Coordenador geral da campanha do PMDB afirma que seu candidato ao governo tem capacidade de inovar e se renovar

Foto: Edilson Pelikano/Jornal Opção
Foto: Edilson Pelikano/Jornal Opção

O deputado federal Sandro Mabel aposta na vontade de mudança de eleitor como fator que vai determinar a vitória de Iris Rezende contra o governador Marconi Perillo (PSDB), na eleição de outubro. Segundo Mabel, os goianos têm agora a mesma motivação que tiveram em 1998, quando tiraram o PMDB do poder, e estavam certos ao fazê-lo — “o PMDB tinha virado mesmo uma panela, mas a panelona agora está no governo do Marconi”.
Mabel, que está anunciando sua saída das disputas nas urnas, analisa o momento político, diz que o seu partido tem “milhares de boas propostas” a apresentar ao eleitorado, mas deixa claro que a campanha será também de ataques, enfatizando que o debate ético é bom para seu partido e para Iris Rezende.

Cezar Santos — O PMDB anunciou que o sr. assume a coordenação da campanha de Iris Rezende ao governo. Exatamente, o que o sr. fará?
Coordenador geral. Coordenarei todos os outros que estão na campanha, o que não quer dizer que eu mando na campanha. É apenas uma coordenação. Temos coordenadores em várias áreas e apenas vamos sincronizar essas outras pessoas, cobramos, organizamos algumas coisas, convocamos reuniões. Essa é a minha função.

Cezar Santos — Antes de definir a candidatura de Iris, o PMDB viveu em pé de guerra entre adeptos dele e os que queriam Júnior Friboi e o sr. era um nome considerado para sair na majoritária com o empresário. O que houve na verdade, por que o imbróglio no partido?
Em dezembro do ano passado, nós visitamos dois candidatos. Eu não fui à visita ao Friboi, mas fui ao Iris, depois. Eu disse Iris, o sr. tem que ser candidato. Ele me respondeu “não, eu não quero ser candidato, eu deixo o Júnior. Ele é novo e está no partido. Deixa ele ser o candidato”. Eu perguntei o sr., então, está dizendo para ajudarmos o Júnior e ele respondeu que sim, para ajudá-lo. Falou para mim, para o Pedro Chaves, para o Leandro Vilela, para o Bruno Peixoto, todos os nomes. Era uma mesa grande, cerca de 20 pessoas. Portanto, nós estivemos com Júnior para ajudá-lo a levar a campanha do PMDB à frente. Nesse meio de caminho houve indecisões e, por último, Júnior resolveu desistir e voltou o Iris, que passa a ser o candidato do PMDB. Para nós, qualquer candidato é candidato do PMDB. Quem fosse o candidato do partido nós ajudaríamos. Nós trabalhamos para o Júnior, pois o Iris nos mandou trabalhar para ele. Fomos lá e o ajudamos. Porém, naquele Iris volta, Iris não volta, ficaríamos mudando todos os dias. Eu falei a Iris que iria com o Júnior até o fim. O sr. está mandando irmos com ele, então, nós vamos até o fim. A partir do momento que Júnior desistiu e que, efetivamente, o Iris é o candidato, então, nós pegamos a campanha dele para ajudar. Tanto eu, como o Pedro Chaves e os outros.

Cezar Santos – Há três dias um dos principais nomes de articulação de Júnior Friboi, o ex-secretário Robledo Rezende, anunciou apoio a Marconi Perillo, numa liberação expressa de Friboi para isso. Como s sr. avalia essa situação?
Robledo é uma pessoa espetacular. Porém, os principais nomes do Júnior eram o meu, o Leandro Vilela, o Pedro Chaves, o Daniel Vilela, o Bruno Peixoto.

Cezar Santos – O sr. está falando dos que têm mandato, mas gente sem mandato como Robledo também tem importância no staff de Friboi.
Não só os que têm mandato, nós temos vários nomes, o Robledo é um deles que, por alguma razão, foi lá por alguma conveniência, por uma briga em Porangatu, não sei bem qual o problema, ele foi apoiar o Marconi. Não existe uma “liberação” para isso. É uma conveniência do Robledo de apoiar o Marconi. Não vejo nenhuma liberação. O Júnior nos liberou para trabalharmos com o Iris, é diferente. “Podem todos trabalhar para o Iris, porque é isso”, ele disse.

Marcos Nunes Carreiro – Júnior tinha com ele, praticamente, 40 prefeitos. Temos informação de que ele, que está nos Estados Unidos esta semana e deve voltar no final de agosto, falou por telefone com algumas pessoas, e disse abertamente que está com a candidatura de Marconi, assim como o Frederico Jayme, e liberando seu pessoal para apoiar quem quiser. Hoje, certamente 15 prefeitos peemedebistas estão apoiando Marconi.
Eu li a entrevista do Frederico Jayme, e acho que ele, pelo menos, deveria ter caráter em sair do partido e ir para o outro lado. Sabe que é adversário. A pessoa deveria ter o caráter em dizer que vai para o outro lado, que está saindo do partido. Nós nem resposta demos. Não faz diferença. Esse tipo de ataque dele é a serviço de alguém. Marconi deve ter prometido a ele nomeá-lo secretário de Segurança Pública, algo assim. Pode ser. Portanto, é um compromisso que eles fizeram, que do lado de cá não tem jeito de fazer. Segundo, os prefeitos foram literalmente cooptados por obras. O jornal “O Popular” divulgou a relação dos prefeitos que fizeram convênio e, inclusive, assinaram o Diário Oficial na data dos convênios. Foram cooptados com obras, com coisas. O prefeito na fraqueza dele, eu acredito que isso seja fraqueza, em vez de pegar sua sigla e ficar em cima dela, ele momentaneamente aceita crescer em R$ 200 mil ou R$ 300 mil de obras. Um desespero. E o que vai acontecer? Esses prefeitos estão mortos politicamente. A população não entende isso. Primeiro, eles levarão uma obra que não sei se realizarão. Segundo, eles vão perder autoridade perante o eleitor. E, amanhã, Marconi irá ajudar quem na reeleição? Ajudará esse prefeito que traiu o partido dele ou vai ajudar a turma dele, normal? Aos nossos prefeitos que me perguntaram (o que fazer), eu respondi é muito simples. É seu último mandato? O sr. quer encerrar sua carreira política? Então, faça isso. O governo está fazendo isso, esse oportunismo, esse trabalho de cooptação. É diferente de nós. Nós estamos com uma visão de trabalho, com um candidato que tem história. Com um candidato que em seu primeiro governo encontrou Goiás arrebentado e o consertou. No segundo governo, encontrou Goiás mais arrebentado ainda, com seis a oito meses de folha de pagamento atrasada, e o consertou. Iris veio para a Prefeitura de Goiânia e a pegou arrebentadíssima, lembram bem, e a consertou. Foi só sair de lá, que a Prefeitura está como está. O que isso mostra? É um candidato que sabe fazer gestão. Hoje, Iris entende que precisa ter ele como gestor e técnico no assunto, que é o que ele está desenvolvendo. Iris pretende fazer uma gestão em que ele tenha a força, a mão forte, com economia, com honestidade. Por outro lado, ele desenvolverá o Estado com quem sabe fazer.

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Cezar Santos — Mas Iris vem falando em mutirões, isso seria bom indicativo de modernidade?
Ah, o Iris falou do mutirão. Mas Iris sempre se inova e renova. Ele inovou com mutirão, naquela época, quando tinha de pegar na enxada, construir casas, era o que tinha disponível na época. Hoje, o que é um mutirão? É um trabalho associativo das pessoas para servir os outros. É para a sociedade se engajar sobre determinada coisa. Hoje, o Iris enxerga o mutirão tecnológico. Um mutirão em que você tenha a internet. As pessoas se unem na internet para buscar o melhor, para fazer alguma coisa. Unem-se na informática. A inovação é justamente essa. Tudo é mutirão. Mas, é a inovação e renovação que fazem buscar. Naquela época, ele foi buscar a solidariedade, que existe pela internet, hoje. Quando as pessoas se unem para combater irregularidades no transporte coletivo, formam-se grupos. Elas não estão fazendo um mutirão para cobrar seus direitos? É isso que estão fazendo. A palavra “mutirão” não é antiga nunca, pois é uma palavra que se pode ouvir de alguém que faça ciências sociais e mais. Na Justiça, armam-se algumas tendas na Praça Cívica, no Fórum se faz um mutirão judiciário. Esse ativismo se faz através da internet, das redes, e Iris parte para isso também, o que será visível na campanha. O Iris se inova e renova e tem uma disposição para cumprir esse último mandato, que é algo espetacular! Disposição e vontade ele tem para fazer o melhor mandato da vida dele, e isso será muito bom para os goianos, não resta dúvida.

Cezar Santos – Qual o apelo que o PMDB pode apresentar ao eleitor para que ele não vote em Marconi Perillo?
O povo quer trocar o Marconi, o povo cansou dele, é fadiga de material. Na hora que se começa a mostrar para o eleitor que o governador está há 16 anos e quer ficar 20 que não tem mais caldo para espremer…
Se a educação estivesse uma maravilha, a saúde perfeita, a segurança um negócio lindo, mas os índices são de piora, tanto na saúde quanto na educação e tal. O crescimento de Goiás, uma parte é sustentado por ações legislativas que o governo faz, ao criar condições para esse crescimento, e quando não atrapalha já ajuda, e isso todos os governos fazem. Os outros índices são todos ruins. O governo está aí na propaganda pura. As pessoas estão sendo assaltadas na esquina, mortes todos os dias. O governador diz que a violência é uma endemia nacional, mas não é. A violência em Goiás cresce sem controle, por falta de gestão. Tudo isso vai fazer com que as pessoas enxerguem que é hora de mudar.
Lembro a história. Em 15 de agosto de 1998, fui com Iris levar uma pesquisa para o então presidente Fernando Henrique Car­doso. Tínhamos 192 prefeitos, falei para o Fernando Henrique: “Iris tem 72% nas pesquisas, Marconi tem 8% e o Sérgio Motta [então ministro das Comunicações e articulador político de FHC] fica botando dinheiro no Marconi, que está enchendo o saco. Para com isso, somos de sua base, estamos te ajudando”. Que aconteceu? Virou. O povo se conscientizou que naquela época o PMDB estava virando uma panela mesmo. Hoje a panela está dentro do governo Marconi. Se o Nérso da Capitinga é exterminador de panela, tem de exterminar esse panelão aí.

Yago Rodrigues Alvim – A campanha do PMDB seguirá no caminho de propostas ou partirá para ataques? A pergunta é porque na inauguração do comitê de Iris houve distribuição de material apócrifo contra Marconi.
Não vi esse material. Não sei do que se está falando. Eu não vi o folheto, me falaram que fala da ligação de Marconi com Carlos Cachoeira. A “Carta Capital” tem na capa ele, o Cachoeira e o Demóstenes. Por quê? Marconi não é ligado ao Cachoeira? Ao Demóstenes [Torres, que teve o mandato de senador cassado]? A revista “Carta Capital” divulgou isso na capa. Ele não é ligado? O processo que existe por aí, não liga ele ao Cachoeira? O processo não julga, mas acredito que deveria julgar. A Justiça devia acelerar o caso e julgar. Existe alguma coisa em ligar Marconi ao Cachoeira? Quem inventou o Cachoeira foi ele. Cachoeira tinha negócios no governo dele. Tinha não, tem. Portanto, não vejo nada de mau nisso. Não sou a favor de folhetos apócrifos, Iris não é a favor, nós não somos. Entretanto, dizer que ele não é ligado ao Cachoeira é esconder o sol com a peneira.

Cezar Santos – Mas houve uma CPMI no Congresso, o governador se defendeu e a CPMI não o isentou?
Não, ela não isentou. A CPMI foi uma pizza que assaram a custo de muito dinheiro. E eu lutei para que ela não fosse assada, mas assaram porque tinha governadores grandes, o do Rio de Janeiro [Sérgio Cabral, do PMDB], o daqui, o do Distrito Federal [Agnelo Queiroz, do PT]. Portanto, assaram uma pizza e jogaram tudo para o Ministério Público, para a polícia investigar. E vão investigar.

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Cezar Santos – O sr. sabe por que a esposa de Iris, a deputada federal Iris Araújo, uma das mais ferrenhas críticas de Marconi, não fez nenhum questionamento ao governador naquela CPMI? Eu estive naquela sessão no Con­gresso, e vi que ela ficou absolutamente calada, como se temesse falar alguma coisa…
Erro dela. Nunca devia ter participado daquela CPMI. Ela era parte interessada frontal naquilo. Eu acredito que ela errou. Ela deveria ter cedido a vaga a quem não tivesse nenhuma relação com a CPMI e até com o Estado. Acredito que ela errou. Se eu estivesse naquela CMPI aquilo não acabava em pizza, não acabava nunca! Ainda assim, não isentou ninguém lá. Pegaram o material todo e disseram que não precisava de CPMI, que deixasse o Ministério Público investigar. A coisa vai andar, só não anda porque existem muitos interesses que seguram esses processos. E por que não anda? Eu não sei porque não anda, acredito que a Justiça tinha que dar prioridade para isso.

Cezar Santos – Os maiores contratos da empresa Delta em Goiás eram com a Prefeitura de Goiânia, ainda na gestão de Iris. Isso também não suscitaria investigação?
Pode, pode suscitar quantas investigações quiserem. Se tem alguém que eu tenho confiança em dizer que pode ser governador é o Iris. Eu tenho confiança no Iris ser governador. É muito simples, quando Iris foi candidato e as pessoas distribuíram rios de dinheiro no segundo turno, que compravam com sacos de dinheiro para todos os lados, quando isso aconteceu, o Iris não tinha di­nheiro para fazer bandeira, campanha franciscana, campanha po­bre, que dá medo em ver, como essa hoje, do mesmo jeito. Portan­to, eu o conheço há muito tempo. Não pode falar que ele é pedinte de comissão e não deixa embaixo pedir também. A Delta tinha contrato no Brasil inteiro, de todos os tipos. Ela participava de licitações e ganhava as licitações. E na Prefeitura, no Tribunal de Contas, acredito que nunca tenha tido coisas com superfaturamento, isso ou aquilo. Era uma das maiores empreiteiras do Brasil. Dentro do Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes], a Delta chegou a ser a maior empreiteira disparadamente. Pode investigar à vontade e deve investigar, mesmo. Sou dessa opinião.

Marcos Nunes Carreiro — Alguns casos antigos têm o PMDB como al­vo e devem retornar nesta campanha — como Caixego, Astro­gráfica e outras questões. Como vocês vão enfrentar esse tipo de polêmica?
Isso já foi esclarecido. São coisas tão velhas que provavelmente você ainda não tinha nem nascido, para ter ideia do tanto que é antigo esse tipo de polêmica. A história de corrupção atual é a do caso Cachoeira, que está sendo investigado. Ninguém quer dizer se é verdade ou mentira, só é preciso esclarecer o que aconteceu. A Justiça vai falar isso mais à frente, vai demorar um pouco.

Marcos Nunes Carreiro – O PMDB vai centrar a campanha em ataques?
Não. Você vê uma saúde que não funciona, uma segurança pública que não funciona, uma segurança em que você vê, por aí, carro parado, na rua, pagando aluguel, que vê uma série de coisas desse tipo. O problema é gestão. Falta gerente nesse Estado. Hoje, a população está impactada por esse excesso de mídia que é feito. O que os jornais, televisões e rádios faturaram no governo do Marconi é uma coisa sensacional. Depois que ele apareceu nessa confusão do Cachoeira e, no meio do ano passado, com a Dilma, o que se gastou é uma coisa assim assombrosa. Na propaganda da máquina de guerra do Hitler, seu ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, tinha a teoria de que se falasse muitas vezes uma mentira, ela viraria verdade. É isso aqui! Você reconhece no Estado essa segurança pública que foi televisionada? Você reconhece nesse Estado essa educação que tem na televisão? Você vai às escolas e os computadores estão parados. Onde a falada inclusão digital de alunos, se nas escolas a sala de computador não funciona? Cadê a saúde? Você vai ao Entorno de Brasília e as pessoas dizem Marconi inaugurou o Hugo 2, uma beleza. Mas está funcionando? Tem alguma coisa lá funcionando? Essa propaganda é no Estado inteiro. Nem quem mora em Goiânia sabe que o Hugo 2 é do outro lado. Ele não sabe se foi ou não inaugurado. Agora, com tanta propaganda, acha que inaugurou e está uma maravilha. Seria bom se as pessoas fossem lá e verificarem essas informações. Nós não temos um governador bom, nós temos um ator bom e mídia, muita mídia. Entretanto, agora na campanha isso acaba. Um governista dá uma entrevista, o da oposição dá também. Tem programa eleitoral. Há números que os senhores da im­prensa não conhecem e se arrepiarão quando verem. Não são números só nossos não, são do Van­derlan Cardoso (PSB), do Antônio Gomide (PT). Todos verão que o que existia era mídia. Não tem como esconder essas coisas por muito tempo. Agora é um período eleitoral e, nesse período, todos têm direito a publicar, a dar entrevistas.

“Questionamos a pesquisa Serpes na Justiça”

Cezar Santos — Pelo que o sr. fala, Goiás vive um caos absoluto. O Estado gera empregos e a economia cresce acima da média nacional, entre outros indicativos bons. Por quê?
Não dá para afirmar que o governo do Marconi foi só de coisas ruins. Não, de forma alguma. Não podemos falar assim. Ele, em seu primeiro governo, evoluiu uma série de coisas, teve muita vontade, muita disposição. Mas o segundo governo já foi fraco, foi quando começou a confusão. Pôs o Alcides no lugar, tentou mandar nele, no segundo governo brigaram e virou o que virou. Voltou no terceiro governo, que não está fazendo nada. Quando começaram as obras? Foi no dia em que a população queria arrancá-lo do Palácio, com o Fora Marconi. Aí ele percebeu que tinha que se movimentar, senão iriam tirá-lo de lá. O governo começou a se movimentar. Porém, movimentar muitas coisas que são ilusões, e não se concretizarão muitas delas. Ainda assim, faz convênio com prefeito, faz isso, envia aquilo… Essas coisas todas acabam, desmancham o castelo de areia que pode até durar um dia, dois dias, mas o sol, a água, o vento vão desmanchando. Não é uma rocha.
Nesse ponto, não tenho dúvida, tenho assistido muitas pesquisas e quando o cidadão adepto do Marconi começa a ser questionado, ele cai também e muda o voto. No final diz “realmente, nem eu sei porque estou votando nele”. É tanta propaganda, tanta mídia e isso acabou. Nós, agora, seguiremos todos no mesmo plano. Não exatamente no mesmo plano, pois essa máquina ainda está funcionando. Nos falta espaço em muitos lugares. Isso, com o tempo vai se ajustando. E, principalmente, quando nós passaremos a ganhar as eleições, como hoje. Nós estamos na frente das eleições.

Marcos Nunes Carreiro — As pesquisas estão indicando que o PMDB está na frente?
Pesquisa, meu amigo, funciona, novamente, como a máquina de guerra do Hitler: “Mostremos que estamos na frente, estamos ganhando”. Mostrou que Marconi está dez pontos à frente. Mas quanto ele tinha em março? Quanto ele tem agora? Ele cresceu 2,6% de março para julho. Com essa exposição de mídia, você não conseguia mais assistir televisão. Era um comercial normal e dois do governo. Eu adentrava o elevador e até o 20º andar eram propagandas e propagandas do governo. Era Leonardo cantando e não sei mais o quê. Normalmente, eram seis propagandas, na Elemidia [empresa de mídia digital]. Essas coisas influenciam as pessoas. Viram que não adiantava soltar uma pesquisa com 38%, não sei exatamente quanto ele tem, e aí ficava claro que juntando todos os adversários batem nele. Eles arrumaram uma tal de Veritá [instituto de pesquisa de Uberlândia-MG], que soltou uma pesquisa afirmando que Marconi tem 51%, isso para dizer que podem se juntar todos que ele ainda vence. Mostra, também, que se ele fosse com o Gomide para o segundo turno, ele teria 75% dos votos. Alguém acredita que Marconi terá 75% de votos, sendo que ele tem cerca de 40% de rejeição? São coisas que não encaixam. Quer mostrar que está na frente de todos, que ganhará no primeiro turno, isso não existe.

Cezar Santos – O sr. está dizendo que todas as pesquisas, a Veritá, a Serpes, estão manipuladas em Goiás?
Não, eu acredito que a pesquisa Serpes seja séria. A metodologia, às vezes, pode não estar pesquisando em todos os lugares. Nós entramos, recentemente na Justiça para saber como a pesquisa da Serpes foi feita, qual a referência de amostra, para avaliarmos como isso foi feito. Não ficaremos como na última eleição com pesquisas feitas de qualquer jeito. As pesquisas agora serão fiscalizadas. Nós contratamos um pessoal técnico em pesquisa, pessoas capacitadas para verificarem se a amostra está certa, se foi utilizado questionário, se não foi, qual porcentual para margem de erro. É algo firme, na fiscalização. E eu volto a dizer, mesmo assim, você percebe que Marconi cresceu 2,6%. Na Serpes, 2,6%. Não tem condição.

Cezar Santos – Uma das estratégias da campanha do PMDB, então, será auditar as pesquisas?
Não. A estratégia é acabar com as mentiras. Essa será a nossa estratégia. Em cima de tudo, de jornais que não dão espaço, entraremos na Justiça pedindo um espaço igualitário; pesquisas, nós fiscalizaremos. É uma campanha com um time para acabar com mentiras. Por exemplo, essa licitação que o governo está fazendo, no meio da campanha, de presídio, quer dizer, tiveram 16 anos para fazer isso e fará agora, em tempo de eleição? É muito clara nossa posição nesse ponto. Veremos se a licitação é boa ou ruim. Quando o Iris ganhar, essas licitações certamente não irão prosperar. Eu não sei, é o governador que decide. Em minha opinião, tem que ser claro. A pessoa que pegar uma licitação dessas terá que pensar três vezes se ela está certinha, pois se não tiver, e constar alguma confusão no meio, pode ter certeza que amanhã não terá contrato.

Cezar Santos – Administração pública merece todo o cuidado sempre. O sr. está dizendo que o governo deveria parar no período de campanha? Se limitar a pagar a folha?
Não, de forma nenhuma. Acho que tem que tocar. Pagar os fornecedores que ele deve, pagar uma porção de coisas para não deixar para o próximo administrador. Em todos os assuntos, ele tem que tocar. Não acho que tenha que parar o governo de forma nenhuma. Só estou explicando que algumas coisas precisam de cuidado, e nós estaremos analisando. Tudo que estiver correto continuará, o que tiver confusão, não. Nós temos certeza que ganharemos essa eleição.

Cezar Santos – Há pouco foi perguntado se o PMDB vai carregar a campanha em ataques. Iris disse que faria um debate ético. É interessante para o PMDB esse debate ético?
Lógico. Nós queremos isso. Temos um candidato que se propõe a fazer o melhor governo de sua vida. Temos um candidato que onde ele entrou, os custos diminuíram, as coisas baixaram. Nós temos um candidato a governo que é desse jeito. Nosso candidato, então, pode questionar algumas coisas que estão por aí, soltas. É normal. Va­mos fazer uma campanha e te­mos coisas demais para propor. Porém, nós não vamos deixar de contestar — nem nós, nem Antô­nio Gomide (PT), nem Vanderlan Cardoso (PSB) — as coisas que são fatos, que até então estavam guardadas. Aquilo que não foi publicado, ou só publicado em parte, isso, em campanha eleitoral, vem para fora. Isso é constatar verdades. Não quer dizer que vamos “carregar” nisso ou naquilo. O PMDB tem 500 mil propostas. Barbosa Neto tem um trabalho de planejamento que está sendo feito para discutir o Estado inteiro, é uma coisa linda, mostrada a nós em uma apresentação. Quase disse a ele que ele mesmo é quem deveria ser o governador.
Estão dizendo que Iris mudou seu discurso. Não é isso. O que está havendo é uma nova roupagem de coisas que não precisam ser faladas em discursos. É fazer algumas coisas de forma mais prática, encurtando outras. Iris está adorando isso. A felicidade nele nesta campanha é algo admirável.

Cezar Santos — Já se ouviu dizer que Iris está parecendo um menino. É isso mesmo?
Sim, parece um menino. Ontem (quarta-feira, 17) estávamos em Jussara e o pessoal o parou em um posto. Uma mulher até ele e disse “nossa, Iris, mas você está um gato, a sua mulher que se cuide!” (risos) Quando as pessoas chegam até ele, encostam nele, não acreditam. Esse é Iris. A disposição dele, sua energia, é uma coisa fantástica.

Cezar Santos – O sr. disse que o PMDB tem milhares de propostas. Cite exemplos…
Você não imagina o que o PMDB tem preparado para esta campanha, você vai votar no Iris. Quando conhecer as propostas, aposto que você vai votar nele, tenho certeza. A visão de Iris é a mesma do Vanderlan, ou seja, mostrou que fez e está lá para todo mundo ver. Até mesmo Antônio Gomide, um pouco menos, mas fez. Quem está coordenando essa parte é o ex-deputado Barbosa Neto. As propostas são de encantar, e você vai ficar surpreso.

Cezar Santos — A população goianiense está reclamando da gestão do prefeito Paulo Garcia, a imprensa mostra problemas na saúde, lixo na rua e outras coisas. Iris Rezende é o padrinho político de Paulo e o avalizou como sucessor. Isso não vai atrapalhar o PMDB na campanha?
A população diz é o seguinte: “nossa, mas que saudade de Iris na Prefeitura!”, “o Iris era bom demais para Goiânia”, ou “quando Iris entrou estava uma porcaria e depois de um tempo que ele saiu tudo ficou uma porcaria de novo”. A Prefeitura funcionou muito bem durante uns dois anos depois de Iris sair. Ocorre que, quando reeleito, o prefeito trocou a equipe, montou uma nova. Até enquanto Paulo deu sequência aos projetos de Iris, foi muito bem. Tanto que foi reeleito com maioria absoluta, no primeiro turno. A gestão de Iris é tão boa, tão bem arrumada, que seus efeitos se estenderam por muito tempo depois.
Paulo Garcia foi eleito novamente com quase 80% dos votos. Iris participou da campanha porque não tinha outro candidato. Ou ele iria pedir votos para Jovair Arantes (PTB)? Então, pediu votos para Paulo Garcia. Isso é a coisa mais natural do mundo. Os problemas que o prefeito está passando fazem a população ficar com mais saudade de Iris Rezende. Pelo contrário, então: o que ocorre em Goiânia vai ajudar Iris Rezende demais.

Cezar Santos — A quem prejudica, então, a má administração em Goiânia?
A administração da cidade é do PT. Dilma e Gomide, certamente, estarão prejudicados.

Marcos Nunes Carreiro — O PT não vai fazer falta à campanha do PMDB?
Eu nunca disse que o PT não fará falta. O que digo é que a gestão de Iris foi dele, Iris Rezende. Depois, houve dois candidatos na disputa para sua sucessão: Paulo Garcia e Jovair Arantes. O primeiro era apoiado por nosso grupo, o outro pelo grupo do governador. Essa é a balança da história. Mas tenho certeza de que o PT estará conosco no segundo turno, se houver, como seria se fosse vice-versa. Ou você acha que nós e o PT vamos ajudar o PSDB em algum momento? Tudo é normal neste momento, é uma eleição para governador, todos querem ganhar. Mas que vota na oposição é porque não acredita em Marconi. Ele está há 16 anos no poder, com seu grupo. Se for eleito novamente, vai ficar 20 anos. Não é possível um governo ficar 20 anos. Alternância de poder é natural. Quando o povo tirou o PMDB em 1998, estava certo. O PMDB cansou a população e agora esse sentimento se volta contra o PSDB. Marconi tenta superar isso com propaganda, às vezes mentirosa. Acho que Marconi tem uma série de coisas que fez para melhorar o Estado. Mas vai ficando muito tempo, isso cansa. Não se cria mais nada além de um monte de feudos e o custo do Estado vai lá em cima.

Yago Rodrigues Alvim — Houve traição dos petistas a um acordo não escrito, em relação à sucessão estadual?
Acho que sim, mas não chamaria de “traição”. Existiu a falta ao cumprimento de um compromisso feito. Em política nada se escreve, não tem contrato. Em determinado momento, o PT achou que não precisava manter nada do que havia sido acordado e resolveram sair com seu candidato. Eu, particularmente, achei ruim porque havia costurado um acordo para que pudéssemos sair juntos. Hoje, porém, não tenho nenhum problema com isso. Iris, muito menos. Ele já me disse, quando me viu nervoso com esse assunto, “não, Sandro, deixe eles disputarem, são companheiros e vamos estar juntos lá na frente novamente”. Eu sinto tanta tranquilidade nele com esse assunto que até já parei de falar. Tanto que já nem penso mais assim. Hoje, acharíamos até ruim se Gomide tivesse algum problema com sua candidatura.

Cezar Santos — Uma crítica à coligação do PMDB foi essa mistura de água e óleo, em relação principalmente ao candidato ao Senado, Ronaldo Caiado (DEM), que foi um dos críticos mais severos de Iris em vários escândalos, como o do caso Caixego e o da carne contaminada de Chernobyl. Agora, estão juntos. Como fica isso?
Mas você parece que está muito antigo. Essa história de Chernobyl já tem 30 anos [na verdade, a explosão do reator em Chernobyl, na Ucrânia, ocorreu em 1986, portanto 28 anos atrás], o caso Caixego tem 30 anos ou 20 e tantos anos [na verdade, o desvio de dinheiro da Caixego ocorreu em 1998, há 16 anos]. Em 2004, Caiado subiu ao palanque de Iris Rezende, fez caminhada e discursos para Iris na disputa para a Prefeitura de Goiânia. Estamos falando de 2004, não de 1987. Estamos falando de coisas recentes. O próprio Marconi já pediu voto para Iris, ou você se esqueceu disso? Na política as coisas vão se modificando. Quem trouxe Caiado fui eu, mais o deputado Leandro Vilela e o deputado Pedro Chaves [ambos do PMDB]. Por que privarmos Goiás de ter alguém como Caiado no Senado? Não pensamos só em eleição, mas também em gerações. Entendemos que ele, como senador, pode fazer um trabalho muito importante e vai fazer. Se Caiado saísse por conta própria, sem a estrutura do PMDB ou a do PSDB, seria chance zero. Por que privar alguém como ele de ter esse mandato? Estamos unidos no objetivo de melhorar Goiás, de tirar o Estado dessa situação, tomado por uma estrutura de “frangos de granja” — aquela estrutura gorda, preguiçosa —, como o próprio Caiado já disse. Reiterando, Caiado foi uma bela aquisição e, particularmente, sou eleitor dele.
Da mesma forma posso falar de Armando Vergílio (SD), que esteve do lado de Marconi e não acreditou mais naquele projeto. Não queria ficar mais lá e, então, passou a conversar com todo mundo, com Vanderlan, com o PT. Eu, que sou amigo dele, falei “vem com a gente, Iris vai precisar de gente como você, de cabeça moderna”. Temos, então, uma chapa bem articulada, com uma turma boa. Temos vários partidos, de esquerda e de direita, e acredito que fizemos uma chapa bem competitiva.

Marcos Nunes Carreiro — Mas na verdade o PMDB é um partido aparentemente dividido, com alguns prefeitos apoiando outros candidatos…
(interrompendo) Voltarão todos. Vou repetir algo parecido com aquilo que Jesus disse para Judas [na verdade foi para São Pedro, apóstolo que seria o primeiro papa] “antes de o galo cantar, você vai me negar três vezes” ou algo assim. Vão voltar todos, não só do PMDB. Já estou articulando prefeitos da base de apoio de Marconi que querem vir para nosso lado. Eles fazem pesquisa no próprio município, no município vizinho, e começam a ver o tamanho da rejeição de Marconi. Aí, entendem que, se continuar com essa opção, vão perder a eleição. Nesta semana, foi enorme a quantidade de gente querendo marcar agenda comigo para discutir isso, mas que não quer aparecer, porque está esperando a assinatura de um convênio ou coisa assim. Todos vão voltar.

Marcos Nunes Carreiro — Concluindo a pergunta, nem Caiado nem Armando Vergílio estão conseguindo unir seus respectivos partidos, DEM e Solida­riedade (SD). O único deputado estadual do DEM, Helio de Sousa, está abertamente com Marconi. O mesmo ocorre com alguns prefeitos e vereadores do SD no interior. Quem tem cargo também está passando para o lado de Marconi ou até de Gomide. Como fica essa questão?
Em 1998, quando Iris foi candidato contra Marconi, tínhamos 182 prefeitos e perdemos a eleição. A diferença entre eles é que os prefeitos reconhecem quem faz. A propaganda dá fôlego. Volto a dizer que sou uma pessoa que elogia o Marconi, ele foi um governante correto com os empresários, por isso acho que ele tem seus métodos, mas as pessoas cansam. É fadiga de material. E nós temos vereadores do PSDB nos apoiando. Na semana que vem tenho um grande número de prefeitos que querem conversar. Ou seja, é aquela: deixa eu colocar um pé na sua canoa também. Então a conversa é essa.

Yago Rodrigues Alvim – Iris Rezende vai completar 81 anos, o eleitor não pode considerar que isso entra em choque com o discurso de renovação?
Iris é um cara que se renova e inova. A idade para ele é só uma questão de cronologia. A disposição, a vontade e a capacidade dele são extraordinários. Ao vê-lo nas ruas é fácil notar que ele tem muito mais disposição do que eu, do Marconi e de muita gente mais jovem juntos. Iris é motivado e gosta de fazer um bom trabalho. Eu o ajudei em muitas ações quando ele esteve à frente do Ministério da Justiça. Os planos de Iris são modernos e ele quer jogar duro com a questão da juventude, como cursos profissionalizantes. Pego o exemplo do meu pai, um homem de 83 anos e com o corpo ainda forte, porém não o comparo com Iris. Iris foi feito com um material diferente, é como disse o Caiado, é galo de terreiro, criado na dificuldade.

Cezar Santos – O sr. demonstra menosprezo à fala de Frederico Jayme, mas ele pede para que Iris explique sua suposta fortuna, certamente uma curiosidade que muitos eleitores goianos também podem ter. Incomoda se alguém perguntar qual a origem da fortuna de Iris Rezende?
Nem um pouco. Fortuna do Iris? Um cara de 80 anos, que trabalhou? A maior sorte dele é que ele comprou terras em Mato Grosso que hoje produzem muita soja. Lembro que há 20 anos fui à fazenda dele em Mato Grosso e ele dizia que as terras eram baratas, e realmente eram. Mas, hoje, aquilo ali virou soja. Hoje um alqueire vale R$ 50 mil, sendo que naquela época valia apenas R$ 2 mil. Acho que a fortuna do Iris, que não é uma grande fortuna assim, foi construída ao longo de sua vida. Eu acho duro é explicar a fortuna de Marconi. Quer dizer então que ele tem apenas R$ 3 milhões? Com toda essa questão de Cachoeira e outras coisas mais?

Cezar Santos – O sr. tem alguma evidência disso?
Não quero nem discutir isso. Não estou preocupado se ele tem ou se ele não tem, e mesmo se tiver não pode nem gastar. Se você pegar a história da família do Iris, são pessoas que mexiam com pecuária, o irmão era médico o outro tinha fazenda, eram pessoas normais. Iris não adquiriu nada hoje a mais do que não era dele antes.

Cezar Santos – Há poucos meses ele comprou um avião…
É um avião velho, nem eu tenho a vontade de comprar uma aeronave daquela.

Cezar Santos – Mas quanto valeu aquele avião, R$ 1,5 milhão ou R$ 6 milhões?
Não vale mais do que R$ 1,5 milhão.

Cezar Santos – O senhor já voou no avião do Iris?
Não. Mas é um bom avião. O meu avião é de 1974, um Cessna. O King Air, modelo do qual o Iris é proprietário, é o único homologado para que o presidente do Estados Unidos poder voar. O avião do Iris é um tipo de aeronave à qual Iris pode comprar, tranquilo. Acho que ele merecia coisa melhor, pois a receita que ele tem dava para comprar, mesmo que financiado, uma aeronave mais moderna e melhor.

Marcos Nunes Carreiro – Como ficou o PMDB no Entorno de Brasília com a saída do Marcelo Melo, que tem muito prestígio na região?
A saída do Marcelo foi muito ruim para nós, para mim particularmente, porque gosto muito dele. Peguei minhas bases no Entorno e passei para ele. Com a saída do Marcelo, perdi o controle ali, foi muito ruim, é uma região onde tenho 30 mil votos. Ajudei muito aqueles municípios todos. Eu queria deixar uma pessoa de lá. Mas estou procurando ajudar candidatos de lá. O Entorno precisa de muita ajuda. Posso dizer que nestes anos como deputado federal, devo ter levado mais de R$ 1 bilhão para aquela região, tranquilamente. Isso permitiu asfaltamento em Novo Gama, em Santo Antônio do Descoberto, água para muitos lugares, muitas obras que possibilitaram melhora a vida daquelas pessoas. Ali falta coisa demais da conta. Precisa de gente que tenha visão do Entorno, que seja relacionado com o governo de Brasília, que pode mandar muito dinheiro também. Foi uma pena a saída do Marcelo. Ontem (quar­ta-feira, 17) ainda falei com ele sobre isso, acho uma “judiação” para o Entorno a saída do Marcelo.

Deputado Sandro Mabel em entrevista ao Jornal Opção: “Saio tranquilo da política, ajudei o meu Estado” | Foto:  Edilson Pelikano/Jornal Opção
Deputado Sandro Mabel em entrevista ao Jornal Opção: “Saio tranquilo da política, ajudei o meu Estado” | Foto: Edilson Pelikano/Jornal Opção

“O Brasil não aguenta mais 4 anos de Dilma”

Marcos Nunes Carreiro – O PMDB vai dar palanque para Dilma Rousseff em Goiás?
Será um palanque surtido. Eu particularmente não apoio a Dilma.

Cezar Santos – Qual a principal crítica em relação à Dilma?
Ela não foi uma boa gestora. Ela é uma excelente superintendente, não presidente. Ela não tem nenhum ministro famoso. Lula tinha o Henrique Meirelles. Mas ela não tem nenhum ministro de renome. Isso aí demonstra que ela é boa apenas como superintendente. Ela criou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que acabou integrando todo o País. Sou coordenador de infraestrutura da bancada de Goiás e ajudei na conclusão de obras como a rodovia duplicada de Goiânia a Brasília. O Lula não iria terminar a Ferrovia Norte-Sul, mas insisti com ele até que colocou o Juquinha [José Francisco das Neves, denunciado pelo Ministério Público Federal acusado de corrupção] na Valec [Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., empresa pública responsável por obras ferroviárias]. Juquinha foi responsável pela continuidade da construção das estradas de ferro no Brasil. Na minha opinião foi uma injustiça o que fizeram com ele. Eu pedi para o presidente que a Ferrovia Norte-Sul não poderia parar no Centro-Oeste, era preciso descer. E hoje estão descendo esta ferrovia, que vai encontrar a Ferro-Norte, criando um arco ferroviário do Brasil. Agora vem a Ferrovia Leste-Oeste que virá para Goiás. Lula não tinha esta visão, mas nós tínhamos. A Belém-Brasília era para estar duplicada, mas Dilma atrapalhou tudo. Não tem como buscar o trem se não tem a carga, a carga tem que chegar no trem. Para ter o trem é preciso ter estradas boas e é o que estamos fazendo no Sudoeste. Planejamos as radiais, a interligação com os outros Estados, com Minas, com Mato Grosso, pelas rodovias, eixos estruturantes, etc. Foi um planejamento da bancada federal que continuará tendo reflexo daqui a 20 anos.
Dilma ensinou isso ao Lula, que no fim de seu governo conhecia todas as obras no País. Nas reuniões com os ministros, e eu participei de várias, Lula em pessoa cobrava de cada um as obras em suas respectivas áreas, nem precisava a ministra Dilma fazer a cobrança. Lula começou a aprender a gostar de trabalhar, por isso ele fez a Dilma (candidata à sucessão). Só que Dilma, como presidente, não sabe mandar, as decisões são mais complexas. Ela não está preparada e o Brasil não aguenta mais quatro anos com Dilma. Por isso eu não apoio a reeleição da presidente e no palanque que eu estiver vou pedir voto para outro candidato, que eu nem sei ainda qual vai ser.

Cezar Santos – Não se decidiu ainda entre Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB)?
Gosto mais do Aécio, mas a companhia dele em Goiás é meio questionável (risos). Ainda estou avaliando o que fazer.

Marcos Nunes Carreiro – Se o PMDB goiano der palanque para Dilma como fica Ronaldo Caiado, que é oposição ferrenha a ela?
Ué, ele pede voto para o Aécio, qual problema nisso?

Marcos Nunes Carreiro – No mesmo palanque?
Quando eu estava no PR e o nacional nos forçou a fechar com Marconi [em 2010], eles pediram voto para o José Serra (PSDB) e eu pedi para Dilma Rousseff. Aparecia de tudo no palanque. A mesma coisa agora, cada um que peça voto para quem quiser. No nosso palanque tem gente que é Eduardo Campos, tem gente que é Dilma, e tem quem é Aécio. Acredito que Iris vai pedir voto para Dilma. Mas não pense que o palanque do Marconi é diferente, não. Lá tem gente que vai pedir voto para Eduardo Campos, para Dilma acho que não…

Cezar Santos – Para Dilma na coligação de Marconi tem o Jovair Arantes…
É, Jovair pede voto para Dilma Rousseff.

Yago Rodrigues Alvim – É saudável para a democracia essa divisão entre os partidos que compõem uma aliança e até mesmo dentro do próprio partido, como o PMDB, que se mostra rachado, com vários peemedebistas apoiando Marconi?
A pluralidade enriquece a democracia, em qualquer lugar é assim. Não acho que devemos pedir voto para quem a gente não acredita, não gosta. Pedimos voto para quem a gente quiser, essa é a real democracia. Não existe isso mais de querer determinar que não se pode falar de um candidato num palanque. Não tenho dúvidas de que a liberdade é o melhor para as pessoas.

Cezar Santos – Recentemente o sr. anunciou que não vai se candidatar mais. São seis mandatos de deputado, o sr. está desiludido? Que balanço faz de sua trajetória como político?
Foram 24 anos no Legislativo. Saio feliz da vida, de forma programada. Aliás, tinha de ter saído no mandato passado. Saio satisfeito, tranquilo, com o dever cumprido. Entrei na política como deputado estadual em Goiás, para ajudar a criar o programa de desenvolvimento na época, que era o Fomentar, que alavancamos no governo de Iris Rezende e depois no de Maguito, quando houve um crescimento muito grande. Marconi entrou em 1999 e fez o Produzir, que também atraiu muitas indústrias para cá. Então Goiás pegou um conceito importante. Esse era minha meta. Fui para a Câmara Federal para defender os incentivos lá, porque queriam acabar com os incentivos. Passei todos esses anos fazendo essa defesa, porque nosso Estado não podia ficar só na produção agrícola, tínhamos de industrializar nossa produção. Esse foi o meu grande objetivo.
Com isso, comecei a ver que faltava infraestrutura, faltava uma série de coisas na área de educação. Trabalhei muito na questão tecnológica, escolas profissionalizantes, escolas técnicas. Batalhei com o ex-presidente Lula, ele me ouvia muito e acreditava demais nisso, ele cursou Senai, etc. Na área de impostos, escrevi a reforma tributária, que está lá, meu relatório está pronto para ir ao plenário, depende da presidente da República querer. Se fosse Lula já teria votado, mas Dilma entrou e resolveu não votar nenhum tipo de reforma. Sempre defendi que não houvesse aumento de impostos, digo que o empresário é repassador de imposto, pois quem paga é a população. E tem um detalhe aí, os mais pobres no Brasil pagam muito mais impostos que os mais ricos. Quem ganha até três salários mínimos paga 53% de carga tributária, quem ganha mais de 30 salários pagam 31%. O pobre paga mais que o rico. O empresário põe o imposto e manda aquilo (custo) para frente, principalmente quando a economia cresce, aí passa tudo de uma vez, o que estava atrasado vai tudo para o preço do produto. Imposto gera inflação. Trabalhei muito firme nessa questão.
Nas questões trabalhistas também modifiquei muita coisa, na harmonização do capital com o trabalho, sempre acreditei que patrão e empregado não podem conflitar, têm de trabalhar unidos. Como parlamentar fui líder de partido várias vezes, ocupei inúmeras comissões e fui presidente de muitas delas. Acho que temos de saber a hora certa de para. Minha vida sempre foi muito planejada, comecei a trabalhar muito cedo, com 13 anos. Tenho 55 anos de idade e 44 de contribuição previdenciária em carteira, não consegui me aposentar porque não se aposenta com a minha idade.
Para mim foi importante o fato de ser empresário e ser político. Nunca deixei de se empresário. Durmo muito pouco, cerca de uma hora e meia, duas horas por noite. Tem semana que somo as horas dormidas e não chegam a dez horas. Hoje procuro dormir pelo menos quatro horas por noite, faço um esforço grande para isso. Minha vida sempre foi ativa e a atividade parlamentar me ajudou a ajudar o Estado, tenho consciência tranquila quanto a isso.
Esse planejamento que tenho na vida me faz ver que chegou a hora de parar. Poderia continuar, tenho voto para eleger dois deputados, porque se me candidatasse teria 200 mil votos, na última tive 150 mil e poucos e ampliei as bases enormemente, teria muito mais votos. Então saio por cima, numa hora boa, com tranquilidade, estou feliz da vida. Já teria saído se Iris não tivesse ido me buscar, fez apelo “vem me ajudar, vem me ajudar”. Como eu acho que Iris é importante para Goiás, voltei para ajudá-lo. Depois vou trabalhar mais nos meus negócios e deixar um pouco a vida pública.

Marcos Nunes Carreiro – Dizem que o sr. não concorreu à reeleição para se cacifar melhor para a disputa pela Prefeitura de Goiânia em 2016. Há a possibilidade?
Muito remota, muito remota. Embora a gente nunca possa dizer de jeito nenhum e tal. Mas não está dentro dos meus planos. Meu plano é sair da política.

Yago Rodrigues Alvim – Iris sendo eleito o sr. seria secretário? Qual sua expectativa?
Se Iris for eleito eu não quero ser nada. Ele ganhou a eleição, eu já fui embora. Só irei visitá-lo para tomar um cafezinho com ele. Na vida privada espero ajudar, como líder classista, já que sou presidente de sindicato, atuando mais na Federação das Indústrias, etc.

Marcos Nunes Carreiro – O sr. está apoiando o ex-secretário Alexandre Baldy para a Câmara Federal, mesmo ele sendo tucano?
Apoio. Não vejo isso de partido, mesmo porque as minhas bases nunca olharam se eu era do PMDB e não era tucano. Metade de minha base é tucana, então estou passando para os tucanos o que é dos tucanos e que eu não passaria para o PMDB. O cara, o prefeito, me aceita porque eu levava muito recurso, mesmo com o governador Marconi às vezes tentando me prejudicar. Sempre contei com o respeito da base tucana. Então não seria justo neste momento eu querer empurrar essa base para o PMDB, primeiro porque não pega, segundo porque seria jogar fora essa base toda que precisa de apoio. Não posso abandonar o prefeito que me ajudou.
E acho que o Baldy vai ser um excelente deputado, foi secretário de Indústria e Comércio, é um cara arrojado, foi criado dentro desse meio de livre iniciativa, de geração de empregos. Mas estou também ajudando o Daniel Vilela, o Pedro Chaves, peemedebistas que têm a mesma visão de livre iniciativa que eu tenho. Como apoio o filho do Amando Vergílio [Lucas Vergílio], que também tem essa visão, é um moleque superinteligente. Fui passando minhas bases para pessoas nas quais eu acredito.