Superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO alerta que “há um limite de leitos hospitalares e de profissionais” mesmo se equipes não estiverem exaustas após dez meses de pandemia da Covid-19

“Recomendamos que os horários de vacinação sejam estendidos” | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção

Quando o Jornal Opção conversou com a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), Flúvia Amorim, as autoridades sanitárias goianas haviam realizado as primeiras reuniões para apresentação do Plano Estadual de Imunização contra a Covid-19. A expectativa, até então, era de receber 7% das doses fabricadas na Índia da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca. A possibilidade enfrentava disputas diplomáticas para garantir de 140 mil a 160 mil vacinas para Goiás entre o final de janeiro e o início de fevereiro.

“A depender da quantidade de doses que recebermos inicialmente, pode ser que não tenhamos vacinas suficientes para vacinar todos os idosos acima de 60 anos”, explicou Flúvia a necessidade de estratificar no plano estadual os grupos prioritários por faixas de cinco em cinco anos para garantir parte da imunização com a quantidade que chegar primeiro de vacinas entre janeiro e fevereiro.

Dois dias depois da entrevista, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou a compra, descartada em outubro de 2020, de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech.

De acordo com a superintendente, a rede de vacinação no Estado está pronta para receber as doses, armazenar e distribuir para os municípios. “Se doses da vacina chegassem hoje a Goiás, teríamos condições de começar a campanha de vacinação no Estado. Contamos com seringas, agulhas e as geladeiras para armazenar as doses”, afirma Flúvia.

Caso seja a vacina CoronaVac a primeira a chegar a Goiás, os 7% sobem de 150 mil da Oxford/AstraZeneca para 3,2 milhões compradas pelo governo federal do Instituto Butantan repassadas para a Secretaria Estadual de Saúde. Mas a superintendente prefere esperar as doses chegarem para confirmar a data de início da campanha. “Precisamos ter a vacina. Para cumprir datas, primeiro precisamos ter a vacina em Goiás”, observa.

Para Flúvia Amorim, é importante que a população se acostume a seguir as medidas de prevenção à Covid-19, caso contrário, podemos correr o risco de, em algum momento, não termos profissionais de saúde suficientes ou leitos disponíveis para atender os casos graves em Goiás. “É melhor nos adaptarmos ao chamado novo normal, ao uso das medidas preventivas, do que nos acostumarmos a vermos pessoas mortas em grande número e pessoas adoecendo.”

Na segunda-feira, 4, foi realizada a reunião para definir o Plano Estadual de Imunização contra a Covid-19. O que está definido até o momento?
Apresentamos o que foi decidido no Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE) na quarta-feira, 6. É uma praxe a apresentação no COE para que seja de conhecimento de todos e que sejam feitas sugestões para aprimorar o plano. O Plano Estadual de Imunização segue os mesmos moldes do Plano Nacional de Imunização. Não é uma estratégia completamente igual, mas utilizamos como base a definição do Ministério da Saúde. Definimos bem os objetivos, com a estratificação dos grupos prioritários.

Por exemplo, os grupos prioritários dos idosos acima de 60 anos são estratificados a cada faixa de idade, como de 60 a 65 anos, de 65 a 70 anos e assim sucessivamente. A depender da quantidade de doses que recebermos inicialmente, pode ser que não tenhamos vacinas suficientes para vacinar todos os idosos acima de 60 anos. Teremos de estabelecer, dentro do grupo de idosos, qual o grupo prioritário. A prioridade da prioridade. Por isso, detalhamos o grupo prioritário no plano.

Além do detalhamento dos grupos prioritários dentro da população do Estado de Goiás, apresentamos no plano a nossa rede de frios, como será feita a distribuição da vacina para os municípios. Incluímos quais são as atribuições federais, estaduais e dos municípios. No plano, damos recomendações aos gestores municipais de como deve ser organizado o plano municipal. Os municípios deverão construir seus planos municipais de imunização, com o detalhamento de quais serão as unidades que farão a vacinação, qual o horário de funcionamento, os dias de funcionamento.

Recomendamos que os horários de vacinação sejam estendidos. É um apanhado geral do que é atribuição do Estado, como iremos trabalhar e as recomendações para que os municípios construam seus planos de execução municipal.

O Estado tem acompanhado o atraso na vacinação que tem ocorrido em alguns países, como determinados Estados e municípios norte-americanos, com reclamações da população pela demora para aumentar a quantidade de pessoas imunizadas com a primeira dose das vacinas?
O Brasil tem algo que a maior parte dos Estados Unidos e a maioria dos países da Europa não conhece. Temos experiência em campanhas de vacinação. Com certeza esta campanha será diferente e todas as outras vacinações com as quais já trabalhamos. Isso é fato. Mas ao menos temos uma base de experiência ampla para trabalhar na campanha de vacinação contra a Covid-19.

Vivemos isso com a H1N1. Na época, fizemos uma grande campanha de vacinação, algo que não ocorreu nos Estados Unidos e na Europa. Estudamos a possibilidade trabalhar com agendamento do horário de vacinação, o uso de aplicativos e tecnologias que facilitem o acesso às vacinas e melhorem o trabalho de quem está na ponta da imunização para evitar aglomerações. Esperamos poder trabalhar essas ferramentas para que o plano seja melhor executado.

Além disso, tudo precisa ser pactuado com os municípios. O Estado trabalha a elaboração do plano, a definição das diretrizes e os municípios devem construir seus planos municipais e como isso será executado. A Secretaria Estadual de Saúde faz algumas recomendações. Como recomendações para que sejam locais de vacinação abertos, como foi feito com a influenza no passado, com distanciamento, se possível com agendamento.

São estratégias que discutiremos com os municípios para evitar a demora que tem sido registrada em Nova York na vacinação. Precisamos realizar o plano de imunização de uma forma que tenhamos como saber quem tomou a vacina, qual imunizante aquela pessoa tomou, de qual laboratório, porque precisamos garantir que a segunda dose seja do mesmo laboratório. Gastaremos um tempo um pouco maior na campanha da Covid-19, diferente da influenza.

Na campanha da influenza, não precisávamos cadastrar individualmente. A pessoa era vacinada e guardava o comprovante no cartão de vacinação. Só controlávamos a quantidade de doses aplicadas. Não tínhamos a informação individual para influenza. Na vacinação contra Covid-19 isso será necessário. O tempo gasto para a vacinação contra a Covid será maior do que o que gastamos para imunizar contra a influenza.

“Vivemos isso com a H1N1. Na época, fizemos uma grande campanha de vacinação, algo que não ocorreu nos Estados Unidos e na Europa”

“Estudamos a possibilidade trabalhar com agendamento do horário de vacinação, o uso de aplicativos e tecnologias que facilitem o acesso às vacinas e melhorem o trabalho de quem está na ponta da imunização para evitar aglomerações” | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção

No final de 2020, o secretário estadual de Saúde, Ismael Alexandrino, falou sobre a antecipação do Estado na busca por seringas e agulhas e garantir os itens necessários para a vacinação do grupo prioritário em Goiás. Como está o estoque da secretaria do que sobrou de seringas e agulha das campanhas de imunização do ano passado e o que o Estado já adquiriu e aguarda a chegada?
Temos hoje no nosso estoque cerca de 1,2 milhão de unidades de seringas e agulhas. Esse é o estoque que consta no almoxarifado como parte dos materiais utilizados de rotina. Temos uma compra já finalizada de 2,5 milhões de unidades, só aguardamos a empresa entregar nas duas primeiras semanas de janeiro.

As 2,5 milhões de seringas e agulhas foram adquiridas de uma fabricante brasileira ou precisaram ser importadas?
De uma fabricante brasileira. A previsão era que a produção seria finalizada no dia 8 de janeiro [sexta-feira]. Devemos iniciar o recebimento das seringas e agulhas nos próximos dias. Aguardamos a chegadas dos itens comprados pela Secretaria Estadual de Saúde. Temos também uma outra compra de cerca de 3 milhões. São todas aquisições estaduais, com o Estado à frente da compra das seringas e agulhas.

Fora as aquisições estaduais, existe a possibilidade de o governo federal enviar seringas e agulhas de seu estoque. O Ministério da Saúde fez uma compra que fracassou em parte, mas um pequeno número do que foi solicitado tende a dar certo o negócio e há a previsão de envio de parte desses itens para Goiás. Se doses da vacina chegassem hoje a Goiás, teríamos condições de começar a campanha de vacinação no Estado. Contamos com seringas, agulhas e as geladeiras para armazenar as doses.

Tínhamos em outubro de 2020 a expectativa de que a primeira vacina utilizada no Brasil fosse a CoronaVac. O governo federal anunciou a aquisição de 46 milhões de doses, mas o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desautorizou a compra do Instituto Butantan, em São Paulo. Agora o Ministério da Saúde espera a chegada de um lote de 2 milhões de doses da Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca importadas da Índia. As doses da vacina Oxford/AstraZeneca não exige o uso dos superfreezers a -70 graus Celsius. Como isso pode facilitar a campanha de vacinação?
Facilita 100%. Porque temos toda uma rede, tanto estadual quanto municipal, estruturada para receber vacina que precisa de refrigeração de 2 a 8 graus Celsius. Já existe uma rede pronta para começar a vacinação. Assim que recebermos as doses da Oxford/AstraZeneca, teremos condições de armazenar e distribuir as vacinas, o que facilitaria muito [dois dias após a entrevista, ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou novamente a compra das 46 milhões de doses da CoronaVac junto ao Instituto Butantan e o Estado de Goiás anunciou que deve receber 3,2 milhões de doses da vacina produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac ainda em janeiro, o que corresponde a 7% dos imunizantes que serão disponibilizados no Plano Nacional de Imunização].

O governo federal já definiu uma data de quando as cerca de 150 mil doses da vacina produzida na Índia serão entregues a Goiás?
São estimativas. Ainda não há uma data definida. Seriam aproximadamente 7% das doses encaminhadas para o Estado de Goiás, o que dá cerca de 150 mil doses. Mas precisamos esperar, porque a compra ainda não foi fechada.

O governador Ronaldo Caiado (DEM) tem repetido bastante que, de acordo com dados federais, a previsão é de Goiás comece a vacinar a partir de 10 de fevereiro, no mais tardar até 20 de fevereiro. É uma data que tem como ser cumprida ou faltam etapas a serem superadas antes de saber quando a vacinação contra a Covid-19 irá começar no Estado?
Precisamos ter a vacina. Para cumprir datas, primeiro precisamos ter a vacina em Goiás. Todo o governo está em negociação. O fato de a vacina de Oxford já ter sido liberada no Reino Unido e na Índia facilita muito. Já temos agências reguladoras que autorizaram o uso do imunizante, o que ajuda a agilizar a liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Brasil fez parte da fase três de desenvolvimento da vacina de Oxford com a Fiocuz, o que facilita e agiliza o processo de autorização. Só precisamos ter a vacina. Tendo a vacina, a expectativa é de começar a campanha de imunização o mais rápido possível.

Em fevereiro de 2020, antes mesmo de a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a crise sanitária da Covid-19 no mundo como uma pandemia, havia uma preocupação em se antecipar a vacinação contra a H1N1 no Brasil. Como as autoridades sanitárias de Goiás e do País discutem o formato ideal para conseguir fazer as duas campanhas, de vacinação contra a Covid-19 e contra a H1N1, ao mesmo tempo em 2021?
Os estudos realizados até o momento sobre a Covid-19 não analisaram simultaneamente a vacina contra o Sars-CoV-2 e o imunizante da H1N1. Pela falta de evidências científicas, não podemos aplicar as duas vacinas juntas. Isso é fato hoje. Pode ser que surja um estudo e esse entendimento mude. Mas é a regra adotada hoje. Não há nada que garanta que é mantida a segurança e a eficácia se fizermos as duas vacinações juntas. Muito provavelmente – não há nada fechado ou definido -, as duas imunizações, contra Covid-19 e influenza, deverão ser feitas em momentos diferentes.

A necessidade de fazer as campanhas separadas pode atrasar alguma das duas vacinações?
Não. A vacina da influenza é dose única. A da Covid são duas doses. O que pode ocorrer – ainda não temos essa informação, são possibilidades – é ter de fazer uma vacinação intercalada com a outra a depender do grupo vacinado. Já que devemos começar a vacinação contra a Covid-19 em fevereiro, a segunda dose deve ser aplicada em março.

A imunização contra a influenza está prevista para começar no final de março ou começo de abril. Uma parte do grupo prioritário já terá tomado as duas doses da Covid e poderá, depois de um intervalo de pelo menos 30 dias, receber a dose da influenza. Quem tiver tomado uma dose da vacina contra a Covid, analisamos duas possibilidades: intercalar as doses da Covid com a da influenza com intervalos de 30 dias – uma dose de Covid, a dose da influenza e depois a segunda dose da Covid – ou espera receber as duas doses da vacina contra a Covid-19 para receber a dose única contra a influeza.

Ainda não temos nada fechado sobre a questão. Mas muito provavelmente as outras campanhas, em algum momento, serão simultâneas.

O mundo vive em estado de alerta pela descoberta da nova linhagem do Sars-CoV-2, principalmente no Reino Unido. São Paulo confirmou nesta semana dois casos da nova mutação do vírus, com transmissão mais rápida. Qual é a preocupação de Goiás com a nova linhagem? Há casos em análise no Estado?
Ainda não temos essa confirmação. Quem faz a análise, a genotipagem, para identificar qual é a cepa do vírus em circulação em uma cidade ou Estado são os laboratórios de referência no Brasil: o Instituto Adolfo Lutz e a Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz]. Parte das nossas amostras são encaminhadas para esses centros de referência para fazer a genotipagem, que é a vigilância virológico. É quando sabemos qual cepa vírus está em circulação.

Ainda não temos qualquer resultado por parte dos dois laboratórios que apontem que Goiás já tem essa cepa. Mas é uma questão de tempo. Sabemos que se a nova cepa ainda não chegou, ela vai chegar. O que nos preocupa é que, mesmo sem a nova cepa em circulação no Estado, temos observado um aumento gradativo no número de casos. Esse aumento começou no final de novembro, há cerca de cinco semanas, com a curva no Estado de Goiás a apresentar ascendência. Sem a nova cepa.

É um conjunto de fatores que irá, infelizmente, piorar a nossa situação epidemiológica: uma cepa mais transmissível e também as festas de final de ano, com as aglomerações que foram registradas. Infelizmente. A soma desses dois fatores pode potencializar a aceleração da transmissão em Goiás. Não só no nosso Estado, mas vimos isso no Brasil afora. Com certeza é uma preocupação.

“Ainda não temos qualquer resultado por parte dos dois laboratórios que apontem que Goiás já tem essa cepa. Mas é uma questão de tempo”

“Sabemos que se a nova cepa ainda não chegou, ela vai chegar. O que nos preocupa é que, mesmo sem a nova cepa em circulação no Estado, temos observado um aumento gradativo no número de casos” | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção

É possível dizer de alguma forma que a população se cansou da quarentena, dos cuidados básicos frequentes?
É ruim dizer isso, mas percebemos um afrouxamento nos cuidados. O brasileiro tem a cultura do abraço, da aglomeração, do beijar. Sabemos que a falta do contato trouxe uma série de problemas psicológicos e sociais. O que temos repetido é que precisamos aprender a conviver com a nova realidade de precaução.

É mais fácil e melhor para todo mundo se adaptar às medidas preventivas do que nos acostumarmos com mortes e casos graves de pessoas nos hospitais, termos de ver hospitais lotados e gente morrer por falta de leito.

É com isso que não podemos nos acostumar ou nos adaptar. É melhor nos adaptarmos ao chamado novo normal, ao uso das medidas preventivas, do que nos acostumarmos a vermos pessoas mortas em grande número e pessoas adoecendo.

A sra. disse que o Estado percebe uma tendência de um crescimento pequeno, mas contínuo, desde o final de novembro de novos casos e mortes por Covid-19. Quando Goiás pode acabar por entrar no que tem sido chamado de segunda onda da doença no Brasil?
Não existe uma definição muito clara do que seria a segunda onda. Entendemos que a seria quando o número de casos cai, se mantém baixo e volta a subir. Quando observamos o gráfico do Estado de Goiás, vemos que subimos a montanha de novos casos, que começou a descer, o que se estabilizou entre as semanas 44 e 46 de 2020.

A partir da semana 47, começamos a ver um discreto aumento. Precisamos esperar ao menos dez dias após as festas de fim de ano para saber realmente como a curva irá se comportar. Só aí poderemos saber se realmente estamos na segunda onda, voltamos a acelerar o crescimento de novos casos, ou se foi um pequeno aumento para depois haver nova estabilização nas confirmações de novas infecções.

Desde o início da pandemia, os dados de casos e mortes confirmadas demoram a ser incluídos na base de análise dos órgãos de saúde. Como a secretaria tem trabalhado para estimar a situação real da Covid-19 no Estado e qual semana epidemiológica de fato os dados confirmados de agora retratam? Há poucos dias, tivemos as semanas 34 e 35 de 2020 superarem o registro de 400 mortes confirmadas pela doença, mas já estávamos próximos da semana 50. Como a pasta tem trabalhado com a subnotificação?
Sabemos que existe um atraso na confirmação dos dados. Infelizmente sempre existiu, em alguns momentos foi pior. Nos preocupa neste momento a transmissão municipal. Não é a regra de todos os municípios, mas temos cidades em que equipes foram substituídas. Isso pode causar um atraso no repasse de informações. Não é possível medir o quanto isso impactou a atualização dos dados.

Por isso digo que precisamos esperar ao menos dez dias após a transição e o fim de ano. Além disso, sabemos que durante o Natal e o ano novo muitas equipes ficaram em recesso. Os profissionais estavam extremamente exaustos, cansados. Entendemos perfeitamente. Depois da primeira quinzena de janeiro teremos certeza qual é o real comportamento da nossa crise sanitária.

São quase dez meses de atendimento diário de casos dos mais variados níveis de gravidade de Covid-19 nas unidades de saúde. Há uma preocupação com o possível aumento casos vindos das festas de fim de ano acumulado ao cansaço dos profissionais de saúde?
Primeiro precisamos conter o aumento de casos. É a nossa prioridade. Mesmo que tivéssemos uma equipe que não estivesse exausta, sabemos que há um limite de leitos hospitalares e de profissionais. A depender da quantidade de casos que tivermos, mesmo com trabalho realizado da melhor forma possível, podemos não conseguir atender todo mundo. A nossa prioridade tem de ser o controle da doença. É preciso entender isso.

Hoje estamos com uma taxa de ocupação de cerca de 50% dos leitos. Precisamos conter a transmissão para que não cheguemos ao momento de não termos leitos suficientes para todos os pacientes e nem profissionais para atender os casos.

Em determinado momento, a Secretaria Estadual de Saúde pensou em transformar os hospitais de campanha em unidades de atendimento geral, não mais para Covid-19. O plano foi mudado para dividir a capacidade entre outras necessidades de saúde e metade para Covid-19. Quando a secretaria viu que precisava manter ao menos metade das estruturas dos hospitais de campanha focada nos pacientes de Covid-19?
Primeiro quando vimos a experiência de outros países e Estados Brasileiros. Depois quando percebemos que a nossa curva de casos havia saído da estabilização e começado a subir, mesmo que discretamente. Entendemos ali que não era o momento de desmobilizar os hospitais de campanha.

São unidades que se tornarão hospitais gerais, porque já faziam parte de um projeto de governo, antes mesmo da Covid-19. A ideia era que tivéssemos hospitais regionalizados com leitos de UTI para evitar a centralização em Goiânia e na Região Metropolitana. O que fizemos durante a pandemia foi antecipar a abertura dos hospitais com atendimento exclusivo de pacientes com Covid-19.

Quando a curva de casos caiu em Goiás, começamos a estudar a possibilidade de atender as necessidades de abrir leitos de UTI para outras demandas graves reprimidas. Foi quando começamos a trabalhar a possibilidade de transformar os leitos de Covid, que chegaram a cair a ocupação para 25% a 30%, para atender pessoas com outras doenças.

Só que precisamos parar, aguardar como ficará a situação epidemiológica e manter os leitos como específicos para atendimento de Covid-19. Os hospitais não foram desmobilizados. O único desmobilizado totalmente foi o Hospital de Campanha de Águas Lindas, no Entorno do Distrito Federal.

A unidade de Águas Lindas era federal.
Era federal e provisória.

Em dezembro, a Anvisa precisou ampliar a validade dos 6,8 milhões de testes RT-PCR que estavam armazenados no Aeroporto de Guarulhos. A distribuição dos exames para os Estados já foi resolvida pelo Ministério da Saúde?
A Anvisa acatou a informação do produtor dos testes, de que os exames poderiam ser utilizados por mais tempo. São kits que estão em utilização. A demanda do Lacen-GO [Laboratorio de Saude Publica Dr. Giovanni Cysneiros] praticamente dobrou no último mês. Estávamos com cerca de 350 a 400 amostras por dia. Hoje está em torno de 750 a 800 por dia. Verificamos um aumento na demanda de laudos dos exames. E estamos utilizando os kits.