Elder Dias e Euler de França Belém

Em meio ainda ao trauma da pandemia, quando ainda não havia vacina, a disputa pela cadeira da Prefeitura de Itumbiara em 2020 foi acirrada e exigiu bastante dos concorrentes. O equilíbrio foi tanto que, abertas as urnas, os quatro candidatos tiveram porcentual de dois dígitos.

O vencedor foi um empresário nascido no município e que era então conhecido como Dione da Famóveis, candidato pelo DEM, hoje União Brasil (UB). Na batalha eleitoral, o adversário mais difícil foi Gugu Nader, então filiado ao extinto PSL, e que dois anos depois se tornaria deputado estadual pelo MDB. O prefeito eleito teve 16.640 votos (33,13%) ante 14.036 (27,95%) do principal oponente.

Dione José de Araújo tem 64 anos e empresário no ramo moveleiro. De perfil técnico, faz uma gestão moderna em Itumbiara, cidade que passou muitos apertos econômicos em decorrência da ação de políticos populistas no passado. Nesta entrevista ao Jornal Opção, o prefeito que conseguiu ajustar a máquina administrativa mostra que agora está olhando para frente. E qual é o maior desafio? Ele quer concluir a negociação para que duas grandes indústrias chinesas se instalem no município. “Se isso ocorrer, vamos disputar um lugar entre as cinco maiores economias do Estado”, prevê.

Jornalistas Euler de França Belém e Elder Dias entrevistam o prefeito de Itumbiara, Dione Araújo | Foto: Leoiran / Jornal Opção

Conseguimos zerar a fila de espera em 5 de 19 especialidades médicas

Euler de França Belém – Itumbiara é a cidade-polo do Sul de Goiás e, por isso, acaba tendo também recebendo muita gente de localidades vizinhas, inclusive de Minas Gerais, especialmente para atendimento médico e hospitalar. Como está a situação da saúde no município, considerando que em cidades goianas de porte semelhante o serviço está muito deteriorado? Em sua gestão, a saúde está funcionando?

Nós assumimos em 2021 com uma fila de espera de pessoas por cirurgias eletivas que chegava a sete anos na regulação, para alguns casos. Não vou dizer que conseguimos zerar essa fila em todas as especialidades, mas nestes 30 meses de governo realizamos 4,1 mil cirurgias eletivas atendendo gente de toda a região.

Em relação a consultas, a gente conseguiu zerar a fila de espera em 5 de 19 especialidades. De janeiro a julho, foram 10.049 consultas, sendo que para essas cinco áreas o paciente vai ao posto de saúde e já marca diretamente com o médico da especialidade. Logicamente, vai haver alguma demora para certos atendimentos, como neurologista, por exemplo. Da mesma forma, também zeramos cinco filas de espera para cirurgias.

Euler de França Belém – Essas cirurgias são todas realizadas no hospital municipal?

A maioria, sim. Encaminhamos alguns casos, por meio do convênio com a Vila São Cottolengo, especialmente no início de nossa gestão. Hoje, fazemos 80 procedimentos por mês em nosso hospital, somente de visão. Foi um avanço muito grande, pessoas que aguardavam há anos por uma cirurgia foram atendidas. Na semana passada houve um mutirão de cirurgias de catarata e fui cumprimentar e conversar com os pacientes na fila. O que estava há mais tempo esperando tinha apenas seis meses desde o pedido.

Implantamos dez leitos de UTI, coisa que o hospital municipal da cidade nunca tinha tido, mesmo tendo serviço de maternidade. Outra medida que tomamos foi elevar o valor da consulta de 40 reais para 80 reais ou até 100 reais para algumas especialidades – isso mesmo recebendo apenas 10 reais do governo federal. Vamos iniciar, no dia 14 de setembro, o programa Saúde na Hora, pelo qual três clínicas vão atender as pessoas até as 22 horas, prolongando o tempo de atendimento para a população.

Euler de França Belém – Hoje então Itumbiara pode dizer que o sistema de saúde não funciona como a chamada “ambulancioterapia”?

Muito pelo contrário, o que acontece é recebermos essa demanda dos municípios vizinhos para Itumbiara, inclusive dos mineiros. Um exemplo é essa campanha de cirurgia de catarata. Havia cidadãos de Monte Alegre, Araporã, Canápolis, Centralina [todos municípios de Minas Gerais]. O sistema do SUS é porta aberta, não podemos recusar nenhum atendimento. Então, estamos trabalhando para estruturar melhor nosso sistema, reformando o hospital e construindo uma policlínica, para a qual já há projeto pronto. Outro que está concluído para iniciar as obras é um hospital para crianças, o PAI [Pronto Atendimento Infantil], com 12 leitos exclusivos.

No caso do hospital, estamos na fase final de reforma da UPA [unidade de pronto atendimento] para, então, fazermos as obras de que a unidade precisa. É um prédio muito antigo, que carece de uma ampla reforma. Para poder “fechar a porta” e atender somente maternidade e cirurgias eletivas, temos de estruturá-lo, principalmente com a abertura do PAI e a implantação da policlínica, para que o cidadão faça todo tipo de exame no mesmo local.

Da parte do Estado, o governador Ronaldo Caiado (UB) abriu o Hospital São Marcos, que é a maior unidade pública do interior de Goiás. Ele investiu muito na saúde de Itumbiara.

Euler de França Belém – Segurança pública é um dever do Estado, mas em alguns municípios, as prefeituras contribuem, seja com a obra em um presídio, ou com alimentação, ou mesmo banco de horas para a Polícia Militar. Em relação a Itumbiara, uma cidade de certo modo fronteiriça, um dado interessante que recebi é de que lá houve 15 assassinatos em 2022, um número relativamente baixo se tomarmos outras cidades goianas do mesmo porte. Afinal, não moramos no Canadá – onde cidades têm, quando muito, um assassinato por ano –, mas no Brasil. O sr. pode explicar o motivo desse bom índice para a média dos números nacionais? É por causa da segurança do Estado ou a Prefeitura tem seu quinhão de compromisso nessa história?

Isso ocorre principalmente pela segurança do Estado, isso é indiscutível. Todos os índices de Goiás melhoraram e muito nesse sentido. Nossa participação está nas horas adicionais para a PM aos fins de semana e nos eventos mais importantes. Algo que Itumbiara realmente contribui com a área eu penso que seja por conta da escola de tempo integral, oferecendo mais condições para que os pais possam trabalhar tranquilamente, deixando seus filhos às 7 horas e os buscando após as 17. São coisas que facilitam.

Outra questão é que não temos problema de desemprego em Itumbiara. Geramos mais de 4 mil empregos durante estes 30 meses à frente da Prefeitura. O Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados] sempre nos notifica como sendo a segunda, a terceira, no mínimo a quarta cidade do Estado em geração de emprego.

Foto: Leoiran / Jornal Opção

A geração de empregos também é uma ação contra a violência

Euler de França Belém – E qual é a explicação para essa geração de vagas?

Temos muitas indústrias e um comércio forte. Quando se cria um ambiente favorável para a negociação e a atração de novos empreendimentos, de novas indústrias, isso facilita bastante. Creio que a geração de empregos acaba também se tornando uma ação contra a violência. Afinal, as pessoas estão trabalhando. E, importante dizer, temos vagas disponíveis na maioria das áreas.

Euler de França Belém – Qual é a colocação de Itumbiara no PIB do Estado?

Itumbiara é a 7ª economia de Goiás, um pouco à frente de Jataí.

Euler de França Belém – E de que consta a produção industrial do município?

O setor da agroindústria é certamente a principal. Temos a Caramuru como nossa principal indústria, produzindo óleo e farelo de soja, além do bagaço, que serve ao gado de confinamento. Os subprodutos da soja formam uma cadeia muito grande. Em outubro, teremos a inauguração de uma fábrica que, no início de 2020, por falta de soja em nossa região – já que a cana-de-açúcar ocupou muitas áreas –, a Caramuru iria levar, como uma de suas produções, para Ipameri. Juntamente com o governador e com o sr. Alberto [Borges, diretor da Caramuru em Itumbiara], seguramos o processo, uma indústria de ração de peixe, a chamada proteína concentrada de soja (SPC). Com isso, vamos manter cerca de 600 empregos.

Temos também empresas grandes na produção de milho, como a Corteva, que cresceu demais, principalmente em sementes de milho, inclusive trazendo um parceiro para depositar, fornecer a matéria prima, o que fez dobrar a produção. Há ainda duas indústrias do ramo de geração de energia; a Can-Pak, que produz latas de alumínio para atender todo o Brasil; a Alca Foods, uma fábrica de cereais matinais; e a JBS, com mais de 1,4 mil funcionários e que se destaca na exportação. Claro, temos também indústrias menores, cada uma ajudando a gerar centenas de empregos.

Elder Dias – A Suzuki teve uma passagem relâmpago por Itumbiara, fechando a unidade em 2015, depois de apenas dois anos. A montadora faz falta ao município?

A Suzuki foi um grande sonho. Ficou pouco tempo não por culpa de prefeito ou qualquer governante, mas porque a situação econômica do País naquele momento impossibilitou sua continuidade. Temos a melhor localização geográfica do Estado, a mais próxima do maior mercado consumidor; a melhor geração de energia, que é um grande gargalo para investimentos; somos um município cortado por duas importantes rodovias, a BR-153 e a BR-452. Tudo isso favorece a implantação de indústrias em Itumbiara. Por tudo isso, podemos dizer que a Suzuki, se ainda estivesse em Itumbiara, teríamos um patamar bem diferente no que diz respeito não tanto à geração de empregos, mas à receita. É preciso ressaltar que eles receberam uma área, construíram um belíssimo prédio de 10 mil metros quadrados e depois entregaram ao município a obra, não houve nenhum prejuízo ao erário.

Euler de França Belém – Como está a negociação com a Chint, empresa chinesa de geração de energia?

Estamos nessa batalha há mais de ano. A Stemac [Grupos Geradores, indústria estabelecida em Itumbiara] é a principal parceira da Chint, a qual tenta fechar uma joint-venture. A empresa [Stemac] nos procurou, primeiramente para resolver a situação dela própria, mas também para que pudesse receber a Chint. Uma tem o benefício fiscal para gerar energia com motores; a outra vem para fazer a geração fotovoltaica. O entendimento demorou algum tempo, para o Estado mudar as leis.

Foi um trabalho unificado de todas as pastas, sob a coordenação do governador Ronaldo Caiado, o qual proporcionou condições para que agora houvesse essa união entre a Stemac e a Chint. Está marcada para o próximo mês uma visita dos diretores chineses a Goiás, no palácio do governo. Já para novembro está prevista a visita para o anúncio oficial da vinda da Chint para Itumbiara. Isso, sim, vai mudar a história econômica do município, porque é uma indústria que chegará para atender toda a América do Sul. Então, pode-se imaginar o tamanho do faturamento de uma empresa como essa, que não faz só a geração de energia, mas também produz o motor, o medidor de energia etc. São produtos inovadores, além de apresentarem também a montagem da cidade inteligente, toda monitorada, com ferramentas como reconhecimento facial e, por isso, é um dos grandes faturamentos da empresa.

Elder Dias – A relação com a Chint, uma empresa que vai atuar em todo o continente, vai produzir alguma parceria interessante para o município além da produção dela como indústria propriamente dita? Em outras palavras, Itumbiara vai ter prioridade para se tornar uma cidade inteligente?

Eles vão para Itumbiara em primeiro lugar para ter seu faturamento, claro. Mas obviamente, não poderíamos deixar se instalar em nosso município uma indústria que vende o processo de cidade inteligente sem que fôssemos os primeiros a implantá-lo. Tanto que foi a primeira coisa que conversei com eles: não podemos perder o status de ser a primeira cidade a contar com esse sistema.

É preciso ressaltar aqui que, durante todo esse tempo de negociação para essa vinda da empresa, a Secretaria de Economia e a Secretaria de Indústria e Comércio, com o secretário Joel Sant’Anna Braga Filho, sempre estiveram presentes em todas as reuniões, fossem em Goiânia, fossem em Itumbiara, fossem na própria indústria, sempre juntos para encontrar as soluções. O motivo principal de termos a Chint agora é o ProGoiás [Programa de Desenvolvimento Regional], um grande atrativo que o governo proporciona.

Elder Dias – Procede que há outra empresa chinesa em negociação com Itumbiara?

Sim, a Chint, de que falamos, fica em Hong Kong, devemos visitar a sede em breve. Já essa outra é a Weichai Power, que tem sede em Pequim. É a maior fabricante de motores do mundo, seja de máquinas agrícolas, de caminhões etc. Ainda estão em negociação com a Secretaria de Indústria e Comércio para vir para nosso Estado. Não foi definido o local, Itumbiara é uma das possíveis sedes, mas eles devem vir também para se instalar em outra cidade, talvez próxima a Goiânia. A decisão será tomada em conjunto com o secretário Joel, sempre presente em todas as reuniões para atração dessas indústrias. Se levarmos mesmo duas indústrias como essas para Itumbiara, seremos outra cidade, para disputar a 5ª colocação entre as economias do Estado.

Elder Dias – E como a Prefeitura de Itumbiara tem feito para atuar em relação à qualificação de mão de obra para esse setor?

Como temos vagas disponíveis em nossas indústrias, mas não temos mão de obra qualificada, aprovamos e passamos a ter um programa de qualificação profissional, em parceria com o Senai. Nós recebemos as demandas de função das empresas e a Prefeitura banca financeiramente a qualificação das pessoas. Para reduzir o abandono, da última vez, o aluno passou a pagar 10%, basicamente a matrícula, para entrar no programa e fazer sua qualificação, em cursos com duração de dois anos.

Euler de França Belém – E esse pessoal consegue emprego rapidamente?

Para ter ideia, na aula inaugural já são chamados para as indústrias. Investimentos R$ 1 milhão na qualificação de 200 profissionais.

Euler de França Belém – E isso também requalifica a renda dos trabalhadores nos municípios.

Exatamente. Muitos deles, aliás, estão se qualificando para serem promovidos na própria empresa em que trabalham. A necessidade de qualificação é realmente grande. O primeiro curso que promovemos foi o de técnico em refrigeração. A cidade não tinha técnicos e muita gente com aparelho de ar condicionado. Depois, ouvimos as indústrias e, de acordo com as demandas. São cinco cursos de dois anos e mais cinco de 160 horas, cursos como técnico em eletrotécnica, técnico em eletromecânica, mecânico de automóveis leves, caldeireiro, torneiro mecânico, entre outras funções.

Foto: Leoiran / Jornal Opção

Estamos hoje com 37 salas de aula em construção para ampliar nosso atendimento

Euler de França Belém – Educação é uma das formas de distribuição de renda. Obviamente, é preciso ter programas como o Bolsa Família, porque o Brasil é o país em que, quando foi abolida a escravidão, as pessoas foram abandonadas. Daí vieram as favelas, porque não houve nenhum programa do Estado para atender os que tinham sido escravizados, nem para qualificação nem para o básico. Os livros mais recentes têm mostrado a tragédia que foi a Abolição da Escravatura, porque ela era necessária, mas o Estado não tinha um plano para cuidar das pessoas. O governador Caiado, que é um liberal, tem uma visão diferente dos liberais tradicionais, mais na linha do que falava José Guilherme Merquior [escritor, diplomata, sociólogo e cientista político], um liberalismo social. Ele sabe que têm as demandas do passado para ser atendidas – daí os programas sociais, mas sabe também que a inclusão e a ascensão social vêm por meio da educação. Qual é o diferencial da educação em Itumbiara?

Primeiramente, investimos, nos dois primeiros anos, R$ 50 milhões em reformas e ampliação de unidades, em aquisição de ônibus, que eram muito sucateados – e aqui não somente os ônibus da educação, todo o maquinário que recebemos estava nesse estado. Fornecemos também uniforme completo para nossos mais de 12 mil alunos – com meia, tênis, mochila, kit escolar e tablete com Wi-Fi. Tínhamos 4 mil alunos na escola de tempo integral e isso agora está em 10 mil alunos. Nessa escola, são quatro refeições diárias. Para recebermos verba do governo federal é preciso ter unidades de tempo integral. Já tínhamos, há anos, e ampliamos para todos os alunos. Só com alimento para a implantação dessas escolas, tivemos um gasto de R$ 600 mil mensais no primeiro semestre. Mas, nesse investimento, os estudantes têm todas as oficinas, em uma parceria com o Sesi, com aulas de robótica, de reforço de matemática. É uma escola que tem sido destaque não só em Goiás, mas também pelo Ministério da Educação, que nos homenageou por esse trabalho. É muito caro, mas neste ano, os pais não compraram sequer um kit. E vamos fazer sempre o que for possível para manter a escola em tempo integral. Um grande benefício disso é que os pais podem trabalhar tranquilamente, porque só precisam pegar seus filhos até as 17h30. Foi um grande avanço, além, claro, da qualidade da educação.

Estamos hoje com 37 salas em construção para ampliar nosso atendimento. Isso além dos Cmeis [centros municipais de educação infantil]. Itumbiara, segundo a Caixa Econômica Federal, era a campeã de obras paradas – aí incluídas aquelas que foram concluídas, mas ficaram sem prestação de contas. Nossa gestão fez essa parte, pagamos a última parcela e as obras paradas, inacabadas. Uma delas estava assim havia 21 anos. Essa, tivemos de devolver, após uma nova análise da Caixa. Devolvemos, ao todo, mais de R$ 5 milhões pelos danos causados das obras paradas. Mas tudo que pudemos retomar estamos tocando. Há um Cmei que ficou 15 anos sem conclusão, foi novamente licitado, outro que estava parado abre agora. Em um caso, a contrapartida inicial do município era de R$ 31 mil e tivemos de pagar R$ 1,65 milhão, por conta do tempo e da correção da Caixa. Como a construção civil dobrou de preço, tivemos de arcar com isso, o prejuízo é da Prefeitura. Mas fizemos nosso papel.

Euler de França Belém – Há obras do PAC [Programa de Avanço do Crescimento] paradas em Itumbiara?

Não posso afirmar se essas obras ou parte delas sejam do PAC, acredito que algumas, sim. Interessante é que agora o governo federal soltou uma verba para ajudar a retomar as obras paradas. Infelizmente, não fomos beneficiados, porque já tínhamos retomado as nossas e até devolvido o dinheiro.

Estamos fazendo o recapeamento de toda a cidade

Euler de França Belém – Quais são as principais obras de infraestrutura hoje na cidade?

Primeiramente, estamos fazendo o recapeamento de toda a cidade. Estamos também trocando a iluminação pública. Itumbiara já tem uma boa quantidade de iluminação em LED, nas principais avenidas e em vários bairros. O objetivo é chegar a 100% até o ano que vem. Em relação a obras viárias, os trabalhos na Perimetral Norte era muito sonhada por todos de Itumbiara; temos também a revitalização da [Avenida] Modesto de Carvalho e da [Avenida] Celso Maeda, que já estão prontas. Para tirar o tráfego pesado de dentro da cidade, teremos de fazer um anel viário, uma obra de oito quilômetros. Então, a partir daí, poderemos determinar que dentro de Itumbiara não passaria mais grandes caminhões. Temos uma usina, a BP [Bunge, uma joint-venture de bioenergia e açúcar], que fica em um bairro e caminhões de 60 a 70 toneladas que vêm de fora e precisam de abastecimento acabam caindo dentro da cidade. É um problema. Estamos criando o anel viário, mas estamos ainda no processo de desapropriação. De qualquer forma, assim como a Perimetral – outra obra extensa, de sete quilômetros, com valor alto –, é uma obra muito necessária que seja feita.

Quando o governador Ronaldo Caiado assumiu, foi feita uma pesquisa pela qual 65% do total queriam três obras de infraestrutura na cidade: essa GO, que para nós é uma avenida, a Modesto de Carvalho; a GO-309 e o hospital, que estava fechado há anos. Todas foram feitas – uma, a 309, ainda não totalmente concluída, mas com seu trecho que atende à cidade realizado. Isso contribui muito para o sucesso de nossa gestão. Vamos seguindo, bairro por bairro, caminhando no recapeamento e na iluminação.

Elder Dias – O sr. pode explicar a polêmica em torno da Ponte Ciro de Almeida [na BR-153, sobre o Rio Paranaíba, ligando Goiás a Minas Gerais entre Itumbiara e Araporã] envolvendo o deputado estadual Gugu Nader, que diz ter articulado sua duplicação?

O argumento de que é preciso fazer a duplicação da Ponte Ciro de Almeida vem desde sua implantação. Em novembro, vence a concessão da Triunfo Concebra [concessionária da BR-153 em Goiás] e coube a mim, como prefeito, cuidar desse processo, já que a ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] pediu a manifestação dos gestores de municípios que são cortados pela rodovia dentro da nova licitação. Então, incluímos toda a parte da BR dentro da cidade – exceto a iluminação pública, que, por decisão do STF, é atribuição do município –, mais as duas marginais da rodovia, todas as passarelas e viadutos e a duplicação da ponte. Tudo isso está no processo desde 2021, tudo gravado e documentado, inclusive com a participação das indústrias que estão à margem da BR-153, como a Can-Pak, a Stemac, a Alca Foods, a JBS, a Caramuru, entre outras. Todas participaram, porque lhes interessa, já que a saída das indústrias hoje é por uma via primária da rodovia, porque, na época da licitação anterior, essa parte não foi incluída como sendo de responsabilidade da concessionária. Ora, isso traz uma despesa para o município – para ter ideia, todos os veículos pesados que entram em Goiás no posto fiscal, mas, para voltar à BR-153, pega um trecho da marginal que hoje não é de responsabilidade da concessão, porque isso não foi inserido no processo licitatório. Agora eu inseri.

Elder Dias – O sr. pode explicar como foi a implantação do que sua gestão chama de transporte coletivo próprio? É um transporte gratuito para quem tem acima de 60 anos, conforme a lei, e também para estudantes e servidores públicos. Recebemos de 20% a 25% de seu custo. Não temos cobrador, apenas motorista. Há o cidadão que pode entra no transporte e paga, mas quem não paga não é cobrado nem colocado para fora. A ideia é criar uma conscientização de que todos precisam ajudar a cuidar do ônibus e que, se estragar, é ruim para todos. Começamos com seis veículos e adquirimos mais dois, para 70 passageiros. Atendemos 30 mil pessoas por mês com o serviço.

Euler de França Belém – E para os produtores rurais do município, o que o sr. fez em sua gestão?

Temos uma patrulha rural, que nós mesmos reestruturamos. No primeiro ano de gestão, investimos R$ 17 milhões na frota do município, para adquirir a infraestrutura mínima necessária. Em princípio, fizemos uma parceria com o Estado de 1,6 mil horas para nos ajudar a recuperar estradas vicinais. Vencido esse prazo, continuamos com nossa equipe, atendendo a todas as demandas que há anos não eram contempladas. Estamos fazendo essa recuperação e trocando todas as pontes necessárias. Isso já foi licitado e já tem ordem de serviço. O prazo é de 90 dias para nos entregar todas as pontes, que serão maiores, porque as máquinas hoje têm quatro metros [de largura]. Onde foi identificada a necessidade de uma ponte maior, assim será realizado por licitação. Têm estradas que nunca tinham visto uma máquina do município e hoje estamos nos quatro cantos de Itumbiara, para ajudar no que for preciso.

Prefeito de Itumbiara, Dione Araújo | Foto: Leoiran / Jornal Opção

Não posso me dar o luxo de determinar um zoneamento agrícola limitando o espaço da cana no município

Euler de França Belém – Quais são os produtos cultivados em Itumbiara?

Soja, milho, cana-de-açúcar e girassol. A maior empresa produtora de óleo de girassol no Brasil é a Caramuru e está em Itumbiara. Então, o incentivo ao produtor na safrinha para cultivar o girassol é muito grande. A cana-de-açúcar também ocupou grande parte. Mas não fizemos como Rio Verde, que determinou um porcentual para a área cultivada. Não posso me dar o luxo de determinar um zoneamento agrícola limitando o espaço da cana no município, sendo que as usinas já fizeram seus investimentos. Assim, estaríamos prejudicando não só as usinas, mas também os produtores. E é uma área grande.

Euler de França Belém – E como fica a questão do meio ambiente, em meio à preocupação com a produção?

Meu primeiro ato foi analisar como estava nossa coleta de lixo. A Prefeitura pagava por 3 toneladas, mas só produzíamos 2. Em nosso contrato, conseguimos uma redução de R$ 200 mil por mês, o que são R$ 9,6 milhões em quatros, só em economia nesse item. Antes, essa questão do lixo foi durante muito tempo alvo de muitos processos por parte do Ministério Público. Hoje estamos também encaminhando a criação de um consórcio entre municípios do Sul do Estado, de modo a que demos uma destinação mais adequada ao lixo. Além disso, temos também um processo licitatório pelo qual queremos implantar o que chamamos de “Lixo Zero”. Consiste em que, quem vencer o processo, poderá construir um aterro sanitário ou levar o lixo para outra cidade. Guapó, por exemplo, tem um grande aterro e está buscando os resíduos de outros municípios. O mesmo ocorrem com Anápolis, que tem uma empresa responsável que busca o material em cidades vizinhas. Esse processo vai ainda demorar um pouco, mas teremos uma empresa que dará uma destinação final, seja em Itumbiara ou fora. Isso traz um aumento da qualidade de vida, porque o que temos hoje ainda é um lixão.

Juntamente a isso, vamos implantar a coleta seletiva, a partir de outubro, em todos os prédios, nas principais avenidas e em quatro bairros. É um processo, em princípio, com custo de R$ 50 mil mensais e que vai distribuir renda para uma quantidade muito grande de pessoas. Hoje, temos cerca de 70 famílias que vivem do lixão e que não podem ficar desamparadas. Essas pessoas querem aderir a uma cooperativa que já temos no município e vamos encaminhar nesse sentido. A continuidade desse processo por inteiro vai depender de como está sendo a participação da sociedade e da conscientização que conseguirmos, a partir do trabalho de todos os setores e entidades.

Euler de França Belém – E como está tratado o esgoto em Itumbiara, ele é 100% tratado?

Não posso afirmar que seja 100%, mas somos o município que mais bem atende a essa questão. Temos uma eficiente estação de tratamento da Saneago e talvez estejamos com um índice de 97% a 98%. Junto a esse processo, estamos também levando ecopontos a todos os cantos da cidade. O cidadão que não concordar em pagar a taxa do lixo, por exemplo, pode levar seu material para os ecopontos. Vamos instalá-los em todos os setores e também em dois distritos, onde já estão prontas as instalações.

Euler de França Belém – Em relação diretamente à questão social, quais têm sido suas principais ações à frente da Prefeitura?

Creio que as principais atividades sejam o transporte coletivo gratuito e os leitos de UTI, que implantamos no primeiro ano. Já em junho do ano passado, lançamos o cartão Renda Mais, semelhante ao Bolsa Família, ao Aluguel Social e ao Mães de Goiás. É um cartão de renda para mil famílias, no valor de 300 reais, com o objetivo de atender os lares que tenham alguma pessoa doente e cujos cuidadores não se encaixem nos critérios de quem recebe o Bolsa Família. Fizemos então uma lei pela qual pudéssemos levar o benefício para essas pessoas. É uma ação na qual investimos, por mês, R$ 300 mil. É uma das poucas cidades que têm um cartão de renda próprio, e com esse público-alvo que acaba excluído de outros programas.

Euler de França Belém – As eleições municipais ocorrerão daqui a um ano e um mês. O sr. está disposto a disputar a reeleição?

Sim.

Euler de França Belém – E quais são seus argumentos diante do eleitor de Itumbiara para conseguir um novo mandato?

Principalmente a restruturação do município de modo geral, com a implantação de vários serviços que nunca tínhamos tido. Nós não falamos aqui ainda, por exemplo, da Casa Pet, que é um programa pelo qual cuidados dos animais de rua e damos apoio aos cuidadores com ração e em que já fizemos mais de mil castrações em cachorros.

Pegamos a cidade com R$ 31 milhões vencidos e R$ 85 milhões de dívida. Hoje, essa dívida está em torno de R$ 40 milhões. Temos o pagamento dos servidores rigorosamente em dia, dentro do mês trabalhado. Fizemos muitas obras fundamentais, mas, principalmente, creio que temos a mostrar nossa credibilidade, nosso rigor, nossa transparência na gestão. Tudo isso, creio, nos credencia a buscar a reeleição.

Foto: Leoiran / Jornal Opção

A avaliação de nosso governo é de 75% e que temos 66% de avaliação entre “bom” e “ótimo”

Euler de França Belém – Seu principal adversário eleitoral é Gugu Nader. Ele constantemente diz aqui, no Jornal Opção, que tem pesquisas de intenção de voto em que está liderando. As pesquisas do sr. mostram esses mesmos resultados?

Não, não mostram. Temos muita tranquilidade com relação a esse tipo de questão. Não adianta fazer pesquisa para levar as pessoas para o lado do resultado que você quer. De nosso lado, temos pesquisas recentes que mostram números muito diferentes. Temos, por exemplo, uma pesquisa qualitativa, realizada há um mês, e outra, realizada após nosso arraiá, em que a avaliação de nosso governo é de 75% e que temos 66% de avaliação entre “bom” e “ótimo”. Isso é outro fator que nos credencia a desejar um novo mandato para concluir as obras mais estruturantes do município.

Euler de França Belém – O deputado Gugu Nader diz que o sr. o discrimina, que procura ajudar a cidade, mas que o prefeito o mantém afastado, sem querer contato ou interação. Qual é a versão do sr.?

Para você ter ideia, temos um portal de transparência no qual há a lista de todos os parlamentares – deputados estaduais, federais e senadores –, que nos enviam emendas, independentemente de partido. Está no portal o valor de cada recurso encaminhado. Sei que Gugu assumiu neste ano e que a verba a que terá direito virá a partir do ano que vem, mas nunca fechamos porta para ele. O deputado, inclusive, é convidado para nossos eventos. Então, não há nada disso, de que não queremos contato. Eu o respeito muito, como a todas as pessoas. Claro, muitas coisas que são ditas magoam, todo ser humano quer ser respeitado. E nós respeitamos sempre. Sobre a [duplicação da] ponte, por exemplo, ela é algo que era desejado ainda por Juscelino Kubitschek [presidente da República de 1955 a 1960, e que depois foi senador por Goiás], por todos os prefeitos que me antecederam. Fiz meu papel também, inserindo dentro do processo de 2021. É bom deixar claro: não falo mal do deputado e nem há nenhum assessor da Prefeitura que fale mal. Respeito o mandato dele, mas quem tem provocado, às vezes, um certo desentendimento, é o próprio deputado. Toda verba que chegar, será bem-vinda. O que vier, se vier, o mérito não será meu. Se vier, o benefício será para Itumbiara.