Acusado de ser mandante da morte de Valério Luiz, cartorário concede sua primeira entrevista e reitera que não teve participação nenhuma no crime

Um homem com olhar sisudo e cara fechada chega à sede do Jornal Opção. Sua figura esteve em debate nos últimos dois anos em relação a um crime que chocou a cidade: o assassinato a tiros do radialista esportivo Valério Luiz, que ocorreu no dia 5 de julho de 2012 e causou comoção em toda a sociedade goiana e repercussão até internacional. O ho­mem é o cartorário Maurício Sam­paio, de família tradicional, acusado de ser o mandante da execução.

Empresário Maurício Sampaio em entrevista a editores e repórteres do Jornal Opção: “Eu sou inocente”
Empresário Maurício Sampaio em entrevista a editores e repórteres do Jornal Opção: “Eu sou inocente”

Ao fim do inquérito, conduzido pela delegada Adriana Barros, cinco pessoas foram acusadas: além de Maurício, também Ademá Figueire­do, soldado PM; Djalma da Silva, sargento PM; o comerciante Urbano de Carvalho Malta e o açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier. Eles aguardam em liberdade a pronúncia do juiz, que deve decidir se o crime irá a júri popular. A isso também se juntaram problemas judiciais relativos ao 1º Registro de Pessoas Ju­rí­dicas, Títulos, Documentos e Pro­testos, o cartório de que era titular.
Pela primeira vez, em entrevista exclusiva, ele conta pela imprensa sua versão dos fatos e reafirma: “Eu sou inocente, não tenho nada com isso. Sou um sujeito que sou responsável pelos meus atos e não quero pagar pelo que não cometi”, diz, com convicção. Sobre uma possível condenação, ele mostra ao mesmo tempo resignação e resistência: “Seria um grande erro do Judiciário, ou de quem quer que seja, condenar um inocente. Mas é a vida. eu tenho minha consciência, sou um sujeito de família e vocês não imaginam o que tenho passado. Graças a Deus, eu tenho muita força.”

Elder Dias — Por que o sr. é acusado da morte de Valério Luiz?
Quando o pai dele [Manoel de Oliveira] se aproxima da cena do crime, já diz “eu sei quem foi”. A partir disso, o que mostram as investigações, a única linha da polícia passa a do Atlético. Tudo em decorrente de uma carta, que teria causado a proibição de que a vítima adentrasse as dependências do clube e que não foi escrita nem motivada por mim. Essa carta é da lavra de um colega de vocês, o sr. Alípio Nogueira [radialista que, na época do crime, trabalhava com Valério Luiz na Rádio Jornal 820 AM, hoje Bandeirantes]. O motivo da acusação eu não sei, é uma questão de polícia e eu não adentro ao trabalho policial, porque acho que isso cabe ao advogado e não a mim.

Elder Dias — O sr. está dizendo que essa proibição passou por Alípio Nogueira, que era colega de Valério na rádio à época?
Não sei. Eu sei sobre quem lavrou, mas quem pediu não sei. O que consta é que Adson Batista [diretor de futebol do Atlético] teria conversado com Alípio e este teria feito essa carta.

Cezar Santos — O sr. está dizendo, então, que houve uma linha de investigação única?
Única.

Cezar Santos — Essa linha apontava para o sr.?
Não para mim, mas para a diretoria do Atlético.

Cezar Santos — A polícia, então, foi induzida a adotar essa linha?
Esse tipo de questão eu não respondo, porque não entro em parte técnica. A polícia fez o trabalho dela. O que eu acho é que seria bom federalizar a investigação do crime. Para mim, seria a melhor coisa. Não sei como isso se daria, mas é um caminho a ser tomado.

Cezar Santos — O sr. já tinha conversado pessoalmente com Valério Luiz alguma vez?
Várias vezes. Viajamos juntos, inclusive.

Frederico Vitor — Que tipo de relação o sr. mantinha com Valério Luiz?
Normal, tranquila, como eu te­nho com a imprensa, de modo geral.

Elder Dias — O sr. acredita que Valério Luiz exacerbou nas críticas que fez ao Atlético em algum momento?
Eu tenho uma rádio e sei bem como funcionam críticas jornalísticas. Isso é natural em qualquer segmento do futebol e ninguém briga por conta de crítica de A ou de B. Não existe motivo para ter esse tipo de reação contrária. E reitero que não foi pedido de minha parte para fazer carta que proibisse alguém de entrar. Inclusive, eu nem estava mais no Atlético.

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Elder Dias — Não só o Atlético, mas os demais clubes da capital, Goiás e Vila Nova, também costumam proibir entrada de um ou outro jornalista ou radialista. É uma forma de intimidar o trabalho. Poderia citar tranquilamente dois ou três casos agora. Como o sr. já foi dirigente, como vê esse tipo de medida? É uma maneira de cerceamento do trabalho, um tipo de imposição de pauta?
Essa parte não era minha, isso é diretoria de futebol. No clube eu era vice-presidente, não tinha autonomia para proibir, ou contratar, ou demitir. O papel de um vice-presidente é ser vice.

Euler de França Belém – Houve uma denúncia de suspeita de compra de resultado por parte do Atlético no jogo contra o Barras, no Piauí, pela Série C de 2007. O que o sr. tem a dizer sobre isso?
Se teve denúncia, eu desconheço. Estive nesse jogo, fui e voltei no mesmo dia. O Atlético, inclusive, foi desclassificado. Se houvesse algum tipo de compra de resultado, o su­cesso seria evidente e não foi nada disso.

Euler de França Belém – Por que o sr. saiu da diretoria do Atlético?
Por um único motivo: financeiro. Como qualquer clube goiano, o Atlético tinha seus déficits. Muita gente pensava que o Atlético vivia uma fase nababesca, com muitos patrocínios, porque era dirigido por políticos, deputados que conseguiam verbas etc. Não era nada disso. Eu tinha feito um empréstimo em meu nome para o clube, em 2010, que não foi honrado. Veio 2011, quando o Atlético fez a melhor campanha da história dele, e novamente tomei um empréstimo a pedido do presidente, dr. Valdivino de Oliveira, que também não foi pago. Tanto é que hoje estou sendo executado nesse débito que ainda não foi saldado. A sorte é que tenho como avalistas da operação o presidente e o atual vice-presidente. Está lá para quem quiser ver: tomei o dinheiro emprestado e o repassei para o clube, isso está no balanço do clube. Portanto, eu saí do futebol por questão financeira.

Euler de França Belém – Quando Valério Luiz falou a expressão “os ratos estão abandonando o navio”, o sr. pensou em processá-lo?
De forma alguma. Eu nem vi essa reportagem, vim a tomar conhecimento dela depois, por parte da im­prensa. Eu já nem fazia parte do clu­be. É algo que não me afeta em nada.

Cezar Santos – Onde o sr. estava no momento do crime e como ficou sabendo do ocorrido?
Eu estava em minha casa e tomei conhecimento quando cheguei ao cartório, às 3 horas e pouco da tarde.

Cezar Santos – Consta do caso a coincidência, ou pelo menos uma curiosidade, o fato de o sr. ter alugado uma casa em frente à rádio onde Valério trabalhava?
Aluguei uma casa? É uma área de quase 7 mil metros quadrados, que adquiri em tempos bem atrás. Talvez a rádio tenha alugado uma casa em frente à área, que já era minha. En­tão, eu não aluguei casa nenhuma, ela é propriedade de meus filhos.

Euler de França Belém – Mas na área há uma casa?
Na área, tem uma faculdade, a Faculdade Ávila.

Euler de França Belém – O sr. pode explicar melhor?
Lá, na T-4, funcionava a Faculdade Ávila.

Euler de França Belém – Mas quando ocorreu o crime ela estava vazia?
Tinha morador na casa, tinha pessoa que tomava conta, inclusive de piscina.

Euler de França Belém – Mas na casa, no dia do crime, tinha um funcionário seu…
Não, ele não era funcionário meu.

Euler de França Belém – Ele não trabalhava como seu motorista? Ou lhe fazia algum favor?
Ele administrava dois caminhões que eu tinha, e ainda tenho. Nada mais do que isso.

Euler de França Belém – Na investigação policial geralmente fazem um laudo sobre as ligações telefônicas. Foi feito esse laudo de seu telefone 24 horas antes e 24 horas depois do crime?
Eu nunca vi isso em lugar nenhum. Não há isso no inquérito.

Euler de França Belém – O sr. considera que isso é uma falha do inquérito?
Claro que é. É uma falha, porque falaram tanto em ERBs, ERBs, ERBs [sigla pra estação rádio base, equipamentos que fazem a conexão entre os telefones celulares e a companhia telefônica]. Nem sei o que é isso, mas onde estão?

Euler de França Belém – Sobre os militares acusados no crime, o sr. mantinha ligação com eles?
Eu os conhecia. Eles me acompanhavam aos jogos, isso é normal. Todos os dirigentes de clubes têm pessoas que andam com eles, para fazer a segurança.

Euler de França Belém – O soldado Ademá Figueiredo fazia segurança para o sr.?
Nunca.

Frederico Vitor – E o sargento Da Silva?
Sim, o sargento Da Silva me acompanhava aos jogos.

Elder Dias – O sr. diz que esse procedimento de andar com seguranças é normal entre os dirigentes?
Sim, torcida de futebol é uma coisa maluca. Quando vocês me perguntam se eu me preocupei em ser chamado de “rato” – embora nem saiba se foi dirigido a mim –, basta lembrar que, quando você entra em um estádio de futebol, você é xingado de tudo quanto é nome, muito pior do que isso.

Elder Dias – O sr. sempre foi considerado uma pessoa impulsiva, de torcer com intensidade e até fazer provocações. Um episódio que foi noticiado, pelo menos nos bastidores, foi de uma briga que o sr. teria tido com um torcedor do Vila Nova após um jogo. Isso ocorreu?
De forma alguma, eu desconheço esse fato. Tenho bom relacionamento com a torcida do Vila. Essa história não existiu.

fui agredido por Alípio Nogueira e revidei, me defendi. assim como o Alípio tem marca no rosto de um golpe dado com o microfone por Valério Luiz”
“Fui agredido por Alípio Nogueira e revidei, me defendi. assim como o Alípio tem marca no rosto de um golpe dado com o microfone por Valério Luiz”

Euler de França Belém – Mas existe uma história de agressão entre o sr. e o radialista Alípio Nogueira?
Eu fui agredido pelo Alípio e revidei. Assim como Alípio tem uma marca no rosto em decorrência de um golpe dado com o microfone por Valério Luiz. Hoje eu tenho um bom relacionamento com Alípio, converso com ele sem qualquer problema.

 

Elder Dias – Como foi esse episódio com Alípio, o sr. poderia detalhá-lo?
Adson Batista me ligou um dia, dizendo que Alípio precisava de uma quantia e perguntou se eu poderia emprestar que, depois do jogo, ele me retornaria o dinheiro. Não sei se ele não tomou conhecimento do depósito, mas, o fato é que, ele fez alguns comentários sobre mim na Rádio 730, onde ele trabalhava na época. Na saída do jogo, eu o encontrei no túnel e o questionei: “Por que você está falando mal de mim, Alípio?”. Ele me respondeu: “Ué, eu falei e outra coisa, o sr. fique quieto, seu velho, senão eu te ‘prego a mão’” ou coisa assim. Eu disse, “que é isso, você está ficando doido?”, mas ele veio para cima de mim e eu me defendi. Só isso. Tinham várias testemunhas na hora do acontecido.

"Eu e Valério  Luiz já tínhamos viajado juntos, ele acompanhava o Atlético, dei várias entrevistas para  ele e sua equipe”
“Eu e Valério
Luiz já tínhamos viajado juntos, ele acompanhava o Atlético, dei várias entrevistas para ele e sua equipe”

Cezar Santos – Surgiu uma conversa de que Valério Luiz teria tentado lhe extorquir dinheiro. Isso aconteceu?
Mentira. A única proposta de negócio que Valério me fez foi para alugar o Clube do Mané [de propriedade da família de seu pai, Manoel de Oliveira]. Ele esteve no Atlético para isso, depois de ter oferecido para o Edminho [Edmo Pinheiro, empresário e dirigente do Goiás]. Seria algo ligado à torcida do Atlético, time para o qual ele, Valério, também torcia. Isso foi a única coisa em termos de negócio que tive com ele. De forma alguma ele me extorquiu, nunca houve nada disso. Já tínhamos viajado juntos, ele acompanhou o Atlético no Rio de Janeiro, em Natal, contra o ABC, dei várias entrevistas para ele e sua equipe.

Cezar Santos – O sr. considera que o fato de ser um homem rico, poderoso, uma pessoa que tem amizades nos altos escalões da política, tudo isso pode ter contribuído para que houvesse um inquérito feito de forma enviesada para incriminar o sr.?
Eu não faço esse vínculo. Tenho bom relacionamento com o governo, sou amigo pessoal do governador. Mas quero deixar uma coisa clara: eu não entro naquilo que a polícia apurou. Quem quiser tomar conhecimento e quiser ver, tudo está nos autos, para saber sobre o que há sobre minha participação ou não. Não acredito que haja nenhuma perseguição, não me sinto perseguido de forma alguma. Para mim, é tudo coisa da vida, algo que a gente às vezes tem de passar. Amanhã você pode estar passando pelo mesmo problema que eu passo, sempre lembrando que é importante a gente ser pessoa que acredita e tenha fé. Sou religioso, tenho fé em Deus, tenho fé na minha verdade e acho que não posso ser mutilado por fofoca, como essas de que eu teria brigado com alguém da torcida do Vila ou coisa assim. Isso é fofoca infundada. Tudo isso, se existir, qualquer tipo de briga vai parar em um boletim de ocorrência.

Outra coisa: não sou milionário, eu tenho uma história nesta cidade, é diferente. Tenho 37 anos de prestação de serviços a esta cidade.

Cezar Santos – O fato de eu ter dito que o sr. é rico não é uma crítica, pelo contrário: eu gostaria de ser rico, inclusive.
Acho que a riqueza interior é até melhor, porque ela é menos cobrada. Eu gostaria que vocês fossem ao cartório. São sete famílias que foram mandadas embora, coisas paralelas a esse crime que estão acontecendo e que estão trazendo muito mais prejuízo a essas famílias. Não estou dizendo que são coisas mais ou menos importantes, mas que são coisas também sérias.

Mas as pessoas não estão enxergando isso. Eu posso garantir que sempre procurei ser uma pessoa vinculada à minha sociedade, à minha comunidade. Sempre fui um sujeito líder de classe, fui presidente da minha entidade durante muitos anos. Penso muito no ser humano. Quem trabalha comigo sabe da maneira que eu trato as pessoas. Por isso eu acho que tirar uma vida não é coisa para qualquer um. E eu sei que não tenho essa capacidade.

Yago Rodrigues Alvim – Há uma ação civil pública, instaurada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), contra o cartório e contra os três filhos do sr. Maurício –– Cejanna Sampaio, Thiago Sampaio e Maurício Filho –– por improbidade administrativa, em que teria sido pago, aos filhos, uma grande quantia, aproximadamente de R$ 1,3 milhão, sem que eles tivessem, de fato, prestado algum serviço. Como explica essa ação?
Essa pergunta eu gostaria que fosse respondida por minha advogada, a dra. Flávia (presente à entrevista) respondesse.

(A advogada fala em nome de Maurício Sampaio)
Flávia Quinan – Na verdade, há mais de uma ação. Uma delas, a que foi instaurada agora, não é nem sobre a questão dos cargos dos filhos. O Ministério Público pegou uma correição, que havia sido feito pelo Conselho Nacional de Justiça e, dessa correição, foi instaurado um inquérito na delegacia e um processo na diretoria. Em ambos, o dr. Maurício não foi indiciado. O relatório concluiu que não há infração, não há indício de crime. Ainda assim, o MP-GO fez o requerimento dessa ação. O dr. Maurício ainda não foi citado e não temos conhecimento dos termos, integralmente. Sobre os filhos, ele os contratou assim como contratou 200 pessoas para o cartório. Ele tinha liberdade para fazê-lo. Eles prestavam serviço ao cartório.

Yago Rodrigues Alvim – E como explica, no caso, a graduação em Medicina, na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), em São Paulo, de Cejanna, uma vez que prestava serviço ao cartório, em Goiânia?
Flávia Quinan – Ela prestava serviço online. Ela analisava documentos. Porém, se fazia ou não, não cabe ao MP-GO olhar. O objeto da ação não tem sentido. A lei não proíbe a contratação de quem quer que seja. Ele contrata, demite, faz o que bem entender.

Yago Rodrigues Alvim – O que se investiga é se houve, realmente, essa prestação de serviços, pois eram pagos para isso.
Flávia Quinan – Mas pelo MP-GO? Não tem sentido. O que é fato é que o serviço foi prestado.

(As perguntas voltam a ser dirigidas diretamente a Maurício Sampaio)

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Marcos Nunes Carreiro – Tenho conversado com alguns dos novos titulares dos cartórios. Eles alegam que têm de reestruturar as unidades, porque estavam sucateados, em situação lamentável. Alguns chegaram a chamar os cartórios antigos de “chiqueiros”. O que o sr. administrava não há novo titular ainda. Mas qual é a real situação dos cartórios?
Eu desconheço isso, até porque existe uma correção anual em todos os cartórios, feita pela Corregedoria de Justiça. Se sucateados estivessem, então caberia ao Poder Judiciário fazer o levantamento e providenciar que tudo fosse regularizado. Não procede muito essa história, porque o serviço era prestado a contento, visto que, se fosse diferente, haveria leis para desmembrar e criar outros. A criação se faz quando o serviço delegado não atende à população. Posso falar de minha serventia: não se pode dizer que ela esteja sucateada, haja vista que a pessoa que pretende tomar posse quer até ficar com meus equipamentos, quer usar meu sistema. Não sei o que é mais moderno do que processamento de dados, com digitalização de documentos. Não tenho papel no cartório, trabalho com assinaturas eletrônicas, o que dá condição de um funcionário não precisar ir ao cartório. Minha funcionária podia fazer seu trabalho de sua casa ao dar à luz, via assinatura eletrônica, não tem nenhum impedimento nisso.

Mas há aquela mania de quem chega trazer o novo. Eu pergunto: o que mudou? Tirou o Maurício e botou o Pedro, botou o José? Não mudou nada, vai continuar o sistema. Não estão combatendo o serviço, estão trocando as pessoas. Amanhã podem tirar alguém aqui do jornal e colocar outro. Não mudou nada, não é a questão de ter ou não concurso que torna o serviço sucateado ou não. O serviço notarial é muito bem prestado, e prestado também por filhos de titulares. Se pegar qualquer cartório vai ver que tem filho de titular, a nomeação é de livre arbítrio, a lei prevê isso. A única coisa que se pede é que se faça a nomeação e ela sejam enviada ao tribunal, para ser referendada ou não.

Marcos Nunes Carreiro – Em relação à situação do sr. sobre o cartório, a Corregedoria Nacional de Justiça, inclusive o presidente do Foro de Goiânia, dr. Átila Amaral, já falaram sobre as irregularidades que teriam no 1º Registro de Protestos.
Falaram de indícios. Existiam os indícios e o CNJ avocou o processo para lá, fez a fiscalização e o devolveu, para que seja julgado aqui. Não vai ser julgado lá, mas aqui.

Marcos Nunes Carreiro – O interino, em seu lugar, foi um funcionário do TJ, o dr. Irismar Souza. Chegou-se a ventilar que o sr. o teria ameaçado de alguma maneira. Houve alguma ameaça da parte do sr.?
Nunca. Nunca houve nenhum tipo de ameaça. E vou dizer mais: a lei diz que o interventor fica 90 mais 30 dias, 120 no total. Eu estou há um ano afastado e nunca pus os pés no cartório. Nunca fui lá, nunca estive lá, nunca me preocupei com isso. Só estive com o dr. Irismar no escritório da dra. Flávia [advogada] e a única coisa que eu pedi foi que ele não perseguisse a minha família cartorária, meus funcionários. Ele não cumpriu e ficou por isso mesmo, é um direito que ele tem e ele está lá para resolver isso. Então, não tem essa ameaça.

Marcos Nunes Carreiro – O sr. teve já algum contato com o novo titular?
Eu não trato da questão de cartório com ninguém. Isso é com minha advogada, que recebe a todos e não há problema algum, é muito tranquilo. E, se amanhã eu não for mais titular, eu vou viver minha vida da mesma forma. Sou um sujeito espartano, não me preocupo com essas coisas, não. Di­nhei­ro não é tudo na vida de uma pessoa. Eu tenho 56 anos e tenho meus netos, que eu quero ver crescerem, tenho minha família. Quero continuar meu trabalho na minha vida. Qual é a população de Goiânia?

Frederico Vitor – Um milhão e 200 mil habitantes.
Pois são 18 cartórios para essa população, são 18 beneficiários. Quer dizer, eu fazia parte de uma minoria, a maioria não tem nada disso e vive. Eu também viverei, se Deus quiser.

Marcos Nunes Carreiro – Uma das maiores críticas feitas a seu cartório era a questão do contrato de exclusividade com o Detran para prestação de serviços. Uma quantia considerável em dinheiro e o cartório do sr., de acordo com o site da Corregedoria do TJ, tinha um rendimento muito acima dos demais. Explique para a gente como isso funcionava.
O cartório não é só de protestos, mas também de títulos e documentos. A lei é muito clara e fala que a alienação fiduciária se faz no cartório de registro de documentos. O governo federal, por meio do Denatran [Departamento Nacional de Trânsito], criou um sistema nacional de registros, o Renavam, e passou a fazer os registros. Só que, ao adquirir um bem financiado, o banco cobrava uma taxa de cartório, que ficava guardada. Ele cobrava de você e não registrava o documento. Caso você se tornasse inadimplente, o banco corria até o cartório, registrava o documento e entrava com a ação de busca e apreensão do bem. Isso estava errado, porque, se cobra a taxa de cartório, que se registre, porque você precisa ter o direito assegurado de que pagou e recebeu o bem. Então, eu fui ao Procon, fiz uma denúncia juntamente ao Ministério Público e, dessa forma, em 2008 eu passei a fazer o registro. O Estado inteiro fazia, porque, creio que o Artigo 1.160 do Código Civil, diz que os registros serão feitos na parte do devedor. Então tudo correu normal, se fazia o registro normalmente. Não sei se em 2011, já no governo de Marconi Perillo, uma portaria do Detran exigiu que os registros fossem feitos na Comarca de Goiânia. Então, eu nunca tive exclusividade, o que é uma conversa sem fundamento. A determinação era de que se fosse na comarca, e aqui são dois cartórios que fazem o serviço. Eu não sei por quanto o outro fazia o serviço. Agora, sobre a questão de um ganhar mais do que o outro vai muito de quem busca o serviço. Eu peço a você, como jornalista, que vá ao site e veja quanto o cartório faturava e quanto fatura hoje. Não estou dizendo que eu seja competente, mas, até para complementar a questão sobre os cartórios sucateados, para ver que isso não é verdade. Eu tinha um bom serviço e o prestava com qualidade, muito bem feito, graças a Deus. Eu atendia bem à sociedade de modo geral, que antes pagava pelo serviço, mas não o recebia. Ela passou a pagar e a recebê-lo.

Marcos Nunes Carreiro – Uma PEC [proposta de emenda constitucional] no Congresso teria uma participação importante do deputado federal Jovair Arantes (PTB), que tem uma ligação com o sr. por conta do Atlético. Houve especulação de que haveria motivação pessoal nessa PEC, que alteraria a decisão sobre os concursos para cartórios. Houve mesmo alguma conversa do sr. com Jovair em relação a essa PEC ou não?
Nunca houve. Ocorre que essa PEC não é de Jovair Arantes, mas do deputado João Campos (PSDB), que é meu amigo. O que dizia essa PEC? Primeiramente ela não me atingiria, porque minha situação é anterior à Constituição de 88, já que o cartório em que fui efetivado vagou em 3 de maio de 1988, portanto na Constituição antiga. Posto isso, o Artigo 236 da Constituição diz que “os serviços notariais de registros serão exercidos em caráter privado por delegação do poder público” e que uma lei federal deveria regulamentar a matéria. Isso foi em 5 de outubro de 1988, mas essa lei não veio. Só veio em novembro de 1994. Nesse espaço, não se realizou concurso no Brasil, mas houve, sim, uma tentativa – mas um movimento nacional, não partiu do Maurício nem de ninguém, mas de entidade nacional, da qual fui presidente aqui em Goiás – para acomodar essas pessoas, até por questão de justiça, já que elas estão lá há 20 ou 30 anos. O texto que foi elaborado dizia que, até que a lei viesse, que essas pessoas fossem efetivadas com base na lei anterior. Ocorre que, no Brasil, a Constituição anterior não tem esse poder de ser recepcionada pela nova. Mas, até 1991 ou 1992, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendia e dava posse. Todos os que entravam com pedidos foram legalizados e mantidos como efetivos. Até que houve decisões contrárias e essas pessoas perderam a delegação, mas elas estavam efetivadas. Então, há uma confusão: as pessoas não estavam nos cartórios sem uma efetivação, isso foi dado pelo tribunal. Caiu por meio do concurso, mas não teve maracutaia nenhuma.

O deputado João Campos entendeu a necessidade de solucionar essa questão. Eu já tenho tempo para aposentar, mas minha esposa, que está no cartório há 32 anos, não pode aposentar. E pode perder toda a contribuição que ela já fez. Eu não vi uma linha escrita sobre isso. Faltam a ela dois anos de contribuição, mas o Ipasgo não aceita mais, não quer receber. Eu tenho uma funcionária que aposentaria agora em setembro e foi demitida. Então, há uma situação que não é como foi colocada, as pessoas estão sofrendo. Essa PEC iria acomodar essa situação. Depois da lei, a questão do concurso, ninguém está discutindo. Eu lhe garanto que nunca estive no gabinete de João Campos para pedir isso. Do dia em que o texto foi modificado, o que não foi por mim, eu nunca mais apareci lá para votação da PEC, nunca fui lá por conta disso. E por que o Jovair entrou nisso? Por que é líder de bancada? Pode ser, mas eu nunca fui lá. No meu texto, atendia-se até a lei, até 1994. Desse período para frente, não teria como efetivar ninguém. Mas, desse período para trás, sim, eu acho que seria até questão de justiça.

Euler de França Belém – Nessa questão dos cartórios, qual era o papel do juiz Ari Queiroz, que chegou até a ser afastado pelo Conselho Nacional de Justiça? O sr. tem relações pessoais com ele?
Não, não tenho relações pessoais com o dr. Ari. Ao que eu saiba, usaram isso como mote de afastamento dele, o que não é verdade. Inde­pen­dentemente disso, as pessoas foram efetivas e todas entraram com ação anulatória contra o decreto 525, que afastou todo mundo. Como ele é o juiz da Vara da Fazenda Pública e o primeiro processo, que não sei de quem foi, caiu para ele, coube a ele dar a decisão. E todos os demais que ingressaram na Justiça iriam para ele automaticamente, era vinculante. E ele foi decidindo. No meu caso, nem sei que número fui entre os processos que ele julgou. Portanto, não há procedência nenhuma, o dr. Ari é uma pessoa conhecida de todos, professor de universidade. Acredito que seja um dos juízes mais ativos do Poder Judiciário, mas não tenho nenhuma ligação especial com ele. O conhecimento que tenho dele é normal, assim como tenho de outros juízes.

(a advogada Flávia Quinan, então, pede a palavra)
Flávia Quinan – Em alguns casos, algumas ações foram distribuídas a outros juízes e estes declinaram para que o processo fosse ao dr. Ari, que julgou não só o processo do dr. Maurício, mas de mais de 300 cartorários daqui. Outros juízes declinaram porque a prevenção era do dr. Ari, que julgou com sua convicção em todos os casos. O Tribunal de Justiça, em alguns casos, confirmou a sentença dele. Utilizou-se desse argumento para iniciar um processo de afastamento, mas ele não julgou só o processo do dr. Maurício.

(as perguntas voltam a ser dirigidas diretamente a Maurício Sampaio)
Euler de França Belém – Sr. Maurício Sampaio, o sr. fala que não é o responsável pelo assassinato de Valério Luiz. Mas o inquérito o coloca como mandante. O sr. sugeriu que está sendo vítima de uma conspiração. Que conspiração seria essa?
Você usou a palavra “conspiração”, que eu não usei. Eu disse que, por detrás, existem outras coisas acontecendo paralelamente à questão do crime. Vejo que tem a questão do cartório, sim. É o meu pensamento. Não sei quem estaria por trás disso, não tenho bola de cristal para saber, diferentemente de outras pessoas. Mas há um complô, coisas que acontecem em paralelo. Hoje eu sou inimigo da sociedade goiana. Por quê? Pela morte? Pela falta de pagamento de impostos, que eu não teria pago? O que é? Todo dia é uma história, as coisas são repetitivas, existe uma ação civil pública, uma ação de improbidade, uma ação popular. Tudo sobre um mesmo assunto. Eu não sei se um homicídio pode se vincular a um serviço. Então, é toda uma situação que vai acontecendo.

Cezar Santos – Esse crime suscita algumas dúvidas. O sr. é um homem muito inteligente e, em todo o processo, foi muito bem assessorado, por alguns dos melhores advogados de Goiás. O sr. tem amigos delegados, amigos dentro da força policial…
(interrompendo) Desculpe eu o cortar, mas o que você considera como amizade? Vamos ponderar entre o que é amizade e o que é conhecimento.

Cezar Santos – Minha indagação é que, certamente, o sr. conversou com pessoas e especulou sobre a autoria do crime.
Nunca procurei ninguém. (enfático) Nunca. Nunca conversei sobre esse assunto porque tenho convicção de minha inocência.

Cezar Santos – Nem com seus advogados o sr. questionou sobre o que pode ter acontecido?
(Thiago, filho de Maurício Sampaio e presente à sala de entrevista, pede a palavra, visivelmente emocionado)
Thiago Sampaio — Sou filho de Maurício, meu nome é Thiago e queria aproveitar essa pergunta. Obviamente, desde que houve o assassinato aconteceu muita conversa do tipo “o empresário”, “o cartorário”, sem usar o nome de meu pai, mas a gente percebia claramente a quem as pessoas queria se dirigir. A gente então falava “pai, o sr. não vai mexer, vai ficar quieto?”. As palavras do meu pai sempre foram: “Eu não tenho nada com isso, não vou mexer nenhuma palha em relação ao crime”. Eu falo do fundo do meu coração: hoje eu vejo como um erro ele não ter “mexido os pauzinhos”. Mas, na convicção de que ele não tinha nada a ver, ele falava para a gente de casa: “Não vou mexer uma palha porque eu sei que sou inocente.” (bastante comovido) E aí, olha o que isso virou.

(o repórter volta a perguntar para Maurício Sampaio)
Cezar Santos – Uma investigação paralela não poderia ajudar a provar sua inocência?
Eu sou inocente, não tenho nada com isso. Sou um sujeito que sou responsável pelos meus atos e não quero pagar pelo que não cometi. Seria um grande erro do Judiciário, ou de quem quer que seja, condenar um inocente. Mas é a vida. Alguém um dia veio à Terra para salvar todos e foi crucificado. Não que eu queira me comparar, mas há uma injustiça muito grande, existem erros grosseiros cometidos, mas não cabe a mim, mas a meu advogado tentar provar em juízo essas coisas, da forma que for. Mas eu tenho minha consciência, sou um sujeito de família e vocês não imaginam o que tenho passado. Graças a Deus, eu tenho muita força. Sou temente a Deus e sou um sujeito que não tem vergonha de estar aqui com vocês. Estou pronto para qualquer coisa que vocês queiram perguntar. Estou aqui respondendo, mas só posso responder aquilo que eu sei. O que eu não sei não tem como.

nunca estive com o açougueiro marcus vinicius xavier, só no depoimento em juízo. não o ajudei a sair do país, é uma loucura isso”
“Nunca estive com o açougueiro Marcus Vinicius Xavier, só no depoimento em juízo. não o ajudei a sair do país, é uma loucura isso”

Cezar Santos – O sr. de alguma forma ajudou o acusado Marcus Vinícius Pereira Xavier, o Marquinhos, a viajar para fora do País?
Pois é, dizem que eu tinha quase 500 imóveis em Goiânia, um jato, fazenda no Texas e, então, eu teria pagado um jato transcontinental para levar o Marcus Vinícius. Só que eu nunca estive com ele, a não ser quando do depoimento em juízo. Nunca contribuí com nada para ele, não tenho contato, nem sei como chegar até ele. É outra conversa que não procede, é uma loucura. Essas coisas são fáceis de detectar. Se alguém freta um avião, isso ocorre por meio de uma empresa, que faz um contrato com quem locou; se atravessar o mar, vai entrar no espaço aéreo de outro país e vai ser necessária uma permissão. Ninguém vai atrás disso, só jogam que se fretou um avião? Essa notícia foi circulada aqui.
Outra questão sobre o que tal promotor teria, o que ele tem… O que eles tem? Basta pegar meu depoimento à Justiça, quantos me perguntaram, qual foi o promotor que me perguntou alguma coisa. Uma única pergunta. Não sabem, estão perdidos, porque acusam, têm ressonância da imprensa, mas não têm provas, não existem.

Agora, eu vejo minha família sofrendo e eu sofro também. Eu digo para você: se alguma culpa eu tivesse, assumiria a qualquer momento. Eu não tenho medo da vida, tenho medo do que as pessoas fazem da minha vida. E as pessoas estão enganadas, estão acabando com um cidadão de bem. Procurem minha vida para trás. É muito fácil falar da minha filha, que ela é uma fantasma. Não, ela é muito viva e muito inteligente. Ela é médica, uma pessoa honrada, que não quer nem voltar para Goiânia. Perguntaram para mim sobre isso e eu respondi que, quando isso passar, eu não pretendo nem ficar em Goiânia. Hoje eu sou considerado um inimigo de Goiânia, sou considerado um sonegador. Cadê a prova que eu soneguei um centavo que seja? Vão à Receita Federal, minha vida está sendo vasculhada de cima para baixo e debaixo para cima. Peguem os telefones 24 horas, as gravações de um ano da minha vida. Podem encontrar alguma bobagem, alguma coisa aqui e outra ali, nada mais que isso. Não existe nada mais, não existe essa possibilidade. (enfático)

Não existe inimizade, sempre fui muito bem tratado pela im­prensa e todos, de todas as rádios que cobrem o Atlético, sabiam como era meu tratamento com todos. Isso é uma coisa insana.

Sobre a situação de Valério Luiz? Quando eu assumi a Rádio 730, sabe quem foi lá pedir emprego para o filho? Foi o Valério, que foi à rádio pedir emprego para o filho dele, Valério Filho [advogado]. E eu iria contratá-lo, só não o fiz porque à época Joel Datena era meu sócio na época e ele tinha um primo advogado que já fazia os serviços da área tributária. Que inimizade era essa, então? Cadê a inimizade?

Cezar Santos – O sr. tem convicção de sua inocência, obviamente. Mas o sr. disse que percebe uma ligação do crime com a questão do cartório.
Não falei isso. Eu disse a vocês que, se você pegar uma matéria de jornal, como a que trata do Ministério Público, vem uma nota embaixo que relaciona isso ao fato de eu ser réu. Sempre tentam remeter uma coisa à outra. Ora, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Às vezes incomoda quando colocam no site que o cartório faturava mais do que os outros. Mas, e daí? Que pecado há nisso? Eu moro em um país capitalista, que pecado há em uma pensa tentar melhorar a vida, ganhar mais? Eu não roubei ninguém. Como eu disse para vocês, basta ir atrás, é cobrado uma taxa de registro de quem financia carro, e não se registrava, só quando expediam um mandado de busca e apreensão. E isso é no País inteiro.

Cezar Santos – Faço uma pergunta mais direta: o crime tem relação com questão de cartório?
Não, eu não falei isso. Um crime é um crime. Eu acho é que não tiveram outras investigações. Não tinha um filho de Manoel de Oliveira preso dias antes? Será que não houve um acerto de contas de traficantes que não receberam? Esse menino estava praticando assaltos.

Euler de França Belém – Deixe eu reformular a pergunta: talvez o que Cezar tenha querido dizer é que talvez possam estar querendo usar o crime para lhe tirar o cartório.
Ah sim, não tenho dúvida disso, isso está evidente.

Frederico Vitor – O sr. tem amizade com o coronel PM Wellington Urzêda?
Amizade, exatamente, eu não tenho. Eu o conheci no Atlético e tenho por ele respeito e consideração. Fora disso, não tenho nenhum vínculo, ele não é de frequentar minha casa e nem eu a dele. Tenho conhecimento por causa do clube, somente isso.

Euler de França Belém – Nessas coisas de bastidores, em que coisas são faladas mas não são provadas, dizem que alguém da polícia teria procurado o sr. para se oferecer para bater em Valério Luiz. Isso procede?
Nunca. Não existe isso.

Euler de França Belém – Ninguém entre policiais se ofereceu para matar Valério Luiz?
Não tem essa possibilidade, nunca teve esse tipo de conversa. Meu contato com eles era de ir para o estádio e voltar. No máximo, jantávamos. Não tenho esse vínculo, eles passavam na minha casa, eu descia e entrava no carro e ia para o estádio. Não tenho essa ligação com a polícia.

Euler de França Belém – Qual é a ligação verdadeira do sr. com o acusado Ademá Figueiredo? Ele frequentava a Rádio 730?
Eu fui à rádio três ou quatro vezes na minha vida. O que sei é que ele acompanhava Joel Datena, e que inclusive estava com Joel no dia do ocorrido. Eu não tenho ligação com ele, a ligação maior que eu tinha era com o sargento Da Silva, mais ninguém.

Euler de França Belém – O sr. diz que não está envolvido no crime. Mas o sr. acha que há possibilidade dessas pessoas que têm o nome no processo estarem realmente envolvidos?
Eu não acho nada de ninguém. Se tiverem envolvimento, isso teria de constar dos autos. O que consta é que todos estavam em um lugar certo, determinado.

Euler de França Belém – Mas por que a polícia só explorou esse veio?
Foi o único, a questão do Atlético. Não conheço outra linha que tenham procurado.

Cezar Santos – O fato é que um assassinato foi cometido e colocaram um culpado na mira. Dizem que não há crime perfeito, mas parece que está pintando um crime perfeito nesse caso.
Será? Alguém investigou a vida da vítima? Alguém investigou? Ninguém. Por que apagaram o Facebook, o Twitter?

Cezar Santos – Na época, se falou até em questão de relacionamentos extraconjugais de Valério. Seu pai, Manoel, disse que mandou fazer uma investigação em relação a isso e não encontrou nada.
Euler de França Belém – A polícia disse ter feito uma investigação nesse sentido, de questão conjugal, e não teria encontrado nenhum indício.
Eu não policio a vida de ninguém e não convivi com Valério. Mas são indagações que vocês não fazem. Por que o guarda não estava na rádio no dia do crime? Lá tem um guarda que fica vigiando os carros. Por que as câmeras da rádio estavam desligadas? Nin­guém nunca falou isso? Isso está nos autos, no inquérito. Então, um dia acontece uma coisa e as câmeras estão desligadas e a pessoa não está. Hoje sabemos que muitos dos crimes são desvendados pelas câmeras que estão pelas ruas. É assim que pegam assassinos por exemplo. Pelo que sei dos autos, Figueiredo teria andado quatro ou cinco quilômetros e não teria passado por nenhuma câmera. Como assim, ele é invisível? Difícil isso. Ninguém nunca preocupou em divulgar isso. Cadê as câmeras? Isso teria de estar nos autos. Hoje todo mundo tem uma câmera filmando, ainda mais em um local cheio de prédios como aquele.

Euler de França Belém – Houve reconstituição do crime?
Não houve. Você já viu uma coisa dessas, não ter uma reconstituição do crime? Nesse inquérito não tem.

Cezar Santos – Em sua situação, o sr. pode viajar, sair do País? Seu passaporte foi recolhido?
Eu entreguei meu passaporte. Eu não tenho interesse em nada, em fugir ou coisa assim. Isso é história. Eu nasci e me criei aqui. A sociedade que me julgue.

Euler de França Belém – Há a questão das provas materiais do crime – armas, moto etc. O sr. me disse que a moto não aparece no inquérito, por exemplo.
Eu já me encontrava preso quando a delegada mostrou a moto que seria a do crime. Eu disse a você e vou repetir a todos: o inquérito diz que Valério teria morrido cerca de 14h10 ou algo assim, pouco depois das 14 horas. A testemunha da rádio disse que cruzou com o motoqueiro minutos antes, isso está no depoimento dela. Ocorre que, quando a delegada mostrou a moto, tinha um contador em cima, do horário de uma câmera, em que o sujeito estaria indo para matar às 14h54. Como é que o sujeito vai para um crime que já aconteceu? Então, eles tiraram essa moto do inquérito. Também não está o capacete nem a arma. Aqui mesmo nós discutimos sobre quem teria matado, se Figueiredo ou Marcos Vinícius. Resumindo a conversa, eu seria o único mandante que não teria um executor. Não se sabe quem matou. Diz o Ministério Público, recentemente, que iria pedir a exclusão de Marcos Vinícius, alegando a não participação dele no crime. Então, não entendi.

(a advogada Flávia Quinan interfere)
Flávia Quinan – Essa mesma moça [a testemunha] na delegacia disse uma coisa e em juízo disse outra. O juiz perguntou a ela: “A sra. reconheceu a pessoa que estava na moto?” Ela disse que haviam lhe mostrado uma foto. O juiz insistiu: “Mas mostraram várias fotos?”, porque em delegacia o procedimento é mostra várias fotos para a pessoa apontar alguém. Para ela, mostraram uma única foto, pedindo para ela reconhecer. Ou seja, um reconhecimento com procedimento muito estranho. Em princípio, ela identificou a pessoa perfeitamente, dizendo que ela era parda e tinha sardas, mesmo de capacete. Isso na delegacia, em juízo disse que não era bem assim.

(volta a falar Maurício Sampaio)
Maurício Sampaio – E o inquérito que foi levado para ela assinar no emprego, vocês já ouviram falar nisso? O inquérito sai da delegacia com a delegada e a esposa de Valério, vão até ela levar o depoimento para ela assinar, já pronto. Isso a testemunha falou em juízo. É muito estranho, não?

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Elder Dias – O sr. passou vários meses na prisão por conta de um crime que afirma que não tem nada a ver com ele. O sr. tem um lado religioso. Então, como o sr. vê essa situação existencialmente, em tudo o que está passando – o crime, uma acusação indevida, os problemas com o cartório, uma devassa pessoal. Tudo isso juntamente com um período na prisão. O sr. se considera, então, injustiçado? Seria uma provação?
Sem sobra de dúvida, é algo extramundo para mim. Mas passei. Sou claustrofóbico, mas consegui ficar lá atrás das grades. Procurei me apegar à leitura. Tinha livros de todo tipo, muita gente me levava. Foi um período relativamente tranquilo, não fui maltratado. Na cadeia existem regras e eu me adaptei a elas.

Euler de França Belém – Que tipo de livro o sr. leu na prisão?
Eu li muito a Bíblia. Recebi muitas visitas, de advogados e de pessoas como o padre Luiz Augusto [um dos fundadores da Comunidade Luz da Vida, famoso por receber milhares de fiéis em suas missas]. Lá sempre vão também pessoas para orar. Fiquei lá, vivi. Tive também livros de autoajuda. Lá tem ainda uma biblioteca, que recebe revistas de números atrasados, mas tem.

Cezar Santos – O sr. já tinha sido preso antes?
Nunca. E ainda fui para um presídio de segurança máxima, o Núcleo de Custódia, o pior de todos. Mas, tranquilo, não tive nenhuma dificuldade.

Elder Dias – Dizem que nos momentos difíceis a gente passa a ver o mundo de outra forma. E também dá para fazer uma avaliação de que é amigo de verdade ou não. O sr. fez esse tipo de consideração, sobre quem era amigo de verdade?
Eu sempre tive muitos conhecidos. Amigos, eu continuo os tendo. Tenho amigos que nunca se afastaram, que são pessoas próximas. Claro que, hoje, por eu estar desocupado, sem emprego, estou procurando achar um caminho para mim. Não tenho nada a reclamar de ninguém. Acho que o ser humano é assim, talvez a reflexão maior seja a de que a gente se volta mais para a própria família, à qual a gente passa a dar um valor maior. E os verdadeiros amigos são aqueles que estão próximos, que nunca nos abandonaram.

Elder Dias – O sr. teve amigos que se afastaram, e que o sr. tinha como amigos?
Não sei. É que a gente tem o vício de achar que um conhecido seja um amigo. E eu também tinha uma referência, que era meu trabalho, onde as pes­soas iam me procurar. Obvia­mente, perdendo essa referência, as pessoas não sabem onde me encontrar. Pode ser que, quando eu abrir um escritório ou coisa assim, as pessoas voltem.

Cezar Santos – O sr. se emocionou quando seu filho se manifestou aqui. O que o sr. falaria ao Manoel de Oliveira, pai de Valério Luiz, olhando no olho dele?
Eu acho que Manoel não olharia no meu olho. Eu olharia no dele. Isso porque ele não tem certeza do que me acusa. E eu tenho tranquilidade quanto a isso, porque não tenho nada com isso. Não o recrimino, porque ele é um pai que perdeu o filho, e também uma outra filha, além de outra que teve um acidente e ficou em uma situação de cuidados especiais. Não cabe a mim julgá-lo. Acho que ele não tem uma prova. Se tivesse, eu me calaria. Mas, como eu sei que não tem… Tenho pena dele. Não tenho nenhuma mágoa dele e acho que ele sente, realmente, a perda do filho. Respeito isso.

Elder Dias – O fato de a polícia não ter encaminhado nenhuma outra linha de investigação e a família de Valério naturalmente cobrar uma resposta, querer justiça, faz com que isso se conduza naturalmente para um tipo de campanha que, no fim das contas, tem o sr. como alvo?
Não sei se a família esteja ainda focada nisso. Muita gente me fala que tem uma exposição exagerada de minha pessoa. Ocorre que a comunicação mudou muito, o Facebook, as redes sociais, passaram a ser algo muito forte. Mas eu continuo minha vida. Vou à igreja e, engraçado, nunca vi um repórter tirar uma foto minha na igreja e postar que eu estava lá.

Elder Dias – Que igreja o sr. frequenta?
Vou à Rua 4 [Reitoria Nossa Senhora das Graças], no Atheneu Dom Bosco, que é perto de onde eu moro, frequento também a paróquia do padre Luiz Augusto, em Aparecida, também a Igreja São Judas Tadeu [Setor Coimbra]. Onde me chamam eu vou. Minha esposa é muito religiosa e eu a sigo.

Euler de França Belém – O sr. não acha que pode ter entrado nessa “guerra” que envolve também Carlos Cachoeira? Tentaram envolver o sr. nessa questão, falam que é amigo dele.
Não sou amigo dele. Sou conhecido da família de Andressa [mulher de Carlos Cachoeira]. O sr. Lair, pai de Andressa, é meu conhecido. Não sei quanto tempo que Carlos está casado com ela, o conheci recentemente e não vejo nada de mal. Para um homem que vivia no palácio, hoje ele também é um homem “queimado” pela sociedade, não é?

Eu não tinha nem tenho nenhuma relação comercial com carlos cachoeira. não sou amigo dele, mas conheço o pai da mulher dele”
Eu não tinha nem tenho nenhuma relação comercial com carlos cachoeira. não sou amigo dele, mas conheço o pai da mulher dele”

Euler de França Belém – O sr. tinha relações comerciais com Cachoeira?
Nenhuma. Não tinha nem tenho.

Euler de França Belém – O sr. foi fotografado recentemente na casa de Andressa, assistindo um jogo de futebol da Copa. Carlos Cachoeira estava presente?
Sim, estava presente.

Euler de França Belém – Se o sr. for condenado, será um grande erro judiciário?
Certeza que sim.

Euler de França Belém – E o sr. espera ser absolvido?
Eu já sou absolvido, pelas mãos divinas. Agora, na Terra, não sei o que vai acontecer.

Euler de França Belém – O sr. vai enfrentar algo muito duro, que se chama clamor popular. O sr. acabou de citar as redes sociais. Há uma tendência de condenação. Como o sr. vai receber isso, se for condenado?
É a vida. O que eu posso fazer? Vai ser um inocente que estará indo cumprir uma coisa que não merece.

Euler de França Belém – Pode ser que nesta mesa não haja uma pessoa que acredite em sua inocência. O sr. mesmo falou que a sociedade hoje lhe considera um inimigo, um vilão. Como é para o sr. lutar contra isso?
O que eu posso dizer a respeito disso? É uma questão de não querer enxergar. Não posso pedir para que as pessoas enxerguem. Elas têm de ter a responsabilidade com o ser humano. Mas, se não acreditam, o que eu posso fazer? Nada.

Euler de França Belém – Isso é doloroso para o sr.?
Não sei se é doloroso. É uma coisa que é ruim, que incomoda. Eu me indago a respeito, sinto que o que eu fiz não vale nada, que vale, isso sim, o que a pessoa pensa sem querer pensar, botam uma venda e não quer ver mais nada. O que eu posso fazer? Nada.

Euler de França Belém – A delegada Adriana Barros diz que o inquérito está perfeito e que, ao contrário do que foi falado aqui, eles investigaram outras possibilidades. Como o sr. avalia isso?
Talvez seja mais fácil para ela dizer isso.

Euler de França Belém – A gente conversou antes e o sr. me disse sobre a questão do domínio do fato. Como o sr. analisa isso? O ônus da prova está cabendo ao sr., é isso?
É o que está acontecendo. Estou procurando, pelos meios legais, algo para produzir minha inocência. De repente, o dizer passa a ser a verdade.

Euler de França Belém – Qual foi o centro da defesa do sr.?
Na verdade nem teve defesa, porque só foram ouvidas as testemunhas. Algumas provas que foram pedidas não foram concedidas. Aí fica difícil. A prova principal seria a das ERBs, já que dizem que existe isso.

Euler de França Belém – Como foi a conversa do sr. com o procurador-geral de Justiça, Lauro Machado?
Estive com Lauro diversas vezes e tenho por ele muito respeito. Aconteceu que encontrei com ele em determinado local e ele me disse que tinha certeza de minha inocência, que eu não seria burro de cometer uma coisa dessas.

Euler de França Belém – Ele o processou?
Não sei, talvez porque não tenha sido intimado ainda.

Euler de França Belém – Por que o sr. teria rompido com Neilton Cruvinel Filho, que era seu advogado e sócio na Rádio 730?
Eu não rompi com ele. Advogado a gente contrata e depois pode mudar.

Euler de França Belém – Ele teria revelações a fazer sobre seu caso?
Não sei. Se ele teria, deveria falar.

Euler de França Belém – O sr. o desafiaria a falar?
Não, eu não desafio ninguém. Você disse “teria”. Eu nunca vi nenhuma declaração dele nesse sentido. Inclusive, sou compadre dele, sou padrinho do filho dele. A questão de ter um desacordo comercial é natural.

Cezar Santos – Como advogado, o sr. julgou que Neilton não estaria desempenhando um bom papel?
Não faço essa avaliação. Eu acho que você tem de confiar no trabalho do advogado ou não. Se não está a contento, você troca de advogado.

Euler de França Belém – Houve algum desvio de seu dinheiro enquanto o sr. esteve preso? Seu advogado teria participado de algo nesse sentido?
Eu não sei ainda, meu contador está fazendo o levantamento.

Cezar Santos – Indícios disso, o sr. teve?
Não, não tenho indícios de desvio de dinheiro, não. Inclusive, fiz um acerto com ele.

Euler de França Belém – No dia em que o ex-senador Demóstenes Torres teve uma briga com Neilton Cruvinel o sr. estava lá?
Não. Eu fui à residência de Marconi de Castro, no mesmo prédio de Demóstenes. Então, fui ao apartamento de Demóstenes. Eu entrei pelo lado da cozinha, que estava aberta, e encontrei Flávia [mulher de Demóstenes]. Ela me falou que Demóstenes estava conversando com alguém e eu disse que voltaria outra hora. Meu objetivo não era falar com Demóstenes.

Cezar Santos – As informações que saíram no jornal “O Popular”, então, foram distorcidas?
Disseram que o sr. estaria no ambiente em que houve a altercação.
Nem tomei conhecimento desta matéria. Eu não leio jornal, a não ser o de vocês, que recebo na distribuição do prédio.

Euler de França Belém – O sr. é amigo de Demóstenes, então?
Sou contemporâneo de De­móstenes na faculdade e de seu irmão, Benedito Torres. Demós­tenes se formou um semestre na minha frente, coisa assim. São uns 30 anos de conhecimento.

Euler de França Belém – Ele não estaria o orientando no processo?
Não, isso não existe.

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Euler de França Belém – Outra questão do submundo da política é de que o sr. estaria disposto, caso condenado, a fazer denúncias contra políticos de Goiás. Isso é fato ou mais uma fantasia do mercado persa da política e da polícia?
Deve ser de qualquer mercado. Eu não tenho relacionamento político. Disse a vocês que tenho amizade com o governador, com pessoas que fazem parte do staff dele.

Euler de França Belém – Então o sr. não teria feito nenhuma ameaça de divulgar nomes de laranjas de políticos que teriam bens em seu nome, ou algo assim?
De forma alguma. Primeira­mente, porque eu nem tenho nada contra ninguém.

Euler de França Belém – O sr., se condenado, não sairia “atirando”, então?
Estou aqui reclamando do que estão fazendo comigo, como vou sair “atirando” em alguém?

Euler de França Belém – Nessa questão toda que vem envolve seu nome o sr. acha que não tem há participação de políticos?
Volto a falar que não acredito em conspiração, embora veja que possa haver algo estranho. Sobre envolver ou não políticos, creio que não. Mas, falando sinceramente, eu não tenho tempo para pensar nisso, tenho de correr atrás para resolver a minha vida. Não tenho como me preocupar se tem político ou não. Só digo uma coisa: quem é que enfrenta um poder? Eu tenho o mínimo de inteligência para saber o que é um poder. Então, como vou sair ameaçando por aí? Pelo contrário, não tenho nada contra ninguém, pelo contrário, tenho muito respeito com essas pessoas.

Cezar Santos – Tem algo que o sr. gostaria de falar, por exemplo, em relação a um tratamento da imprensa de forma inadequada?
Acho que estamos aqui justamente tentando colocar algumas coisas no eixo, em um sentido. Antes eu não tive oportunidade e também nunca procurei. Como advogado e homem que lida com o Direito, sempre acreditei que a Justiça fosse cega, ou seja, não penderia para nenhum lado, tendo uma balança para isso. Infelizmente, não ocorreu dessa forma. Vejo que me faltou a oportunidade que hoje vocês estão dando. Quero agradecer a todos vocês pelo tempo e dizer que estou pronto para sempre me manifestar. E não tenho nada a achar de ninguém.

Euler de França Belém – Por que o sr. decidiu agora falar, se antes não falava?
Não é que eu não falava. Eu tinha comigo que tinha de falar nos autos, perante o juiz. Isso eu já fiz. Como eu estou vendo que as coisas caminham para ligar à questão de cartório e outras coisas, isso tem de parar. Não basta me ligarem a esse crime, parece que têm de me ligar a mais coisas. Então, eu tenho a obrigação e o direito de vir e falar. E, como aqui é um lugar aberto, vim falar. E irei a qualquer lugar, não tenho essa dificuldade.

Euler de França Belém – Seu advogado sempre tratou o inquérito como “lixo” e fez ataques pesados à imprensa. O sr. concordava com esses ataques?
De forma alguma, até porque eu sou da imprensa. Eu disse antes a você que as pessoas pensam que o advogado é o espelho do cliente. Eu não sou nada disso: não sou violento, nem acho que algo seja “lixo” ou coisa do tipo. Não concordo com isso, mas cada um usa de sua forma de se expressar. Eu particularmente não acho um equívoco. Acho que a função do advogado é alertar para o que está errado.

Euler de França Belém – No caso, seu advogado é apenas o dr. Ney Moura Teles?
No caso da acusação do crime, sim.

Euler de França Belém – Foi cogitado que o sr. iria vender a Rádio 730. O sr. desistiu?
Não houve ainda nem a transferência da rádio para meu nome ainda. Lá tenho companheiros valorosos, são 64 funcionários. É algo que não se pode sair fechando, desempregando esse povo. Tenho de viabilizar a rádio, achar um equilíbrio para ela. Tenho tentado isso.

Euler de França Belém – A vida é cheia de lendas. Uma delas, aqui de Goiânia, é entre o sr. e o empresário Malkon Merzian. Dizem que ele apareceu em seu cartório, puxou um revólver e o sr. teria tomado a arma dele e lhe dado uma surra. O que aconteceu exatamente?
Se isso tivesse acontecido, eu deveria ser lutador, um Karatê Kid. O que houve foi uma desavença de negócios, que foi resolvida no escritório do dr. Ovídio Martins de Araújo. Hoje tenho uma boa convivência com Malkon, é um conhecido meu. O que ocorreu é que eu comprei um imóvel – onde hoje até está edificada uma escola – e ele colocou uma cláusula que, quando da edificação do terreno, a Merzian teria direito de preferência, o que era até natural. Passado dois anos da aquisição ou mais, fui edificar. Tinha uma firma de engenharia na época e ele não concordou que fosse edificado sem dar a oportunidade de ele fazer o serviço. Pegamos as plantas e meu engenheiro fez as cotações e passei para ele. Meu preço era um quarto do que ele estaria cobrando. Falei que iria tocar o serviço e ele disse que procuraria um advogado. Então fizemos um acerto e uma cláusula onerava a empresa dele, não tinha valor nenhum. Então, ergui a obra e ele ficou contrariado. Um dia, ele foi ao cartório, mas não tirou arma nenhuma. Houve uma discussão forte, mas eu estava em meu local de serviço, ele é quem foi atrás. Isso deve ter uns 12 ou 15 anos. Já encontrei com ele depois disso, até no campo de futebol.

Frederico Vitor – O Jornal Opção foi um dos veículos da mídia impressa mais incisivos na cobertura do caso Valério Luiz. O sr. tem algum reparo a fazer à cobertura do Jornal Opção?
Críticas todos nós temos a fazer. Mas só acho que, em um determinado momento, usaram muito a questão do caso de citar como “um empresário teria pago” ou “um empresário teria alugado um avião”, essas coisas. Acho que deveria ter mostrado os documentos e falado assim “Maurício Sampaio fez isso”, ou “Maurício Sampaio alugou um avião” e apresentado as notas, o que comprovaria. Não foi feito assim. Mas a oportunidade que vocês estão me dando é ímpar. Qual a crítica que eu poderia fazer? Nenhuma. Não tenho nada a criticar, a imprensa é livre e para ela existe a lei de imprensa.

Elder Dias – Diante isso tudo, o sr. acha que sofreu uma condenação por antecipação?
Claro, uma condenação por antecipação. O medo de julgar. Hoje, existe isso. Se federalizar, para mim, é excelente. É uma pessoa que está fora de qualquer coisa que vai analisar o que existe. Não vai criar nada.

Euler de França Belém – Mas essa possibilidade existe?
Existe, eu creio que sim. Não é fácil, mas existe. Isso é bom, pois, o que um juiz federal ou uma investigação federal sofrerá pela imprensa local?

Euler de França Belém – Mas, veja só, não estou falando de nenhum caso específico: o juiz pega um inquérito que é uma bomba. Mal formulado, com provas deficientes e tal. O juiz pode pedir novas investigações?

(a advogada Flávia Quinan pede a palavra)
Flávia Quinan – Pode. Existe um princípio sobre a busca da verdade real. E a prova do processo é para o juiz. Portanto, o juiz pode, a qualquer momento, dizer que falta determinada coisa ou que algo está dúbio. O que acontece hoje com os processos do dr. Maurício? A influência de um processo em outro. Por exemplo, a decisão que o afasta, em uma ação de improbidade administrativa, na fundamentação do juiz não é a lei dos notários ou na lei de improbidade, mas ele fundamenta que há indícios da participação do requerido em crime. Em uma ação cível em que se discute ato disciplinar, o juiz se fundamenta em um crime que nem está dentro dos autos. Não se julga, hoje, nos processos de Maurício, o que está dentro dos autos, se julga no que a imprensa noticia.

Euler de França Belém – Mas, especificamente no caso do Valério, se o juiz considerar que as provas não são suficientes, objetivas, claras, ele pode pedir investigações novas para polícia?
Flávia Quinan – Pode, sim. Ele vai decidir se há provas suficientes, se há, tem de colocar quais são.

(as perguntas voltam a ser dirigidas diretamente a Maurício Sampaio)
Marcos Nunes Carreiro – O sr. disse que está sendo visto como inimigo da sociedade goiana. A partir do momento em que seu nome foi envolvido nessa questão do assassinato, criou-se uma aura em torno do sr. de alguém a ser temido. Então, eu gostaria que o sr. dissesse: quem é Maurício Sampaio? Há motivos para temê-lo?
Falar sobre si mesmo é sempre muito difícil. O que posso dizer é que o cidadão Maurício é um sujeito que procura andar na linha, trilhar seu caminho na honestidade e passar isso para os filhos. Agora sou avô e pretendo ver meus netos crescerem. Valorizo a família, valorizo meus amigos. Sou uma pessoa que fez sua história e vou fazer uma história em Goiás. Você nunca me viu envolvido em bastidores de política. Vocês me perguntaram se já participei ativamente da política. Eu digo que já ajudei vários candidatos e tudo foi declarado. Tenho um amigo que hoje é meu conselheiro e que sempre me questionou: “Você deixou de pagar algo ou deixou de fazer tal coisa?” Eu respondi sempre “pode confiar, que eu nunca deixei”. Minha advogada está aqui e sabe da minha retidão.
Querer me vincular a uma história de violência… Eu sou um cara pego as coisas com amor. As pessoas não podem me confundir com alguém violento. Cadê minha violência? Não existe isso. Se você falar para mim, “Maurício, vamos ali descarregar um caminhão de cimento”, eu vou, não tenho dificuldade, meu nome é “pronto”. Sempre trabalhei em prol da minha comunidade. Eu tomo café da manhã da Rua 55, engraxo sapatos na Rua 4, compro minha carga de caneta na Rua 8. Então, eu tenho uma vida normal e continuo tendo. Eu ando a pé pela cidade. Eu gosto de viver e acho que todo mundo tem esse direito, de ter liberdade. Então, a liberdade de expressão é respeitada por mim. Eu posso até não concordar, sentir que estou sendo ofendido, mas isso é livre. Se tem algo que incomoda, existe o meio legal para buscar a justiça. Mas não vai se buscar a justiça todo dia por conta de uma banalidade, é minha forma de pensar. Agora, essa minha cara feia é minha. Aqui nesta mesa todo mundo tem cabelo e eu sou careca, o que eu posso fazer? Não faria implante de cabelo, é minha cara e meu jeito. Agora daí a me falar como um cara truculento, isso está longe de ser assim.

Yago Rodrigues Alvim – Ser condenado pela morte de Valério Luiz, dá ao sr. o sentimento de fim? O fim da vida daquele homem que hoje caminha pelo Centro de Goiânia?
Não. Que sirva de exemplo para outros. Ponha algo na sua cabeça: eu seguirei meus passos do mesmo jeito. Não mudarei. Não me sentirei afrontado e revoltado com nada em minha vida. Existem coisas piores. Quando eu estava preso, chegavam notícias que meus amigos, vários amigos, haviam morrido, depois de fazer uma cirurgia. E eu continuava vivo. Você encontra forças em qualquer lugar. E você encontrará vida em qualquer lugar em que você estiver. Só a morte não tem solução. Portanto, o que eu posso fazer? Se a sociedade assim entender que eu sou culpado por algo que eu não fiz e sem provas…

Euler de França Belém – O sr. se sentiu deprimido?
Não tem como não se sentir deprimido. Eu tomei muitos remédios e, depois, para desintoxicar, leva um tempo. Não eram antidepressivos, eram ansiolíticos. Eu tinha muita ansiedade e continuo tendo. Mas é a vida, e qualquer um pode passar por isso.

Elder Dias – O sr. citou as redes sociais e como a imprensa divulgava e até a falta de outras linhas de investigação, levava isso mais a fundo…
Eu fiz uma pergunta a vocês e direi agora à imprensa: vocês procuraram saber como era o relacionamento do jornalista com os outros colegas? Isso é importante. De repente, vocês estão transformando em mito uma pessoa que tinha péssimo relacionamento com a classe, talvez. Poderia ser qualquer um. Eu não vim aqui, no Jornal Opção, para justificar nada ou para acusar alguém. Eu vim dar o meu depoimento do que acho, sem crucificar. Se vocês entendem que a polícia fez isso ou aquilo… Baseado em quê? Quantos inquéritos são anulados na Justiça, quantos inquéritos passam despercebidos?

Euler de França Belém – O sr. não está mentindo?
De forma alguma. Sou tranquilo quanto a tudo que falei para vocês. Não tenho motivo para mentir.