Proposta de campanha do governador Ronaldo Caiado (DEM), secretaria volta a fazer parte da estrutura do Executivo com desafio de encarar dificuldades e descentralizar ações

Secretário estadual de Cultura, Edival Lourenço | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Filho de Iporá, o escritor Edival Lourenço assumiu na terça-feira, 12, a recriada Secretaria Estadual da Cultura (Secult). A pasta voltou a existir independente da estrutura da Educação na sexta-feira, 8. O presidente da União Brasileira de Escritores Seção Goiás (UBE-GO) foi o escolhido pelo governador Ronaldo Caiado (DEM) para encarar muitos desafios do setor. Estão entre as missões encarar um passivo de R$ 35 milhões no Fundo de Arte e Cultura acumulado de repasses não feitos a projetos aprovados entre 2015 e 2018, a manutenção do calendário de festivais tradicionais do Estado, como o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) e o Canto da Primavera e encontrar alternativas para a captação de recursos por meio da Lei Goyazes. Há ainda na lista o cumprimento de uma promessa de campanha do chefe do Executivo, que é a descentralização do incentivo às atividades culturais goianas.

Euler de França Belém – Quem é Edival Lourenço? É um escritor, muito bom por sinal. Se não fosse goiano estaria mais destacado. Conta-se que um vendedor de Biotônico Fontoura levou um Almanaque para o Edival, que tentava aprender ler através desta publicação. Provavelmente aprendeu alguma coisa. Mas o mito na cidade era de que quem bebia Biotônico Fontoura aprendia a ler. Mas o sr. só foi estudar com 11 anos. Queria que o sr. contasse um pouco sobre a sua infância, vindo da zona rural de Iporá.
Meu pai tem descendência de índio kayapó. A avó dele era índia. Entre os irmãos, meu pai era o único que tinha a natureza de levar vida de índio. Meu pai morava nas fazendas como aqueles agregados, sem vínculo empregatício, que existia antigamente. Não sei se hoje existe mais essa figura. Mas antigamente as pessoas moravam nas fazendas, afastados das sedes, faziam um ranchinho e viviam naquele local, plantavam uma rocinha, criavam algumas galinhas, uns porcos. Normalmente meu pai não vivia muito tempo em um lugar só. Ele gostava de pescar e caçar. Às vezes implicavam com meu pai por pescar e caçar, o que fazia com que ele mudasse de fazenda.

Na minha infância, dos 4 aos 10 anos, me lembro de mudarmos sete ou oito vezes. Eu não ficava muito tempo em um lugar. Era uma situação em que vivíamos numa espécie de época de pedra polida tardia. Meu pai fazia ferramenta de pedra, tirava fogo da pedra. Era como a gente vivia. Lembro que meu pai começou a perder espaço na roça quando Fidel Castro descia de Sierra Maestra (Cuba) na Revolução Cubana. Estávamos na casa do fazendeiro ouvindo rádio. Naquela hora estava passando um programa chamado Repórter Esso, que foi pioneiro no rádio brasileiro. E deu a notícia de que Fidel Castro estava tomando a terra dos fazendeiros em Cuba e doando aos trabalhadores rurais. Meu pai entusiasmou e falou “esse é dos nossos”.

Aquilo foi uma senha para o fazendeiro falar “aqui na minha terra você não fica mais”. Essa notícia correu, de que meu pai era adepto de Fidel Castro – ele nem sabia o que era isso. Mas meu pai não conseguiu mais colocação nas fazendas das proximidades. Como não achamos mais lugar para morar, meu pai resolveu rumar para a cidade de Iporá. O pessoal falava que ficava a dez léguas, o que deve ser cerca de 60 quilômetros. Hoje a distância é de aproximadamente 30 quilômetros, mas as estradas eram tortuosas e iria dar mesmo as dez léguas que falavam naquela época. Morávamos no sertão mais profundo, sem nenhum tipo de ação de governo, assistência social. Não tinha absolutamente nada. Vivíamos por conta e risco no mato.

A história do Biotônico Fontoura eu tinha mais ou menos 8 anos e vivíamos num ranchinho, como sempre a gente morava, e chegou um sujeito que era vendedor de Biotônico Fontoura. Era um propagandista que vendia o produto, fazia degustação. Biotônico Fontoura era de uma tintura que parecia um vinho. Tinha álcool inclusive. Naquela época criança podia beber álcool. O vendedor chegou à minha casa para vender o Biotônico Fontoura e meu pai falou: “A gente não tem dinheiro para comprar isso não. Quando a gente quer comprar alguma coisa, a gente trabalha para uma pessoa e pega um frango dele ou uma bola de sabão. O que a gente faz aqui é troca, a gente não tem dinheiro”.

O vendedor ficou por ali, insistiu, mas não tinha jeito. E falou para o meu pai: “Mas você podia comprar, o menino está magrinho, vai abrir o apetite”. Meu pai respondeu “apetite ele tem, aqui não tem é comida”. O sujeito falou que ia atravessar o Rio Claro. E meu pai avisou que a balsa só abria a tarde. “Então eu vou esperar.” Quando meu pai disse “enquanto você espera aqui vou matar um frango”. Meu pai tinha o método dele que era pegar um pedaço de madeira que ficava perto da porta. Jogava e atingia o pescoço do frango, o cachorro buscava. Tinha a regalia de não ir buscar o frango, o cachorro pegava.

Minha mãe começou a esquentar a água e depenar o frango. O homem ficou um pouco constrangido de não fazer nada, foi na água ou mula dele e pegou na bruaca uma revistinha do Almanaque Fontoura, que era feito pelo Monteiro Lobato. Eram adaptações das histórias do Christian Andersen: Branca de Neve, Lobo Mau e os Três Porquinhos. Ele lia as histórias para mim e eu achei aquilo uma coisa epifânica. Na hora que ele abriu aquela revista eu olhei e pensei “a folha do homem está cheia de formiga”. Eram as letras. Meu pai era analfabeto, minha mãe era analfabeta e eu não conhecia texto escrito. Eu não sabia o que era aquilo.

O homem abriu, começou a passar o olho e contar história. Achei aquilo extraordinário, uma coisa fantástica. Uma coisa que eu não pensava que existia é o sujeito passar o olho em cima de carreiras de formiga e contar história a partir daquilo. Fiquei muito encantado com aquilo, ele contava história e eu falava “conta de novo”. Ele tornava a ler e eu pedia para contar de novo. Eu ficava encabulado com aquelas histórias. Na hora que o vendedor foi embora, me deu de presente o Almanaque. Foi o melhor presente que eu já tive, porque esse presente mudou minha vida. A partir dali eu falei “vou ser o sujeito que faz essas histórias”. Encarnei a formiga em cima da folha para os outros contarem a história.

Não existia possibilidade ali porque a gente morava a 60 quilômetros da cidade mais próxima. Quem estudava eram só os filhos dos fazendeiros, que iam para Silvânia, na época chamava Bonfim. Os filhos maiores iam para Lisboa ou para o Rio de Janeiro. Mas os filhos do pessoal da roça não estudavam, continuavam sendo analfabetos.

Euler de França Belém – O sr. aprendeu a ler com quantos anos?
A partir do Almanaque comecei a ter interesse. O fazendeiro começou a me ensinar as primeiras letras, quando comecei a aprender a lei. Mas comecei a aprender a ler mesmo foi aos 11 anos, quando fui para a escola. Como meu pai não achava mais colocação nas imediações, meu pai foi morar em uma chácara que o irmão tinha mais ou menos a 8 quilômetros de Iporá. Fomos morar em casa de paiol, em cima do chiqueiro dos porcos. Era o único lugar que tínhamos para morar.

Aos 10 anos, eu queria estudar. Mas não tínhamos recursos para começar a estudar. Naquela época você não ganhava uniforme, livro. A gente tinha de se virar. Plantei uma pequena lavoura de feijão, dividi a safra com o dono da terra e vendi minha parte para comprar meu primeiro uniforme para estudar. Foi quando fui alfabetizado e comecei a estudar. Mas foi um choque muito grande quando entrei para a escola. O sujeito que sai da roça e vai para a cidade não compreende a sintaxe da cidade porque não conhece a cidade e os assuntos da cidade. Eu não sabia conversar com as pessoas na cidade. Era muito difícil.

Tive muito problema de adaptação. Havia naquela época muito bullying, muita violência. Apanhei muito dos outros meninos. Juntavam três menores, dois seguravam e um batia. Era uma situação complicada. Naquela época, saía todo mês o resultado classificatório. Se fazia fila na porta da escola, hasteava a bandeira, cantava-se o Hino Nacional e eram chamados na frente os alunos que ficavam em primeiro, segundo e terceiro lugar, que ganhavam um mimo: uma caneca, uma caixa de lápis, alguma lembrança por estar entre os primeiros colocados.

Quando chegou a vez da minha turma, chamaram o terceiro lugar, o segundo. Fiquei no primeiro lugar. As outras pessoas que eram chamadas para receber seu mimo eram recebidas com palmas e aplausos. Quando subi, recebi cascudos e vaias. Eles não compreendiam como um sujeito abestado, abobado, que não sabia conversar, não sabia de nada, poderia tirar o primeiro lugar. Como vinha de longe, 8 quilômetros retirado da cidade, com chuva ou poeira, chegava sujo à escola e a professora não me deixava assistir à aula de dentro da classe. “Você é porco, você fica de fora.” Botava uma cadeira lá fora para poder assistir à aula com metade da cabeça dentro da classe porque eu estava sujo. Tive de superar todas essas dificuldades.

Por coincidência, uma professora que fazia mestrado sobre como era o sistema de avaliação por notas no curso primário na década de 1960 pegou um material do Grupo Escolar Israel Amorim, que foi onde estudei em 1963, em Iporá. Conseguiu meu telefone, descobriu que o Edival Lourenço era o escritor e falou: “Professor, preciso falar com o sr. sobre um assunto que vi. Estou vendo o boletim e as anotações sobre o seu período primário. Suas notas vêm altas, só 8 e 9, mas quando chega a média dá 6. A conta não bate. Como era feito esse processo?”.

Aí foi quando percebi por que nunca mais fui chamado para receber os mimos de primeiro lugar. Continuava tirando primeiro lugar, mas minha média era abaixada para dar o prêmio para outro aluno e não criar problema no grupo escolar. E certamente para me poupar de apanhar dos meninos.

Marília Noleto – Quando a Secretaria Estadual da Cultura (Secult) foi criada?
Foi criada sexta-feira, 8, e fui empossado na terça-feira, 19.

Marília Noleto – O que o sr. conseguiu aferir no curto espaço de tempo que está no cargo? Como está a cultura em termos de gestão pública em Goiás?
Desde o dia em que chegamos à Secult nos ocupamos em criar a secretaria a partir do zero. Começamos a fazer um comparativo com secretarias de outros Estados para ver como estruturaram as pastas. A partir destas ideias, montamos um organograma. Fizemos um grupo de trabalho do qual participei. Estamos montando o organograma desde o dia 2 de janeiro. Paralelamente, estamos levantando as questões relativas à cultura. A Secretaria de Cultura está com um passivo de R$ 35 milhões com repasses não feitos desde 2015.

Rodrigo Hirose – É um passivo ligado ao Fundo de Cultura?
É relativo ao Fundo de Cultura, Orquestra Filarmônica de Goiás, Fica [Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental], avaliadores e relatoristas que foram contratados para fazer relatórios para os projetos apresentados ao Fundo de Cultura. A maior parte desse passivo é composto por pessoas que foram contempladas pelo Fundo de Cultura, com projetos aprovados, mas que ainda não receberam.

Euler de França Belém – É uma dívida consolidada e que tem de ser paga. Quando começará a ser paga? Não são R$ 50 milhões só do Fundo de Cultura?
Não. É o valor referente ao passivo anterior. Quando projetamos o Fundo de Cultura de 2019, com mais de R$ 40 milhões, o valor passará de R$ 70 milhões. Como você disse, é uma dívida vinculada, um passivo consolidado que se refere a anos anteriores. Como é uma dívida vinculada ao orçamento, deve estar em restos a pagar do Estado de anos anteriores. Como restos a pagar, não pode entrar no recurso de 2019.

Estamos negociando com a secretária da Economia para começarmos a estabelecer um cronograma de pagamento do passivo. Estamos com o edital do Fundo de Cultura aberto e a perspectiva de pagamento do Fundo de 2019 é a partir de agosto ou setembro, quando deve sair o resultado dos contemplados dos editais que estão em andamento.

Rodrigo Hirose – Há possibilidade do passivo começar a ser pago antes do Fundo que virá em 2019 ou a ideia é seguir o que foi feito com a folha de pagamento dos servidores, com início da quitação deste ano para depois tentar encaixar no orçamento o passivo?
Não. Pelo menos a ideia que estamos trabalhando é de começar a pagar o passivo escalonado. Claro que isso dependerá da disponibilidade do Estado. Mas queremos começar a pagar o passivo antes do desembolso de 2019. Essa é a nossa expectativa. É o horizonte com o qual estamos trabalhando. Mas ainda não temos uma posição consolidada sobre o assunto, até porque o Estado não tem uma LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] e um orçamento aprovados. Há muita coisa a acontecer para que tenhamos uma clareza da situação.

Euler de França Belém – A captação da Lei Goyazes foi suspensa no final do ano, ainda no governo José Eliton (PSDB). Mas há uma edição aberta, com edital lançado e as pessoas apresentaram projetos, que serão avaliados possivelmente em março. Mesmo com os projetos aprovados, não há como captar. O que fazer?
Estamos trabalhando com três frentes para tentar resolver essa questão. Uma das frentes é para que saia da reunião do Confaz [Conselho Nacional de Política Fazendária] um decisão que diga que a renúncia do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] para a cultura não constitui guerra fiscal. Porque a finalidade do decreto do governo anterior era para atender uma decisão do Confaz e evitar que houvesse guerra fiscal entre os Estados. Por isso, deixou de se fazer renúncia fiscal para as empresas.

Se observarmos a lei, quando há incentivo à cultura não se caracteriza guerra fiscal. Esperamos que na reunião do Confaz em março saia uma decisão favorável ao entendimento de que a renúncia do ICMS a favor da cultura não constitui guerra fiscal. Há um interesse do governador que venha uma decisão do Confaz sobre o assunto.

Outra frente que estamos trabalhando é junto à Assembleia Legislativa. Pedimos ao deputado Karlos Cabral (PDT) – que está disposto a nos atender – que apresente um projeto de Lei que reconheça que o assunto em discussão não constitui guerra fiscal e que o governo sancione a proposta aprovada pelo Legislativo para que possamos retomar a captação de recursos por meio da Lei Goyazes.

O parlamentar tentou apresentar o projeto durante a autoconvocação da Assembleia em janeiro, mas, pelo regimento interno, só aquilo que estava previamente descrito e que motivou a autoconvocação poderia ser apreciado. Como a Assembleia Legislativa voltou do recesso na sexta-feira, 15, nossa expectativa é que o projeto de Lei entre na pauta e muito rapidamente possa ser votado.

O entendimento na Assembleia viria por meio de um Projeto de Decreto Legislativo (PDL), com a proposta de sustar os efeitos da revogação da renúncia fiscal até que o Confaz se posicione a respeito dessa questão. O que o deputado disse é que, com a retomada das atividades da Casa, o PDL será apresentado.

Outra ideia que estamos avaliando é que a Procuradoria-Geral do Estado possa dar um parecer com o entendimento de que a Lei Goyazes não estaria compreendida no decreto que determinou a suspensão da renúncia fiscal em favor da cultura. Mas esse parece ser o caminho com menos possibilidade de surtir o efeito esperado pela Secretaria da Cultura. Creio que a solução mais plausível é por meio do Confaz. Caso digam não há proposta, precisaremos encontrar uma quarta alternativa.

Rodrigo Hirose – Estamos vendo que a dificuldade de financiamento da cultura está muito grande. Como fica o financiamento dos festivais tradicionais do calendário, como o Fica, que costuma ser realizado em junho, Canto da Primavera e TeNpo [Mostra Nacional de Teatro de Porangatu]?
Tradicionalmente, são eventos financiados pelo Fundo de Cultura, que destina 70% aos editais para que as pessoas apresentem seus projetos e 30% destinados a realizar as ações culturais da secretaria. O valor do Fundo de Cultura é constitucionalmente vinculado à arrecadação do Estado, com 0,5% da arrecadação líquida. Mas 0,1% tem de ser devolvido em forma de um determinado recolhimento. Na prática é 0,4%. Assim que tivermos a LOA [Lei Orçamentária Anual] votada e a dotação disponível, poderemos trabalhar os eventos com o Fundo de Cultura.

Por outro lado, estamos buscando patrocínios. Caso ocorra algum atraso na liberação do Fundo – até mesmo se não houver -, se conseguirmos os patrocínios, podemos deixar os recursos do Fundo de Cultura para outras atividades. Atividades culturais não faltam para fazer. Estamos pedindo patrocínio para o Fica, Canto da Primavera, TeNpo e para a manutenção da Orquestra Filarmônica de Goiás.

Fizemos projetos e apresentamos junto à Caixa Econômica Federal para o Fica, TeNpo e Canto da Primavera. Para a Filarmônica fizemos junto à Elo. Houve uma pré-negociação com expectativa de que consigamos. Estamos com uma esperança muito grande de que consigamos fazer esses evento e bancar a Orquestra Filarmônica com patrocínios privados.

“Há muitas culturas que estão em um processo quase de coma, praticamente desaparecendo”

Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção

Augusto Diniz – O governador voltou a falar sobre a proposta de campanha da descentralização da cultura no Estado para não ficar apenas nos grandes eventos, mas que o “berço da cultura goiana” está no interior. Como o sr. pensa em fazer a descentralização da cultura?
Colocamos na proposta de organograma da Secretaria da Cultura uma Gerência de Interiorização. Cabe à Gerência de Interiorização levar a ação cultural do Estado para os rincões, para as cidades pequenininhas, vilas e distritos. E até aquelas cidades encravadas no vale da serra que não têm asfalto, celular, mal têm televisão, para que a ação do governo chegue lá. A nossa proposta não é fazer a ação do governo chegar de forma colonizadora, com um grupo de pessoas da capital, com cantores, bailarinos, artistas circenses, que chegam à cidade, fazem seu espetáculo, todo mundo aplaude e eles vão embora. Não.

Estamos fazendo um trabalho de levantamento de ir até a cidade e ver o potencial artístico que o município tem. A cidade, por mais sertaneja que seja, mais distante da capital que ela seja, tem ali uma efervescência cultural. Toda cidade tem o seu poeta, o seu cantor, tem as pessoas que dançam catira, que tiram folia. Culturas tradicionais que estão morrendo como benzedeiras, fiandeiras. Há muitas culturas que estão em um processo quase de coma, praticamente desaparecendo.

É preciso dar fôlego a essas culturas tradicionais. Convidamos o ator Mauri de Castro, que tem uma experiência com trabalho no interior, para ser o gerente dessa área. Mauri já está percorrendo um trecho. No dia 22 de fevereiro vamos a Aragarças para reunir com 32 secretários de Cultura da região do Vale do Araguaia, o Oeste goiano, para falar do projeto de interiorização pedindo que façam o levantamento das suas potencialidades. Estamos nos preparando aqui, queremos que eles se preparem lá, para que possamos fazer um circuito cultural pelo interior do Estado de Goiás. Estamos começando esse trabalho.

Em contrapartida ao trabalho de interiorização, o governador Caiado falou na campanha que gostaria de fazer um trabalho de exteriorização da cultura. Como ainda não temos recursos, estamos mantendo contato com pessoas que possam ser padrinhos de Goiás e ajudar o Estado a identificar oportunidades de apresentar nossos artistas fora do território goiano e também fazer intercâmbio com artistas de outros Estados. Tem uma goiana que é muito influente no polo de cinema de Los Angeles, que já abriu a possibilidade de mandarmos bolsistas para estudar cinema nos Estados Unidos.

Existem vários goianos que moram no Rio e em São Paulo e que podem fazer este trabalho de apadrinhas nossos artistas. Uma pessoa ligada a mim conhece um grande artista plástico chinês que teria vontade de fazer exposição em Goiás. E que poderia, em contrapartida, levar artistas goianos para expor na China. Estamos estudando todas as possibilidades. Não estamos menosprezando nenhuma possibilidade de trabalho de expansão da cultura goiana.

Augusto Diniz – Quando falamos especificamente sobre os palcos, um exemplo que é lembrado por todos é o da Quasar Companhia de Dança. Havia uma negociação com o governo anterior que poderia transformar a Quasar em Organização Social, um processo que não foi concluído. O grupo chegou a voltar para um espetáculo patrocinado pela Vivara. O que será discutido com a Quasar a partir de agora?
Recebi na semana passada a Vera Bicalho e Henrique Rodovalho, diretores da Quasar, e conversamos quase a manhã toda sobre a questão do grupo. Quasar é uma companhia que representa muito bem a nossa cultura. Representa muito bem Goiás. Há cinco anos eu estava viajando de São Paulo para Nova York em um grupo de jovens bem animado. Vi que falavam sobre dança. Eram de Minas Gerais e iam participar de um festival de dança em Nova York. Estavam empolgados.

Comecei a conversar com eles e disse que sou amigo da Vera Bicalho, que é a presidente do Quasar. Foi quase uma comoção: “Você conhece o pessoal da Quasar?”. Quase virei um ídolo só por dizer que conhecia o pessoal da Quasar. Naquela hora pude perceber a importância que a Quasar tem no contexto da cultura de Goiás.

Pedi à Vera e ao Rodovalho que me ajudem a encontrar uma alternativa para dar um fôlego novo à Quasar. Acredito muito no trabalho deles. E acredito que vão me ajudar a achar uma forma. Me relataram a situação do processo de tornar a Quasar em uma OS e que esteve próximo de receber a chancela para concluir tudo. Mas chegou o final do governo e acabou não saindo. Nossa intenção é poder ajudar a Quasar a ocupar o espaço que a companhia merece ocupar nos 30 anos de trabalho ininterruptos que fizeram pela cultura de Goiás.

Marília Noleto – As Organizações Sociais estão responsáveis principalmente pela Rede Itego [Instituto Tecnológico de Goiás]. O principal é o Basileu França, que passa por uma situação muito difícil, com salários atrasados, sem perspectiva de retomar as atividades. O que o sr. pensa sobre o modelo das OSs? Haverá mudanças?
Não tenho nada contra nem a favor. A OS pode ser um bom modelo desde que devidamente acompanhado e fiscalizado. No governo, há a intenção de fazer uma auditoria dos contratos com as OSs. A partir do dia 20, o governo começa a implantar as compliances nos órgãos públicos para fazer uma auditoria prévia de tudo que é feito, inclusive em contratos que foram realizados. A partir das conclusões que se chegar dessas investigações é que teremos certeza se o modelo com OSs é bom, se precisa passar por reparos e aperfeiçoamento. Com melhorias, penso que é um modelo que pode ser utilizado. A OS facilita muito ao dar mais agilidade no trato das coisas. O poder público para fazer as coisas depende de licitação.

Marília Noleto – Há várias amarras.
Várias amarras legais. Quando se contrata uma OS, é feita uma licitação para que se faça aquele serviço. Depois de repassado o dinheiro para a OS, não há amarra. Se pedir o motoboy para realizar um serviço, o sujeito chega com a nota e a Organização Social paga. Se eu for comprar um carimbo pelo Estado, é preciso convidar três pessoas para me apresentar três orçamentos para fazer um carimbo.

Para poder dar a devida agilidade, as OSs são importantes. Não estou dizendo que esse será o modelo utilizado. Primeiro é preciso passar pelo trabalho de depuração e análise dos contratos que foram feitos, como foram firmados, o que pode ser melhorado, o que o Estado pode realmente utilizar dessas instituições fazendo economia. Se for para usar as OSs para gastar mais acho que não justifica.

Felipe Cardoso – A Goiás Turismo manifestou apoio ao trem turístico, que tem como previsão a inauguração de pelo menos um trecho do projeto ainda em 2019. Um trajeto que vai de Senador Canedo até Catalão. Um dos objetivos é valorizar a cultura local de cada cidade no percurso do trem. Como a secretaria enxerga esse proposta? É possível haver uma parceria da Secult com os representantes do projeto, inclusive com investimento?
Vejo com bastante otimismo a possibilidade de fazermos uma parceria com a Goiás Turismo não só no projeto do trem de ferro, mas também em outras ações que serão realizadas pela Goiás Turismo. Participei da reunião com nove cidades da linha do trem de ferro. Estive em Silvânia, onde houve uma festa muito bonita, com nove prefeitos e nove secretários de Cultura. Vi um grande potencial de a Cultura participar desse projeto.

A Goiás Turismo tem conseguido patrocínio para conseguir a locomotiva com trem de passageiros. É um trem romântico. A viagem não é para quem pretende usar o trem de ferro como um meio de locomoção. É para pessoas que pretendem curtir a paisagem durante o trajeto. Entre as estações, muitas coisas podem acontecer. A Secult pode entrar com entretenimento, shows, poesia, teatro, contadores de causos. São muitas atividades que podem ser levadas para o projeto.

Me reunirei com o presidente da Goiás Turismo, Fabrício Amaral, que irá me apresentar os projetos já elencados para analisarmos as possibilidades de participação da cultura nos projetos do turismo. Turismo e cultura são duas atividades que andam de mãos dadas. Existem muitas formas de turismo: religioso, de negócios, de aventura. Mas o turismo mais firme que existe no mundo é o turismo cultural. A Europa é um dos continentes mais visitados no mundo, e o que leva as pessoas até lá é a cultura.

Augusto Diniz – A capital vive uma realidade de espaços públicos que quando não estão subutilizados estão parados por obras que não terminam, como por exemplo o Centro Cultural Oscar Niemeyer e a baixa utilização do Centro Cultural Martim Cererê. Há uma proposta de como resgatar esses espaços? Como colocar o Oscar Niemeyer completamente em funcionamento? Vai haver algum dia uma biblioteca naquele prédio?
O Centro Cultural Martim Cererê sofria um desvio na sua finalidade. Martim Cererê sempre teve uma vocação e atender as manifestações urbanas, a cena underground, das manifestações nascentes com o grafite e o street dance, o rock. O espaço vinha sendo utilizado como salas de aula pelo Centro Cultural Gustav Ritter com mais de 400 alunos durante toda a semana. Se tornou uma escola, não era mais um centro cultural.

Uma das primeiras ações foi mediar, ainda no guarda-chuva na Secretaria da Educação (Seduce), uma negociação entre a pasta e o Centro Cultural Gustav Ritter para que a Seduce encontrasse um lugar para abrigar o pessoal do Gustav Ritter. O espaço do Gustav Ritter não comporta todos os alunos matriculados. A ideia era achar um lugar para essas aulas e devolver para a cultura a totalidade do espaço do Martim Cererê.

Convidamos a Tetê Caetano, uma produtora cultural importante, que já fez trabalho nos Estados Unidos, para dirigir o Martim Cererê. Estudamos com Tetê uma proposta plural de várias manifestações de diversas naturezas, abrigando as novas manifestações que estão chegando e criando novos símbolos para a cultura. Combinamos com a Monstro Discos a realização de um evento mensal chamado Cidade Rock com shows para ocupar o Martim Cererê até o final do ano e dar vazão a este segmento cultural.

Temos no Martim Cererê também uma programação de carnaval com o Grito Goiânia, realizado pela Fósforo Cultural. Esses já estão combinados. Tetê Caetano está formatando uma programação para que o Martim Cererê possa ser ressignificado e devolvido à sociedade.

Rodrigo Hirose – Os alunos do Gustav Ritter que estavam no Martim Cererê foram para que espaço?
Os alunos foram para o Colégio Lyceu, que estava desocupado.

Augusto Diniz – Como está a reforma do Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON)? Qual é a situação da instalação da biblioteca no prédio do CCON?
Euler de França Belém – Passamos praticamente 16 anos perguntando aos entrevistados se a biblioteca suporta o peso dos livros. Sempre existiu o mito de que a biblioteca iria cair. O último que esteve aqui e negou erro de cálculo no prédio da biblioteca foi o ex-superintendente estadual de Cultura, PX Silveira. Como é exatamente a situação?
O Centro Cultural Oscar Niemeyer tem praticamente 16 anos que começou a ser construído. Parece que há uma maldição no espaço porque não é concluído. Inaugura, mas inaugura para reformar. Não acontece. Por incrível que pareça, assumimos no final de uma reforma acompanhada pela Goinfra [Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes], antiga Agetop [Agência Goiana de Transportes e Obras]. Há uma empresa licitada responsável pela reforma.

A reforma está visualmente no final. Mas com as chuvas, vimos que a reforma não está no fim. Ainda há muito a ser feito. A água derramou de um andar para outro com as chuvas fortes. Os ralos de escoamento de água da chuva nas áreas abertas não comportam o volume de água. Quem fez o projeto pode ter subestimado as chuvas em Goiânia. Não sei o que acontece. O que sei é que quando chove há problema de alagamento.

Conversei com a engenheira responsável pelo acompanhamento da reforma e ela disse que essa história de que o prédio não suporta o peso dos livros é um mito. Pode colocar livro à vontade que não há problema.

Euler de França Belém – Apesar de criticarmos a obra do Centro Cultural Oscar Niemeyer, a cidade tem de agradecer ao projeto. Assisti durante dezenas de domingos a música erudita, mostras de arte.
O Centro Cultural Oscar Niemeyer foi inaugurado por um show belíssimo da Bibi Ferreira, que por sinal morreu hoje [a entrevista foi concedida na quarta-feira, 13].

Euler de França Belém – Da forma como dizemos, parece até que o Centro Cultural não está construído. Mas o Oscar Niemeyer existe e funciona.
Funciona. Não funciona plenamente.

Euler de França Belém – Comecei a ver estrangeiros visitando o Centro Cultural Oscar Niemeyer.
Já fui ao Oscar Niemeyer várias vezes para assistir a shows, Café de Ideias. É uma obra monumental, belíssima e que vem sendo usada. Gostaríamos de poder usá-la plenamente. Há duas exposições no momento no Oscar Niemeyer. A Orquestra Filarmônica tem como casa o Centro Cultural, no qual faz seus ensaios.

Felipe Cardoso – Sem contar a quantidade de pessoas que frequenta a área aberta.
A Esplanada JK aos finais de semana é totalmente ocupada.

Rodrigo Hirose – No final do ano passado, a Seduce tentou reinaugurar o Centro Cultura Oscar Niemeyer mais completo. Mas continuou o problema da biblioteca, que foi inaugurada sem livros. A secretaria chegou a dizer que os livros estavam adquiridos, ao menos parte do acervo. Há um prazo para que os livros sejam colocados no prédio e seja feita a abertura para visitação? Os outros projetos previstos para o espaço foram abortados, como o do cinema e o restaurante panorâmico?
Existe um espaço belíssimo para se fazer um restaurante panorâmico. Na sexta-feira, 8, foi dedetizado o prédio em que estamos localizados, o Centro Cultural Marieta Telles Machado. Como não podíamos frequentar onde hoje funciona a sede da Secult, reunimos a equipe e passamos um dia juntos no Oscar Niemeyer observando detalhe por detalhe. Aquela obra belíssima tem potenciais imensos para exploração.

O Museu de Arte Contemporânea (MAC) não perde em matéria de espaço para os grandes museus. Nosso espaço de exposição é mais bonito do que o Masp [Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand]. É claro que o MAC não tem aquele vão livre que Lina Bo Bardi fez, um espaço belíssimo.

Euler de França Belém – Para instalar uma sala de cinema no Oscar Niemeyer, será necessária uma nova licitação. O sr. chegou a conversar sore a situação do cinema?
Ainda não conversamos sobre o cinema, que é uma das últimas etapas da reforma. Há um problema de infiltração que precisa ser resolvido antes de se pensar em realizar nova licitação. Os problemas são de infiltração e complementação do mobiliário. Já a biblioteca tem os livros licitados, mas ainda não foram pagos. E é preciso adquirir o software para operar a biblioteca, emprestar os livros, as etiquetas de identificação.

Euler de França Belém – O sr. acredita que neste ano a biblioteca começa a funcionar?
Estamos com a professora Mara Públio Veiga Jardim como superintendente do Centro Cultural Oscar Niemeyer, que está muito animada. Acredito que vamos fazer o Oscar Niemeyer funcionar este ano.

“Cultura é algo transversal e difuso, não se mede por avaliação direta”

Secretário Edival Lourenço (Secult) em entrevista aos jornalistas Euler de França Belém, Rafael Oliveira, Felipe Cardoso, Augusto Diniz, Marília Noleto, Rodrigo Hirose e o economista Everaldo Leite | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Augusto Diniz – Como o sr. pretende aproveitar o espaço reinaugurado do Museu Pedro Ludovico? Que tipo de atividade será realizada naquele local?
Marília Noleto – Havia o projeto de um circuito cultural para aproveitar todos os prédios históricos com a inclusão da Praça Cívica e criar um polo turístico, gastronômico e cultural. O Museu Pedro Ludovico entraria no projeto? Como está a discussão da proposta?

Na segunda-feira, 12, o governador me ligou para dizer que quer saber como está o projeto do circuito cultural. O projeto está em análise para verificar se vale a pena retomá-lo ou não. É uma proposta da época do governo Alcides Rodrigues. É um projeto que não chegou a ser executado. Foi pensado há mais de uma década. Se for retomado, precisa ser repensado. Não dá para simplesmente implantá-lo da forma como foi elaborado naquela época.

Ainda sobre o Museu Pedro Ludovico, o espaço estava com problema de destelhamento e foi feita uma impermeabilização para superar o problema. Quando chovia molhava inclusive o acervo.

Há uma programação em execução, inclusive com o Café com Pedro e outras atividades. O professor Azor Henrique de Mendonça Ferro, superintendente de Patrimônio Histórico e Artístico, está empenhado em melhorar a programação do museu. Não só do Pedro Ludovico, mas de todos os nossos prédios. Ainda está em estudo, mas o Café com Pedro será mantido, as visitações.

Everaldo Leite – Em políticas públicas, temos um ciclo de elaboração, execução e avaliação. Os eventos anteriores foram motivados por projetos, que vêm sendo executados há muitos anos. Ao assumir a Secult, o sr. também terá os seus projetos, que serão acompanhados e vai exigir que sejam feitas avaliação ao longo da implantação destas ações. O sr. recebeu avaliações técnicas sobre os projetos que foram executados no último governo para o sr. entender o que aconteceu e se de fato atingiram efetivamente os seus objetivos? Como o sr. tem se munido de capital humano para fazer isso?
Para a área de apoio e gestão da secretaria convidei dois técnicos de grande experiência e bem experimentados. Trabalhei na Caixa por décadas e conheço ótimos profissionais. Convidei para ser superintendente Executivo de Cultura o Edivalde Ribeiro do Prado, que ocupou desde as funções mais subalternas até superintendente, cargo no qual aposentou na Caixa. Conhece as áreas operacionais e as de gerência. Um sujeito que tem uma experiência muito grande.

Para zelar do patrimônio e cuidar do andamento da secretaria, contratei um ex-colega que foi superintendente nacional de logística e funcionamento da empresa, que é o Paulo Sérgio Aires. Na Secult, Paulo Sérgio ocupa o cargo de superintendente de Gestão, Planejamento e Finanças.

Cultura é algo transversal e difuso, não se mede por avaliação direta, que dará no máximo uma superstição estatística. Não será possível absorver a efetividade daquilo. É preciso ter uma sensibilidade maior para perceber se a sua ação foi efetiva ou não. É preciso sentir a manifestação popular, dos segmentos.

Everaldo Leite – Por pesquisas qualitativas.
Mas se você se apegar só a pesquisas qualitativas terá muitas estatísticas supersticiosas que não chegam a lugar nenhum. É preciso ter sensibilidade para ouvir as pessoas. É preciso ter estatística, mas é necessário também ter condições de sentir a transversalidade e a difusidade da cultura. Para chefiar a comunicação convidei o Almiro Marcos, que tem grande experiência na área de comunicação social.

Para a promoção social, convidei um grande produtor que é o Guilherme Wohlgemuth Fleury [superintendente de Ação e Cultura]. Na área do patrimônio, convidei Azor Ferro, que é um grande arquiteto, respeitadíssimo, professor da PUC-GO, que acredito fará um bom trabalho. Estou me munindo de grandes profissionais, que estão desenvolvendo as ferramentas necessárias para fazermos uma boa gestão.

Você me perguntou se recebi uma avaliação dos governos anteriores. Não recebi.

Rafael Oliveira – O governo geria um grande projeto que era a Bolsa de Publicações Cora Coralina, que acabou por ser extinto. O sr. pretende rever essa posição?
Temos um grande projeto para este segmento. Fui inclusive um dos ganhadores do prêmio quando ainda existia. Fazia parte de uma gerência da Secretaria da Cultura chamada Instituto Goiano do Livro. O fato de existir um Instituto Goiano do Livro é algo que me parece simpático. Na hora de montar o organograma, fiz constar o Instituto Goiano do Livro. Está na proposta apresentada para ser aprovada.

Se for aprovado, no Instituto Goiano do Livro faremos um trabalho de cultura e memória. Vamos encomendar trabalhos sobre a historiografia e vários aspectos da cultura goiana, que sejam publicados e fiquem disponíveis para quem quiser conhecer. Tenho de navegar por todas as manifestações culturais. Nas artes plásticas, o artista se torna famoso. Mas quando morre, na Europa o nome cresce. Aqui ele some. O artista goiano vai desaparecendo.

Ao longo dos anos, pude perceber que um dos fatores que leva os nossos artistas a desaparecer é por não existir uma catalogação da obra. Não existe um livro que registre a história daquele artista. Quando o artista morre, as pessoas começam a desconfiar se estão comprando, por exemplo, um Cleber Gouvêa mesmo ou o sujeito acabou de pintar no fundo do quintal.

Acontece de uma pessoa comprar um quadro de um artista famoso e depois de anos descobrir ser um quadro falso. É um fake. A notícia corre de que estão vendendo quadros falsos de determinado artista e a memória daquele artista cai em descrédito. No Instituto Goiano do Livro, podemos catalogar obras dos nossos grandes artistas, como Frei Confaloni, Luiz Curado, D. J. Oliveira, Cleber Gouvêa, Poteiro e outro nomes.

Estou apenas citando o exemplo das artes plásticas. Mas todos os segmentos artísticos podemos começar a pensar na catalogação de suas obras.

Euler de França Belém – O governo anterior fez um trabalho fabuloso publicando em CD a revista “Informação Goyana”, do Henrique Silva, a “Matutina Meiapontense”. Foi um trabalho meritório de resgate da história da imprensa de Goiás.
Sim. Por isso queremos recompor o Instituto Goiano do Livro, para fazermos o trabalho de cultura e memória. Inclusive para valorizar aqueles que foram grandes artistas, mas que suas obras estão desaparecendo. As novas gerações não sabem quem foi Bernardo Élis.

Rodrigo Hirose – Antes tínhamos o vestibular com uma lista de livros regionais. Hoje, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) facilitou por logística o acesso à universidade. Mas ao mesmo tempo padroniza a mesma prova para o Brasil inteiro. Não temos mais a voz local nas provas. Os garotos do ensino médio, que estão assoberbados para passar naquela prova, não têm nem contato com os autores goianos.
Não têm. Existe em Goiás a Lei Ursulino Leão, da década de 1980, que exigia que os autores goianos fossem estudados nas escolas. Ursulino era um escritor e colega da Academia Goiana de Letras, falecido há poucos meses. Ursulino Leão apresentou o projeto de Lei aprovado no governo Irapuan Costa Junior. É uma lei que não pegou.

Precisávamos insistir nesse tema para que nas escolas os autores goianos fossem estudados. Não só os autores de livros, mas ouvir a música goiana, conhecer as artes plásticas do Estado, a dança, o folclores. É preciso mostrar Goiás para os goianos.

Ajudar a salvar a memória dos nossos artistas é uma das atribuições que pode ser explorada com o Instituto Goiano do Livro, com publicação das obras e catalogação dos trabalhos artísticos. Outra medida seria voltar com o prêmio, o que poderia ser visto se com ou não o nome Cora Coralina.

Augusto Diniz – Não é uma medida ligada diretamente à pasta do sr., mas por sugestão da primeira-dama Gracinha Caiado, a Secretaria Estadual de Educação adotou a medida de ser instituída a obrigatoriedade nas escolas do canto do Hino de Goiás. É uma medida importante de resgate da cultura goiana ou há certo exagero na proposta?
Cantar o hino é algo interessante. É como se fossem ondas. Essa concepção de que é importante vai e volta. Quando eu era menino, todo dia antes de entrar para a sala de aula cantávamos o Hino Nacional. Quando não era o Hino Nacional era o Hino da Bandeira. Estudávamos na escola uma matéria chamada Educação, Moral e Cívica, que mostrava como era a constituição do poder, como funcionava. Fiz na faculdade uma matéria de Estudos de Problemas Brasileiros (EPB), que nada mais era do que estudar as cores da bandeira brasileira, o que significava.

Na época do Getúlio Vargas, Carlos Gomes convenceu o presidente que era preciso instituir nas escolas o canto orfeônico. Nas escolas se estudava música por partituras, aprendia-se a escrever na partitura, praticar o canto lírico. Quando a ditadura Vargas caiu, achou-se que cantar na escola era coisa de ditadores, que não era mais preciso cantar aquilo.

Hoje sabe-se que a sociedade brasileira teve um grande prejuízo por não ter desenvolvido a capacidade de apreciação musical. Sabe-se que quando a pessoa depura sua capacidade de apreciar música, se torna uma pessoa melhor, raciocina melhor, desenvolve várias virtudes.

Quando veio o regime militar, criou-se a necessidade de se estudar organização social e política, as disciplinas de Moral e Cívica, OSPB, que comentamos. Acredito que seja um estudo válido conhecer como funciona o poder, quais os significados dos símbolos da Pátria, o que isso interfere na vida do cidadão. É importante independente da ideologia que está no poder.

Quando o regime militar caiu e começou a nova república, essa coisa de estudar a simbologia brasileira, cantar o hino, tornou-se coisa de ditadores militares. A ideologia contra a organização do Estado esboroou-se com o fim do petismo e começou um novo processo conservador. Esse processo conservador entende que é importante cantar o Hino Nacional e o Hino do Estado na porta da escola. No momento é importante.

Rodrigo Hirose – Como o sr. vê essa onda de conservadorismo em relação à cultura em um momento no qual a Lei Rouanet é achincalhada, os contratos de patrocínio da Petrobras vão ser revistos, o jornalismo muito questionado, exposições sendo censuradas e o grupo que está hoje no poder tem orgulho de ir para as redes sociais e atacar tudo isso, com a defesa de que o Estado não tem de financiar cultura?
Houve exagero. O modelo esgarçou-se. Algumas das críticas com relação às leis de incentivo são procedentes. Existem exageros no uso dessas leis. Há dinheiro algo sendo usado para coisas que têm viés comercial. Dizem que a Lei Rouanet foi usada até para fazer casamento de pessoas ricas. Isso foi apurado por procuradores, não é uma mera notícia de jornal. Muitas pessoas que são cabeça, com o tempo vão ficando equivocadas. Todo velho é equivocado, só eu não.

Hoje uma pessoa que caiu no gosto do achincalhamento é o Chico Buarque. Na época do regime militar, Chico Buarque foi meu ídolo. É meu ídolo. Ele tomava posições no trombone que eu gostaria de ter condições de tomar junto com o Chico. Mas recentemente Chico Buarque tomou posição a favor da censura da biografia. Quer um negócio mais retrógrado do que isso? Um país que não permite que seus figurões sejam biografados é um país fadado ao esquecimento e ao fracasso. Não se pode fazer uma biografia sobre Roberto Marinho e contar a verdade de como foi construído o seu império a não ser que a família autorize. A família não vai autorizar.

Se não houver a possibilidade de fazer biografia não autorizada, não vai existir história no País. Chico, Caetano Veloso, Roberto Carlos Gilberto Gil e tantos outros figurões. Olha só o equívoco de pessoas que lutaram tanto contra a censura! São piores do que a censura que combateram.

Euler de França Belém – Mas comete-se outro erro ao começar a avaliar a música pelas posições pessoais e se radicaliza demais.
Exatamente. Nesse desequilíbrio saímos do argumento para o chute na canela. As leis de incentivo estão achincalhadas porque houve exagero. Mas a sociedade não pode prescindir de leis de incentivo à cultura. O que anda sozinho é o entretenimento comercial, o mainstream, a cultura colonizadora. A cultura de raiz, que nos faz sentir pertencentes a uma mesma comunidade, que nasce da efervescência da própria sociedade, precisa de incentivo porque não tem fins comerciais. Defendo com unhas e dentes a permanência das leis de incentivo à cultura. Mas defendo da mesma forma o fim dos excessos.

“Quando você pega uma pasta que tem a importância simbólica da Cultura e transforma um ministério em uma secretaria, você está dando algum recado”

“Governo Caiado está mantendo os fundos intactos e dando um plus simbólico, que é transformar a Superintendência em Secretaria da Cultura” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Everaldo Leite – Nos projetos pedagógicos das escolas, existe a preocupação de trazer a questão cultural para a vivência escolar. Há o interesse do governo de fazer uma articulação entre cultura e educação com projetos comuns? Como se dará o contato da Secretaria da Cultura com o Ministério da Cultura?
Um dos caminhos para trabalhar junto com as escolas é o de abrir editais no Fundo de Cultura para projetos que vinculem atividades da cultura junto aos colégios. Não temos um modelo pronto. Deixemos que a comunidade cultural traga projetos que possam ser apresentados nas escolas. Quando se apresenta esse tipo de projeto, normalmente vem com uma carta de anuência de uma série de escolas.

Começa a haver a abertura de possibilidades para que a comunidade cultural e artística possa criar o ambiente de apresentar sua arte na escola. Antes mesmo da possibilidade de ser secretário de Cultura, já pensava ser uma forma de edital que poderíamos sugerir. Editais que possam criar projetos baratos que possam levar atividades, como um contador de causos em um número determinado de apresentações nas escolas, pequenas peças de teatro, apresentações musicais. Abrir o edital para que projetos interessantes de alunos possam surgir.

Pedi aos técnicos para levantar quais são as possibilidades de negociação, convênio, transferência fundo a fundo, do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], Ibran [Instituto Brasileiro de Museus], Lei Rouanet, Ancine [Agência Nacional do Cinema], todas as leis e fundos que existem e que podem transferir recursos. Há certos fundos em que entramos com R$ 1 e o fundo entra com R$ 5. É uma forma de se pegar um fundo pequeno e fazer o bolo crescer. Fazemos uma parceria e a transferência de recurso faz o fundo crescer. É uma possibilidade que estamos estudando.

Estou com a minuta pronta para poder entregar ao ministro da Cidadania, Osmar Terra, que viria a Goiânia no final de janeiro, mas houve o desastre em Brumadinho (MG) e precisou cancelar para ir à cidade atingida pelo rompimento da barragem. O ministro disse que deve vir nesta semana. Queremos mostrar para o ministro o que pretendemos, que é a abertura de um canal de comunicação com todos os fundos para que a União crie uma agenda com o secretário geral de Cultura, em Brasília, para montarmos uma comissão e fazer uma visita.

O ministro disse “OK, vamos fazer”. Mas queremos marcar uma audiência para levar o projeto com o que queremos.

Augusto Diniz – Desde a campanha, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o governador Ronaldo Caiado pareciam estar bem alinhados. Tanto que a escolha da secretária da Economia veio da integração de ideias entre o governo federal e o estadual. Mas a área da cultura foi um ponto divergente desde a eleição. Enquanto Caiado recriou a Secretaria da Cultura com uma estrutura própria e separada da pasta da Educação para se valorizar as ações culturais na gestão, o governo federal extinguiu o Ministério da Cultura e o transformou em uma secretaria especial dentro do Ministério da Cidadania. Isso pode dificultar com que a cultura tenha acesso aos recursos que o sr. disse querer buscar na União?
Quando você pega uma pasta que tem a importância simbólica da Cultura e transforma um ministério em uma secretaria, você está dando algum recado. Há alguma perda simbólica. Na prática, é preciso ver se os fundos e as verbas destinados à cultura serão mantidos. Se não houver perda do volume de recursos, a perda será apenas simbólica. Se houver perda de volume, há perdas reais.

Pelo o que tenho acompanhado até agora com relação aos fundos da Lei Rouanet, Ancine, Iphan, Ibram e outros recursos, todos serão mantidos em sua integralidade. O governo federal está mantendo no Ministério da Cidadania a Secretaria Especial e na secretaria os fundos intactos. Não há perdas reais. E o governo Caiado está mantendo os fundos intactos e dando um plus simbólico, que é transformar a Superintendência em Secretaria da Cultura, o que é muito louvável.

Rafael Oliveira – O sr. tem analisado exemplos de secretarias de outros Estados. Encontrou um bom modelo a ser seguido?
Encontramos no Ceará, Pernambuco e São Paulo. Vimos estruturas importantes. Ceará e Pernambuco são pastas que estudamos e fizemos um benchmarking.

Augusto Diniz – Tem alguma questão que o sr. gostaria de comentar e que não foi perguntada na entrevista?
Estamos retomando o Teatro Goiânia, que, a exemplo do Martim Cererê, vinha sendo utilizado com algum desvio de função. Era utilizado por teatro-escola. A programação era vendida toda para escola e não abria para o público. Devolvemos o Teatro Goiânia para o público. Há duas semanas foi aberta a programação com música erudita, peças de teatro, teatro infantil. É uma porção de atividades interessantes aberta para o público, não mais vendida previamente para determinada entidade.

O Teatro São Joaquim, em Goiás, também será aberto e devolvido ao público. Temos alguns eventos programados para o São Joaquim. O Cine Cultura, na Praça Cívica, estava sem funcionar desde o final de outubro por problemas relativamente simples.

Augusto Diniz – Quais forma os problemas resolvidos para reabrir na segunda-feira, 11?
O projetor queimado, o sistema de som estava afônico, ar-condicionado com defeito e faltava um cabo HDMI. Descobrimos que o material do projetor e do som estava na garantia de outro reparo. Não perceberam que estava na garantia. Faltou interesse. Mandamos consertar. Outro problema que foi resolvido é o do cheiro ruim da sala.

Augusto Diniz – O cheiro era bem ruim mesmo.
Foi feita a manutenção do filtro do aparelho de ar condicionado. Agora o cinema tem um cheiro bom.

Felipe Cardoso – Há alguma precariedade na infraestrutura do Cine Cultura?
Não. Precisava apenas de reparos que não foram feitos no momento necessário.

Felipe Cardoso – Está prevista a realização de alguma obra para que se garanta o pleno funcionamento para que o Cine Cultura volte a ser fechado novamente?
Os reparos que fizemos garantem o funcionamento do Cine Cultura por um bom tempo.

Euler de França Belém – Qual é a média de público do Cine Cultura?
A sala do Cine Cultura tem 88 lugares. Na semana passada, a média das sessões foi de 50 a 60 pessoas por filme. Estive em uma das sessões na qual foi exibida um filme do Alfred Hitchcock, “Trama Fatal”, com público de mais de 60 pessoas.

Euler de França Belém – As pessoas reclamam que o grande problema é a segurança.
O problema da violência é geral no Brasil. Fui assaltado duas vezes em menos de um ano por pessoas armadas. E não estava em um bairro afastado, estava andando em um lugar próximo ao Jornal Opção.

Começamos a desenvolver estudos para que Goiás conclua o Plano Estadual de Cultura. Há oito anos é aguardada a aprovação de uma lei na Assembleia Legislativa. Os deputados que vão nos visitar na Secult aproveitamos para falar sobre a necessidade de se aprovar o Plano Estadual de Cultura para inserir Goiás no Plano Nacional de Cultura. Em pouco tempo poderemos apresentar um projeto de Lei para solucionar o problema e que estejamos inseridos no Plano Nacional de Cultura. Com isso, facilitaremos a possibilidade de firmar convênios com o governo federal.

Na terça-feira, 12, o governo mostrou as carências multidimensionais. O estudo foi feito com base nos dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e no cadastro único do IBGE, com cotejamento de dados feito pelo Instituto Mauro Borges (IMB), mostra as carências das famílias em Goiás. Quando se fala abaixo da linha da pobreza se associa a dinheiro. É um problema material, mas nem sempre relacionado a dinheiro.

O sujeito pode ter um dinheirinho, mas a casa não tem banheiro, o piso é de chão fofo, uma goteira só ou mora em cima de uma região pantanosa. São muitas deficiências. Há problemas de alcoolismo, violência doméstica. A pobreza é multidimensional, não apenas financeira. O estudo mostra onde estão os lares das famílias que vivem abaixo da linha da pobreza.

E a primeira-dama Gracinha Caiado está dirigindo o Gabinete de Políticas Sociais, que pretende, com base na identificação das famílias mais vulneráveis, levar um atendimento a essas pessoas, melhorar a condição da casa das famílias, aproximar o assistente social para ajudar a sair daquele estado de violência, identificar onde vivem apenas idosos e transferi-los para um local mais adequado. Ou casos de um pai ou mãe solteiro, que precisa sair pra trabalhar e deixa as crianças sozinhas em casa.

Estamos desenvolvendo algumas atividades culturais para acompanhar o trabalho do Gabinete de Políticas Sociais em suas ações de resgate das pessoas em estado de vulnerabilidade. Podemos levar kits de livros infantis, contadores de histórias, pequenos grupos de teatro, ações que possam sensibilizar as pessoas para a cultura com o fortalecimento da autoestima dessas pessoas.

Everaldo Leite – A Venezuela realizou em outros tempos um trabalho com crianças no ensino de música, com participação em orquestras, que foi um sucesso.
Inclusive o maestro Gustavo Dudamel saiu desse projeto.

Everaldo Leite – A Secult pensa em desenvolver uma proposta que trabalhe a educação  cultural com crianças e adolescentes no Estado? Da vivência terrível em situação de vulnerabilidade podem surgir grandes artistas, músicos, escritores.
É possível o sujeito nascer com vocação para violino onde só se conhece a zabumba. Onde há carência existem grandes possibilidades, vocações potenciais. Mas se não colocarmos a pessoa em contato com o que ela tem uma especialidade natural, ela nunca vai saber que tem vocação. Se o vendedor não me mostra o Almanaque do Biotônico Fontoura eu nunca saberia que tinha vocação para a literatura. É preciso levar o estímulo.

Se eu mostrar um Almanaque para a Marília, que tem acesso a televisão, celular e outras tecnologias, não vai significar nada porque ela já é superestimulada. Mas se mostro para uma pessoa como eu, que não tinha nenhum estímulo cultural, aquilo para mim é uma revolução, é um tesouro para aquela pessoa. É preciso avaliar a pessoa de acordo com a lógica e modo de vida de cada um.

Euler de França Belém – O Conselho de Cultura tem parte nomeado pelo governo. Como está a composição?
O Conselho de Cultura tem uma parte que é indicada pela sociedade civil por meio das entidades sociais e não coincide com o fim de cada governo. Outra metade é indicada pelo governo e termina o mandato juntamente com a gestão do Estado, mas continua em vigor até que seja nomeado um novo conselho. A parte do conselho indicada pelo ex-governador ainda permanece no cargo porque não foi indicada a nova lista de conselheiros.

Embora seja um conselho de cultura, não é vinculado à Secult, mas ao Gabinete de Gestão da Governadoria. O secretário Anderson Máximo (Casa Civil), em um gesto de cortesia, me disse para buscar nomes e indicar ao governador para nomear os novos conselheiros. Estou ouvindo os segmentos.

Por exemplo, converso com o pessoal do teatro para ver quem eles gostariam de ver os representando no conselho. Faço uma avaliação para elaborar uma lista e apresentar ao secretário da Casa Civil, que deve encaminhar os nomes ao governador, responsável por avaliar se aceita ou não as indicações. Estou apensas fazendo um trabalho de colaboração.

Euler de França Belém – O sr. escreveu um livro chamado “Naqueles Morros, Depois da Chuva” (Hedra, 2011), que fez muito sucesso. E ficou de escrever o segundo volume. Quando este livro será publicado?
Retardei um pouco a escrita desse livro por algumas passagens que tive na minha vida. Fiz a pesquisa, que demorou cerca de 15 anos. Muitas viagens na busca de informações para escrever o livro. Li muito material: livros, relatórios, documentos antigos. Busquei subsídios para escrever o livro. Tenho o material pronto para escrever. Falta fazer o acabamento do segundo volume.

Euler de França Belém – Mas o tempo agora está complicado.
Está complicado mas acredito que vou conseguir dentro de um prazo relativamente razoável. Já tenho mais de cem páginas do livro escritas. A hora que eu conseguir diminuir esta ansiedade – se é que diminui -, acredito que terei tempo. Eu sofro de insônia e normalmente escrevo de madrugada. E de madrugada o governo não me chama.

Euler de França Belém – O sr. tem trabalhado na Secult das 7 horas até qual horário?
Tem dia que vou até 2 horas da manhã. Durante o dia não dá para ler as coisas que são necessárias de ler: documentos, ofícios. Às vezes levo para casa e fico trabalhando até tarde. Com a secretaria constituída, muita coisa eu poderei delegar para chefe de gabinete, aos superintendentes, que vão poder despachar. Chegará um procurador que vai poder me ajudar sem eu ter de me debruçar até tarde sobre um documento.

Se for algo jurídico, que demoro muito para entender, só de passar os olhos o procurador compreende. O trabalho tende a diminuir um pouco e nas madrugadas de insônia poderei terminar de escrever meu livro em um tempo relativamente curto de dois anos.