Presidente da Acieg elenca dificuldades do empresário brasileiro, como carga tributária alta e legislação trabalhista que causa enormes dificuldades ao empregador

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A empresária Helenir Quei­roz se destacou no início do ano ao combater o ex­cessivo aumento do IPTU, tentado pela Prefeitura de Goiânia. A tal ponto que se levantou a possibilidade de que ela concorresse ao cargo de prefeita futuramente. Helenir descarta a possibilidade: “Minha pretensão em política partidária é zero. Eu faria muito mal a mim mesma se entrasse na política”.

Proprietária da Multidata, criada em 1989 para atuar no segmento de redes e que depois entrou no segmento de software e hoje é a maior empresa de infraestrutura de Goiás e a segunda maior do Brasil na área de software em que atua. A Multidata tem clientes em todo o Brasil e escritórios em São Paulo e Brasília. Não é por acaso que Helenir tem uma visão muito além do regional, tanto nos negócios quanto na atuação classista.

A combatividade que ela exerce na defesa dos interesses da classe empresarial goiana e brasileira se mostra também na condição de cidadã. Re­clama em tom indignado do Departa­mento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que demora demais em uma obra na BR-153, nas proximidades do Estádio Serra Dou­rada, o que tem prejudicado o tráfego na região. “Queria deixar um recado para o Dnit. É uma barbaridade o que está fazendo com Goiânia, a cidade para das 8 às 18 horas, com aquele reparo. Por que não fazem o reparo na rodovia durante a noite? Por favor!”

Cezar Santos — A sra. foi a primeira mulher a ser presidente da Acieg. Como se sente no papel de desbravadora?
Vejo como uma evolução natural como a mulher vem conseguindo ocupar os espaços. Isso não seria possível há 20 anos. Hoje isso é possível porque existem outras mulheres ocupando espaços importantes, a presidente Dilma Rousseff é um exemplo. Isso também mostra o amadurecimento da sociedade brasileira, da sociedade goiana que vem ao longo do tempo mostrando que vem se preparado para esta evolução.

Cezar Santos — Qual a principal dificuldade enfrentada pelo empresariado goiano, atualmente?
A maior é o baixo PIB [Produto Interno Bruto, representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um período determinado. É um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia, e tem o objetivo principal de mensurar a atividade econômica de uma região] e o baixo crescimento da economia brasileira. O reflexo é em cadeia, baixo investimento e inflação alta corroem o principal combustível da economia. Se há previsões de baixo rendimento, não há como o empresário fazer um empréstimo, sendo que ele não tem perspectivas de saldar esta dívida. A economia é movida a investimento. Se a confiança está baixa e os números estão claros para uma tendência ruim. Hoje esse é o problema maior do setor produtivo como um todo, em praticamente todas as áreas.

Cezar Santos — Foi divulgado agora que pelo terceiro mês seguido a indústria apresenta números ruins. A indústria brasileira estaria num processo de sucateamento?
Os números estão mostrando que isso ocorre gradativamente, e a participação da indústria no PIB tem sido reduzida. Estamos importando muitos produtos manufaturados e cada vez mais produzindo menos. A queda da indústria é um processo lento, estamos passando por um processo de “argentinização”. Não tem ocorrido nada para reverter isso. A carga tributaria é alta, o custo Brasil é muito alto e os produtos brasileiros são caros. A legislação trabalhista causa enormes dificuldades ao empregador. A redução da carga horária de trabalho de 44 apara 40 horas semanais vai encarecer ainda mais os produtos. Todas as vezes que se agrega mais valor aos produtos, a indústria brasileira trona-se mais inviabilizada.

Cezar Santos — Paradoxalmente, a produtividade dos trabalhadores brasileiros vem caindo. Como a sra. vê isso?
No caso do trabalhador brasileiro cai pela deficiência de logística, porque quando se fala em produtividade se fala na relação do número da população ativa pelo PIB. Ao se comparar a produtividade do trabalhador brasileiro com o americano, por exemplo, ela é muito baixa. Analisemos no caso de um dos maiores negócios do Brasil, que é o da agroindústria. Nosso produtor, dentro da fazenda, tem uma produtividade muito mais alta, por exemplo, em grãos, do que o produtor americano. Às vezes a produtividade dele é 15% a 20% maior do que a do americano. Mas quando o produto do produtor brasileiro sai da fazenda e entra na distribuição e logística, há uma perda de 30% a 40%. O grão fica preso nos caminhões, nas estradas, nos portos e aprisionado na burocracia em geral. Até aquele produto chegar ao destino, o custo de lá para cá fica muito superior. Toda a tecnologia desenvolvida aqui é perdida no caminho até a chegada do destino final.

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Elder Dia — O que o setor empresarial pode fazer para enfrentar o desafio da invasão de produtos chineses e demais países do sudeste asiático, cujos preços são muito baratos?
Os brasileiros já se acostumaram tanto a pagar um produto caro que a população não faz uma correlação do que são atribuídas as empresas e o que ela paga na conta. Há um apelo populista aos benefícios que é dada a população e não há uma conscientização de que esses benefícios são pagos por essa mesma população. Estávamos falando da jornada de 44 para 40 horas, ou seja, são 10% que são impactados nos produtos e serviços. As centrais de trabalhadores estão fazendo tudo para aprovar esta lei. Os produtos têm um custo de produção que é repassado ao preço. Quando se compra alguns pãezinhos, este custo é embutido no valor dele. Nós temos um produto muito caro. Defendo enormemente a livre inciativa. Em países de regimes menos regulados, os produtos chegam aqui muito competitivos. O mundo é globalizado, não se pode cercar a fronteira para barrar a entrada destes produtos. Temos é que achar uma alternativa e produzir com competitividade. O que adiantaria nós trabalharmos menos horas e não termos dinheiro para consumir, sendo que os produtos são caros demais? Pior ainda, termos produtos baratos vindos de fora, e não termos empregos para que o nosso trabalhador compre estes produtos?

Cezar Santos – A China tem uma política agressiva de venda no varejo pela internet. Como lidar com isso?
Estávamos monitorando, há algum tempo, o “ataque chinês” no varejo — que no atacado já é um fenômeno conhecido. O ataque chinês no varejo, no comércio online entregando em casa, com frete grátis. Estão anunciando em grandes portais, nos sites. E nós observamos que os produtos chegam sem nota fiscal, bem chinês mesmo. É um volume muito grande. E que tem aumentado geometricamente. O último número que vi do AliExpress [site chinês de vendas, em idioma português, que facilita a compra ao consumidor brasileiro], o maior comércio de varejo chinês, era de R$ 2 bilhões para o Brasil. Já ultrapassou a Amazon no comércio eletrônico. Eles têm ações na Nasdaq [bolsa de valores de empresas do ramo da eletrônica]. É gente grande! O primeiro mercado deles é os Estados Unidos e o segundo é o Brasil. Eles descobriram duas coisas interessantes: quem movimenta o varejo é a mulher, e é mesmo. Se você vê algum homem no shopping é porque foi ao restaurante ou para acompanhar a mulher. Mapearam os produtos mais comprados por elas e se dirigiram a esse público com produtos típicos. Esse “ataque chinês” no varejo elimina toda cadeia produtiva. Pois, elimina a indústria, a distribuição e a cadeia logística das ruas, dos shoppings, de tudo. Então, é muito perigoso. Elimina, até, o próprio cliente público, prefeitura e Estado. Os volumes são tão grandes que o próprio Correio está com dificuldade na entrega.

Elder Dias – Existe uma sobrecarga dos Correios para entrega desses produtos?
Exatamente. Nós estamos monitorando isso em parceria com a Secretaria de Indústria e Comércio. Nós já estamos fazendo um trabalho para ver qual parte disso é legal e qual parte é ilegal.

Elder Dias – Isso é um trabalho local, goiano, ou os empresários estão fazendo isso nacionalmente?
É um trabalho do Sindilojas, da Acieg, do CDL e da SIC. É um trabalho local. Apesar de ser um problema nacional, ainda não vi nenhum trabalho a nível nacional. Eu até, no Fórum Exame, tive a oportunidade de falar com eles, mas não tinham sintonizado isso. Passamos a monitorar quais segmentos dos varejos que estão com mais dificuldade. Porque, volto a dizer, quando se vê um movimento, você tem que agir. Não pode esperar a casa ser varrida. Tem que acender a luz e correr para ver o que está acontecendo e por que está acontecendo. Agir. Então, se juntam pessoas e o nosso trabalho é ouvir essas pessoas e buscar, juntos, em um trabalho classista e associativo, soluções. Aglutinar com o governo, prefeituras, secretarias e entidades. São soluções conjuntas, pois o setor produtivo é responsável por gerar emprego, movimentar riqueza. É uma grande responsabilidade. Temos que estar sempre atentos.

Elder Dias — Os juros altos ainda são a principal crítica do setor produtivo em relação ao governo?
Os juros ainda são remédio para conter a inflação. Ocorre que a política econômica do governo não tem sido eficaz. Nós aumentamos os juros e não conseguimos domar a inflação. Está sobrando mês e faltado salário. Esta é a realidade. O consumo está sendo reduzido e a inflação está muito além dos índices oficiais. A dona de casa que vai ao supermercado vê claramente uma forte inflação. A uma alta muito forte de preços em setores específicos, como carne e leite e demais produtos básicos. E a população não tem como deixar de gastar em alimentação e medicamentos.

Marcos Nunes Carreiro — Há previsões de que 2015 será um ano ruim para a economia. O ex-presidente Lula pegou cenário econômico mais favorável, por outro lado Dilma pegou um cenário muito ruim e não está conseguindo levar a economia brasileira em bons termos. Goiás tem tentado trazer investimentos externos. Essa política é acertada?
Acertadíssima. O que Goiás está fazendo é trabalhar em cima de algumas alternativas, como investir no agronegócio, infraestrutura e logística. São necessidades grandes que nós temos, inclusive para reduzir o custo Brasil. Uma empresa da Austrália, como é que ela vai pensar em Goiás? Temos que ir lá vender o Estado e nos oferecermos. E se aquela mesma empresa for pensar em Brasil, porque ela deveria pensar em Goiás? Este trabalho de viajar e vender Goiás aos investidores estrangeiros é fundamental. Em­presa que pretende vencer tem de ir ao mercado. Tanto é que Goiás está fora da faixa amarela, em que boa parte dos Estados está, de queda acentuada de emprego.
Eu sou otimista, acredito que tudo tem saída. Empreendedor tem que olhar para frente e buscar saída. Não tem aqui, busquemos em outro canto.

Marcos Nunes – Como o empresariado goiano tem se preparado para economia no ano que vem?
Olhando o que tem nas mãos e buscando alternativas.

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Marcos Nunes – E quais são as alternativas?
Nós temos algumas. Estamos monitorando a queda no varejo, uma queda de desempenho. O mês de maio é, tradicionalmente, bom no varejo por causa do dia das mães. Em relação ao ano passado, ficou aproximadamente equivalente. Não cresceu muito, esteve mais ou menos. Entretanto, junho teve queda em torno de 5,5 a 6%. Teve Copa do Mundo. Muitos dias não úteis. Ainda assim, 6% é um número significativo, é uma queda muito acentuada. Mesmo podendo falar do efeito positivo do mundial, com a compra de televisores no varejo. O Dia dos Namorados, em junho, não foi tão bom. Ficamos abismados com esse efeito.

“A crise da Celg afeta o Estado, energia é tudo”

Frederico Vitor – Energia elétrica causa preocupação no setor produtivo. A sra. comentou que é necessário vender o Estado lá fora, para atrair investimentos. Porém, os investidores ficarão com sinais de alerta ligado ao saber que o Estado tem um déficit de produção e distribuição em energia elétrica. Como a crise da Celg afeta os representados pela Acieg?
Marcos Nunes – Complementando, o Daia tem, atualmente, uma fila gigantesca de empresas querendo se instalar lá. São 84 empresas que estão na fila esperando espaço. Não tem espaço. A SIC está distribuindo essas empresas para outros distritos agroindustriais de Goiás. Elas alegam que está faltando energia elétrica no Daia. Isso tem afetado, bastante, a indústria e, consequentemente, todo o resto da cadeia econômica do Estado.
A crise da Celg afeta o Estado. Energia elétrica é tudo. Se você ficar uma hora sem energia, a produção de qualquer coisa para, até uma residência para. Não há o que se fazer sem energia elétrica. E o atraso da Celg, nos investimentos, essa queda de braço entre União e governo de Estado, é um problema sério. O próprio ministro de Energia reconheceu, em uma reunião com o Fórum Empresarial, que os goianos não merecem o que Goiás está passando. Ainda assim, há bastantes interesses em jogo, que fazem com que a situação chegue aonde chegou. O resultado é que tem travado o desenvolvimento de Goiás. Hoje, poderíamos estar com uma capacidade de energia muito maior. Se avançamos na parte logística e rodoviária, infelizmente não podemos falar nada quanto a energia elétrica. É o nosso calcanhar de Aquiles.

Elder Dias – Dentro desse cenário, na questão logística, com a inauguração da Ferrovia Norte-Sul, o trecho até Anápolis, o futuro aeroporto de cargas, o porto seco, já lucrativo, a ligação de Brasília a Goiânia pela BR, que hoje é uma via tranquila, tirando os trechos aqui na capital, é uma pista dupla de fácil acesso. Se não fosse a falta de energia, seria outro Estado. Quanto a Goiânia, como a sra. percebe as coisas positivas e negativas que estão acontecendo? O que tem dado resultado e o que precisa, realmente, melhorar?
Eu sou uma otimista nata, como já disse. Minha tendência é ver o copo cheio e quando não o vejo cheio, estou atrás da solução para enchê-lo. Olho para o problema já em busca da solução. Eu percebo tudo de bom em Goiânia, que tem um posicionamento geográfico maravilhoso, faz parte de um eixo que tende a ser o grande polo do Brasil e até já é. Tirando o eixo do Sudeste e um polo no Nordeste, em torno de Pernambuco, é aqui! Então, poderia construir um triângulo, no Brasil: ali no Sudeste, no Nordeste e aqui, Centro-Oeste. Portanto, é esse posicionamento maravilhoso, com uma riqueza, um potencial espetacular. Embora estejamos sofrendo, a cidade que era conhecida pelo volume enorme de árvores, que tínhamos no Centro, Marista e na região Oeste, nós, do setor comercial, somos responsáveis por ter acabado com boa parte da arborização. Infelizmente, fomos cortando e acabando com as árvores. Eram locais bonitos, que estão pelados. E, para voltar a ter aquela parte bonita, aquela arborização – pois, onde tem árvore é bonito, mesmo que haja belos prédios –, teríamos que trabalhar. Mesmo assim, o comércio é muito bom. O que atraímos de novos empreendimentos para Goiânia, por exemplo. Eu mesma fico assustada com o número de shoppings. Qualquer investimento é bom. E, já que são muitos, temos que dar conta deles, para que se transformem em algo útil e importante para população. Complicado é quando não tem investimento. Tem muita coisa boa. E nós, goianienses, valorizamos a cidade, queremos coisas boas. As crises, eventuais, que temos passado, são passageiras. Goiânia é maior e melhor que eventuais problemas.

Elder Dias – Outro problema é a limpeza urbana. O goianiense está acostumado com um padrão de limpeza “x”, o que é positivo. O goianiense tem resistência em ver a cidade suja. É uma coisa que vem do interior, de cuidar bem das praças. Por exemplo, Morrinhos é a cidade dos pomares, com praças sempre bem cuidadas. Em Goiânia se fala “a cidade está suja”. A imprensa se importa. Como a sra. vê isso?
A mim me choca, por exemplo, ver as paredes pichadas. Em São Paulo, isso é normal. Outro dia, eu estava em Belo Horizonte com algumas pessoas e me disseram “o que eles têm contra tinta?” Viam-se bairros inteiros onde parecia que há 20 anos não se pintava as casas. Aqui, estamos acostumados, as pessoas repintam o tempo inteiro. A cidade está sempre com uma carinha nova. Você tem toda razão. Estamos acostumados com uma cidade limpa e bonita. O goianiense cuida da cidade e gosta dela bonita e se orgulha da cidade assim. Eu vi uma solução, um caso recente, de Paulínia, município de São Paulo, muito legal sobre essa questão da limpeza urbana, achei absolutamente genial. As lixeiras colocadas pela prefeitura nas ruas, são bonitas, em aço, um tubo aberto. Você dejeta o lixo lá e ele cai em contêineres grandes que estão no subsolo. O caminhão pega aquele contêiner — ele não passa todo dia, é uma vez por semana. Então, é mais econômico e não espalha lixo pela rua. É uma ideia inovadora que traz economia e deixa a cidade bonita. Paulínia é uma cidade bonita, tem muita inovação, coisas boas sendo criadas e feitas para economizar e deixar a cidade mais bonita. Nós, enquanto sociedade, podemos trabalhar um pouco isso.
Frederico Vitor – Outro problema que atrapalha muito o setor produtivo e a sociedade em geral é a crise na segurança pública. Isso não só em Goiânia, mas em todo Estado, taxas de homicídios altíssimas. O que a classe tem feito para ajudar a ter um controle maior da violência urbana?
O que temos feito é um diálogo constante com a Secretaria de Segurança Pública. Percebemos um trabalho bastante forte, um trabalho até técnico do secretário. A impressão é que as drogas estão fora de controle, embora eu não entenda muito desse assunto. A impressão é que é um comércio tão rentável e tão estruturado que, hoje, tem domínio forte na sociedade. Acho que estamos vivendo o que os americanos viveram na década de 1970, quando as drogas mandavam em tudo. O trabalho é como enxugar gelo. É invencível. Acredito que exista solução. A própria Colômbia conseguiu. O cartel de Medellin [rede de traficantes, na Colômbia] fazia e acontecia, todos os dias nós víamos. Hoje, o Brasil tem várias Medellins. Goiânia, Rio de Janeiro, São Paulo. Somos a quinta cidade mais violenta. Estamos entre as cinco Medellins. Na medida em que subiu a renda, a receita, também aumentou o mercado. A percepção é que nós, atualmente, estamos na turma de alto consumo. É tão interessante que está generalizado. Você anda nos condomínios e vê as turminhas em céu aberto. É difícil.

Elder Dias – Chegou ao ponto de não nos espantarmos, ficarmos chocados com a situação. Antigamente, maconheiro era quase um E.T.
Tem solução, eu não sei bem qual. Mas, como qualquer problema grande, temos que parar de colocar um a culpa no outro, pois, toda vez que uma parte joga a culpa em outra parte, se desperdiça energia. Quando o problema é grande, todos têm que dar as mãos. E quando o problema é sério, tem que ser encarado por todos, independentemente de qualquer tendência, de qualquer corrente. Quando você vê homens e mulheres públicos, responsáveis por ações importantes para sociedade, fazendo uso político do problema, ao invés de lutar para resolvê-lo, é lamentável. Tem é que olhar para o bem da sociedade e juntar as mãos para resolvê-lo.

Elder Dias – Em junho do ano passado houve aquelas manifestações e se temia que voltassem agora, na Copa. A Copa está boa, o espírito de Copa ganhou a população brasileira. Aquelas reinvindicações eram pela questão dos serviços públicos e pela moralidade política. O Brasil conseguiu, as instituições responsáveis por isso conseguiram avançar nessa pauta pela qual a população saiu às ruas?
Eu diria que nós pioramos. Eu fiquei observando, como cidadã, esse primeiro semestre, as movimentações políticas e, como eleitora, eu fiquei um pouco perdida com elas. (na política) Predominava mais a luta por tempo de televisão, do que qualquer outra coisa. O eleitor está ansioso pelo controle remoto para dar um off. Estão brigando tanto por algo que… Não vou dizer que o tempo de televisão é desimportante, mas, como eleitora, às vezes, você observa um político falando e quer pegar o controle remoto. É tanta energia, tanto empenho nesses minutos de televisão que, será que se todo esse empenho tivesse sido colocado em torno de uma luta real, de um trabalho real, não seria melhor? Se trabalhassem, abraçassem uma causa real, não seria mais importante, mais relevante?
Se você pudesse apresentar resultados, por exemplo, se quer ser estreante como deputado, qual história você tem para contar? “Eu já fui vereador”, ótima história para se contar. Mas aí tem 50 propostas a título de cidadania ou de mudança de nome de praça? Qual história você tem para contar? É disso que falo. Não entendo de política, mas não se associa a imagem dessas pessoas com bandeiras reais, efetivas. Os partidos, para mim, não existem. Eu conheço algum político e o pergunto: “Qual o seu partido? É de qual tendência? Azulzinha ou vermelhinha?”. Eu só identifico isso. Outro dia, alguém me respondeu que depende de qual região. É muito para minha cabeça. Então deixa, nem me conta a sigla. E olha que sou uma eleitora razoavelmente informada. Imagina o não razoavelmente informado; como essa pessoa se posiciona? Outro dia, eu vi uma matéria no Fantástico, em que se contrata o cabo eleitoral e ele compra os eleitores. Pode ser que seja assim que o sistema funcione. Para mim, o certo seria abraçar causas. Você dizer “eu acredito nesse candidato, porque ele defende uma causa com a qual eu me identifico”. Ele defende a causa do comércio, por exemplo. Ele é do comércio varejista e ele luta por isso. E assim com outras causas. Você se identifica pela bandeira. Hoje, não. As pessoas não têm região. Você não se identifica, com elas, por região, não tem como dizer esse candidato é da minha cidade. Os deputados estaduais não têm os votos distritais. Você podia se identificar com o vereador porque ele é do seu bairro ou da sua região, assim você poderia pedir contas a ele, em relação ao seu bairro ou a cidade, região. Não tem isso. Ele é um deputado estadual, mas é de qualquer lugar. Ele é da região, por exemplo, de Rio Verde, mas é um deputado do Estado inteiro. É complicado. Eu vejo com enorme estranheza esse projeto eleitoral, esses acordos. Eu olho como se visse marcianos. Eu não sou desse meio, eu olho de longe.

Elder Dias – O mundo empresarial é um mundo muito mais pragmático, em relação à política. É um pragmatismo diferente da política?
Eu olho com bastante estranheza.

Elder Dias – Como a sra. percebe as alianças políticas que foram formadas para eleição, em Goiás?
É o que eu disse, elas são mais em função de tempo de televisão. Menos em função de ideias, de bandeiras, de defesa. Por exemplo, se considerasse a segurança pública como o primeiro problema de Goiás e, assim, se juntassem todos os que estão interessados em resolver esse problema. Embora o governo não possa focar apenas nisso, o Estado é muito maior. Não é uma ilha. É uma bandeira, entre outras bandeiras que não se pode esquecer. Nós mesmos, do setor produtivo, temos várias propostas a serem feitas aos candidatos. Nós não podemos esquecer o crescimento econômico. Se você pensar em segurança publica e se esquecer de crescimento econômico é um tiro no pé. Por exemplo, estávamos falando de segurança pública e drogas, nós acreditamos que uma das causas, além de ser um mercado crescente, é essa filosofia da proibição do trabalho da criança, quando criança é até 18 anos. Por que não podemos separar, adequadamente, como criança até 14 anos e de 14 anos adiante como menor aprendiz? E, assim, motivar, incentivar a trabalhar? Para que aprenda a profissão, desde cedo. Um rapaz, recentemente, de 20 anos, pediu demissão na minha empresa, porque estava muito difícil trabalhar e estudar. Ele saía da faculdade quase às 23 horas e tinha que trabalhar, no outro dia, às 8 da manhã. Eu disse tudo bem, que dormisse até meio-dia. Como faz? É essa sociedade que queremos construir? As pessoas começam a trabalhar aos 20 anos de idade. Como se acostumarão a acordar às 6 da manhã? Não acostuma, tem que ser desde novinho. São esses os valores que queremos? É esse país que vai ganhar produtividade? Nós temos que começar já. E como podemos ajudar com a segurança pública? É influenciando isso. Vamos empregar os jovens nas empresas; treinar os menores aprendizes no varejo, nas oficinas mecânicas, nas padarias. Para que essa turma, ao invés de ficar com o pensamento vago, com a cabeça desocupada, disponível para o que não presta, trabalhe e aprenda profissão. Isso é contribuir do nosso jeito, mas é contribuir. Vamos trabalhar na inserção digital das micro e pequenas empresas. Os jovens gostam disso. Vamos fomentar coisas boas para esses jovens, que estão nesse ideal que não podem trabalhar. Nós somos contra esse pensamento, pois acreditamos que pode e deve trabalhar. O trabalho é uma excelente escola. Eles não têm que trabalhar o dia todo, têm que estudar e trabalhar no horário livre. A criança de 17 anos, para lavar um prato, é uma violência: “ai, meu Deus!”. Portanto, se colocarmos essa turma para produzir, ela não terá tempo para fumar maconha. Daqui para frente, estaria mais bem encaminhada, com curso profissionalizante, mais coisas boas para fazer. É a contribuição que nós podemos dar para segurança pública.

Elder Dias – O que a sra. falou corrobora com a frase de Henry Ford, que fala mais sobre o lado profissional, da sua empresa: “Os obstáculos são as barreiras e os perigos que acontecem quando se foge dos objetivos”. A sra. gosta de ler, também? Além de leitura técnica, a sra. gosta de literatura?
Já fui melhor leitora. Hoje, os jornais me tomam tempo demais. Ainda assim, gosto muito de literatura. Tenho alguns autores favoritos. Elias Canetti, por exemplo, uma literatura de primeira. Adoro os franceses, de um modo geral. Mergulhei muito na cultura francesa, estudei francês por muitos anos.

Empresária Helenir Queiroz, presidente da Acieg, em entrevista a editores e repórteres do Jornal Opção: “Os políticos ficam brigando por tempo de propaganda na TV e esquecem-se de ideias e bandeiras” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Empresária Helenir Queiroz, presidente da Acieg, em entrevista a editores e repórteres do Jornal Opção: “Os políticos ficam brigando por tempo de propaganda na TV e esquecem-se de ideias e bandeiras” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Elder Dias – Francês é uma língua interessante entre as línguas latinas, pronuncia-se diferentemente de todas as outras. Consegue-se entender um artigo em todas as outras, até em romeno, mas em francês é sempre mais difícil.
Eu gosto muito da língua francesa.

Frederico Vitor – Há algum escritor goiano favorito?
Mais poesia. É uma leitura ocasional. Eu confesso que, na literatura brasileira, estou mais para os nordestinos.

Elder Dias – A sra. saiu de um mundo totalmente feminino, um curso normal, e foi para o mundo eminentemente masculino da engenharia. A sra. acredita que isso a influenciou a ser uma líder classista? Influenciou-se com essa visão dos dois mundos, entre sensibilidade e racionalidade, de um curso que exige direcionamento, resoluções?
Com o lado racionalista da engenharia eu acredito que não. Mais o lado empresarial. Eu fiquei muitos anos na Caixa Econômica Federal, que foi um trabalho bastante isolado. Quando eu comecei com a empresa, eu tive muitas dúvidas e senti muitas dificuldades. Eu logo procurei o Sebrae, que oferece muitos cursos e eu passei a conhecer outros empresários. Em um curso específico, o Empretec, eu percebi que precisava estar o tempo todo em contato com outros empresários, por que as angústias, as dores são muito parecidas. Eu passei a buscar isso nos cursos e nas promoções do Sebrae. Depois, tínhamos uma comunidade de uma empresa de informática, em seguida fui para Acieg. Portanto, o mundo classista para mim foi de uma necessidade de trocar ideias com outros colegas, de compartilhar informação. De precisar mesmo do convívio, para perguntar, me aconselhar, conhecer gente. Eu fui tomando gosto. Às vezes, me afastava, voltava a me doar fortemente e me afastava.

Elder Dias – A sra. é uma líder classista, uma pessoa que busca convívio nesse compartilhamento. Seu nome é sempre citado como uma possível política de sucesso. Isso leva a uma pergunta: a sra. tem pretensões políticas?
De forma alguma. Minha pretensão é zero. Na política partidária eu enfartaria na primeira semana. É tudo especulação. Eu sou muito incisiva nas minhas posições, não sou uma boa negociadora. Eu, que olho de fora, penso meu Deus, isso requer um estômago que eu não tenho. Não tenho a menor condição. Se entrasse na política eu faria muito mal para mim mesma. De fora, estou melhor.