PH Mota e Fabrício Vera

Em passagem por Goiânia na fase final da campanha presidencial, o candidato do partido Novo, Felipe D’Avila, concedeu entrevista ao Jornal Opção, falando sobre os principais projetos de campanha, apostas da legenda e sobre os adversários Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), que lideram as intenções de voto.

Cientista político e empreendedor, D’Avila critica a atuação de ambos na gestão do país, responsabilizando tanto o ex-presidente como o atual por ”20 anos de crise”. Também defende parcerias público-privada para solucionar problemas de falta de investimento e promover o desenvolvimento econômico e industrial do país. Além disso, defende programas sociais com “porta de saída” e destaca ações do governo de Romeu Zema, primeiro governador eleito pelo Novo, em Minas Gerais.

Fabrício Vera – Em 2018, apesar de não chegar ao segundo turno, o candidato do partido Novo, João Amoêdo, conseguiu uma votação expressiva (2,5% do percentual), considerando que foi a primeira vez que a sigla lançou nome para presidente. Como fica a expectativa com sua candidatura após o desempenho anterior nas últimas eleições presidenciais?

Amoêdo foi o fundador do Partido Novo e um ótimo candidato e uma pessoa que representa o espírito do partido. Só que o mais importante nas eleições de 2018 não foi apenas o bom desempenho dele, mas uma boa performance do Novo. Elegemos o primeiro governador no Brasil – Romeu Zema, em Minas Gerais –, elegemos uma bancada de oito deputados federais, passamos a cláusula de barreira, que é muito importante para o partido. Depois, isso ajudou a eleger o prefeito de Joinville (Adriano Silva), a maior cidade de Santa Catarina, e um grupo expressivo de vereadores. Então, é a marcha de um partido, esse é o ponto importante. Temos sim um projeto para o Brasil, mas de longo prazo, e sabemos que é preciso construí-lo tijolo por tijolo. Essa é uma eleição muito mais polarizada do que a de 2018, por conta do Lula e do Bolsonaro, mas pretendemos dobrar as nossas metas na bancada federal e nas estaduais, além de reeleger o governador Zema e possivelmente eleger mais um governador ou um senador. Nós temos uma meta bem ambiciosa para essa eleição e sentimos que a adesão ao partido novo cresce a cada pleito. É isso que nos motiva a continuar na luta eleitoral.

PH Mota – O Novo é um partido que está indo para eleições com chapas completas, com candidatos a presidente, governo e senado. Lançar chapas completas está dentro dessa estratégia para garantir a ampliação da bancada?

Com certeza. Aliás, um partido pode mensurar o êxito eleitoral obtido com base nas nominatas feitas, com a chapa montada. Nós conseguimos montar uma chapa completa em quase todos os colégios eleitorais e isso será muito importante nas eleições de 2022. Por isso, acredito que vamos dobrar a nossa bancada federal e as estaduais, o que terá um papel fundamental para criar uma base no pleito de 2024 e de 2026. Temos um projeto de médio a longo prazo, mas acreditamos que o Brasil está cada vez mais em sintonia com as pautas do Novo. O país está cansado de um governo incompetente e de um Estado gigantesco, que faz que trabalhemos cinco meses por ano só para pagar impostos que sustentam serviços de péssima qualidade. Os brasileiros querem um Brasil mais empreendedor, capaz de desenvolver os seus talentos e os seus negócios. É isso que eu tenho visto. A minha visita a Rio Verde mostra muito isso, que é o Brasil que dá certo. O que a turma de Rio Verde quer? Querem tirar o Estado das costas para poder trabalhar, porque isso que faz o Brasil progredir. Esse é o sentimento que hoje está espalhado pelo país.

PH Mota – Sobre a visita a Rio Verde e a ida à região da 44, em Goiânia, com base no que foi visto, o que se pode dizer sobre um plano de governo e soluções para promover Goiás e inseri-lo no crescimento do país?

Aqui em Goiás temos todos os atributos para fazer o Brasil crescer: um agronegócio dinâmico, pujante e que, principalmente em Rio Verde, foi pensado para dar um salto para a agroindústria. Isso produz bens de maior valor agregado a partir dos insumos agrícolas, o que faz o país depender ainda menos das commodities internacionais, porque isso nos deixa dependente da China, a única compradora. Estivemos no Grupo Cereal, em Rio Verde, e vimos como se faz o biodiesel a partir da soja. Esse valor agregado é algo que mostra o rumo do agronegócio brasileiro se encaminhou. Como extrair mais valor agregado do que nós já produzimos. Então, esse é o primeiro ponto importante. O segundo é que o agronegócio é a maior prova de que o Brasil pode competir no comércio internacional sem medo. Isso foi o que fez o agro aumentar a produtividade e a sua competitividade internacional, assim temos que seguir este exemplo. Aprofundar a abertura econômica no Brasil, de forma gradual, para que a indústria e os serviços possam competir no mercado global.

Fabrício Vera – Como seria possível fazer a construção desse processo de favorecimento da competição da indústria nacional?

A reindustrialização do Brasil se dará justamente por uma indústria capaz de se inserir no comércio global, nas tecnologias de ponta e na inovação. Igual o agro fez e está fazendo. O ganho de produtividade do agronegócio é a prova de que ele está se reinventando, aprimorando os seus métodos produtivos justamente para ganhar mais mercado. Esse lado mostra que o Brasil precisa dessa abertura de mercado. Mas, o lado ruim continua a ser a infraestrutura e a logística. É um problema do país inteiro, que gasta quase tudo que arrecada com custo da máquina pública e vem reduzindo o investimento público – o menor da história –, porque o gasto com a máquina pública vem aumentando e comprometendo a competitividade no país. Faltam armazéns e energia elétrica para os nossos produtos agrícolas serem estocados. Todo o problema da deficiência da infraestrutura é reflexo do Estado incapaz de investir, porque o dinheiro do investimento é sacrificado para pagar a máquina pública todo ano. Isso é algo que precisamos reverter e é muito perigoso. Nesta eleição todos os candidatos, exceto eu, só prometem aumentar o gasto público. E de onde sai o dinheiro? Dinheiro não dá em árvore. Como que faz? Neste ano, o Brasil vai pagar R$ 500 bilhões de juros sobre a dívida e qual a verba de investimento do Governo Federal? Assim o Brasil não fica em pé, é uma empresa quebrada, um país quebrado.

PH Mota – É aí que entram suas ideias de parcerias público-privadas?

Justamente. As parcerias público-privadas e concessões fazem parte de uma necessidade de investimento em infraestrutura no Brasil, além da incapacidade do Estado em investir porque não tem mais recursos. Precisamos que o Governo Federal estabilize a relação da dívida com o Produto Interno Bruto (PIB) no orçamento do país para recuperar a capacidade de investimento. Apenas a iniciativa privada não renova. Parceria público-privada é importante, mas o Estado tem que investir. O país vem cortando investimento nos últimos 10 anos.

Aqui em Goiás temos todos os atributos para fazer o Brasil crescer, apesar dos desafios econômicos. Um agronegócio dinâmico, pujante e que, principalmente em Rio Verde, foi pensado para dar um salto para a agroindústria, que produz bens de maior valor agregado a partir dos insumos agrícolas

Felipe D’Avila

Fabrício Vera – Dentro do seu plano de metas, há citações para melhorar a educação e a saúde. Então, a respeito das parcerias público-privadas, o que o senhor pensa a respeito do uso do sistema de “vouchers” na educação e saúde?

Acredito que é muito importante ter voucher. Ele em si não é uma solução, não podemos entender como isso. A solução para a educação é você ter indicadores claros de que os alunos estão aprendendo o conteúdo do ano série. Nós precisamos focar no aprendizado do aluno. Hoje, cerca de 5,6% do PIB é gasto com educação, só que as crianças e os jovens não estão apreendendo. A defasagem do que precisa apreender em um ano série no Brasil é gigantesca. Estamos falando de 50% das crianças que não estão devidamente alfabetizadas aos 8 anos de idade. Isso não é uma questão só da pandemia, esse número já acontecia no governo do PT (Partido dos Trabalhadores). Quando chegam no ensino médio, Fabrício, só um em cada dez alunos sabe o conteúdo mínimo de matemática. Então, não estão aprendendo e nós precisamos focar no aprendizado do aluno. O Brasil está entre os dez piores países do mundo na educação básica, de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o exame que mensura o conhecimento do jovem aos 15 anos de idade em matemática, ciência e línguas. Por isso, está na nossa meta do programa de Governo colocar o Brasil entre os 20 melhores. Essa tem que ser a régua que vai desdobrar as regras para os municípios e os estados, para que possamos melhorar o nosso desempenho no Pisa. Já aprovamos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), agora precisamos aprender o ano série, o que cada criança e jovem precisa saber. Temos que focar na educação básica. O Brasil gasta cada vez mais com o ensino universitário, o que é um absurdo quando a educação básica está péssima. Então, vamos focar no elementar, como resolver a questão da educação básica no Brasil. O SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) que saiu agora é desastroso, mostra que continuamos com os jovens e as crianças não apreendendo o conteúdo do ano série.

PH Mota – Falamos sobre duas questões que são importantes, sobre parcerias público-privadas, concessões e o agronegócio. Existe uma visão de que privatização é o oposto de preocupação social com o mais pobre. Ou ainda, o avanço do agro é deixar de preocupar com o meio ambiente. Como fazer esse equilíbrio para que possa haver um avanço nessas pautas, mas também sem deixar outras importantes de lado?

Primeiro, essa é uma visão totalmente distorcida que vem dos partidos de esquerda, essa visão binária. Se o empresário ganha dinheiro, a sociedade perde, se o mercado funciona, o pobre sofre. Isso não existe no mundo. Aliás, se você conversar com as pessoas, como eu converso na minha campanha pelo Brasil inteiro, elas vão dizer que não estão nem aí se é privado ou público, elas querem que funcionem. Quando você vai ao SUS (Sistema Único de Saúde), não sabe se está sendo atendido em um hospital estatal ou no hospital filantrópico, privado. Você quer saber se vai ser atendido e se o seu problema vai ser resolvido devidamente, é isso que importa. Com escola é a mesma coisa, público ou privada, o que as mães e os pais querem é que o aluno aprenda. Portanto, se for voucher, se for parceria público-privada ou se for concessão, não importa. Você precisa resolver o problema, e a parceria público-privada e as concessões vêm resolvendo vários problemas estruturantes do Brasil. Por exemplo, a telefonia era estatal nos anos 1990, demorava dois ou três anos para você conseguir uma linha telefônica, tinha que declarar no imposto de renda que era produto de luxo, herdava e tinha gente que vivia de aluguel disso no Brasil. O que aconteceu? Privatizou e hoje todo mundo tem um celular no bolso. Pergunta quem acha ruim a privatização do setor de telefonia. Todo mundo acha bom. Então, é óbvio que as pessoas querem é o serviço. Vou dar um exemplo de desastre estatal, a questão do saneamento básico no Brasil, que é praticamente um oligopólio estatal hoje. Cerca de 100 milhões de brasileiros não têm acesso ao esgoto tratado. Precisa ter investimento privado aqui. Acabamos de aprovar o Novo Marco Legal do Saneamento, justamente para ter parceria público-privada, concessão e poder universalizar o acesso ao saneamento básico até 2033. Vamos resolver uma dívida do século XIX durante o século XXI porque as estatais foram incompetentes, se tornaram cabide de emprego e antro de corrupção no Brasil.

Fabrício Vera – Qual é a sua visão a respeito dos atuais programas sociais? O senhor defende a manutenção dos atuais ou planejaria mudanças? O que acha dos programas de distribuição de renda mínima, com ideias que foram defendidas por economistas liberais, como Milton Friedman?

Bom, primeiramente, o Estado precisa socorrer as pessoas que estão na miséria extrema. Não tenho a menor dúvida. Você tem 33 milhões de pessoas passando fome, e essas pessoas precisam de ajuda. O problema é não criar uma dependência das pessoas com os programas para o resto da vida. A importância é ajudar as pessoas a saírem dessa condição para resgatar a dignidade no trabalho e voltar ao mercado de trabalho para produzir ou criar o seu próprio negócio. Esses partidos de esquerda adoram criar o que eu chamo de “clientelismo social”, ficar criando programa para escravizar a pessoa. Ninguém quer isso. Você pergunta para pessoa, mesmo que ela esteja recebendo o auxílio, ela quer aquele dinheiro para sair da emergência, mas deseja recuperar a dignidade no emprego. Nós precisamos ter programas sociais para que as pessoas recuperem a dignidade no emprego. Então, o que tem que fazer com os programas sociais? Primeiro, focalizar nos mais pobres, nos mais miseráveis porque, veja só o auxílio emergencial, você dá 400 reais para um jovem solteiro de 20 anos e para uma mãe com duas crianças de 4 e 6 anos, está errado. Se você quer realmente combater a pobreza, se você quer eliminar a pobreza extrema e a fome, você deveria dar mais recursos para uma mãe com duas crianças do que para um jovem de 20 anos solteiro. É preciso calibrar os programas com metas claras, o que esse programa quer fazer, qual é o propósito dele? É reduzir a miséria? É a fome? Então, nós vamos fazer um critério para reduzir a miséria e a fome. Não para criar um assistencialismo permanente. Qual é o problema do Bolsa Família? É um bom programa, mas não tem porta de saída. A nossa meta de sucesso para o programa social não é quantas pessoas entram no programa, mas quantas pessoas saem.

Felipe D’Avila, defende parcerias público-privada e concessões para melhorar oferta de serviços à população e favorecer desenvolvimento econômico e industrial do país | Foto: Fernando Leite

Fabrício Vera – No seu plano de governo podemos observar a defesa uma “modernização das leis tributárias e trabalhistas”. Como seria esse processo de “modernização”?

Temos que aprovar a Reforma Tributária, as PECs (Proposta de Emenda à Constituição) nº 45/2019 e nº 110/2019. Foi um projeto muito importante criado pela comissão mista do Senado e da Câmara, com o objetivo de simplificar o sistema tributário e a criação do imposto de valor agregado. Essa é a regra tributária do mundo, mas no Brasil, precisamos ter tecla SAP com 200 advogados para dizer como se paga imposto no país. É um manicômio tributário que mata competitividade e cria um passivo gigantesco. Estamos falando de 70% do PIB brasileiro para judicialização tributária. É briga para não pagar alíquota de PIS, COFINS, ICMS. Isso é uma loucura! É dinheiro parado que poderia estar gerando investimento para o Brasil. Precisamos fazer essa reforma tributária, começando por isso, que já está no Congresso e que teve apoio dos 27 estados. Já na questão trabalhista, não podemos ter o monopólio da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). É uma lei trabalhista criada na época do Getúlio Vargas, em um Brasil dos anos 1950, no início da industrialização. Não tem nada a ver com a economia moderna e digital, com trabalho temporário ou intermitente. É preciso adaptar a lei às novas circunstâncias ou vamos perder mão de obra qualificada. Quais são os atalhos que surgiram para burlar a CLT? Primeiro, criou-se uma profusão de MEIs, algo que não emprega ninguém, você é seu próprio empregado, mas coloca mais dinheiro no bolso, paga menos e a empresa cria menos encargos. Uma lei trabalhista boa no Brasil é uma que faria com que, ao invés de termos 40 milhões com carteira assinada, teríamos 100 milhões. É preciso somar quem tem carteira assinada, MEIs e as pessoas do mercado informal. A lei que é boa formaliza o trabalho. Quanto mais formalizado é o trabalho, mais as pessoas têm acesso ao crédito e conseguem ter uma vida normal.

PH Mota – Ainda a respeito de soluções econômicas, existe uma discussão sobre o teto de gastos. Ele faz parte da solução para eventual crise que pode acontecer no próximo ano?

O teto de gastos não é solução, mas sim uma condição inicial para mostrar que o Brasil estabelecerá a relação da dívida com PIB no médio prazo. Seria como se, no seu orçamento, você gastasse mais do que ganha e vai no banco pedir mais dinheiro, sendo que ele cobrará um juro gigantesco. Se você tem histórico de bom pagador, vai ter uma taxa de juros menor. Seria a mesma coisa com uma nação. Se continuarmos a gastar mais do que arrecadamos, o medo de insolvência faz com que a taxa de juros do Brasil continue a subir. Quanto mais ela sobe, mais voltamos a ter rentistas do Estado, pessoas com menos vontade de investir no próprio negócio. Se você começa a ter 6 ou 7% de juro real, a turma da construção civil acende um alerta. Com 9 a 10%, é melhor deixar o dinheiro no banco do que investir, e aí temos um problema. Para estabilizar a relação dívida e PIB, o Brasil precisa deixar claro no orçamento que vai começar a reduzir o custo do Estado. Precisamos voltar a ter superávit primário e outras coisas importantes para dar sinal de que não estamos em uma ladeira abaixo com incapacidade de pagar as dívidas. Como já falei aqui, esse ano vamos pagar R$ 500 bilhões em juros no Brasil e a taxa de investimento é de R$ 23 bilhões. Você está mostrando que, se continuar nessa trajetória, o país está quebrado. Tem que ter teto de gasto, volta de superávit primário e estabilização da relação dívida e PIB.

PH Mota – Quando fala em “país quebrado”, você atribui a situação a resultados da crise internacional ou da gestão Paulo Guedes, durante o governo Bolsonaro?

Não é uma crise do governo Bolsonaro. Tivemos a crise da pandemia, que prejudicou o Brasil e o mundo, e todo mundo entende isso como fato normal, quando medidas emergenciais precisam ser tomadas. O problema é que isso se arrasta no Brasil há mais de 20 anos. Começou no governo Lula e depois, no governo Dilma, foi um desastre total e continua sem dar sinal de que essa relação entre PIB e dívida está estabilizada. Vamos focar no superávit primário, que não está na agenda e precisa estar. Então não é problema de um governo ou da crise. É muito fácil culpar só a crise, mas isso é um problema estrutural do Brasil e precisamos resolver de forma séria. Parte do retorno do investimento só virá com a confiança de honrar esses compromissos. Se isso não acontecer, não virá investimento para o Brasil. O país hoje está no caminho de uma Argentina, um caminho muito perigoso. Se não tivermos juízo com as finanças públicas, principalmente na parte fiscal, vamos entrar numa situação muito preocupante.

Bolsonaro fez o PT voltar forte agora. Se tivesse seguido o exemplo do Zema, com um bom governo, ninguém mais queria saber do Partido dos Trabalhadores. Podia voltar o Lula ou quem quiser, que não teria a menor chance

Felipe D’Avila

Fabrício Vera – Para reduzir a máquina pública do Estado teria que, consequentemente, reduzir impostos? Como o senhor faria esse equilíbrio de redução de impostos com a receita pública para não gerar problemas no orçamento?

Seria irresponsabilidade prometer redução de imposto no Brasil nessa hora. Eu prometo a responsabilidade de não aumentar imposto, fazer cortes necessários no desperdício do gasto público para, em médio prazo, poder reduzir a carga tributária no Brasil. Mas, qualquer promessa de redução de carga tributária com o tamanho do gasto público é tamanha irresponsabilidade.

Fabrício Vera – Desde 1994 o Plano Real perdeu cerca de 85% do seu valor no poder de compra. Como planeja recuperar a força da moeda e do poder de compra do brasileiro?

Só tem uma coisa a fazer: a economia precisa voltar a crescer, mas o problema é que a economia não cresce. Nos últimos dez anos a economia brasileira cresceu 2,5%, sendo que a mundial alcançou 32%. Se ficarmos nesse crescimento, não tem como aumentar a renda. Tanto que nesse período a renda do mundo cresceu 25% e a nossa caiu 64%. Não tem aumento de renda com uma economia que não cresce. O que faz a renda crescer é uma economia que cresce e, para isso, precisamos de um programa que foque na retomada do crescimento econômico. Por isso, sou quase um samba de uma nota só, repetindo que precisamos retomar o crescimento econômico. Se não resolver isso, não vai aumentar a renda e vão agravar os problemas sociais. Isso é fruto do populismo, de esquerda e de direita, que promete e não entrega crescimento econômico, deixando o Brasil rastejar há mais de 20 anos.

PH Mota – O Partido Novo utiliza muito o exemplo de gestão do Romeu Zema, em Minas Gerais. Parte da imprensa mineira relata que não há muitas manifestações públicas dele em apoio a sua candidatura como presidenciável. Por exemplo, dizem que ele só se manifesta quando faz parte da sua campanha ou é muito pressionado. Como o senhor enxerga tal posicionamento?

Vocês são jornalistas e sabem: tem que olhar os fatos, e não boatos. O fato é: pegue todas as declarações do Zema no último ano, todas. Sempre que perguntam sobre o candidato no primeiro turno, em todas ele fala que é Felipe D’Avila. A turma gosta de falar que o Bolsonaro apareceu ao lado dele, mas o Zema não diz nada e já falam ele está apoiando o presidente. Em toda palavra, ele diz que o candidato à presidência da República dele sou eu, o restante é intriga que parte da imprensa gosta de fazer. E tem um negócio: tem quem vote no Zema e vote no Lula, gente que vota nele e em mim, outros votam no Bolsonaro também. O Zema se tornou uma unanimidade e, no fundo, Lula e Bolsonaro, estão tentando tirar “casquinha” dele por essa popularidade de 80% que vai garantir vitória no primeiro turno. Aliás, o Zema massacrou o PT de tal forma que a sigla nem lançou candidato ao governo porque sabia que seria destruído. É o que deveria ter feito o governo Bolsonaro só que não fez, fazer a gente esquecer o PT. Pelo contrário, ele fez o PT voltar forte agora. Se tivesse seguido o exemplo do Zema, com um bom governo, ninguém mais queria saber do Partido dos Trabalhadores. Podia voltar o Lula ou quem quiser, que não teria a menor chance, como acontece em Minas Gerais. O estado é sim a maior vitrine do Partido Novo, exemplo de como se pode fazer política sem corrupção, com competência e absoluto critério de gestão pública para melhorar a vida das pessoas.

PH Mota – Seja em redes sociais, tons de crítica ou de humor, ou mesmo em análises políticas com proposta de debate sério, o senhor é mencionado por se apresentar como “cidadão como você”, mas possuir um patrimônio elevado, o maior entre os candidatos. Como reage a isso?

O que falo para as pessoas é que vivemos do mercado e do trabalho, não importa quem ganha mais ou menos. Nós não vivemos do governo ou de cargo público. No Brasil, quem vive do trabalho, como todos nós, são a maioria. Podemos tirar o poder das mãos desses caras que vivem da política e de cargos públicos. Quem está hoje na política só está pensando: e se eu perder a eleição? Qual é o meu cargo? Qual é a minha verba? Quem eu vou indicar? Eles só pensam nisso. O jeito de tirar essa turma de lá é com gente igual a nós. Se um ganha mais ou ganha menos, isso é parte da vida, mas nós vivemos do mercado e do nosso trabalho. Essa turma só vive da máquina pública e eles nunca vão fazer o Brasil servir a quem vive do trabalho porque o Estado só vive e sobrevive politicamente vivendo da máquina pública.

PH Mota – Para a reta final da campanha, qual o principal foco?

Acho que o mais importante agora é o eleitor entender que o seu voto é a escolha que ele quer para o país. O seu voto vai refletir o Brasil que você quer, aspira e deseja para os seus filhos e netos. Se nós entendermos que o voto é apenas um mecanismo utilitário para tirar a pessoa que a gente não gosta no poder, o Brasil continuará sem crescer, sem gerar renda e a miséria vai aumentar. Portanto, o voto no primeiro turno é um voto de consciência naquele que é o melhor. No segundo, a gente vê no que dá, mas se todo mundo votar bem antes, você vai ver que vamos ter surpresas depois. Foi o que aconteceu com o Zema em Minas Gerais. Cansado da polarização de PT e PSDB em Minas Gerais, restando apenas cinco dias para as eleições, o eleitor mineiro resolveu apostar no Novo e votou no governador Zema, o que quebrou a polarização. Como governador de Minas Gerais, fez um trabalho extraordinário e vai ganhar a eleição no primeiro turno. Então, se nós quisermos mudança, não adianta escolher os mesmos e esperar resultados diferentes, não vai acontecer, o Brasil vai continuar imerso na sua maior crise política, econômica e social.