“Goiás vai se surpreender se der uma chance para Friboi ser governador”

17 abril 2014 às 17h01

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Ex-deputado peemedebista afirma que seu partido perdeu sucessivas eleições em Goiás por falta de renovação em seus quadros

Marcelo Melo, um dos coordenadores da campanha do José Batista Júnior, afirma que 70% dos convencionais peemedebistas estão hoje no projeto de candidatura do empresário. Ele critica o parceiro PT por ter lançado a pré-candidatura do ex-prefeito de Anápolis Antônio Gomide, o que teria quebrado acordo entre as duas siglas. E diz: “Com o PT fora da aliança, o PMDB de Goiás está desobrigado de apoiar Dilma, podemos apoiar qualquer um”. Mas admite que no segundo turno estarão juntos. Marcelo Melo, amigo de Júnior Friboi há mais de 20 anos, afirma que o empresário, um vencedor, representa a renovação tão necessária ao PMDB. E diz em tom peremptório: “Júnior Friboi está preparado para enfrentar Marconi Perillo num debate, porque é inteligente, simpático e tem raciocínio rápido”.
Euler de França Belém — Por que exatamente o PMDB perdeu quatro eleições consecutivas?
Eu já falava sobre isso desde quando era deputado estadual. O PMDB perdeu o foco. Até já fiz uma brincadeira, se o PMDB fosse uma pessoa, teria o olho na nuca, porque nas últimas eleições só se preocupou em mostrar o passado: construí casas, fiz estradas, fiz isso, fiz aquilo. Realmente fez, é um legado que o PMDB deixou para o Estado. Mas a população hoje, a juventude, quer saber o que ela vai ter de melhoria na sua vida. Faltou ao partido passar essa mensagem de presente e de futuro. Então, o PMDB perdeu o foco, deixou de conversar com as entidades organizadas, com os sindicatos, com os estudantes. Houve um afastamento brutal do PMDB com o empresariado, com o setor agropecuário. O PMDB se isolou num casulo e passou a caminhar sozinho. Na última eleição, o PMDB conseguiu poucos partidos para caminhar com ele nos projetos majoritários para Goiás. Isso demonstra incompetência, ensimesmamento do partido, o que nos levou às derrotas, embora tivéssemos bons candidatos. E em duas dessas eleições, começamos muito na frente nas pesquisas, para ir desidratando ao longo das campanhas, perdendo pontos por que não havia uma proposta consistente para mostrar daqui para frente. O grande erro foi esse.
Cezar Santos — O fato de ter tido apenas dois nomes nessas quatro últimas eleições não foi um fator prejudicial ao partido, que não mostrou capacidade de renovação?
Concordo. Houve uma redução de opções dentro do PMDB. De 1983 para cá, o PMDB participou três vezes com Iris [1990, 1998 e 2010] e três com Maguito [1994, 2002 e 2006]. Foram sete eleições e apenas uma delas com outro nome, Henrique Santillo [1986]. Houve sim uma falta de renovação.
Frederico Vitor — Por quê?
Quando falta renovação de candidaturas é porque falta renovação de ideias. Por isso o partido não promoveu novas lideranças. E pela grande liderança que Iris sempre exerceu no PMDB, ele sempre inibiu ao surgimento de outras lideranças. Tanto que ao longo do tempo fomos perdendo nomes expressivos, o que começou com Mauro Borges, Henrique Santillo, Marconi Perillo, depois saiu Barbosa Neto, Lucia Vânia e tantos outros que saíram por não se sentirem com espaço no partido. Depois tentamos reoxigenar trazendo Henrique Meirelles, que também saiu por não ter espaço; Vanderlan Cardoso, na eleição passada, a mesma coisa, ficou pouco tempo.
Marco Nunes Carreiro — Júnior Friboi é essa renovação?
A grande chance que temos para mudar esse quadro só apresentando uma candidatura nova, que é Júnior Friboi. Podemos mudar essa história de 1982 para cá apresentando uma nova opção para Goiás. É um nome testado nas lides empresariais, um empresário competente, que vai contribuir para mudar esse conceito que o PMDB tem de não se renovar, de não apresentar nada novo.
Elder Dias — Em todas as eleições desde 1982 Iris exerceu influência no partido. Ele tem responsabilidade nessa perda de foco do PMDB, como o sr. diz?
Em parte sim. Mas o partido como um todo se acomodou a essa situação, sempre esperando que o comando, as inciativas fossem dadas por Iris. Por isso não dialogou, não buscou aliança com os partidos, não buscou trazer lideranças novas, mesmo porque as novas lideranças que convidávamos já diziam que não teriam espaço. Júnior Friboi relutou muito em vir, fui um dos que mais insistiu para que ele viesse. Ele queria construir um projeto de governabilidade para Goiás, e eu lhe disse que num partido pequeno ele não teria a menor chance. Júnior dizia, mas Iris não vai aceitar, vai ter problema, etc. Eu observei que quando se quer um objetivo, tem de ter coragem e determinação para remover obstáculos. Você tem de ir sabendo das dificuldades, ninguém vai te enganar dizendo que será um mar de rosas. Mas interessante é que a recepção dele no partido foi até maior do que esperávamos. Hoje as bases no interior estão abraçando a candidatura dele. Na região de Luziânia eu temia haver resistência ao nome do Júnior, e hoje ele é praticamente unanimidade, um ou outro que destoa. Nos municípios do Entorno, onde é difícil fazer política, ele é unanimidade. Isso mostra que havia no partido a ânsia por algo novo.
Cezar Santos — Esse clima de unanimidade é quebrado quando Iris se lança pré-candidato e diz vou disputar convenção…
Iris vem na última hora e lança seu nome, sendo que nós o procuramos antes, perguntamos se ele seria candidato, ele disse que de forma alguma seria. Penso que ele brincou um pouco conosco, porque na medida em que você dá sua palavra e se entra num projeto, você não pode recuar. E vem Iris agora dizer “eu sou”, como se fôssemos meras peças de tabuleiro, que podem ser mexidas para lá e para cá? Não é assim.
Cezar Santos — A que o sr. atribui essa mudança de atitude de Iris?
Francamente, acho que não mudou. Iris imaginou assim: Júnior é neófito na política, vai colocar o nome dele, vai ficar como Henrique Meirelles ficou, vai se acomodar, esperando que as coisas aconteçam e não vai virar nada. Mas Júnior foi para cima, já visitou quase 200 municípios no tête-à-tête, conversando com presidentes de diretórios, com as bases do partido. Estão se baseando em pesquisas para dizer que Iris é o melhor nome, mas em todas as pesquisas Iris saiu na frente, e só ganhou duas. Esses dados não se sustentam. E se analisar a pesquisa Serpes, se verá que Júnior foi o que mais cresceu, aumentou 100%, ninguém prestou atenção nisso. E com Iris no jogo ainda. A partir do momento em que se definir que alguém é o candidato do PMDB, qualquer um, esse alguém terá 30%, que é a largada do PMDB.
Cezar Santos — Mas com 30% se ganha eleição?
Não, temos de conquistas mais 21%. Isso se dará com uma campanha estruturada, o que nos tem faltado há muito tempo. Fui vice de Iris na campanha passada, e tive menos estrutura que qualquer candidato a vereador. Eu não tinha sequer santinhos para pedir votos no segundo turno, a campanha de Dilma que me deu santinhos. Como fazer campanha desse jeito?
Outra coisa que nos faltou: perdemos a eleição por 5 e poucos por cento, isso significa que se tivéssemos 2,9% a mais de votos, teríamos ganhado. Na coligação, perdemos cinco partidos, dos quais três tinham secretarias na prefeitura de Iris. Perdemos essas legendas por falta de diálogo e elas poderiam ter trazido pra gente mais de 100 candidatos a deputado estadual. Será que não dava para chegar aos 3% que nos faltou? Política é isso, tem de ter estrutura, determinação, visão das coisas e, principalmente, composição. Se hoje o PMDB não tiver a candidatura de Júnior, vai fazer um voo solo, não traz nenhum partido com ele. Isso é um desastre, é caminhar para o precipício.
Cezar Santos — O sr. está pondo o dedo na ferida, de certa forma desmistificando o mito Iris Rezende. Se Friboi for candidato, ele pode prescindir de Iris Rezende na eleição?
Não, mas temos de separar o mito do líder. O mito serviu quando a fantasia fazia parte da política, quando passávamos da ditadura para a democracia, aí se construiu o mito Iris Rezende. Eu, desde menino, sempre fui admirador dele, que foi o grande condutor do partido neste longo tempo, e deu grande visibilidade ao PMDB e pôs Goiás, que era agropastoril, num Estado em processo de industrialização. Todo esse processo de indústrias vindo começou com o Fomentar feito por Iris. Isso não pode ser riscado do mapa, ele tem esse legado. Mas chega um momento em que as pessoas têm de entender que o mundo exige uma nova filosofia, nova postura. Isso seria dar a Goiás a condição de ter um candidato a governador como o Júnior, que tem uma visão global das coisas. Júnior e sua família pegaram uma empresa que começou em Formosa e Luziânia e fincaram bandeiras no Brasil e em todos os continentes do mundo.
Mas podemos fazer a eleição sem Iris? Não, não podemos. O PMDB não pode sair desse processo dividido. As pessoas de bom senso do partido têm de agir agora e achar uma forma de não haver vencidos nem vencedores. Se entrarmos numa convenção e derrotarmos Iris, que vitória será essa? Vitória de Pirro, que venceu a batalha e perdeu o exército. Mesma coisa o inverso, se Iris vencer Júnior, que tem hoje três dos quatro deputados federais com ele, quatro ou cinco deputados estaduais, tem as bases do partido, a maioria absoluta dos prefeitos. Iris não terá vantagem nenhuma se vencer o Júnior. Por isso temos de abrir uma discussão desapaixonada e evitar um racha.
Cezar Santos — A base aliada governista está ganhando com essa divisão do PMDB?
Marconi está soltando foguetes. Um amigo meu que é do lado de lá disse que eles estão até duvidando, do tanto que é bom para eles (risos). Ele me perguntou se isso não é uma estratégia nossa para aparecer com alguma carta na manga depois. Não podemos prescindir de Iris de forma alguma, como Iris não pode prescindir das pessoas que estão no projeto do Júnior, seria suicídio para ambos.
Marco Nunes Carreiro — A luta do partido então é para não haver convenção?
A luta é por entendimento. Por isso Júnior soltou uma nota conciliadora, respeitosa, após Iris se lançar, o que mostra intensão de buscar o diálogo até o fim. Mas também estamos nos preparando par o embate, não vamos recolher as armas, no bom sentido. Estamos em contato com os convencionais, temos tranquilidade de ter a maioria, mas não queremos de forma alguma usar essas armas.
Marcos Nunes Carreiro — Se a convenção fosse hoje Friboi ganharia de Iris?
Não temos a menor dúvida, ganharia e bem.
Cezar Santos — Está mapeado isso, que proporção está com Friboi?
Hoje temos mais de 70% dos votos dos convencionais.
Elder Dias — Quando Iris intensificar o trabalho isso não pode mudar?
Mas Iris nunca deixou de trabalhar. A montagem de uma megaestrutura aqui perto mostra isso. Ele está recebendo gente lá. E digo mais, ele está ouvindo coisas que jamais gostaria de ouvir, ele poderia evitar isso. Eu mesmo conversei mais de três horas com ele, falei de minha posição, por que sempre tive posição definida. Fui oito anos deputado estadual da linha de frente da oposição, enfrentando Marconi Perillo no momento de maior poderio, quando ele ganhou em 1998, e defendi o partido, a figura e a família de Iris. Sempre tive postura e no momento em que me defini pelo projeto do Júnior fui dizer isso pessoalmente a Iris, sem mandar recado, de forma franca e com todo o respeito.
Cezar Santos — Como ele reagiu?
Senti que Iris está obcecado pela ideia de ser governador mais uma vez, talvez sentindo que pode ser a última chance. Mas esse argumento é frágil, não temos de pensar neste momento em dar última chance a alguém, temos de pensar em dar o melhor para Goiás.
Elder Dias — Como seria uma conversa com ele hoje?
Da mesma forma. Eu já estou definido, entendo que hoje ele não é o melhor para o partido, não é o melhor no projeto para governar Goiás. Embora eu entenda que ele pode dar grande contribuição se for nosso candidato a senador, o que seria um grande gesto dele para o partido e para o Estado, emprestando sua experiência ali. As intenções de voto para Iris senador são fantásticas, o que não acontece para governador.
“Júnior não deu dinheiro pra ninguém até agora ”
Cezar Santos — O sr. pinta um quadro róseo com Friboi, mas começa a disseminar no imaginário coletivo que o PMDB é um partido vendido, que ele comprou a maioria da legenda. Isso não vai prejudicar numa campanha?
As andanças do Júnior serviram para desmistificar isso. Até agora, ele não gastou dinheiro, não deu dinheiro para nenhum candidato, para nenhum convencional. Ele apenas montou uma estrutura pessoal para andanças. Ninguém viu a cor do dinheiro dele. No interior, ele tem conquistado as pessoas pela simplicidade, pelo trato direto e, principalmente, porque elas começam a perceber que Júnior é competente. Quem tem esse preconceito e conversa com ele se surpreende. Ele conhece profundamente a economia do Estado, do País e do mundo. Conhece as mazelas do Estado e o que precisa ser feito para mudar. A estratégia da oposição interna no PMDB e externa, que é o grupo de Marconi, é justamente dizer que a força do Júnior é apenas o dinheiro, mas estão enganados. Dinheiro é complemento de campanha. Mas propaganda rica não consegue vender produto ruim. Estamos mostrando para Goiás um excelente produto, a pessoa do Júnior, o carisma, a simplicidade dele, a história de vencedor.
Euler de França Belém — alguns dizem que Júnior Friboi foi expurgado do Grupo JBS. Qual a verdade disso?
Júnior expandiu os negócios da família, trabalhando dia e noite. Eu o conheço e sei o que ele fez, ensinou os irmãos a trabalhar, o Wesley, que hoje dirige o grupo. É falácia dizer que Júnior não conduziu a empresa, conduziu até ela se tornar grane. Chegou o momento em que ele quis fazer o projeto dele, na missão de contribuir com o Estado, ele que já alcançou tudo o que quis na vida profissional. Ele tem sonho de governar Goiás. Até há pouco tempo a família era contra ele na política, mas quando viu que ele tinha ideal, hoje está totalmente favorável. Antes de se lançar ele reuniu toda a família, e ela deu o aval para o sonho que ele tem de governar Goiás. É outra falácia dizer que Júnior foi alijado da empresa. Ele que se afastou, mas continua no conselho deliberativo.
Marcos Nunes Carreiro — O sr. diz que o sonho do Friboi é governar Goiás, mas Iris também tem o sonho de governar de novo. Não é o mesmo projeto?
Uma diferença: um quer encerrar, o outro quer começar. Iris teve duas oportunidades e disputou mais duas. Eu aposto mais em quem quer começar.
Frederico Vitor — A vinda de Friboi se deu mesmo pelo PMDB nacional, com Michel Temer e Valdir Raupp?
Não. Fui um dos que mais estimulou ele, também deputados federais, alguns estaduais, sempre batemos nessa tecla. E antes de aceitar, Júnior conversou com Iris, que não impôs nenhuma objeção, pelo contrário, disse venha, vai ser bom demais, construa seu projeto aqui que você vai ser nosso candidato. Em todos os momentos Iris disse isso. Aí que entrou a questão nacional, ele foi ao Temer, ao Raupp, amigos dele, que avalizaram a ideia. Não é verdade que Júnior foi imposto goela abaixo no partido. Júnior foi antes a Iris, que nunca ficou alheio às intenções dele. E quando foi para oficializar a filiação, Michel Temer chamou lá o casal Iris em almoço, disse que o PMDB via com bons olhos, etc., e eles não puseram objeção.
Cezar Santos — A divisão do PMDB estimulou o PT a lançar nome, o prefeito Antônio Gomide. Isso não vai atrapalhar o projeto do PMDB ao quebrar uma aliança que se dizia firmada já para o primeiro turno?
Não tem muito o que fazer com fato consumado. O PT lançou candidatura própria, embora eles neguem, mas tinham compromisso conosco. E não com nomes, tinha com o partido. Agora vêm dizer que tinha compromisso se fosse Iris. Isso é piada, nenhum partido pode querer escolher o candidato do outro. Eles tinham compromisso conosco, ponto. Mas temos de respeitar, é legítimo, um partido que tem a presidente da República. Atrapalha em parte, mas ajuda em outro aspecto, porque nas últimas eleições Anápolis e cidades vizinhas têm votado maciçamente em Marconi. O mais prejudicado é Marconi, não o PMDB. Não é nenhum desastre a candidatura do PT, pelo contrário, vamos conduzir bem o processo e estarmos juntos no segundo turno. Há um projeto nacional construído pelos dois partidos, temos o vice Temer, que deve continuar. E essa posição do PT goiano nos deixa mais à vontade para uma nova base de aliança, nos liberando até de apoiar a candidatura da presidente da República. Hoje não nos sentimos obrigados a apoiar a candidatura do PT à Presidência, à qual podemos até apoiar, mas não estamos mais obrigados.
Elder Dias — Quem estava presente nesse acordo entre PT e PMDB? O sr. estava lá?
Estava pessoal dos dois partidos, o Osmar Magalhães, que era presidente do PT, essa turma toda. Paulo Garcia participou, ele era o maior interessado nisso, tanto que ele foi ajudado por nós na campanha. Eu não estava, mas pessoa nas quais confio estavam, pessoas sérias, que não têm motivo para inventar coisas. Mas não adianta agora ficar discutindo isso mais, a candidatura do PT é fato consumado.
Cezar Santos — O PMDB “entregou” a Prefeitura de Goiânia a Paulo Garcia, que está muito mal na administração da cidade. Isso não será debitado na conta do PMDB?
No momento em que o PT tem candidatura própria, isso terá de ser debitado ao PT. Não temos responsabilidade. Marconi não se isentou da administração de Alcides Rodrigues?
Elder Dias — Júnior Friboi pode ganhar terreno em Goiânia com a má administração do PT?
Paulo Garcia estará no palanque de Antônio Gomide. Olha, o PT era o grande trunfo de Iris, por isso ele lançou candidatura na sexta-feira (dia 4), por achar que assim inibiria a candidatura de Gomide. À tarde, Gomide saiu da Prefeitura de Anápolis. Ele saiu para ser candidato a vice-governador? Jamais, ele falou para mim pessoalmente que jamais faria isso, que só se afastaria para ser candidato a governador. E isso derruba a conversa da turma de Iris, que se ele (Iris) for candidato o PT o apoia. Não apoia. O PT vai ter candidato. Mas se houver uma grande composição da oposição, vai ser do PT apoiar o PMDB, e não nome A ou B, que isso fique bem claro.
Elder Dias — O sr. não vê possibilidade de volta na posição de Antônio Gomide?
Só se houver uma mudança muito grande no quadro nacional, o que pode ocorrer.
Cezar Santos — A queda de Dilma nas pesquisas, que já começou, por exemplo?
Isso pode influenciar muito.
Cezar Santos — No calor do lançamento da pré-candidatura de Gomide, ouviu-se que o PMDB goiano poderia entregar os cargos federais em Goiás. Procede?
Isso é besteira. Só tinha o meu cargo [de diretor de Operações e Abastecimento] na Conab. E eu entregaria de qualquer forma, sendo ou não candidato a deputado federal.
Frederico Vitor — Friboi está preparado para, por exemplo, enfrentar Marconi Perillo num debate?
Não tenho a menor dúvida disso, e muita gente vai se surpreender com o preparo dele, com a forma que ele está pronto para esse embate com Marconi, embora a gente respeite a sagacidade e a experiência do governador, que já ocupou vários cargos e passou por várias eleições. Mas Goiás vai se surpreender quando der a oportunidade para Júnior apresentar suas propostas. Tenho uma relação com Júnior há mais de 35 anos, o conheço de convívio diário como empresário, pai de família, cidadão. Tenho profunda admiração pela forma com que ele toca os negócios. Tenho plena convicção que ele tem todos os dotes para ser um grande governador de Goiás. Por isso entrei de cabeça no projeto dele.
Euler de França Belém – Isso não é muito otimismo? Duda Mendonça já está orientando ele?
Não é otimismo, eu conheço Júnior. Não se poderia esperar que ele aparecesse de um dia para outro como um grande político. Ele é um grande empresário, tem raciocínio rápido, mas tem de ser orientado. No primeiro discurso dele na pré-campanha eu me preocupei. Mas ele evoluiu muito, aprendeu como colocar as coisas. Júnior é calmo, paciente, não se deixa levar pela emoção.

Euler de França Belém — O que Duda Mendonça tem falado?
Duda passou o dia todo aqui (na segunda-feira, 7) gravando as pílulas. Ele está fazendo o papel do marqueteiro, orientando o Júnior, lapidando, conduzindo as ações, as falas, postura. No segundo momento ele vai centrar no plano de governo, no projeto. Nesse momento estamos construindo uma candidatura.
Euler de França Belém — De zero a dez, quanto o sr. acredita na candidatura de Friboi?
Onze (risos).
Cezar Santos — Friboi tem adotado uma posição de ataque à administração estadual, no entanto, o Estado cresce e gera empregos acima da média nacional. Um discurso agressivo que em muitos pontos bate contra os dados não pode ser prejudicial?
Dizer que Goiás está acima da média nacional não se sustenta, são dados mentirosos.
Cezar Santos — São dados do IBGE, por exemplo…
O que vemos na prática é que Goiás ainda é um grande produtor agrícola. Mas tente colocar um pivô em Goiás, não tem eletricidade, não tem infraestrutura, a segurança está um caos. A educação está ruim, embora eles digam que reformaram as escolas. A polícia está insatisfeita. Todo o programa de reforma de estradas é com recurso federal. Marconi está deixando o Estado com capacidade de endividamento a zero. A dívida hoje é impagável. Nosso maior patrimônio, a Celg, que valia R$ 5 bilhões, vale hoje R$ 1 real. Saneago vai no mesmo caminho. Ele não tem domínio das secretarias porque o governo está loteado. Então Júnior tem de falar isso mesmo, é verdade. Júnior, se for governador, não vai ter de pedir apoio financeiro de ninguém para bancar a campanha dele, não vai lotear o governo dele.
Cezar Santos — Vocês já começaram uma aproximação com Eduardo Campos, já que o sr. diz que não estão mais obrigados a apoiar Dilma?
Não diria que começou essa aproximação, mas já falamos ao Michel Temer que não estamos mais obrigados a apoiar Dilma. Podemos até apoiar, vai depende do andar da carruagem.
Euler de França Belém — Há possibilidade de aproximação com Vanderlan Cardoso?
Há, sempre há. Estamos conversando com ele, que pode ser o grande divisor de águas com seus 10 a 15%, ele pode definir a eleição. Júnior é o candidato a governador e aí Vanderlan pode ser o que ele achar melhor na composição.
Elder Dias — E Ronaldo Caiado?
Também. Com a saída do PT do processo, nos liberta até do problema de haver vetos. Existem dificuldades, mas Caiado leva nomes com ele. E ele é um político respeitado, mesmo por quem diverge politicamente dele. Caiado tem posição.
Elder Dias — Mesmo com Michel Temer continuando como vice de Dilma?
O PMDB nacional tem profundas diferenças regionais. É uma federação de caciques regionais. Na Bahia, no Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul há um rompimento radical. Vai caminhando para o rompimento no Rio de Janeiro, para um possível rompimento no Ceará, na Paraíba… Em Goiás não é diferente, estamos no contexto do partido.
Marco Nunes Carreiro — O PMDB é um partido muito grande. Por essas diferenças regionais, pode-se dizer que ele cresceu mais do que devia?
Faltou ao partido a renovação de quadros. E o PMDB não entendeu seu tamanho, chegou num momento em que achou mais confortável andar na garupa do que com o arreio. Passou a não lançar candidato próprio [à Presidência], e quando o fez, por causa das diferenças regionais, da divisão, colocou um líder como Ulysses Guimarães numa situação vexatória. O PMDB só tem uma chance em se preparando para ter candidato a presidente da República. Não podemos mais aceitar conviver com a pecha de fisiológico, por exemplo.
Elder Dias — O partido tem um nome que possa aglutinar esse blocão dividido?
Hoje não tem, não temos um Bismarck [Oto von, 1815-1898], que pode fazer a grande unificação do PMDB.
Euler de França Belém — O prefeito do Rio, Eduardo Paes, começou bem, mas desandou.
Não saiu do lugar.
Euler de França Belém — Com foi sua passagem pela Conab?
A convite do meu partido participei do governo federal, num cargo importante, a Diretoria de Operações e Abastecimento. Confesso que me abriu um novo horizonte na minha vida. Pude conhecer de perto o Brasil com suas diferenças regionais. E o trabalho é importante, porque trata de garantir preço tanto para o produtor quanto para o consumidor, a gente atua no equilíbrio, porque não se pode pensar só em ter arroz barato na gôndola do supermercado. Tem de garantir que produtor, no ano que vem, terá condições de continuar produzindo, senão nem terá arroz. É um trabalho delicado. Pude atuar também de forma muito forte na seca do Nordeste, minha diretoria conseguiu colocar lá, em pouco mais de um ano, mais de 1 milhão de toneladas de milho, que manteve os rebanhos e a própria população. Foi uma operação gigantesca, com 40 mil carretas enfileiradas. A Conab me deu uma oportunidade extraordinária que servirá até para minha atuação política. A diretoria tem orçamento maior que muitos ministérios. Conheci um Brasil que eu nem sabia que existia.
Brasília

Euler de França Belém — Como está o quadro em Brasília?
O quadro lá é mais complicado que em Goiás. Faltam grandes liderança. As duas que têm votos são Joaquim Roriz e José Roberto Arruda e eles têm problemas sérios para serem candidatos, tanto legal quanto pessoalmente. Roriz não tem a mesma saúde de antes, faz tratamentos que requerem cuidados especiais, e pode haver problemas jurídicos. Arruda já foi condenado por colegiado e a condenação está mantida, embora ainda haja um recurso. Ele teria que tocar toda a campanha com recurso, o que é insegurança. O Agnelo Queiroz (PT) está profundamente desgastado. E vi uma pesquisa em que as pessoas não associam as obras que estão sendo feitas com a figura do governador, ou seja, ele não conseguiu captar esse bônus. Mas, por enquanto, ele não está enfrentando adversário consistente ainda.
Imagino que pode haver um crescimento agora do Rodrigo Rollemberg [senador do PSB], porque o deputado José Reguffe parece que definiu que vai ser candidato a senador na chapa dele. Isso vai dar um upgrade na campanha do Rollemberg, que se conseguir fazer uma composição que lhe dê tempo de televisão, pode se transformar na grande surpresa da eleição em Brasília.
Euler de França Belém — E a Liliane Roriz, pode ser candidata?
Não acredita que ela esteja pronta para isso, embora seja uma deputada atuante, inteligente, simpática. Não sei se ela consegue aglutinar os simpatizantes do pai dele em torno de seu nome.