Fernando Pellozo: “Temos muito ainda a fazer, mas colocamos Senador Canedo novamente nos trilhos”
19 março 2023 às 00h41
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Elder Dias, Marcos Aurélio Silva e PH Mota
Dois anos, dois meses e 16 dias. O prefeito Fernando Pellozo (PSD) faz questão de contar cada dia de sua passagem à frente da administração de Senador Canedo. Morador do município há 30 anos, ele também é do quadro efetivo do serviço público local – é fisioterapeuta de formação, graduado pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) – e faz questão de ressaltar a importância do concurso público e abriu uma mesa de negociações permanente para discutir os planos de carreira dos servidores.
Os professores ganharam aumento real e também receberam reajustes os gestores de escolas e o pessoal administrativo da educação, o que acabou estendido aos funcionários de outras áreas). Há ainda muito a fazer, tanto é que existem insatisfeitos quanto aos vencimentos, embora o número de manifestações tenha diminuído.
Na parte de planejamento, ele ressalta a evolução no sistema de saneamento da cidade e também a implementação de condomínios horizontais, alguns de alto padrão, o que, segundo ele, servirá para diminuir a dependência do município em relação à receita advinda do ICMS das distribuidoras de combustíveis. Nesta entrevista ao Jornal Opção, ele diz que uma candidatura à reeleição se dará de maneira natural. “Meu foco primeiramente é o trabalho. Tendo a aprovação popular, é natural que a reeleição seja um caso a se pensar”, afirmou.
Como todo cidadão do município, também sou muito exigente
Marcos Aurélio Silva – O sr. está há pouco mais de dois anos à frente de Senador Canedo. Olhando em retrospectiva, acredita que conseguiu dar seu ritmo para a gestão?
Sim. Tenho dito que a gente colocou a cidade novamente nos trilhos. Temos muita coisa para fazer, ainda, mas também muito foi feito, apesar de todas as dificuldades. Tenho um olhar muito positivo de tudo o que conseguimos fazer até agora. Moro em Senador Canedo há 30 anos e nessa condição é que eu avalio: a cidade está mais limpa, mais iluminada, muito mais organizada, com todos os serviços públicos voltando a funcionar – oferecer serviços públicos em plena era digital é um grande desafio. Como todo cidadão do município, também sou muito exigente, mas, no entanto, quando faço essa autoavaliação, tenho tido a satisfação de ver que temos conseguido impor um ritmo, como você ressaltou, para essa cidade que tem um potencial enorme.
Senador Canedo já está organizada, mas pretendo dar uma contribuição a qual considero que será muito importante, que é profissionalizar e modernizar o serviço público, de modo que o cidadão, para que ele receba algo rápido e com muita qualidade. Mas estou muito satisfeito com o resultado do que fizemos nesses dois anos, dois meses e 16 dias.
Marcos Aurélio Silva – Quais foram os principais entraves nesse período?
Para mim, que sou da área da saúde, foi a questão financeira. Pegamos uma cidade conhecida por ser “rica” muito endividada, devendo fornecedores, sem crédito para fazer compras, sem certidões. Nestes mais de dois anos, pagamos, fora de nosso orçamento, algo entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões de dívidas. Ainda há débitos, contraídos por meio de empréstimos, que temos de sanar. Enfim, foi um desafio grande, mas que estamos conseguindo superar. Quem vê Senador Canedo como essa cidade de muitos recursos acha que não passamos por dificuldades financeiras, mas tem sido uma grande tarefa organizar a casa pagando as dívidas do passado e, agora, também ajeitar as contas para quitar os empréstimos e sair das dívidas do futuro.
Marcos Aurélio Silva – Geralmente, na metade da gestão, os prefeitos lançam pacotes de obras, depois de fazer um caixa no início do mandato, com vistas a deixar uma marca da administração e mesmo já trabalhar para uma eventual reeleição. O sr. tem algo a ser lançado agora? Como estão os cofres da prefeitura?
O caixa deixou de ser nosso foco principal. A cidade virou um canteiro de obras, têm várias acontecendo. Iniciamos o ano com a inauguração de três escolas e vamos concluir em breve mais dois Cmeis [centros municipais de educação infantil]. Na próxima segunda-feira, vamos ter a reinauguração do PSF [posto de saúde da família] da Vargem Bonita, que foi reformado; teremos logo o pronto-socorro da Vila São João, que está em fase final de conclusão; em setembro, entregamos a maternidade [Maternidade Aristina Cândida, no Setor Jardim de Todos os Santos] completamente renovada e de alto padrão – e pública, o que é ainda mais interessante; também fizemos a conclusão do PSF da Vila Matinha e iniciamos a reforma de quatro unidades de saúde.
Todo o dinheiro que entra aplicamos diretamente em obras. A cidade, em grande parte, passou por recapeamento; o sistema de água passou por uma reformulação total e iniciamos as obras do Consórcio Sul [infraestrutura de saneamento]. O foco principal é sempre entregar serviços para a população. Nosso caixa é básico, chegamos a um padrão de organização administrativa importante, mas o que entra já é automaticamente revertido em melhorias para a cidade.
Fizemos um investimento pesado em educação nestes dois anos
Marcos Aurélio Silva – Senador Canedo vai fazer 34 anos. Quais os pontos que, em sua avaliação, a cidade precisa evoluir para ficar à altura que os canedenses merecem?
Fizemos um investimento pesado em educação nestes dois anos: reformas de escolas, entrega de kits de material escolar, mochilas, uniformes – com tênis, uma novidade importante e que a turma jovem adorou – e foram distribuídos 5 mil chromebooks para alunos e professores. Todas as escolas de Senador Canedo conta com laboratórios móveis de informática [carrinhos com notebooks e gabinetes de recarga, levados às salas de aula]. Também demos aumento salarial de 33% para os professores, mostrando nosso reconhecimento pelo trabalho, e este ano conseguimos alcançar os servidores administrativos e gestores. Ou seja, creio que estejamos com o dever de casa em dia.
Na saúde, começamos os trabalhos pesados do planejamento da construção do hospital municipal, que é uma antiga reivindicação e um sonho meu, particularmente, como gestor. É um município hoje com 152 mil habitantes, mas que ainda não tem seu hospital próprio.
A área da cultura ainda é carente, assim como a da juventude e a do turismo. Vamos concluir uma obra no Morro Santo Antônio – o chamado Morro do Cristo – e pedimos ao grande artista Omar Souto para fazer um projeto ecumênico cultural e religioso, para que o local pudesse ser usado para atividades de diversos cultos. Ele nos entregou uma boa proposta e vamos encaminhar. A cidade precisa também de um centro de convenções, de espaços para cultura e para o lazer da juventude. Entregamos recentemente um campo sintético de futebol com uma ao lado, no Nova Morada, o antigo Residencial Valéria Perillo, e foi um sucesso, com uma obra relativamente simples, mas que agradou à população. No mesmo bairro, estamos também fazendo a ampliação do Cmei Teófilo Tavares.
Vamos inaugurar o Paço, provavelmente daqui a dois ou três meses, com uma nova proposta para os servidores, no conceito “open office” de trabalho corporativo. Ao mesmo tempo em que vamos encaminhando novas propostas de serviço também para a população. Abrimos agora um edital para uma licitação de software de gestão para facilitar o acesso do usuário aos serviços da prefeitura. Juntamente com o Paço, vamos inaugurar também um novo conceito de trabalho e de serviços públicos, já ainda este ano.
Em suma, a cidade está vivendo um momento muito interessante no que tange à infraestrutura e, sempre conversando com a população, vamos sabendo das demandas futuras.
Marcos Aurélio Silva – Senador Canedo é uma cidade que já tem suas indústrias. Mas existe um programa para ampliar o setor, atraindo novos empreendimentos e, consequentemente, geração de emprego e renda?
Sim, estamos antenados com isso, tanto que temos na Secretaria de Planejamento a Superintendência de Indústria e Comércio. Tivemos uma queda considerável na arrecadação de ICMS – é o que eu digo, às vezes as pessoas veem Senador Canedo como “rica”, mas passamos pelos mesmos problemas que qualquer outra cidade do interior. Não somos uma grande cidade em termos de população, mas a expectativa do morador é de que ela seja tratada como grande que é para todos os que estão lá. Então, para dar um exemplo: daqui a 10 ou 15 anos, não sabemos se poderemos contar com a arrecadação de ICMS por combustíveis fósseis e, nesse sentido, já procuramos outras fontes para garantir a sustentabilidade do município. Uma delas é o ramo imobiliário. A construção, em Senador Canedo, de condomínios de alto padrão também garantirá a manutenção da receita.
Marcos Aurélio Silva – Nesse sentido, como está sendo trabalho o Plano Diretor? A cidade está tendo um zoneamento que, no futuro, evite um crescimento desordenado? Por exemplo, o setor imobiliário às vezes não tem interesses consonantes com o que a cidade demanda ou com o que precisa preservar. Como o sr. está trabalhando para equilibrar essa relação?
Tivemos uma atitude muito impactante junto ao Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), que foi conseguir uma reformulação do Plano Diretor que foi aprovado recentemente – ele é analisado de dez em dez anos. Em 2020, na gestão anterior, foi aprovado uma versão que não contemplava as necessidades da cidade. Assim, em conjunto com o Ministério Público, com a Secretaria de Planejamento e com consultorias, conseguimos fazer voltar a valer o que existia antes dessa revisão de 2020. Ao mesmo tempo, tivemos um prazo para elaborar um documento de acordo com uma visão futurista, financeira e tributária mais adequada ao desenvolvimento da cidade. Esse plano deve ficar pronto ainda neste semestre e, agora sim, é atual, moderno e voltado para o crescimento e desenvolvimento sustentável de Senador Canedo. Com o apoio do MPGO, suspendemos aquele plano que tinha sido aprovado e revalidamos o antigo para poder elaborar um novo. Já fizemos as audiências públicas e, o mais importante, é um documento voltado para um crescimento moderno, que leva em conta tanto o zoneamento como também a importância financeira que tem para a cidade os condomínios horizontais, por exemplo. Assim, vamos deixar de ser dependentes do ICMS do petróleo e passamos a ter outras fontes de arrecadação em longo prazo.
A palavra-chave é planejamento, em todas as áreas
Marcos Aurélio Silva – O sr. não teme que a ida desses condomínios horizontais para o município não acabem o transformando em uma cidade-dormitório?
Quando trabalhamos com planejamento, acabamos por minimizar esses aspectos. Há uma questão cultural em chamar municípios como Senador Canedo de cidades-dormitório. E, nisso, há um aspecto interessante: solicitamos ao IFG [Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás] um plano diretor de mobilidade urbana. Isso está sendo desenvolvido e vai nos dar a oportunidade de constituir eixos de desenvolvimento de circulação – temos feito uma revolução no trânsito da cidade, adotando sistemas modernos de fluxo, como o sistema binário, ciclofaixas integradas com terminais.
Então, não temos preocupação com esse tipo de adjetivo para a cidade. Desde que a gente garanta uma arrecadação que nos coloque em destaque no PIB goiano – hoje ocupamos o 5º ou o 6º lugar –, essas características vão sendo acomodadas. A palavra-chave é planejamento, em todas as áreas – sustentabilidade econômica, ambiental etc. É importante lembrar que a cidade é feita pelas pessoas e o modo com que ela vai se desenvolver passa pela prática no futuro. O planejamento, temos certeza, está correto.
Em tempo, obviamente não pensamos apenas nos condomínios. Estamos atrás de indústrias que nos tragam desenvolvimento, mas o mais importante nesse planejamento é não ficar dependentes do ICMS do petróleo, com modalidades financeiras que possam nos garantir sustentabilidade no futuro. Uma delas é a questão imobiliária.
PH Mota – O sr. fala em crescimento e planejamento com algumas ideias que se dariam em longo prazo. A gente pode entender, nesse contexto, que o sr. pretende continuar à frente da administração e já se colocaria como pré-candidato à reeleição?
Meu foco, primeiramente, é o trabalho. Fazendo um bom trabalho e tendo a aprovação popular, é natural que a reeleição seja, sim, um caso a se pensar.
PH Mota – Dentro desse contexto, já vemos uma movimentação na oposição, com alguns nomes se colocando na disputa. Entre eles estão o ex-secretário de Saúde do município Thiago Moura, o jornalista e empresário Alexandre Braga e até seu vice, Magno Silvestre, que rompeu com sua gestão. Como o sr. observa esse quadro já se desenrolando em torno da sucessão?
Eu vejo de forma natural, até pela fase boa pela qual a cidade está passando, com crescimento, organização e planejamento para o futuro. Em um cenário assim, é completamente natural que haja interesse em se candidatar.
PH Mota – Ao falar sobre os condomínios, o sr. citou também as indústrias. Quais os planos para atrair esse setor?
Vocês vão me fazer contar meus segredos comerciais? (risos) Bom, um deles é que estamos planejando fazer, em uma área nobre da cidade, um polo educacional, junto ao espaço que vamos ceder para o Sistema S. Na Secretaria de Trabalho, hoje, estamos ofertando mais de 900 vagas de emprego. Mas temos um gargalo que é geral, a falta de qualificação. Existem operadores de máquina que precisam ir até São Paulo para passar por cursos para conseguir trabalhar no equipamento. O que pretendemos fazer, então, e que, como brincadeira, chamei de segredo comercial? Vamos implantar um polo tecnológico de educação, por meio do qual queremos atrair, além do Sistema S, também faculdades e outras unidades. Será um ponto motor do desenvolvimento: capacitando os servidores, eles ficam aqui, não precisam ir para Goiânia e nem os de Goiânia virem, já que hoje as indústrias carecem de gente capacitada. Então, esse polo tecnológico de educação será também um motor de desenvolvimento.
PH Mota – Quais as novidades que Senador Canedo terá em relação à questão da moradia?
Em meio à volta do programa Minha Casa Minha Vida, que será muito importante, estamos fazendo o maior processo de regularização fundiária da história de Senador Canedo. Fizemos já a entrega de mais de 200 escrituras e já estão quase prontas mais 1,8 mil. Hoje mesmo [a entrevista foi na quinta-feira, 16], vamos entregar mais escrituras em bairros como Jardim Bougainville e Residencial Flamboyant. E, veja, não é uma autorização: entregamos o documento da escritura mesmo. Até o fim do ano que vem, deveremos entregar 2 mil escrituras.
Com a volta do Minha Casa Minha Vida, estamos já prospectando uma área para fazer os projetos de habitação popular e sanar nosso déficit de moradias, que é pequeno, mas existe. Tudo está ligado ao desenvolvimento econômico. Com a Agehab [Agência Goiana de Habitação], vamos construir 150 casas populares. Quando fazemos um programa habitacional para mil casas, isso também fomenta o comércio e outras áreas.
Marcos Aurélio Silva – O transporte público na região metropolitana é um ponto que afeta muito a vida do cidadão de Senador Canedo, que às vezes expõe isso por meio de diversas manifestações, como já vimos no passado. Agora existe agora um consórcio dos municípios da região para custear parte do valor da tarifa. De sua parte, já notou melhorias?
Sim, consigo observar melhorias. Nestes dois anos, por e3xemplos, conseguimos junto à CMTC [Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo] quatro novas linhas de ônibus para Senador Canedo. É preciso lembrar também que, na região metropolitana, fomos o primeiro município a implantar a meia tarifa e, como pioneiros, também passamos por dores de cabeça – a fila da linha da Metrobus, o Eixo Anhanguera, aumentou, mas imediatamente a RMTC [Rede Metropolitana de Transporte Coletivo] com a CMTC mudaram o sistema de embarque e isso foi resolvido. Hoje temos a meia tarifa, o bilhete único, o Passe Livre do Trabalhador, o Cartão Família, tudo isso em disponibilidade. Por ser uma cidade geograficamente pequena, quase todas as linhas internas funcionam com meia tarifa. Somando-se a isso as linhas que organizamos e essas novas quatro linhas, é possível perceber, sim – e isso eu falo como alguém que foi para o meio do terminal ouvir a população –, até elogios da população.
Marcos Aurélio Silva – O começo de sua gestão não foi tão amigável em termos de relação com a Câmara. Isso foi totalmente pacificado?
O começo foi realmente de aprendizado. Hoje temos uma base boa, com oito vereadores. Posso dizer que temos atualmente uma tranquilidade para aprovação de projetos, de parceria e diálogo com esses vereadores.
Marcos Aurélio Silva – Então, hoje o sr. tem uma base segura para aprovar os projetos de interesse do Executivo e evitar o prosseguimento de pedidos de impeachment, como já ocorreu?
Sim, como eu já disse, hoje temos 8 dos 15 vereadores. Então, está tranquilo.
Nenhum prefeito fez pelo servidor público o que nós estamos fazendo
Marcos Aurélio Silva – O sr. é servidor efetivo do município e também já foi sindicalista, mas sua gestão tem enfrentado alguns embates com servidores. Dias atrás, o pessoal da Saúde chegou a anunciar uma manifestação. Como o sr. vê essas movimentações?
Sou servidor efetivo e fui do sindicato. No início da gestão, montamos uma mesa de negociação permanente, que é um instrumento fantástico. Trouxemos para conversar sindicatos, associações etc., coisa que não vi nenhum prefeito fazer até agora. Sou um militante da luta pelo servidor. Nesta semana, fizemos um café da manhã em reconhecimento aos servidores que procuram se atualizar e estão recebendo gratificação por formação educacional. Foram mais de cem servidores que conseguiram um aumento de 10% no salário por terem de alguma forma se aperfeiçoado – com uma pós-graduação ou um curso de graduação, por exemplo. A gente fez questão de reconhecer esse esforço e agradecer esses servidores nesse evento.
A mesa de negociação permanente mostra claramente a disposição em conversar por parte do gestor – no caso eu, que sou servidor efetivo. Nessa mesa, pedimos para que as categorias apresentassem seus próprios planos de carreira, nada foi feito de cima para baixo. Feito isso, é um caminho longo e no qual a gente precisa da compreensão – algo que nem sempre há – de que há um trâmite jurídico, no qual temos de remeter esses planos para a Procuradoria do município, para ver se está tudo certo nesse ponto e, por fim, também a questão econômica. Já convocamos, em nossa gestão, mais de 1,5 mil concursados, principalmente na área da educação. Em Senador Canedo, a educação é 100% exercida por profissionais concursados. Chamamos também 6 procuradores, 43 guardas municipais, estou em vias de chamar mais 4 agentes de trânsito. Os números e a prática mostram nosso reconhecimento da importância do concurso público e da valorização do servidor. A gente percebe, até pela questão financeira, a ansiedade das pessoas em já entrar no serviço público o mais rapidamente possível.
Na área da educação, o aumento de 33,24% para os professores foi impactante e até desequilibrou nossa folha, mas fizemos questão de fazer o reconhecimento. Da mesma forma, no fim do ano passado, procedemos um reajuste para os gestores de escola – são 51 unidades – e começamos este ano atendendo uma reivindicação antiga dos administrativos, com 15% além da data-base e mais 15% previstos para o ano que vem. Acabamos por estender a todos os servidores administrativos da prefeitura, não somente os da educação. Na prática, o que temos feito pelos servidores – e eu sou servidor em Canedo há 21 anos – nunca havia sido realizado feito por nenhum prefeito.
PH Mota – Um problema que até bem pouco tempo era bem grave e recorrente em Senador Canedo era a questão do abastecimento de água, com muita reclamação por interrupção do fornecimento, especialmente aos fins de semana. Como o sr. avalia isso e que caminhos a prefeitura está tomando para minimizar esses transtornos?
O fato de Senador Canedo ter sua própria empresa de saneamento [a Agência de Saneamento de Senador Canedo (Sanesc)] e de a gestão ser municipal tem os prós e os contras. O problema é que nós pegamos um sistema destruído e, nesses dois anos, aplicamos cerca de R$ 30 milhões para revitalizá-lo. Mas o cenário em 2021 era desolador.
Temos duas captações: a do [Ribeirão] Bonsucesso e a do [Ribeirão] Sozinha, que era o único que funcionava, movido a óleo diesel e onde tinha de ser construída uma subestação. Pegamos a Sanesc em 2021 com uma dívida de R$ 1,2 milhão junto à Enel [empresa de distribuição de energia elétrica, sucedida agora pela Equatorial] e R$ 60 mil em caixa. Parcelamos essa dívida, a qual era um empecilho para a energização da subestação, que funcionava a gerador, gastando diesel. E a última nota fiscal da gestão anterior, pagando a conta desse diesel, era de 2 de dezembro de 2020. Então, assumimos a prefeitura com mais de 20 bairros sem água havia mais de 20 dias. As bombas eram todas velhas, desatualizadas e sem manutenção. Trocamos todas as bombas, ampliamos a reservação do lago do Bonsucesso de 18 milhões [de litros] para 93 milhões e fizemos a duplicação das adutoras, energizando 100% da rede.
Em julho de 2021, houve o episódio da queda do reservatório e, desde então, reformamos todas as casas atingidas e fizemos um reservatório de 1 milhão e meio. Também fizemos um segundo, quase terminado. Por fim, fizemos o que chamamos de casa de máquinas que vai levar água para a região sul, algo que nunca teve. É o Consórcio Sul, com 12 quilômetros de adutora, que vai também permitir a instalação de condomínios em uma área onde não havia desenvolvimento nem expansão urbana. Vamos levar água para as comunidades de Morumbi, Aurora das Mansões e Solar das Auroras e estamos duplicando também as adutoras do Sozinha, que são 5 quilômetros, ainda ativando uma estação de tratamento que estava desativada, abandonada desde sua conclusão.
Além de ter revitalizado todo o sistema de água, também estamos concluindo três elevatórias de esgoto e pavimentando nossa ETE [estação de tratamento de esgoto], que foi completamente revitalizada. As estações de tratamento, tanto de esgoto como de água, são locais onde a população não tem acesso, não conhece. Um de nossos investimentos é na escolinha da Sanesc, para que estudantes vão visitar as estações.
Marcos Aurélio Silva – Parece que é muito pesado para a administração lidar com a Sanesc. O sr. não pensa em, no futuro, entregá-la para outra empresa, como a Saneago ou mesmo para uma gestão privada?
Não, porque nosso foco agora é melhorar sua administração como empresa pública. É uma empresa como outra qualquer, se for bem gerida, vai dar retorno para a população e não vai nos pesar.
Fizemos de um problema que vivia nos assombrando (o abastecimento) uma solução
Elder Dias – O sr. acredita que dá para administrar uma cidade como Senador Canedo sem ter de apelar para ajuda da iniciativa privada?
Quando falamos dessa revitalização que fizemos na Sanesc, é bom ressaltar que não a fizemos sozinhos. Via MPGO, os empreendedores [do setor imobiliário] nos adiantaram o que pagariam pela liberação dos loteamentos, o que se chama AVTO [atestados de viabilidade técnico-operacional]. Com esse dinheiro, estamos fazendo essas obras – por exemplo, pagam R$ 1,2 mil por unidade (casa). Então, se há 400 unidades, basta multiplicar o valor.
O grande problema para investir em Senador Canedo era: quem vai colocar dinheiro em uma cidade onde falta água? Como vender um lote sem água nem esgoto? Por isso, a chancela do Ministério Público também serviu para dar mais transparência ao processo. Assim, pelo acordo, pegamos o montante das taxas e já se investe em saneamento antes de liberar o condomínio. Quando liberamos o projeto, já vem com água e esgoto. Esse é o papel da prefeitura, dar infraestrutura, principalmente na questão mais básica, que é essa. Era um problema que vivia nos assombrando e fizemos dele uma solução. Aí precisamos ressaltar que entra, de certa forma, a confiança do investidor de adiantar esse dinheiro para o poder público para que apliquemos diretamente no sistema. Por isso saímos do sucateamento total para algo seguro e que atende às demandas.
Elder Dias – Em que outras áreas o sr. percebe que também seria importante ter uma parceria com a iniciativa privada?
Minha mentalidade é a de assumir total responsabilidade com os recursos públicos por parte da gestão. As parcerias entram como questão complementar. Há algumas iniciativas bem pontuais em certas áreas, não vamos impedir que isso aconteça. Mas não é o foco da gestão dividir essa responsabilidade, minha prática é a de assumir o problema e resolvê-lo.
Elder Dias – O sr. teve uma reunião recente com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil). Falando ainda de parcerias, houve algo nesse sentido?
Fui até o governador para que pudéssemos resolver a questão do viaduto da GO-020, que é uma das entradas da cidade e que já está com projeto pronto. A pauta de nossa conversa foi quando teremos máquinas na pista. Depois do encontro, já tive uma segunda reunião, na Goinfra [Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes], com o presidente Pedro Sales. Também não deixamos de conversar sobre a duplicação de duas GOs importantes – a GO-536, da JBS, e a GO-537, que liga o Jardim das Oliveiras –, além da continuidade da duplicação da GO-010. Outro ponto, que também é importante e já está em andamento – o governador reconheceu isso –, é a passarela em frente ao IFG, na GO-403, onde a travessia é feita pelos alunos de forma hoje bem perigosa.
PH Mota – O sr. também convidou o governador para a próxima edição do Avança Canedo?
Sim, ele estará presente na 3ª edição do Avança Canedo, algo no estilo dos mutirões que fazia o prefeito Iris Rezende [falecido em 2021, quatro vezes prefeito de Goiânia]. Agora, realizaremos a 2ª, depois do evento inicial, um mutirão que teve mais de 15 mil pessoas em um final de semana, no Jardim das Oliveiras. Eu, que tinha minhas dúvidas sobre se seria bom um evento assim, adorei e vi que a população também adorou.
Tivemos mais de cem serviços prestados, mas o que mais gosto de falar é que 24 animais foram adotados – já tínhamos feito outras feiras para adoção, mas sem esse sucesso. A causa animal é uma que particularmente tenho comigo e, por isso, criamos a Superintendência do Bem-Estar Animal. Este ano vamos conseguir fazer a castração de 700 animais. É algo muito importante para nós e vamos trabalhar sempre junto com os protetores. Também tivemos – e nas próximas edições novamente teremos – serviços como doação de mudas, consultas médicas, odontológicas, confecção de documentos etc.
Acho totalmente possível ter uma parceria com o governador e apoiar Vanderlan, caso ele saia candidato à Prefeitura de Goiânia
Marcos Aurélio Silva – Pode-se dizer que hoje o sr. tem, além da questão administrativa, também uma parceria política com Ronaldo Caiado. Por outro lado, há um cenário desenhado para que o senador Vanderlan Cardoso (PSD) seja candidato a prefeito de Goiânia sem o apoio do governador. Por estar no mesmo partido dele, como ficaria sua relação com Caiado?
Acho totalmente possível ter uma parceria com o governador e apoiar Vanderlan, caso ele saia candidato à Prefeitura de Goiânia. Em meu caso, como prefeito de Senador Canedo, uma coisa não impede a outra.
Marcos Aurélio Silva – Havia uma crítica de opositores, principalmente no começo da gestão, afirmando que Vanderlan influenciava muito em sua gestão. Como o sr. avalia esse tipo de declaração, que ainda ocorre?
Críticas são sempre bem-vindas. Se a gente souber lidar com a crítica, elas ajudam mais do que elogios. Minha relação com Vanderlan está no fato de que ele sempre foi e afirma que sempre vai ser um parceiro de Senador Canedo. Ele reconhece que é a cidade que o projetou politicamente, a ponto de ser hoje um senador da República com mais de 1,7 milhão de votos. Canedo, com 80 mil eleitores, foi quem o impulsionou e ele tem gratidão à cidade. Seja eu, ou fosse outro prefeito, tenho certeza de que Vanderlan estaria ajudando – e é o que ele faz. Se isso é uma crítica, é uma crítica boa. O importante é que o município tem um prefeito que o lidera e que tem o apoio do senador Vanderlan e do governador Caiado. As críticas são naturais.
Marcos Aurélio Silva – Como o sr. está vendo a formação das alianças para 2024?
Eu estou confortável no PSD. Estive ontem [quarta-feira,15] no almoço para Vilmar Rocha [presidente estadual do partido], que completou 40 anos de vida pública. No momento, meu foco é no trabalho. Costumo dizer que a melhor política é o trabalho, é o cartão de visitas. A questão do cenário a gente deixa para mais à frente.