenchimento de toda a documentação que o Governo Federal precisa, cadastrou nas plataformas no ministério e colocou o Governo Federal em situação de total aptidão a voltar a estabelecer esses repasses para retornar essas obras. Então esse foi um papel fundamental, porque o que a gente tem de mais precioso na vida pública é um recurso dos outros. (risos) É sempre bom, se puder vir de uma outra esfera Federativa que você não onera o seu próprio contribuinte tanto quanto melhor. Então o Estado de Goiás podendo se beneficiar com recursos da união é muito importante. Podemos então ajudar e favorecer com que recursos do Tesouro Federal voltem a ser aportados em nosso Estado. Ainda mais nessas situações, onde esses investimentos estariam perdidos.
Bárbara Noleto – E como você descreveria a relação do Governo Estadual com o Governo Federal?
A relação é profissional. Eu tenho todas as críticas do mundo ao Presidente e ao partido dos trabalhadores, mas [o Lula] é um político que está sendo Presidente pela terceira vez, nós temos também um político muito experiente. Sou suspeito para falar, para mim o melhor político do Brasil é o nosso Governador, Ronaldo Caiado. Então eles têm tudo para ter uma relação profissional, ou seja, dentro das características da constituição, das leis. É natural que o Presidente busque a defesa da União e que o Governador busque a defesa do Estado de Goiás. São políticos experientes que têm grande vivência na política e que sabem, muito bem, fazer a defesa dos seus interesses na posição que ocupam dentro da federação. No campo político, o Presidente tem a história de vida dele, as diretrizes dele e o Governador está a quase 40 anos se posicionando com firmeza. Ele é peculiar em vários sentidos, tanto que é adversário deles. Porém, o campo político e o campo administrativo, dado até o caráter profissional com que ambos têm se conduzido, são campos muito bem separados. Nenhum dos dois, no meu ponto de vista, permite que a sua divergência política traga qualquer tipo de prejuízo para as instituições que cada um representa.
Italo Wolff – Em outubro a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Semad) apresentou uma proposta para a regionalização do saneamento básico. O senhor pode explicar como funciona isso?
A questão do saneamento básico, na definição da política pública ficou a cargo da secretaria e a questão dos resíduos sólidos com a Semad. A regionalização do saneamento é uma consequência da nova dinâmica imposta aos Estados pelo novo Marco legal do saneamento. Então dividimos o nosso Estado em três microrregiões, cada microrregião dessa forma um colegiado e a sua modelagem de governantes, de tomada de decisões. Eu sou secretário geral dessas microrregiões. Temos em cada uma delas oito representantes dos municípios, de três dos Estados, e depois uma votação no colegiado de prefeitos integrantes daquela microrregião com o governo. É uma modelagem nova, está ganhando adesão e conhecimento cada vez mais. É natural, isso só se opera com o tempo, à medida que as pessoas vão participar da reunião e conhecer os assuntos que vão ser deliberados lá. O nosso sentimento é que tem sido muito positivo e que todo esse processo ao fim vai redundar em transferir boa parcela da execução dos serviços de esgoto, em cidades estratégicas, à parceiros privados. Junto com a Saneago, que permanece pública e forte, mas terá ali à seu favor a oportunidade de trabalhar conjuntamente com parceiros privados nas obras de expansão.
Italo Wolff – Inclusive, a situação do recurso dos outros, se aplica também no caso da regionalização do saneamento básico?
Na verdade, o beneficiário da regionalização é o município. Veja bem, o Estado está organizando um bloco e equilibrando os majoritários e deficitários para encontrar uma tarifa média. Se ele não fizesse isso, nós teríamos tarifas interessantes em grandes cidades, onde você tem muitas ligações, muita fonte de receita, dá para equilibrar a conta. Mas em pequenas cidades você teria tarifas muito onerosas, onde são muito poucas ligações, que não pagariam ali a infraestrutura investida para poder ter água para tão poucas pessoas. Então a vida para o saneamento básico para Rio Verde é muito fácil e tranquilo, agora, para Aparecida do Rio Doce, para Serranópolis, é complicado por causa da baixa densidade demográfica e demanda razoável, porque as propriedades rurais, em alguns casos, demanda bastante água. E a população constitucionalmente tem o direito de ter coleta de esgoto também, em todas as cidades. Então a gente tenta fazer a regionalização e extrair dela uma inteligência onde quem tem mais ajuda um pouco quem tem menos para que todo mundo tenha uma tarifa média no Estado.
Italo Wolff – E como isso vai funcionar para as empresas privadas?
A empresa privada faz um cálculo de Capex [quanto do capital de uma companhia está comprometido com a aquisição de bens] e OPEX [despesas operacionais], quanto ela tem que investir, qual é a tarifa, qual é o payback [retorno financeiro] dela? No saneamento do Brasil, essa ainda é uma conta que fecha em muitos casos. É isso que os empreendedores têm buscado. O cara acha interessante fazer uma obra de saneamento ali, então é nessas cidades onde você tem a capacidade de alavancagem de recursos. Então vamos expandir para outras cidades onde essa conta é boa. Boa para o particular e para o Estado, porque possibilita ver as obras chegarem à população, esse é o nosso objetivo.
Elder Dias – Em relação ao que era em governos anteriores, como você observa hoje a situação desses contratos e prestações? Digo no ponto de vista de quem quer participar, das empresas, das empreiteiras, houve uma diminuição dessa procura por esses contratos? Parece que mudou, mas em que sentido mudou?
Olha, o Governador sempre exigiu que fossemos claros nas nossas posições e não admitíssemos sobre nenhuma perspectiva ou ocasião que aqueles que acreditaram ou acreditam num Estado e trabalham honestamente sofram qualquer tipo de constrangimento ou comportamentos inadequados. E ele é o primeiro a dar o exemplo disso e exige de todos os colegas, secretários e Presidentes, isso é uma coisa da qual ele não abre mão. Esse é um movimento importante no Estado para que a gente traga ao empresário, seja goiano ou de fora, o sentimento e a certeza de que acreditando no Estado ele não vai ser surpreendido com nenhuma situação que possa colocá-lo numa situação de insegurança ou constrangimento. O país de uma forma geral vive um pouco desse movimento provocado pelos efeitos da operação lava jato e tudo aquilo que se viu e que busca-se modificar. O Estado de Goiás vivenciou isso muito forte com base nessa determinação do nosso Governador. Então a gente precisa encontrar solução para os problemas da vida, dentro da Constituição, das leis, dos decretos e dos contratos. Fora das quatro linhas não há jogo. Então a gente tem que encontrar estímulos, fomentos e incentivos para os nossos empreendedores e fornecedores agindo dentro daquilo que é a legislação. O próprio empresário também quer esse ambiente de estabilidade, com a certeza de que nada vai correr fora daquilo que é pactuado. E com o tempo, o empresário compreende, se adapta e gera desenvolvimento para o país. Então todos preferem esse ambiente.
Italo Wolff – Ainda nesse sentido, a Seinfra elaborou a lei do ambiente de negócios da infraestrutura. Eu queria saber, como é a lei? E como ela modificou o ambiente?
Essa lei é fruto de três anos vivendo o dia-a-dia da Goinfra, e vendo uma série de situações onde as melhores soluções talvez não estivessem positivadas ou previstas em lei. Você está ali numa dinâmica contratual e observa que tal comportamento, ou tal situação cria uma facilidade e uma melhoria da sua atividade, mas aquilo não tem previsto em lei nenhuma. Então nós reunimos algumas dessas situações, inclusive com sugestões de empresários, procuradores de Estado, agentes públicos; consolidamos isso e publicamos. E isso tem ajudado a todos os gestores que têm conduzido obras públicas no meio do Estado.
Italo Wolff – Essas novas regras são muito técnicas, ou o senhor pode dar um exemplo?
Nós colocamos na lei, por exemplo, a fórmula de reequilíbrio econômico e financeiro de contratos, que é aquela questão quando você tem um insumo que sobe demais o preço, ou uma situação como a Pandemia. Como você reequilibra economicamente um contrato mediante a ocorrência de situações imprevistas? Antes esse era um fator de absoluta insegurança, não se tinha ali uma regra para classificar esse tipo de evento e situação. Nós conferimos ao empresário um pré-conhecimento matemático de quanto ele vai receber mediante uma situação dessa, ele não entra perdido. E dá ao gestor o conforto de saber que ele está fazendo um negócio sem ter só tirado da cabeça dele, tem uma lei e tudo mais. Esse é um exemplo e tem vários outros que se somam para gerar um ambiente de segurança jurídica, o que melhora o clima para todos que atuam na infraestrutura.
Italo Wolff – O senhor está falando sobre ampliação de investimentos, nesse contexto fiscal que Goiás se encontra, com redução da arrecadação por conta do ICMS, eu queria saber se existem recursos e mais ainda, se existe espaço para ampliar os investimentos dentro do teto de gastos?
Olha, esse é um dilema dos mais complexos. Primeiro a gente tinha uma previsão financeira muito otimista. Quando entrou o RFF [Regime de Recuperação Fiscal] e obteve a suspensão do pagamento da dívida e foi construída uma política fiscal que restabeleceu a musculatura. A gente tinha um determinado planejamento, aí vieram as alterações na Constituição da Legislação Federal com relação aos impostos federais incidentes sobre combustíveis do Estado, no ano da eleição, às vésperas. Aí lá vai o Estado perder cinco bilhões. Juntou toda aquela força e perdeu e agora uma redução da atividade econômica com juros altos, né? Taxa básica de juros muito alta, redução da atividade econômica, redução de arrecadação de ICMS, assim como foi esse ano. E aí mais um cuidado a ser considerado. Então aumentamos 1% da alíquota modal para recuperar um pouco essa situação, temos ainda algum recurso que foi acumulado nesse período, mas não podemos deixar de olhar o teto de gastos. Às vezes você tem disponibilidade financeira, mas não pode fazer novos empenhos, que é a questão orçamentária. Porque senão você viola ali as regras do teto de gastos, então tem sim dinheiro para continuar fazendo o investimento, mas é necessário sempre definir com muito cuidado o que são as suas prioridades. Justamente para não acontecer essa situação de ter dinheiro, mas não ter orçamento, e deixar de fazer alguma ação importante. Então o Governador tem sido muito cuidadoso e próximo da equipe nessas definições dele para decidir a prioridade de recursos. Para o que for prioridade vai haver os recursos, para aquilo que não for, vai ficar para o segundo momento.
Elder Dias – Voltando ao assunto da infraestrutura, nós estamos entrando aí no período de chuva e a gente já tem algumas obras. Vou citar um exemplo mais próximo de onde eu moro, não sei se está acontecendo em outras regiões, mas o povo reclama da GO-080, entre Goiânia e Nerópolis. Foi feita uma recuperação de um lado da rodovia e já tem buraco lá. É mais uma questão de curiosidade, se o buraco tá começando ali agora, ele ainda tá pequeno, existe uma facilidade maior e um gasto menor para tapar esse buraco. O que impede que isso seja feito nesse momento inicial é a falta de mão de obra?
Na verdade, as radiais são vias de manutenção incessante porque elas já atingiram um nível de desgaste onde esse tipo de problema aparece com recorrência. E é inviável você manter ali uma equipe indo e voltando semanalmente, ou diariamente em alguns casos mais dramáticos. Como é o caso da 070 entre Goianira e Inhumas.
Elder Dias – Quais são os trechos mais críticos?
Eu diria que dois dos que inspiram mais cuidados são esses na 70, de Goiânia a Nerópolis e ali de Goianira para Inhumas. O final da 020 entre Bela Vista e Cristianópolis também costuma dar problemas. Eu acredito que a solução definitiva para radiais duplicadas é só quando você privatiza, quando você faz concessão e cobra uma tarifa. Assim, através das tarifas, é possível ter fundos para uma manutenção incessante e recuperações periódicas. Fora disso você tem que fazer trabalhos paliativos, que é o que a Goinfra busca fazer com o máximo de qualidade possível. Mas as reconstruções, que é o que demanda ali na verdade, só podem ser feitas com grandes apostas de recursos. Essas normalmente são feitas nos Estados pelo Governo Federal, quando você tem as concessões. Não sei se isso vai ocorrer, mas até lá, tem que ser feito o serviço de manutenção. É o que se faz, não tem jeito, quando chove vai ter problema. Tem muito trânsito de caminhões pesados, perfil de tráfego muito intenso, tem fuga de pedágio que sobrecarrega a rodovia. Então o que a gente precisa fazer? Manutenção contínua, e é o que a gente tem feito ao longo desses anos. Agora, deixar de conviver com um buraco, só se você realmente tiver um trecho concedido para ter um volume de recurso e ficar fazendo recuperações mais profundas e mais drásticas. Esse é um recurso que hoje, infelizmente, o Estado não dispõe.
Italo Wolff – O senhor está filiado ao União Brasil?
Sim.
Italo Wolff – E o senhor tem a pretensão de se candidatar?
Olha, você tem que fazer o trabalho com o qual você está incumbido. Hoje eu sou secretário de Estado da Infraestrutura e, se o Governador me der a honra, quero permanecer neste cargo até o fim da passagem dele pelo Estado. Se no final disso você acumulou um capital político que te viabilize uma candidatura… Vai.
Italo Wolff – E você tem trabalhado para isso ou não?
Eu tenho trabalhado pela estrutura do Estado. Até porque, se você está num cargo público, a melhor coisa que você faz é trabalhar para o Estado e para a população. Se isso for executado, você vai ter lá na frente o reconhecimento que precisa. Não adianta você ficar num cargo público quando você tem uma função, largar isso e abraçar o povo na rua. Eu não acredito nisso. Eu acredito que quando você for para uma campanha política, você vai precisar falar do que você fez. “Olha eu sou o cara que fez aquela casa, o cara que fez aquela rodovia, o cara que ajudou nessa obra de saneamento”, aí você consegue mostrar para as pessoas que você tem uma lista de serviços prestados e despertar na pessoa o interesse e a confiança para ela votar em você. Eu não acredito em outro caminho, né? Então se você me perguntar: você está fazendo um trabalho político? Sim, sob a perspectiva de que eu estou buscando fazer o meu trabalho administrativo bem e que de um bom trabalho administrativo pode surgir uma oportunidade política. Agora se você olhar minha agenda ou minhas redes sociais, vai ver que não estou fazendo agendas políticas, estou fazendo agendas administrativas.
Elder Dias – Nesse sentido, existe também na política a questão do soldado do partido. No caso, você é um dos homens de confiança incontestadamente do Governador Caiado. E ele tem isso, como aconteceu nas eleições passadas. Você está pronto para assumir isso se o Caiado pedir para você? Estaria disposto, ou teria alguma resistência?
O Governador, prevalecem palavras dele próprio, está vivendo o encerramento de um ciclo regional, politicamente falando. Ele afirma não se candidatar mais para eleições estaduais e manifesta o desejo de disputar a eleição nacional, para Presidente da República. Vamos dizer que ele obtenha êxito, seja como auxiliar ou como deputado federal, eu teria condição de acompanhar o mandato com maior vigor e oportunidade. Não tem porque não. Num primeiro momento, tinha porque não disputar. Porque? Porque ainda tinha todo um mandato pela frente, oportunidade de prestar um serviço ao Estado e honrar a oportunidade que ele me deu. O que eu faço com o maior orgulho e alegria. Agora não mais, o ciclo dele, regionalmente falando, se encerrou. Aí agora é a hora do nosso vice-governador Daniel Vilela ou algum eventual adversário montar o seu grupo e buscar a oportunidade junto ao eleitor. E eu sigo o meu caminho, com ele ou sem ele, espero que com ele. Desejo a vitória dele sempre, mas agora é preciso pensar também no meu caminho. A disputa de uma eleição é um caminho possível, mas é preciso executar bem o meu trabalho para que as pessoas acreditem em mim.
Elder Dias – A eleição municipal te atrai de alguma forma?
Olha eu sou apaixonado pela gestão, mas a eleição em Goiânia pede uma pessoa daqui, do meu ponto de vista, na minha opinião. A população viveu aí esse drama, que foi a perda do prefeito que ela escolheu, vitimado pela covid. E no meu modo de ver, não avalia bem o que se sucedeu depois. E o que ela viu foram grupos de fora tendo ingerência sobre a cidade, não foi uma gestão bem sucedida, pelo menos esse é o sentimento da própria população. Eu acho que quem é da cidade vai ter uma vantagem muito grande, porque vai poder trabalhar com esse sentimento do eleitorado da cidade. No sentido de “chegou a hora de votar em um dos nossos”, aquele sentimento de pertencimento à cidade. Então, acho também que eu não tenho um trabalho específico voltado para Goiânia. Na minha atividade eu fiz um trabalho dentro do Governo do Estado, que foi um governo que teve ações de políticas públicas regionais, eu não tenho ainda o conhecimento da população acerca da minha pessoa. Teria que construir isso no futuro, quem sabe? Graças a Deus, sou jovem ainda e dá tempo, mas uma disputa desse nível, acho que não é o momento. Eu teria que vir a cogitar isso num momento que tivesse construções muito mais sólidas, mais passagens, mais base política, mais experiência de gestão, mais conhecimento da população. Isso pode ser construído com o tempo.